UM ESTUDO SOBRE A GRAFIA DO FONEMA /S/ s seis c cesta ss massa ç maçã /s/ x experiência 3 sc nascer xc exceto sç cresça z vez

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Transcrição:

UM ESTUDO SOBRE A GRAFIA DO FONEMA /S/ GARCIA, Mirian Alvaro Costa (UFPEL-FAPERGS) ARAÚJO, Pâmela Renata Machado (UFPEL-PIBIC) MIRANDA, Ana Ruth Moresco (UFPEL-PPGE) Introdução Este estudo enfoca a aquisição ortográfica do fonema /s/. A representação gráfica desse fonema é aquela que maiores dificuldades apresenta para o aprendiz, pois o sistema ortográfico do português dispõe de nove grafemas 1 para sua representação. Segundo Lemle (1982), esse é um exemplo típico de relações múltiplas entre som e grafema no sistema ortográfico língua. Essas relações caracterizam-se pelo fato de um fonema corresponder a vários grafemas ou um grafema a vários fonemas. Exatamente o que ocorre com o fonema /s/, como podemos observar a seguir 2 : s seis c cesta ss massa ç maçã /s/ x experiência 3 sc nascer xc exceto sç cresça z vez As relações múltiplas podem envolver tanto regras contextuais, cujo conhecimento, através da observância do contexto ajuda a diminuir as possibilidades de representações gráficas disponíveis em determinadas palavras; quanto podem envolver regras arbitrárias, as quais exigem o conhecimento etimológico da palavra ou a utilização de estratégias mnemônicas. 1 Scliar-Cabral (2003) define grafema como uma ou duas letras que representam um fonema. Assim, por essa definição, enquanto os dígrafos correspondem a um grafema, a letra h de palavras como homem e hoje não corresponde a nenhum. 2 Há também a seqüência xs para representar o fonema /s/, a qual se verifica em apenas três itens: exsicar, exsolver e exsu(d)ar (Luft, 1986: 238) 3 Casos como os de experiência e vez em que a fricativa ocupa o lugar de coda, isto é, de final de sílaba, são tratados nos estudos sobre a fonologia do português como um arquifonema /S/.

A seguir, são apresentados exemplos de regras contextuais, em (a); e arbitrárias, em (b), para a representação gráfica do /s/: (a) ss somente entre vogais ( massa, nesse ); ç antes de a, o, u e nunca em início de palavra ( caçador, moço, açúcar ); s início de palavra, antes de a, o, e u ( sapo, sopa e suco ) s indicando o plural ( rosas -exemplo de regra contextual morfológica) (b) ss ou c / ç entre vogais ( massa, maçã ) s ou c em início de palavra, antes de e e i ( cigarro, silêncio e cenoura, sentado ) Em conseqüência dessa multiplicidade de relações que envolvem o fonema /s/, este estudo propõe-se a descrever e analisar as formas utilizadas pelas crianças para grafarem esse fonema. Além disso, pretende-se verificar se há diferenças no processo de aquisição do fonema /s/, em se comparando dados de escrita de crianças da escola pública com aqueles de crianças de uma escola particular. Materiais e Métodos Para este trabalho, foram analisadas produções escritas pertencentes ao Banco de Textos de Aquisição da Escrita (FaE-UFPel). Esse Banco é constituído por 2020 textos produzidos de maneira espontânea por crianças de 1ª a 4ª série do ensino fundamental de duas escolas da cidade de Pelotas, uma pública e outra particular. Foram extraídas, dos textos, todas as palavras em que havia contexto para grafia do /s/, computando 7448 palavras nos textos da escola pública e 9203 nos da escola particular. Sendo que foram analisadas cinco coletas de um total de dez, somando, aproximadamente, mil textos. Os dados encontrados foram organizados em tabelas, de acordo com a série e a posição do segmento na sílaba e na palavra. Todas as grafias encontradas foram

computadas, tanto aquelas que estão de acordo com a norma ortográfica como aquelas que estão em desacordo. Resultados e Discussão Após a computação total dos dados, foi observado que três contextos não apresentaram ocorrências de erros na representação do /s/: s início de palavra seguido de vogal posterior ( a, o e u ); s de final de sílaba dentro da palavra, posição de coda; e s representativo do morfema de plural. Também não foram encontradas ocorrências relativas ao uso de sç, o que se atribui ao número reduzido de palavras no léxico do português envolvendo esse contexto. O Gráfico 1, apresentado a seguir, traz os resultados gerais da computação os erros e acertos relativos a todos os contextos, de acordo com a escola estudada: Gráfico 1 Distribuição geral de erros e acertos na grafia do /s/ 100 80 60 40 20 Erros Acertos 0 Esc. Pública Esc. Particular Conforme o gráfico acima, observa-se que proporcionalmente, no cômputo geral, o número de erros nos dados da escola pública é superior àquele da escola particular. A análise feita por série confirma a tendência verificada no Gráfico 1, uma

