ALTERAÇÃO DA REGRA DE UTILIZAÇÃO DO GOLEIRO-LINHA OCORRIDA EM JANEIRO DE 2011: IMPLICAÇÕES TÉCNICO-TÁTICAS

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Transcrição:

Recebido em: 15/10/2013 Parecer emitido em: 25/11/2013 Artigo original TAVEIRA, L.M.; LADEIA, H.A.; BARBOSA, G.L.; SOUZA, P.R.C. de. Cristóvão Oliveira ABREU, Alessandro Júnior Mendes FIDELIS, Gibson MOREIRA PRAÇA, Alteração da regra de utilização do goleiro-linha ocorrida em janeiro de 2011: implicações técnico-táticas, Coleção Pesquisa em Educação Física, Várzea Paulista, v. 12, n. 4, p. 33-40, 2013. ALTERAÇÃO DA REGRA DE UTILIZAÇÃO DO GOLEIRO-LINHA OCORRIDA EM JANEIRO DE 2011: IMPLICAÇÕES TÉCNICO-TÁTICAS RESUMO Leonardo Mesquita Taveira¹, Hernane Alves Ladeia¹, Gustavo Lara Barbosa 1, Pablo Ramon Coelho de Souza 2, Cristóvão Oliveira Abreu 1, Alessandro Júnior Mendes Fidelis 3, Gibson Moreira Praça 2. A mudança na regra do futsal que impactou na forma de utilização do goleiro-linha no futsal, ocorrida em janeiro de 2011, vem ocasionando algumas modificações tático-ofensivas nesta modalidade. Diante disto, é de suma importância que profissionais da área da educação física juntamente a profissionais ligados a esta modalidade adquiram conhecimento quanto a essas implicações da mudança na regra, para que se possa saber utilizar este recurso ofensivo da melhor maneira possível. Este trabalho teve como objetivo quantificar e discutir através de vídeos a utilização do goleiro-linha como opção tática ofensiva no futsal. A pesquisa analisou 7 jogos anteriores e 7 jogos posteriores a mudança na regra. Como suporte metodológico, foram utilizadas planilhas de observação [scout]. As análises obtidas na pesquisa permitem concluir que: na maioria das situações táticas analisadas não se encontraram mudanças significativas quanto à utilização do goleiro-linha no futsal antes e depois da mudança de regra ocorrida em janeiro de 2011. Palavras-chave: Futsal. Goleiro-linha. Interferência no resultado. Tática. CHANGES OF THE RULE OF USE OF GOALKEEPER-LINE OCCURRED IN JANUARY 2011: TECHNICAL AND TACTICAL IMPLICATIONS ABSTRACT Changing the Indoor Soccer rule that impacted in the line-goalkeeper use by the teams, which occurred in January 2011, has caused some tactical-offensive changes in this sport. Therefore, it is crucial that physical education professionals and other correlate professionals acquire knowledge about the implications of the change in the rules, to use this offensive tool in its the best way. This study aimed to quantify and discuss through videos the use of the line-goalkeeper as a tactical offensive option in futsal. In the research seven games before the change in the rule and seven games that happened after the change in the rule were analyzed. As a methodological support, observation spreadsheets were used [scout]. The analyzes obtained in the study allow us to conclude that in most tactical situations analyzed no significant changes were found, regarding the use of the line-goalkeeper in futsal before and after the rule change occurred in January 2011. Keyword: Soccer indoor. Line-goalkeeper. Interference in the result. Tactics. Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 12, n. 4, 2013 - ISSN: 1981-4313 33

INTRODUÇÃO O futsal é um Jogo Esportivo Coletivo (GARGANTA, 1997) com grande adesão no Brasil (SILVA et al., 2011). Conta hoje com cerca de dois milhões de praticantes de ambos os sexos, sendo considerado um esporte em franca ascensão a nível mundial (MARQUES, 2011), e possui como característica central a presença de constantes situações-problema, as quais se dão em contextos aleatórios, imprevisíveis e complexos (GARGANTA; GRÉHAIGNE, 1999) com permanente pressão temporal, o que demanda dos atletas permanente atitude tático-estratégica para a solução tática nas etapas o que fazer, relacionada à elaboração mental de soluções, e como fazer relacionada ao gesto motor em si (GRECO; BENDA, 1998). Segundo Marques (2011), o futsal difere do futebol nas dimensões do campo, balizas e bola. Nos três casos são menores, o que torna as situações técnico-táticas do jogo mais difíceis e complexas. Além disso, inúmeras modificações na relação pessoa-tarefa-ambiente (NITSCH, 