PROPOSTA DE COBRANÇA DE ÁGUA EM EDIFÍCIOS E CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS PROPOSAL OF COLLECTION OF WATER IN BUILDINGS AND RESIDENTIAL CONDOMINIUMS

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Transcrição:

III ENECS ENCONTRO NACIONAL SOBRE EDIFICAÇÕES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS PROPOSTA DE COBRANÇA DE ÁGUA EM EDIFÍCIOS E CONDOMÍNIOS RESIDENCIAIS Ricardo Nagamine Costanzi (ricardo.costanzi@poli.usp.br) Doutorando do Departamento de Hidráulica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e Docente da Universidade Estadual do Oeste do Paraná Alethéa Shiki (ashiki@terra.com.br) Graduanda do curso de Engenharia Civil da Universidade Estadual do Oeste do Paraná RESUMO O consumo de água em prédios e condomínios residenciais antigos ou mesmo novos, em geral, é medido de maneira coletiva, ou seja, os usuários que consomem mais água pagam menos enquanto que os usuários que consomem menos pagam mais pelo metro cúbico de água consumido. Esta distorção poderia ser corrigida pela instalação de medidores de água individualizados, porém isto acarreta um custo e uma readequação do sistema hidráulico de água fria. Desta forma, faz-se necessária buscar outras alternativas para a cobrança de água. Este trabalho teve como finalidade propor a cobrança de água baseada no consumo de gás. Realizou-se um estudo em uma edificação com 12 apartamentos com chuveiro a gás. Analisando os resultados, verificou-se que o método mais adequado dentre os analisados para a edificação em estudo foi o da divisão proporcional do consumo de água com o consumo de gás, que acarretou uma variação máxima no custo per capta de 11,81% ou de R$2,15. Desta forma, este método de cobrança tende a ser mais justo em relação a cobrança de água em condomínios. Palavras-chave: água, cobrança, condomínio PROPOSAL OF COLLECTION OF WATER IN BUILDINGS AND RESIDENTIAL CONDOMINIUMS ABSTRACT The consumption of water in old or new residential condominiums, in general, is measured in a collective way, in other words, the users that consume more water pay less while the users that consume less pay more for the cubic meter of water consumed. This inadequacy could be corrected by the installation of meters of water individualized, however this increase costs and need a change in water systems. This way, it is done necessary to look for other alternatives for the collection of water. This work proposes the collection of water based on the consumption of gas. This work studied a construction with 12 apartments with showers feed with gas. Analyzing the results, it was verified that the most appropriate method for the construction in study was the proportional division of the consumption of water with the gas consumption, that presented a maximum variation in the cost per person of 11,81% or of R$2,15. This way, this collection method tends to be fairer in relation to collection of water in condominiums. Keywords: water, collection, condominiums

