Palavras-Chave: coruja, coleção, fragmentação, distribuição, Mata Atlântica, Pulsatrix, sul do Brasil.

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Transcrição:

Caderno de Pesquisa, série Biologia, volume 27, número 3 31 REGISTROS DE Pulsatrix koeniswaldiana (STRIGIFORMES: STRIGIDAE) EM FRAGMENTOS DE MATA-ATLÂNTICA NO VALE DO RIO DOS SINOS E PRIMEIRO ESPÉCIME EM COLEÇÃO CIENTÍFICA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Suélen de Almeida Garcia 1 César Rodrigo dos Santos 2,3 Luiz Liberato Costa Corrêa 2,3 Alexandre Bravo 3 Tatiane Scheeren 1 Martin Sander 1 RESUMO O murucututu-de-barriga-amarela Pulsatrix koeniswaldiana, é uma coruja de grande porte e sua distribuição abrange o Paraguai, Argentina e Brasil. No Rio Grande do Sul, o status é recente e pouco conhecido. Com o objetivo de colaborar com o conhecimento acerca da distribuição e biologia da P. koeniswaldiana no estado, apresentamos dois registros de indivíduos adultos e um filhote na região do Vale do Rio dos Sinos, e o primeiro indivíduo depositado em coleção científica no Rio Grande do Sul. Palavras-Chave: coruja, coleção, fragmentação, distribuição, Mata Atlântica, Pulsatrix, sul do Brasil. 1 Departamento de Coleções Científicas de Zoologia, Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, Avenida Unisinos, Bairro Cristo Rei, nº 995, Cep - 93022240, São Leopoldo, RS, Brasil. 2 PPG em Biologia, Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS, Avenida Unisinos, Bairro Cristo Rei, nº 995, Cep - 93022240, São Leopoldo, RS, Brasil. 3 Laboratório de Ornitologia e Animais Marinhos, Universidade do Vale do Rio dos Sinos UNISINOS, Avenida Unisinos, Bairro Cristo Rei, nº 995, Cep - 93022240, São Leopoldo, RS, Brasil.

Caderno de Pesquisa, série Biologia, volume 27, número 3 32 Pulsatrix koeniswaldiana (STRIGIFORMES: STRIGIDAE) IN ATLANTIC FOREST FRAGMENTS IN THE VALE DO RIO DOS SINOS AND THE FIRST SPECIMEN IN SCIENTIFIC COLLECTION IN THE RIO GRANDE DO SUL STATE SOUTHERN BRAZIL ABSTRACT The tawny-browed owl Pulsatrix koeniswaldiana, is a big owl and the distribution includes Paraguay, Argentina and Brazil. In the Rio Grande do Sul, the status is recent and unfamiliar. With the objective of collaborating with the knowledge about the distribution and biology of P. koeniswaldiana in the state, we present two records of adults and a cub in the Vale do Rio dos Sinos region, and the first individual deposited in scientific collection at Rio Grande do South. Keywords: owl, collection, fragmentation, distribution, Atlantic Forest, Pulsatrix, southern Brazil. INTRODUÇÃO O murucututu-de-barriga-amarela Pulsatrix koeniswaldiana, é uma coruja de grande porte e possui a face com desenho amarelado e com largas sobrancelhas castanhas. O dorso é castanho escuro, a cauda apresenta faixas brancas transversais, e a barriga é amarela, com barras acaneladas (Sick, 1997). Sua distribuição abrange o Paraguai, Argentina e Brasil. No Brasil é típica das montanhas do Sudeste, sua ocorrência vai desde o Espírito Santo até Santa Catarina e leste de Minas Gerais (Ruschi, 1979; Sick 1997). No Rio Grande do Sul, a primeira ocorrência foi em 1998, na localidade de Salto do Jacuí, assim este registro lhe dá o status de assumido, mas não confirmado, por insuficiência de dados, e como sendo ave residente para o Rio Grande do Sul (Bencke, 2001). Em 2003 se mantém o status da espécie como assumido, mas com dados insuficientes para o Estado (Bencke, 2003). Na região do Alto Uruguai, Bernardi et al. (2008) registraram a presença de quatorze indivíduos nas áreas de mata em zonas limítrofes entre urbana e rural, e áreas totalmente rurais de tamanhos variáveis entre 60 e 33 hectares. Um indivíduo foi registrado com o auxílio de play-back em 15-01-2009 na RPPN da UNISC, localizada na transição da escarpa da Serra Geral para o Planalto das Araucárias no município de Sinimbu (Oliveira e Köhler, 2010). Bencke (2010) ainda apresenta novas ocorrências de vocalizações e uma fotografia, ampliando desta forma, a área de ocorrência da espécie, principalmente no noroeste do Estado e estabelecendo o status de quase ameaçada. Poucas informações acerca da biologia e distribuição desta espécie são conhecidas, sendo assim, este trabalho tem como objetivos comunicar os primeiros registros documentados desta espécie para o Vale do Rio dos Sinos, e registro do