2009) modificam o parâmetro situacional nos Jogos Esportivos Coletivos, incluindo o Futsal, o que evidencia a necessidade de formação de jogadores inteligentes com desenvolvimento do pensamento convergente e criativos com desenvolvimento do pensamento divergente (GIACOMINI; GRECO, 2008). No Futsal, um dos constrangimentos criados por equipes, comumente em situação de derrota em um jogo, é a utilização do goleiro como um quinto jogador no campo de jogo, criando uma superioridade numérica ofensiva manobra conhecida como a regra do goleiro-linha. Tal manobra pode ser realizada com a utilização do próprio goleiro na função de goleiro-linha ou com a colocação de um jogador de linha no lugar no goleiro, assumindo efetivamente a posição de um quinto jogador no campo de jogo. Segundo Simões (2006), o goleiro-linha surgiu no futsal em meados da década de 1990. Em 1991 foi liberado para finalizar a gol e em 1994 foi liberado de jogar fora de sua área de meta. Após alguns meses, os treinadores notaram dificuldades técnicas por parte dos goleiros no desenvolvimento do jogo com os pés. Passou-se então a utilizar os jogadores de linha que possuíam uma técnica mais refinada em substituição aos goleiros na utilização do recurso. De acordo ainda com o mesmo autor, esta situação passou a ser frequentemente utilizada nos finais dos jogos pela equipe que estava em desvantagem no placar, gerando grande interferência no resultado das partidas, seja positivamente, marcando gols, como negativamente, os sofrendo. Calabria (2004) cita ainda que com a introdução do goleiro linha na década de 90, este jogador passou a ter importância fundamental na dinâmica do jogo e principalmente passou a estar presente nas situações tático-ofensivas das equipes de futsal. Normalmente aplicada nas fases finais de jogo, como tentativa de igualar ou reverter um placar desfavorável, consiste em avançar o goleiro na altura do meio da quadra para frente, deixando sua área de meta desprotegida, com o intuito de se criar uma situação de superioridade numérica na organização das ações ofensivas. É consenso entre profissionais deste esporte que toda equipe começa por um bom goleiro e investigar a influência da alteração da regra 12 sobre as ações técnico-táticas do mesmo se torna o objetivo principal deste estudo. As regras do jogo aparecem como importantes constrangimentos na caracterização da tarefa nos Jogos Esportivos Coletivos (PASSOS; ARAUJO; DAVIDS, 2013). Estas regras podem regular as interações de oposição e cooperação estabelecidas entre os praticantes (PASSOS et al., 2011), o que, numa abordagem sistêmica, configura-se como a própria essência do jogo (GRÉHAIGNE; BOUTHIER, 1997). Após a mudança da regra, o goleiro só pode controlar a bola uma vez na sua própria metade da quadra, por no máximo quatro segundos. Só poderá tocar novamente, caso algum adversário tenha tocado a bola ou caso ultrapasse o meio da quadra (SANTANA, 2010). Assim, o posicionamento do goleiro-linha, antes normalmente centralizado no campo defensivo de forma a proteger a própria meta em caso de perda da posse de bola, teve que ser alterado para o campo ofensivo. O objetivo deste estudo foi comparar através de vídeos a utilização do goleiro-linha como opção tática ofensiva em dois momentos históricos distintos: antes de 2011 e depois de 2011. Para isso, analisaram-se as mudanças ocorridas na frequência de utilização deste recurso e seus respectivos níveis de eficácia. Conduziu-se a análise considerando apenas as ações em que o goleiro for utilizado fora de sua área de meta e finalizando no momento em que estas ações sejam concluídas ou haja inversão de posse de bola. DESCRIÇÃO METODOLÓGICA Utilizou-se da metodologia observacional (ANGUERA, 1999) durante a realização da pesquisa. Foi realizada uma análise de vídeos, visando mensurar e analisar dados técnico-táticos referentes à utilização do recurso do goleiro-linha nas partidas de futsal. Para os fins desta pesquisa, considerou-se participação ou acionamento do goleiro-linha, toda vez que o mesmo entrasse em contato com a bola fora da área de sua meta. 34 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 12, n. 4, 2013 - ISSN: 1981-4313