1. INTRODUÇÃO Dentre os vários tipos de consumidores de água existentes, pode-se verificar que em sistemas de condomínios, tais como prédios residenciais, ocorrem problemas relacionados a água. Tais problemas podem ser originados principalmente a falta de medição individualizada do sistema hidráulico predial. Porém, pode-se verificar que a maioria dos sistemas hidráulicos prediais em sistemas condominiais realiza a medição de água de maneira global e que o processo de modificação destes sistemas para sistemas de medição individualizada acarretam em um custo. A medição individualizada pode ser definida como o uso de medidores individuais para abastecimento de apartamentos, condomínios e trailers, nos quais a água é cobrada por um medidor principal ou pelos medidores individuais, isto é, os submedidores. A medição individualizada pode ser usada nas categorias doméstica, comercial e industrial. Os submedidores permitem a cobrança individual. O uso do submedidor reduz o consumo entre 15% a 30%, o que é uma medida importante para a conservação da água. Os esforços para a racionalização da água englobam a conscientização dos usuários, a utilização de equipamentos economizadores, a preocupação com o melhor aproveitamento da água potável, e, portanto, o reuso de águas residuárias e águas de chuva, como também a atenção para implantação tanto em edificações novas como antigas, da medição individualizada para edifícios residenciais, que comprovadamente influencia na diminuição do consumo de água por residência. O consumo de água está relacionado ao seu preço. Quanto maior o preço da água, menor o seu consumo. Isto significa que se aumentarmos em 10% o preço da água em uma residência unifamiliar, o consumo cairá de 2% a 4%. Mas, em um edifício multifamiliar, o consumo cairá de zero a 2%, somente. Verifica-se que um apartamento gasta mais água que uma residência. Todos conhecem várias histórias de apartamentos com válvulas de descargas, chuveiros e torneiras vazando, em que nada é feito para consertá-los já que o pagamento é rateado entre todos (TOMAZ, 1997). Para solucionar estes problemas é que se recomenda a medição de água individualizada por apartamento. Em algumas cidades, já existem leis que obrigam a implantação deste sistema de medição em edificações que serão construídas destinadas à população de baixa renda. Porém, a medição individualizada exige uma reformulação na maneira de se elaborar um projeto hidráulico e principalmente, aborda dois aspectos: 1. aumento do custo de implantação em sistemas a serem executados e em sistemas existentes devido a reformulação necessária; 2. Dificuldades de implementação do sistema devido ao projeto arquitetônico ou a projetos já existentes. Desta forma, existe uma necessidade iminente de implantação e desenvolvimento de outras alternativas para que seja corrigida a distorção da tarifa dividida considerando-se apenas o número de apartamentos e a correlação do uso da água e de energia (CHENG, 2001; DENG, 2002), desconsiderando a forma de uso de água do usuário e o número de usuários em uma unidade.

A água está presente em várias atividades do dia a dia e é utilizada para suprir as necessidades físicas como, bebida, comida, higiene pessoal e doméstica entre outras. A água é usada de várias maneiras e em diferentes quantidades, conforme apresentado por CHAIN et al (2000) na Figura 1. 30,7% 3,7% 4,3% 6,1% 12,3% 24,5% 18,4% Beber/cozinhar Limpeza de casa Lavar roupa Descarga sanitária Lavar louças Asseio pessoal (sem banho) Banho/chuveiro FIGURA 1 - Distribuição da água no consumo doméstico. Fonte: CHAIN et al, 2000 Deve-se observar que estes dados foram colhidos no Brasil. Há uma diferença razoável quanto ao uso da água em outros países. 2.OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é estudar alternativas de cobrança de água em condomínios visando diminuir as distorções da cobrança baseada no número de apartamentos. 3. MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho foi dividido conforme o apresentado a seguir: 3.1. Edificação Residencial Escolha de um condomínio residencial com utilização de gás para aquecimento de chuveiro/banheira para estudo e análise da cobrança de água. 3.2 Dados referentes aos moradores e ao consumo de água Pela aplicação de um questionário objetivo e de entrevistas foram obtidas informações quanto aos moradores da edificação, tais como números de moradores por apartamento, tempo de permanência na residência e quantitativo de utensílios que fazem uso de água (ex. máquinas de lavar roupa, louça, banheira de hidromassagem, etc.) O consumo de água mensal do condomínio foi obtido pela conta de água da Sanepar, sendo realizada uma média com os dados e, assim, obtendo-se o consumo médio mensal e o

consumo médio por habitante. Este fator é importante para se observar o gasto de água no edifício. 3.3 Métodos alternativos de cálculo do custo de água Foram realizados três métodos de cálculos alternativos correlacionando o uso da água com o uso do gás: divisão proporcional ao consumo de gás uso proporcional ao consumo de gás utilizado para o consumo de água; divisão mista uso proporcional do consumo de gás incidente apenas sobre a parcela de água utilizada nos aparelhos que consomem gás, sendo a outra parcela dividida igualmente pelo número de apartamentos; divisão mista * - idêntica a divisão mista, porém considera a possibilidade de gasto nulo de água para o apartamento que não apresente nenhum consumo de gás, sendo seu custo dividido pelas demais unidades. 4.1 Edificação Residencial 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES A edificação em questão é o Condomínio Residencial Porto Belo, sito a rua Maranhão, nº 1284, Cascavel, Paraná. O condomínio possui o pavimento térreo e 6 (seis) pavimentos tipo, contendo 2 (dois) apartamentos por andar. Cada apartamento possui: - 1 suíte; - 2 dormitórios; - 2 banheiros; - sala de estar/jantar; - cozinha; - área de serviço; - dependência de empregada. 4.2 Dados referentes aos moradores e ao consumo de água A princípio foi coletado o consumo de água mensal do condomínio pela concessionária de abastecimento de água, calculando-se uma média de consumo de água para cada morador do prédio. Deste modo, obteve-se um consumo mensal de 290,0 m³ per capta e o consumo diário de 9,67m³. Os moradores somam um total de trinta e nove pessoas, podendo-se estimar como consumo médio por pessoa por dia de 248 litros. A seguir serão apresentadas quadros e figuras da análise do questionário aplicado no condomínio aos moradores. Obtendo-se na Tabela 1 o número dos moradores quanto a faixa etária:

TABELA 1 Número de moradores quanto a faixa etária APTO. Bebês Crianças Adolescentes Adultos Idosos Total 101-3 - 2-5 102-2 - 2 1 5 201 1 1-2 - 4 202 1 1-2 - 4 301-1 1 1-3 302-1 2 2-5 401 - - - 2-2 402 - - - - - - 501-2 - 2-4 502 - - - 2-2 601 1 - - 2-3 602 - - - 2-2 Total 3 11 3 21 1 39 As atividades dos moradores quanto ao período em que trabalham ou estudam são apresentadas na Figura 2. 20% 37% 20% 23% Integral Integral e noite 1 período nenhum FIGURA 2 Moradores em relação ao período em que estão em alguma atividade Quanto a freqüência com que almoçam em casa, cerca de metade (50%) dos moradores tem o hábito de almoçar em casa. Quanto a empregadas ou diaristas, pode-se observar na Figura 3 que a maioria dos apartamentos possui empregada. 10% 10% 30% Não tem Mensalista 2x por semana 1x por semana 50% FIGURA 3 - Número de apartamentos com empregada 4.3 Levantamento do sistema hidráulico da edificação - Nº de aparelhos sanitários por apartamento: 1 banheira de hidromassagem; 3 vasos válvula de pressão; 3 torneiras de lavatórios; 2 torneiras de cozinha; 3 chuveiros.

4.4 Consumo e Custo da água por apartamento Para os cálculos, utilizou-se um custo unitário da água de R$2,65 que é a tarifa utilizada para consumos maiores que 30 m³. divisão dos custos iguais: Consumo mensal médio = 290 m³ Custo/m³ = R$2,65 Custo mensal = R$768,50xR$2,65 Custo mensal = R$768,50 Custo por apartamento = R$64,05/12 Custo por apartamento = R$64,05 divisão proporcional ao consumo de gás: No edifício Porto Belo, foi instaurada a cobrança da água em função da quantidade de gás consumida por apartamento, visto que a medição de gás é individualizada. A Tabela 2 apresenta a média dos últimos 6 meses do custo da água em função do gasto de gás. TABELA 2 - Custo de água por apartamento Aptos. Consumo gás Porcentagem Custo da água Custo per capta 101 14,4 12,01% R$ 92,26 R$18,45 102 10,8 9,00% R$ 69,19 R$13,84 201 9,2 7,67% R$ 58,94 R$14,74 202 10,6 8,84% R$ 67,91 R$16,98 301 7,8 6,50% R$ 49,97 R$16,66 302 22,6 18,84% R$ 144,79 R$28,96 401 8,4 7,00% R$ 53,82 R$26,91 402 0 0,00% R$ 0,00 _ 501 14,4 12,00% R$ 92,26 R$23,06 502 5 4,17% R$ 32,03 R$16,02 601 10 8,34% R$ 64,07 R$21,36 602 6,75 5,63% R$ 43,25 R$21,62 Total 119,95 100,00% R$ 768,50 _ Pelos resultados, nota-se a variação do custo por apartamento. Os apartamentos com maior número de pessoas são os que mais consomem e também, pode-se observar que o proprietário do apartamento 402, o qual está desabitado, não é prejudicado tendo um custo não realizado. Pode-se observar desvios nesta forma de cobrança observando-se a última coluna do quadro, mas mesmo com estas distorções ocorre um ajuste melhor do que a da cobrança dividida. divisão mista Outro processo seria a cobrança sobre a parcela teórica de consumo de água relacionada com o consumo de gás adicionada da parcela restante pela forma dividida, ou

