Vistos etc Trata-se de pedido de direito de resposta formulado pelo Prefeito Municipal de Florianópolis Cesar Souza Junior contra a coligação Um novo olhar para Florianópolis e o candidato Gean Loureiro, alegando, em síntese, que foi veiculado programa eleitoral de rádio, no dia 12/10/2016, nos horários descritos na exordial, no qual foi atribuído ao autor da representação fato sabidamente inverídico e difamatório, atingindo a sua honra, ao ser afirmado, de forma contundente, que foi ele penalizado pela Justiça em razão de supostas mentiras lançadas sobre a vida do candidato Gean Loureiro e sua família. Teceu outras considerações e requereu a concessão de liminar para suspender o programa eleitoral mencionado, assegurando-lhes, ao final, direito de resposta para esclarecer a verdade sobre os fatos. Juntou documentação. 1
É o relatório. 1. A peça vestibular atende às exigências do artigo 319, do Código de Processo Civil, foi instruída com a mídia de vídeo e respectiva degravação da propaganda dita irregular, tendo sido ajuizada dentro do prazo legal (artigo 58, 1º, inciso I, da Lei 9.504/97). 2. O direito de resposta está previsto no artigo 58, da Lei 9.504/97, que dispõe: Art. 58. A partir da escolha de candidatos em convenção, é assegurado o direito de resposta a candidato, partido ou coligação atingidos, ainda que de forma indireta, por conceito, imagem ou afirmação caluniosa, difamatória, injuriosa ou sabidamente inverídica, difundidos por qualquer veículo de comunicação social. Conforme se extrai do texto legal, o pressuposto fundamental para que surja o direito de resposta é que o candidato, partido ou coligação sejam atingidos por alguma das condutas enumeradas no dispositivo legal supramencionado, dentre elas a difusão de fatos sabidamente inverídicos. Não basta, portanto, para o deferimento do direito de resposta, que haja a simples veiculação de uma inverdade. A lei exige também que tal inverdade implique na ocorrência de uma ofensa, ainda que de forma indireta. E, como tem reiteradamente decidido os Tribunais, A intervenção da Justiça Eleitoral em debate político para assegurar direito de resposta deve ser excepcional, somente justificável quando demonstrado abuso à imagem de candidato supostamente ofendido 2
(Recurso eleitoral n. 269-40.2016.6.24.0054, de Sombrio, rel. Juiz Antonio do Rego Monteiro Rocha, j. 05/09/16). 3. Acerca da legitimidade para figurar no polo ativo da presente ação, destaca JOSÉ JAIRO GOMES que A despeito da restrição subjetiva constante desse dispositivo (art. 58, Lei 9.504/97) tem-se que qualquer pessoa física ou jurídica, de Direito Público ou Privado pode invocar o direito de resposta, desde que a ofensa ou inverdade seja veiculada no horário de propaganda eleitoral gratuita (in Direito Eleitoral, Ed. Atlas. 12ª edição, 2016, p. 578). 4. Na hipótese dos autos, analisando a mídia de vídeo anexada, conclui-se pela presença dos requisitos legais para a suspensão liminar da propaganda impugnada.. Eis o conteúdo da propaganda: Na campanha de 2012, inventaram fatos sobre a vida de Gean e sua família. As mentiras foram investigadas pela polícia federal e seus autores foram penalizados a pagar multas convertidas a entidades sociais. O Gean não deve nada. Não se deixe enganar pela velha política da mentira que espalham por aí. O Gean vai continuar crescendo. Nas pesquisas, nas ruas e no coração das pessoas. Em seguida, é destacado o nome do autor da representação, extraído de um documento judicial. Dos elementos probatórios acostados à inicial, observa-se que, na verdade, não houve penalização, mas sim aceitação de proposta de transação penal, cujo instituto, como se sabe, não possui carga sancionatória. 3
Assim, a propaganda objurgada, ao mencionar expressamente que seus autores foram penalizados, acabou por propalar fato sabidamente inverídico, porquanto, na hipótese enfocada, não houve formação de culpa e nem tampouco penalização pela Justiça Criminal. De outro lado, considerando o teor da mensagem, há incontestável ofensa à reputação e honra do autor da representação, ensejando, por isso mesmo, o deferimento da liminar para determinar-se a suspensão da veiculação das propagandas impugnadas. 5. Convém destacar, contudo, que o limite da presente representação cinge-se às inserções de televisão descritas na exordial, ante a necessidade de manter-se uma correlação entre os fatos narrados na peça inaugural e a decisão judicial, motivo pelo qual impossível estender-se os efeitos da mesma para as propagandas em bloco, conforme requerido. 6. Ante o exposto, DEFIRO a liminar pleiteada para o fim de determinar que coligação Um novo olhar para Florianópolis e o candidato Gean Loureiro, se abstenham de veicular a propaganda eleitoral de televisão, em inserção, objeto da presente representação, sob pena de pagamento de multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a qual será devida a cada apresentação indevida. Notifiquem-se os representados para que cumpram imediatamente esta decisão e para que apresentem defesa, querendo, em 24 (vinte e quatro) horas (artigo 58, 2º, da Lei 9.504/97). Dê-se ciência às emissoras de televisão a respeito da presente decisão, para que suspendam imediatamente a exibição da propaganda em questão. 4
Após, dê-se vista do Ministério Público Eleitoral. Intimem-se. Florianópolis, 14 de outubro de 2016. Leone Carlos Martins Júnior JUIZ ELEITORAL 5