AMOSTRA Analisaram-se quatorze jogos da Eurocopa de futsal, sendo sete da temporada de 2009/10 realizado na Hungria e sete da temporada de 2011/12 realizado na Croácia, sendo ainda todos da fase final do campeonato. Apenas o tempo regulamentar foi utilizado para análise, não sendo consideradas as prorrogações nos casos de igualdade nos resultados finais das partidas. Os nomes dos jogadores e dos países participantes foram preservados, estando esta pesquisa de acordo com as normas sugeridas pelo comitê de ética em pesquisas do hospital Sofia Feldman (CEP/HSF), tendo a mesma, obtido e aprovado o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética de Nº 01345412.6.0000.5096. PROTOCOLOS UTILIZADOS Utilizou-se para observação dos jogos uma televisão LCD de alta definição 50 polegadas e um leitor de DVD, ambos da marca LG. Os dados coletados foram distribuídos em planilhas de observação [scout], adaptadas de acordo com os estudos de Fidelis; Souza; Silva (2006) e transferidos para tabelas que foram divididas em situação 1, anterior a mudança na regra em 2011 e situação 2, posterior a mudança da regra em 2011. A análise estatística comparando os resultados de antes e depois da mudança nas regras foi realizada através do teste de qui-quadrado. O pacote estatístico para se realizar a análise foi o SPSS 18.0 e o nível de significância adotado de p<0,05. Os itens analisados foram: Frequência de utilização do goleiro linha e em qual fase do jogo foi utilizado, frequência de utilização do goleiro-linha ou linhagoleiro, número de finalizações do goleiro e dos jogadores de linha, número de gols convertidos e sofridos e número de perdas de posse de bola utilizando-se deste recurso. Através desta análise verificar-se-á se houveram mudanças tático-ofensivas quanto à utilização do goleiro-linha e se este recurso tornou-se mais ou menos eficaz. DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS A tabela 1 apresenta os resultados encontrados neste estudo. Cinco situações utilizando-se do recurso ofensivo do goleiro-linha serão representadas em tabelas para melhor visualização e entendimento das mesmas. Tabela 1. Frequência de utilização do goleiro-linha e fase do jogo. Regra Frequência S. P. IG. P IF. P Tempo % Tempo % Tempo % 1 1244 30 2,5 423 34,0 791 63,5 2 1271 0 0,0 69 5,5 1202 94,5 p 0,845 - - 0,001-0,001 - Legenda. 1 = Antes da mudança em 2011; 2 = Depois da mudança em 2011; S.P. = Superioridade no placar; IG.P. = Igualdade no placar; IF.P. = Inferioridade no placar; p = Nível de significância. De acordo com as anotações, pode-se constatar que na tabela 1, a frequência total de utilização do goleiro-linha entre as situações 1 e 2 não apresentou diferença significativa. Tal achado contraria a expectativa de uma maior utilização do goleiro-linha nos jogos realizados na situação 1, uma vez que neste período era permitido que o goleiro jogasse com os pés na quadra de defesa sempre que necessário, bastando que a bola superasse o meio da quadra e, oferecendo com isto além da possibilidade de atacar com o goleiro-linha, também realizar posse de bola nos momentos em que a equipe se encontrasse a frente no placar. Saad; Costa (2005), afirmam que o jogo do goleiro-linha, conforme a regra do jogo em 2005 (Situação 1) consiste em troca de passes entre os jogadores de linha com o goleiro, tendo como objetivo exercer superioridade numérica ao atacar ou valorizar a posse de bola em sua quadra de defesa quando sofre marcação pressão por parte do adversário, o que deveria criar condições para uma maior utilização deste recurso a partir da regra anterior a 2011. Além disso, Calabria (2004), afirma que nos tempos antecedentes à Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 12, n. 4, 2013 - ISSN: 1981-4313 35