seja, vinte e quatro e meio porcento da água seria cobrado em relação ao consumo de gás e o restante seria dividido igualmente (Tabela 3). TABELA 3 custo de água por apartamento Aptos. Custo da água Custo per capta *Custo da água *Custo per capta 101 R$70,95 R$14,19 R$75,35 R$15,07 102 R$65,30 R$13,06 R$69,70 R$13,94 201 R$62,79 R$15,70 R$67,19 R$16,80 202 R$64,99 R$16,25 R$69,39 R$17,35 301 R$60,59 R$20,20 R$64,99 R$21,66 302 R$83,83 R$16,77 R$88,22 R$17,64 401 R$61,54 R$30,77 R$65,93 R$32,97 402 R$48,35 _ R$0,00 R$0,00 501 R$70,95 R$17,74 R$75,35 R$18,84 502 R$56,20 R$28,10 R$60,60 R$30,30 601 R$64,05 R$21,35 R$68,44 R$22,81 602 R$58,95 R$29,47 R$63,34 R$31,67 Total R$ 768,50 _ R$ 768,50 Pode-se ainda, neste método de cálculo, considerar a cobrança nula do apartamento 402 (*) vide Tabela 3. Porém, deve-se tomar a seguinte precaução: o uso de água em áreas comuns deve ser dividido por todos os condôminos, necessitando desta forma de um hidrômetro para medição das áreas comuns. Na Figura 4, observa-se o custo per capta relacionado ao número de moradores por apartamento. custo per capta 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 0 1 2 3 4 5 divisão igual divisão proporcional divisão mista divisão mista* número de moradores por unidade FIGURA 4 Custo per capta em função do número de moradores por unidade de acordo com cálculos diferenciados de cobrança de água

Pode-se notar uma grande inadequação do método de cobrança de água pela divisão dos custos iguais por apartamento, ou seja, um apartamento que possua uma pessoa tem um custo per capta cinco vezes maior do que um apartamento com cinco moradores. Pode-se observar que os métodos de cálculo da divisão mista e divisão mista* tendem a associar um custo per capta maior para os apartamentos com menos moradores, característica desejável, porém, ainda, mantém o problema da divisão de custo igual devido a constatação de que o custo per capta para uma unidade com duas pessoas é aproximadamente duas vezes superior do que para uma unidade com cinco pessoas. Desta forma, o método de cálculo de cobrança de água mais adequado foi o da divisão proporcional ao consumo de gás, tendo como diferenças máximas no custo per capta de no máximo 11,81% ou de dois reais e quinze centavos para as unidades estudadas. 5. CONCLUSÃO A cobrança de água em condomínios baseada nas unidades de apartamentos possui uma grande distorção, onerando as unidades com menos moradores e beneficiando as unidades com mais moradores. Isto pode ser um incentivo ao desperdício de água e uma forma alienadora do uso da água. O método mais adequado dentre os analisados para a edificação em estudo foi o da divisão proporcional do consumo de água com o consumo de gás, que acarretou uma variação máxima no custo per capta de 11,81% ou de R$2,15. Desta forma, este método de cobrança tende a ser mais justo em relação a cobrança de água em condomínios. Deve-se ressaltar que esta forma de cobrança possui imperfeições, porém minimiza as distorções da medição coletiva e da cobrança dividida igualmente por apartamento. Observa-se, também, a necessidade de uma gama maior de estudo em outras edificações para melhor averiguação deste estudo em questão. 6. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA CHAIN, R.R.; NETTO, C.A.M.F.; MESSUTI, E.; RIBEIRO, L.A. Sistema de reaproveitamento de água para edificações. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA, 20º, 2000. CHENG, C. Study of inter-relationship between water use and energy conservation for a building. Energy and Building. 34, p. 261-266, 2001. DENG, S. Energy and water uses and their performance explanatory indicators in hotels in Honk Kong. Energy and Building. 1533, p. 1-10, 2002. TOMAZ, P. Conservação da água. São Paulo, 294p. 1997.