Caderno de Pesquisa, série Biologia, volume 27, número 3 33 primeiro espécime de P. koeniswaldiana depositado em coleção científica no estado do Rio Grande do Sul, contribuindo para o conhecimento da distribuição geral desta ave no Estado. DESCRIÇÃO DA OCORRÊNCIA Em abril de 2012, um exemplar de P. koeniswaldiana foi encontrado morto em um fragmento de Mata Atlântica, no Vale do Rio dos Sinos, localidade de Travessão (Latitude: 29 37'42.44"S e Longitude: 51 5'39.21"O) no município de Dois Irmãos, Rio Grande do Sul. O exemplar foi coletado, taxidermizado e depositado na Coleção de Aves da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, sob o número MZU-903, correspondendo a uma fêmea adulta (Figura 1). A provável causa da morte foi devido à descarga elétrica da rede local, pois apresentava queimaduras profundas na asa direita, além de fratura e outras queimaduras nos dedos dois e três do pé esquerdo com amputação de parte do terceiro dedo. Em março de 2013, um filhote de P. koeniswaldiana foi registrado em um fragmento de Mata Atlântica na localidade de Buraco do Diabo (Latitude: 29 34'48.13"S e Longitude: 51 8'51.74"O) no município de Ivoti, indicando reprodução nessa região (Figura 2). Em março de 2015 foi realizado um registro fotográfico de um indivíduo adulto de P. koeniswaldiana na localidade de Vale Direito (Latitude: 29 33'23.87"S e Longitude: 51 5'10.03"O) no município de Dois Irmãos (Figura 3). As localidades de registro situam-se na Escarpa Meridional do Planalto e caracterizam-se pelo Bioma da Mata Atlântica estando inseridas na região fitoecológica da Floresta Estacional Semidecidual Submontana, entre o extremo leste da Depressão Central Gaúcha e os patamares da Serra Geral, na bacia do Rio dos Sinos (Teixeira et al., 1986). Nesta região são raros os agrupamentos florestais originais, que ao longo da colonização europeia foi intensamente desmatada. As áreas agrícolas, industriais e urbanas são circundadas por diversos fragmentos de mata com diferentes dimensões e graus de degradação, em uma paisagem altamente fragmentada (Franz, 2009). Figura 1 - Exemplar de Pulsatrix koeniswaldiana, depositada na coleção de Aves da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. (Foto: Maurício Montano).

Caderno de Pesquisa, série Biologia, volume 27, número 3 34 Figura 2 - Indivíduo jovem de Pulsatrix koeniswaldiana registrado no município de, Ivoti, Rio Grande do Sul. (Foto: Alexandre Bravo). Figura 3 - Indivíduo de Pulsatrix koeniswaldiana no município de Dois Irmãos, Rio Grande do Sul. (Foto: André Luiz Wittmann ). A presença e registro reprodutivo de espécies de grande porte como P. koeniswaldiana, mostra a importância da conservação de fragmentos florestais, que mesmo pequenos, conseguem manter populações de corujas, que são sensíveis à fragmentação e que requerem razoável disponibilidade de presas para sua sobrevivência (Sant ana e Diniz-filho, 1999; Esclaresk et al., 2011). Entre as 23 espécies brasileiras de corujas, apenas cinco, não estão associadas a ambientes florestais. Assim sendo, é essencial a manutenção de remanescentes florestais, e à conectividade entre eles, afastando a depressão gênica entre populações e facilitando a dispersão espontânea, permitindo assim, o estabelecimento em sítios dos quais essas aves podem ter desaparecido (Esclaresk et al., 2011). Os registros reunidos demostram que a espécie tem ampla distribuição na região norte e nordeste do Estado em florestas altas e pode estar ameaçada pela extensiva perda e fragmentação de habitat (Bencke, 2003). Os registros estão mais espaçados em todo o centro norte do estado nos principais tipos de florestas existentes (Bencke, 2010). A região do Vale dos Sinos possui áreas montanhosas onde ocorreram intensos manejos agrícolas e nestes últimos trinta anos estão em estado de recuperação, através de matas