mudança na regra do goleiro-linha, também em condições de resultado positivo, empregam-se em algumas ocasiões o goleiro de movimento como gestor da bola, exercendo superioridade numérica na tentativa de realizar a manutenção da posse de bola, o que representa assim uma outra possibilidade de utilização desta manobra O que se verificou na realidade, foi que esta segunda opção de utilização do goleiro-linha realizando posse de bola, não foi explorada na situação 1, situação que possivelmente explica a igualdade do tempo total de utilização do goleiro-linha. Dentro ainda da tabela 1, foi analisado em que fase do jogo o recurso do goleiro-linha foi utilizado. Em superioridade no placar (S.P.) não foi possível calcular qui-quadrado, pois não houve situações observadas na situação 2. Nos jogos ocorridos na situação 1, o recurso do goleiro-linha foi utilizado apenas por 30 segundos (2,5%) e na situação 2, não foi utilizado (0%). Foi possível se observar que diante do tempo total de utilização nas duas situações, o recurso do goleiro-linha praticamente não foi utilizado. Dados estes que contrariam a expectativa de uma maior utilização do goleiro-linha como forma de manter a posse de bola nos momentos em que as equipes se encontrassem em (S.P.), nos jogos da situação 1. Possivelmente os goleiros não reuniam os atributos técnico-táticos necessários à boa execução da manobra, conforme destaca Santana (2008), quando diz que o goleiro deve possuir técnica apurada nos pés e ser capaz de realizar o jogo de quadra. Quanto aos jogos na situação 2, levando-se em conta que o goleiro deve transpor obrigatoriamente a linha demarcatória do meio da quadra para utilizar o recurso do goleirolinha, as equipes se mostraram mais conservadoras ainda, não utilizando-se deste recurso e evitando assim serem surpreendidas com as suas metas desprotegidas. Desta forma, conforme alerta Mutti (2003), passes precisos e a busca por um bom ângulo de passe por parte do goleiro são fundamentais na manobra de goleiro-linha, não permitindo assim que o adversário intercepte a bola passada por ele, pois a meta estará totalmente aberta para o chute do oponente. Em igualdade no placar (IG.P.),o teste de qui-quadrado indicou diferença estatística significativa (Valor p= 0,001) entre as situações 1 e 2. Nos jogos ocorridos na situação 1, o recurso do goleiro-linha foi utilizado em 423 segundos (34%) e nos jogos ocorridos na situação 2, foi utilizado em 69 segundos (5,5%). Situação que possivelmente é explicada pela maior facilidade de utilização do recurso do goleiro-linha na situação 1. O goleiro tinha liberdade de jogar antes e após a linha demarcatória do meio da quadra, o que é confirmado por Mutti (2003), ao relatar que muitas equipes já utilizavam seus goleiros como um elemento fundamental em jogadas no seu setor defensivo. O que já não ocorre na situação 2, onde o goleiro após haver tocado uma vez na bola, só poderá voltar a atuar como goleiro-linha após ultrapassar a linha demarcatória do meio da quadra, tornando este recurso mais perigoso e sendo assim pouco utilizado em (IG.P.) em jogos ocorridos na situação 2. As equipes se demonstraram mais conservadoras a partir das implicações da modificação da regra. Em inferioridade no placar (IF.P), o teste de qui-quadrado indicou diferença estatística significativa entre as situações 1 e 2 (Valor p = 0,001). Utilizou-se o recurso do goleiro-linha em 791 segundos (63,5%) nos jogos ocorridos na situação 1 e em 1202 segundos (94,5%) nos jogos ocorridos na situação 2. Diferença possivelmente explicada pelo fato de na situação 1, ter acontecido um número menor de situações de (IF.P.) no tempo normal. Acredita-se que esta diferença não tenha sido influenciada pela mudança na regra, pois o recurso do goleiro-linha é importante e passível de ser utilizado independente da limitação de espaço utilizável para atacar ou não deste jogador. Tabela 2. Finalizações do goleiro ou jogadores de linha. F. G. F. J. L. Regra N. F. Nº % Nº % 1 28 4 14,3 24 85,7 2 28 5 17,9 23 82,1 p 0,897 0,723-0,843 - Legenda. 1 = Antes da mudança em 2011; 2 = Depois da mudança em 2011; N.F. = Número de finalizações; F.G. = Finalizações do goleiro; F.J.L. = Finalizações dos jogadores de linha; p = Nível de significância. De acordo com a tabela número 2, houve igualdade em número de finalizações (N.F.) utilizandose do recurso do goleiro-linha. Sendo assim, para a amostra selecionada, a mudança na regra não incidiu 36 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 12, n. 4, 2013 - ISSN: 1981-4313

diretamente no número de finalizações utilizando-se do recurso do goleiro-linha. Não houve alteração destes números. Nas situações 1 e 2, o goleiro-linha demonstrou-se um bom recurso ofensivo, principalmente em situações adversas no placar, ideia compartilhada por Calabria (2004), ao afirmar que o jogo com o goleiro-linha geralmente, mas não uma regra, é aplicado nas fases finais dos jogos, como tentativa extrema de recuperar resultados desfavoráveis e consiste no avanço do goleiro, deixando sua área de meta e criando uma superioridade numérica na organização das ações ofensivas. Portanto apesar da diferença no posicionamento do goleiro, que dentro do regulamento antigo, podia atuar na quadra de defesa e ataque e com o advento do novo regulamento atua na maioria do tempo apenas no campo ofensivo, não incidiu no número de finalizações utilizando o recurso do goleiro-linha. Quanto à análise principal da tabela número 2, investigou-se a diferença entre o número de finalizações do goleiro (F.G.) e número de finalizações dos jogadores de linha (F.J.L). Foram 4 (F.G.) na situação 1 (14,3%) e 5 na situação 2 (17,9%). A análise estatística não indicou diferença significativa (Valor p = 0,723). Quanto a (F.J.L.), aconteceram 24 na situação 1 (85,7%) e 23 na situação 2 (82,1%). A análise estatística não indicou diferença significativa (Valor p = 0,843). Resultados possivelmente explicados pelo mesmo motivo do número total de finalizações. Provavelmente a mudança na regra não alterou o número e nem por quem as finalizações foram realizadas utilizando o recurso do goleiro-linha. Quem executa as finalizações depende muito mais da oportunidade de se encontrar em uma situação favorável de finalização, do que propriamente limitações de posicionamento provocadas por alterações na regra. Situação que vai de encontro com o estudo de Mutti (2003), quando diz que a utilização do goleiro-linha como estratégia ofensiva de jogo, possibilita um posicionamento diferenciado na quadra de ataque, gerando uma superioridade numérica e possibilitando diversas finalizações dos jogadores envolvidos. Tabela 3. Gols convertidos e sofridos em ações com o goleiro-linha. Regra G. C. G. S. 1 4 3 2 4 3 p 0,911 0,987 Legenda. 1 = Antes da mudança em 2011; 2 = Depois da mudança em 2011; G. C. = Gols convertidos; G. S. = Gols sofridos; p = Nível de significância. De acordo com a tabela 3, houve igualdade quanto ao número de gols convertidos (G.C.) e gols sofridos (G.S.), realizando ações ofensivas com o recurso do goleiro-linha. Quanto ao número de (G.C.), foram 4 na situação 1 e 4 na situação 2. Com o teste qui-quadrado não indicando diferença estatística significativa (Valor p = 0,911). Situação possivelmente explicada pela falta de relação entre a mudança na regra e os (G.C.). A restrição na participação do goleiro-linha provavelmente não influi no número de finalizações, consequentemente não influindo no número de gols convertidos. Talvez, possa ter ocasionado uma mudança quanto ao posicionamento de chute do goleiro-linha, que na situação 1 tinha mais liberdade para finalizar do que na situação 2, mas tal liberdade não implicou em um número maior de finalizações e (G.C.). O que realmente se demonstra relevante, é o fato de a grande maioria dos gols serem convertidos por finalizações perto do gol, isto é, nas proximidades da área adversária ou dentro da área. Vale ressaltar que nas duas situações, este fato se verifica e não é restringido pela alteração na regra. Portanto a mudança na regra provavelmente não incidiu no número (G.C.) Quanto ao número de (G.S.) utilizando o recurso do goleiro-linha, houve igualdade de resultados. O teste de qui-quadrado não indicou diferença estatística significativa (Valor p = 0,987). A expectativa de que a utilização do goleiro-linha se tornaria mais perigosa e danosa na situação 2, não se confirmou. Esperavase um número maior de G.S nesta situação, o que não ocorreu. Acreditava-se nesta devido ao fato do jogo com o goleiro linha ter que ocorrer restritamente na zona da linha demarcatória do meio da quadra para frente, possibilitando um maior número de roubo de bolas, devido ao espaço mais reduzido e consequentes finalizações com o gol desprotegido, conforme cita Calabria (2004), quando diz que o jogo do goleirolinha pode se demonstrar perigoso, pois deixa sua própria área de meta desguarnecida. Na situação 1, a hipótese era de observar um número menor de (G.S.), pois o goleiro podia dar suporte aos outros jogadores em sua própria quadra defensiva, dificultando a ação da defesa, como cita Saad; Costa (2005), quando diz Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 12, n. 4, 2013 - ISSN: 1981-4313 37