Caderno de Pesquisa, série Biologia, volume 27, número 3 35 secundárias, sobre áreas anteriormente agrícolas, entremeada com atuais cultivos de acácia-negra [Acacia molíssima] (meamsii). Fato similar, registrado em uma área próxima, onde foi comparada a presença de aves entre mata nativa e monocultura de acácia-negra, evidenciando que a riqueza de aves é reduzida em matas homogêneas e exóticas (Voss e Sander, 1981). As áreas de reprodução e distribuição da P. koeniswaldiana, mesmo que pequenas, devem se manter preservadas pela capacidade de manutenção desta população que possivelmente ocorre a mais de 25 anos na região do Vale do Rio dos Sinos. A pesquisa e conservação nestes locais devem ser intensificadas para que em futuros licenciamentos ambientais das propriedades, seja possível compreender a importância dos corredores ecológicos e do tamanho da área a ser preservada para manutenção destas corujas de grande porte. Corujas, originalmente de áreas pouco fragmentadas estão se adaptando a um novo ambiente onde as áreas urbanizadas deixam os habitats fragmentados, e essa proximidade com o ambiente urbano, pode ser fatal para estes animais. AGRADECIMENTOS Somos gratos a Glayson Ariel Bencke por auxílio na identificação do espécime taxidermizado e André Luiz Wittmann por disponibilizar o registro fotográfico de um indivíduo em Dois Irmãos. REFERÊNCIAS BENCKE, G. A. 2001. Lista de referência das aves do Rio Grande do Sul. Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, 104p. BENCKE, G. A. 2010. New and significant bird records from Rio Grande do Sul, with comments on biogeography and conservation of the southern Brazilian avifauna. Iheringia, 100 (4): 391-402. BENCKE, G. A.; FONTANA, C. S.; DIAS, R. A.; MAURÍCIO, G. N.; MÄHLER JR, J. K. F. 2003. Aves. In: Fontana, C. S.; Bencke, G. A.; Reis, R. E. (Orgs.). Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Edipucrs, p. 189 479. BENCKE, G. A.; DIAS, R. A.; BUGONI, L.; AGNE, C. E.; FONTANA, C. S.; MAURICIO, D. N.; MACHADO, D. 2010. Revisão e atualização da lista das aves do Rio Grande do Sul, Brasil. Iheringia, 100 (4): 519-556. BERNARDI, I. P.; TEIXEIRA, E. M.; JACOMASSA, F. A. F. 2008. Registros relevantes da avifauna do Alto Uruguai, Rio Grande do Sul, Brasil. Biociências, 16 (2): 134-137. CRBO - Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos. Listas das aves do Brasil. 11ª Edição. 2014. Disponível em <http://www.cbro.org.br>. Acesso em: 01 de abril de 2015.

Caderno de Pesquisa, série Biologia, volume 27, número 3 36 ESCLARESKI, P; M.; YOSHIMOTO, M.; ZANON, C. M. V.; LUCIO, L. C. 2011. Riqueza e abundância de Strigiformes em dois fragmentos florestais de Fênix, PR, BR. VIIII EPCC Encontro Internacional de Produção Científica Cesumar. Paraná: Cesumar, Anais eletrônico. Disponível em http://www.cesumar.br/ Acesso em 20 nov. 2012. FRANZ, I. 2009. Redescoberta de Mackenziaena severa (Lichtenstein, 1823) (Aves: Thamnophilidae) no limite sul de sua distribuição geográfica, Rio Grande do Sul, Brasil. Lundiana, 10 (1): 73-75. OLIVEIRA, S. L ; A. KÖHLER. 2010. Avifauna da RPPN da UNISC, Sinimbu, RS, Brasil. Biotemas, 23 (3): 93-103. SANT ANA, C. E. R.; J. A. F. DINIZ-FILHO. 1999. Macro Ecologia de Corujas (Aves: Strigiformes) da América do Sul. Ararajuba,7 (1) 3-11. SICK, H. 1997. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 862p. TEIXEIRA, E. M.; BERNARDI, I. P.; JACOMASSA, F. A. 2009. Avifauna de Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul, Brasil. Biotemas, 22(4): 117-124. TEIXEIRA, M. B.; NETO, C. A. B.; PASTORE, U.; FILHO, R. A. L. R. 1986. Vegetação. In: IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Levantamento de recursos naturais. Rio de Janeiro, IBGE,v. 33, p. 541-620. VOSS, W. A. ; SANDER, M. 1981. Aves Observadas numa monocultura de acácianegra, Acacia mollisima Willd., nos arredores de São Lepoldo, RS. Brasil Florestal, 11(46):7-15.