que um dos objetivos do goleiro-linha é valorizar a posse de bola em sua quadra de defesa e Mutti (2003), ao relatar que muitas equipes já utilizavam seus goleiros como um elemento fundamental em jogadas no seu setor defensivo. Hipótese não concretizada e que só não apresentou resultados mais distantes, porque os defensores do time adversário não aproveitaram 13 das 16 oportunidades em que roubaram a bola na situação 1 (vide tabela 4). Serão necessários estudos complementares dos sistemas defensivos utilizados contra o goleiro-linha, que possivelmente poderão explicar estes resultados. Tabela 4. Número de perdas de posse de bola devido ao goleiro-linha. Regra P. P. B. 1 16 2 9 p 0,453 Legenda. 1 = Antes da mudança em 2011; 2 = Depois da mudança em 2011; P. P. B. = Perda da posse de bola; p = Nível de significância. De acordo com a tabela número 4, verificou-se um resultado à expectativa. Esperava-se que nos jogos ocorridos na situação 2, ocorresse um maior número de perda de posse de bola (P.P.B.), devido provavelmente ao fato do jogo de goleiro-linha ter se tornado mais perigoso, pois este recurso passou a ser desenvolvido na quadra de ataque, facilitando a ação da defesa. Em contrapartida, esperava-se um menor número de (P.P.B.) nos jogos ocorridos na situação 1, devido à maior facilidade de desenvolvimento do jogo do goleiro-linha, que podia disfrutar de toda a quadra em suas ações ofensivas, dificultando assim a ação da defesa. O que se constatou, foi o contrário. Foram 16 (P.P.B.) na situação 1 e 9 na situação 2. O teste qui-quadrado não indicou diferença estatística significativa (Valor p = 0,162). A contrariedade dos resultados, possivelmente pode ser explicada pela pior condição técnica dos jogadores de algumas equipes atuantes na situação 1, se comparados com os jogadores atuantes na situação 2, estando em conformidade com os estudos de Ferreira (2008), quando diz que os praticantes da modalidade futsal necessitam cada vez mais de uma variada gama de recursos que possam ser utilizados de acordo com as necessidades. Estes resultados, também sugerem estudos complementares dos sistemas de marcação utilizados contra o goleiro-linha, que podem dar um sentido a estes resultados. Tabela 5. Frequência de utilização do goleiro-linha ou linha-goleiro Regra G. L. L. G. Tempo % Tempo % 1 5,5 4,5 1189 95,5 2 14 1,2 1257 98,8 p 0,011-0,0675 - Legenda. 1 = Antes da mudança em 2011; 2 = Depois da mudança em 2011; G. L. = Goleiro-linha; L. G. = Linha-goleiro; p = Nível de significância. De acordo com a tabela 5, o goleiro-linha (G. L.) foi utilizado apenas em 55 segundos (4,5%) na situação 1 e em 14 segundos (1,2%) na situação 2. O teste qui-quadrado indicou diferença significativa entre os resultados (Valor p = 0,011). Já o linha-goleiro (L. G.) foi utilizado em 1189 segundos (95,5%) na situação 1 e 1257 segundos (98,8%) na situação 2. O teste qui-quadrado não indicou diferença estatística significativa (Valor p = 0,675). De acordo com os resultados apresentados, apesar da diferença estatística significativa entre a situação 1 e 2 quanto à frequência de utilização do (G.L.), percebe-se que este jogador teve uma participação mínima nas duas situações. Responsabilidade transferida aos jogadores de linha que assumiram a função do (L.G.) para as ações ofensivas de superioridade numérica. Situação esta, possivelmente explicada pela característica dos goleiros ser diferente da demandada para o sucesso em ações de goleiro-linha, o que desestimula sua presença, já que poderia colocar em risco o resultado das partidas. Importância esta confirmada por Mutti (2003), quando afirma que o goleiro para atuar fora de 38 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 12, n. 4, 2013 - ISSN: 1981-4313

sua área de meta, imprescindivelmente deve possuir qualidades técnicas para efetuar passes, recepções e chutes, assim como ter noção de cobertura à sua defesa em caso de contra-ataque. Santana (2008), também corrobora com esta ideia, quando diz que o goleiro-linha deve ser um exímio defensor de sua área de meta e ainda ser capaz de fazer o jogo de quadra, isto é, passe, recepção, movimentação, drible e finalização. Dessa forma, a solução encontrada pelos treinadores foi utilizar os jogadores de linha, na situação de (L.G.), para as ações ofensivas com superioridade numérica, garantindo uma maior qualidade e segurança técnica. Este fato é confirmado por Calabria (2004), quando diz que o linha-goleiro além de reunir qualidades de guarda-metas, garante uma melhor administração ofensiva das ações. Cabe-se ressaltar, que estes resultados vão contra a hipótese dos pesquisadores, que costumam ver nos campeonatos do Brasil, goleiros com altíssimas qualidades técnicas no que diz respeito ao jogo com os pés, não havendo, portanto, a dependência do (L.G.). Possivelmente a falta de treinamentos específicos para os goleiros na Europa, expliquem esta escassez técnica no jogo com os pés. CONCLUSÕES Após discussão dos resultados referentes à utilização do goleiro-linha, comparando jogos de antes e após a alteração na regra da utilização do goleiro-linha (G.L.), em janeiro de 2011, conclui-se que ocorreram poucas mudanças de ordem tática, contrariando a expectativa de que a alteração no regulamento do jogo, neste caso específico, resultaria na alteração das relações de cooperação e oposição estabelecidas entre os atletas. Sobre a frequência de utilização do goleiro-linha, pode-se dizer que os tempos de utilização deste recurso mantiveram-se inalterados. As alterações mais significativas ocorreram quanto às fases do jogo em que foi utilizado o recurso do mesmo. Verificou-se uma diminuição nas situações de igualdade no placar e um incremento nas situações de inferioridade no placar. O recurso que já era muito utilizado antes da mudança na regra, passou a ter uma maior importância como opção tática de recuperação de resultados após a mudança. Quanto á utilização do goleiro-linha (G.L.) ou linha goleiro (L. G.), apesar de não ter sido indicado diferença significativa entre antes e depois da mudança na regra, verificou-se uma enorme dependência dos jogadores de linha (L. G.) para utilização do recurso do goleiro-linha. Outras análises também não apresentaram alterações, como quanto ao número de finalizações do goleiro-linha ou jogadores de linha e quanto ao número de gols sofridos e convertidos com a utilização do goleiro-linha. A última análise quanto à perda de posse de bola utilizando o goleiro-linha, verificou uma diminuição após a mudança na regra, mas não indicando diferença significativa. Fato este intrigante e indicador da necessidade de novos estudos, incluindo os sistemas de marcação utilizados contra o jogo do goleiro-linha. Outros estudos sugeridos são com relação a uma amostra mais global, isto é, analisando outros campeonatos do resto do mundo e principalmente procurando utilizar na comparação entre eles, as mesmas equipes para que os resultados possam ser mais confiáveis e fidedignos. REFERÊNCIAS ANGUERA, M. Observación en deporte y conducta cinésio-motriz, Aplicaciones, 1999. CALABRIA, D. II portieri di calcio a cinque: técnica, tattica, esercitazione. Roma: Societá Stampa Sportiva, 2004. FERREIRA, R.L. Futsal e a iniciação: 7.ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2008. FIDELIS, A.J.M.; SOUZA, P.R.C.; SILVA, M.V. Análise das Ações Técnico-Táticas do Goleiro-Linha em Jogos de Futsal. The FIEP Bulletin, Foz do Iguaçu, PR, v. 76, p. 437-439, 2006. GARGANTA, J.M. Modelação tática do jogo de futebol: estudo da organização da fase ofensiva em equipas de alto rendimento. Tese de doutorado, Faculdade de Ciências do Desporto: Universidade do Porto, 1997. GARGANTA, J.M.; GRÉHAIGNE, J.F. Abordagem sistêmica do jogo de futebol: moda ou necessidade? Movimento, v. 5, 1999. GIACOMINI, D.S.; GRECO, P.J. Comparação do conhecimento tático processual em jogadores de diferentes categorias e posições. Revista Portuguesa de Ciência do Desporto, v. 1, p. 126-136, 2008. Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol. 12, n. 4, 2013 - ISSN: 1981-4313 39

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