vez que em todas as séries o percentual de erros da escola publica é maior. Verificou-se, no entanto, que em ambas as escolas a quantidade de erros vai diminuindo gradativamente, revelando uma curva descendente, o que significa uma aquisição progressiva das regras que regulam a grafia do fonema /s/, sejam elas contextuais ou arbitrárias. Pode-se dizer, ainda, que os índices de erros encontrados, se comparados com o número de acertos, são baixos. Os Gráficos (2a) e (2b), apresentados a seguir, trazem os resultados referentes à distribuição dos erros de acordo com o contexto e o grafema envolvido nos dados de cada uma das escolas estudadas: Distribuição dos erros de acordo com a posição e com a escola (2a) Escola Pública (2b) Escola Particular ç-moça sc-nasce x-próximo c-cintura c-agradecer s-pensou z-rapaz ss-posse ç-moça sc-nasce x-texto c-cintura c-agradecer s-pensou z-rapaz ss-posse Os Gráficos mostram que não há, entre as duas escolas, diferenças significativas com relação à distribuição dos erros de acordo com o tipo, o que revela que as escolas, ainda que atendam a clientelas diferenciadas, em se considerando o grau de escolaridade dos responsáveis pelos alunos (primeiro grau e terceiro grau, na escola pública e na particular, respectivamente) estão sendo capazes, com suas propostas pedagógicas, de levar às crianças ao domínio da norma. Observa-se que os grafemas cuja grafia é mais problemática, tanto na escola pública quanto na particular, são: ss e ç. Isso pode ser explicado, se considerarmos que o contexto intervocálico é aquele que maior número de opções de grafia oferece à criança, como podemos verificar no quadro em (1) (Miranda et alii, 2005) :

(1) Grafias possíveis para o /s/ e seus contextos Contexto /s/ Possíveis grafias Início de palavra silêncio - s, c cimento c, s intervocálico excêntrico xc, ss, c nasce sc, ss, c nasça sç, ss, ç macio c, ss, sc maçã ç, ss, sç massa ss, ç, sç sintaxe 4 x ss, c Posição de coda 5 medial experiência leste x, s s, x Depois de coda pensar - pensei s, ç / c onça - conceito ç / c, s Final de palavra rês s, z vez z, s Nos contextos intervocálicos, não se pode definir a regra para a representação do /s/, pois ela é arbitrária, visto que para o mesmo contexto concorrem mais de duas representações gráficas. O contexto em que o x ocupa posição de coda, dentro da palavra, apresenta um índice muito reduzido de erros, provavelmente, devido à baixa freqüência desse tipo de grafia na língua, bem como ao fato de os alunos utilizarem desde muito cedo o s nessa posição. Os dados também revelam um número reduzido de erros no que diz respeito ao uso do c, no início de sílaba início de palavra e no início de sílaba dentro da palavra, bem como do s, no início de sílaba depois de consoante. Compreende-se que a criança, a partir de seu contato com as formas ortográficas, vai reduzindo a sua gama de opções a partir do momento em que começa a observar o contexto da palavra e reconhece a regra que proíbe o uso de ss e ç em início absoluto. Assim como na pesquisa de Monteiro (1999), feita com 100 crianças de 1ª a 4ª série, utilizando um ditado inventado para testar a grafia do /s/, foi verificado no nosso estudo uma progressão em relação ao uso ortográfico adequado dos grafemas disponíveis no sistema para a representação do /s/. 4 A pronúncia dessa palavra é variável, para alguns o x corresponde a [s] e para outros a [ks].

Considerações Finais Buscou-se, a partir deste estudo, conhecer um pouco mais a respeito da forma como as crianças lidam com uma grafia tão complexa como a do fonema /s/. Verificouse que os índices menores de erros estão relacionados a contextos de fácil compreensão, como o uso de c e s, em início de palavra e em início de sílaba no meio de palavra, como em cenoura - agradecer e suíte - pensou. Observou-se ainda que as maiores dificuldades são relativas à grafia do /s/ em contexto intervocálico quando há a concorrência entre ss e ç, em palavras como moça e pássaro, por exemplo. Esse tipo de estudo mostra que é preciso entender o funcionamento do sistema ortográfico para que se possa saber interpretar o erro das crianças como um erro construtivo, como hipóteses inerentes ao processo de aprendizagem. Pois, os erros que a criança comete são elaborações que fazem constantemente sobre a língua. Abrahão (2004, p.37) diz que: a questão é como transformar o erro em um problema, um diálogo e por fim em uma situação de aprendizagem. Conforme Monteiro (1999, p.46), o processo da criança entre a hipótese alfabética e o uso adequado do sistema ortográfico precisa continuar sendo explorado, para que se possa entender melhor esse momento específico de domínio da língua escrita. Somente com a compreensão dos erros o professor poderá preparar uma ação pedagógica capaz de auxiliar o aluno no processo de aquisição da ortografia da língua. A escola deve criar condições favoráveis ao aluno para que haja compreensão ortográfica e oportunidades para que o mesmo faça suas descobertas e, a partir de então, possa sistematizá-las. Referências Bibliográficas ABRAHÃO, Maria Helena M.B, (org). Avaliação e erro construtivo libertador: Uma teoria-prática includente em educação. 2ªed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. LEMLE, Miriam. Guia Teórico do Alfabetizador. 15ª ed. São Paulo: Editora Ática, 2001. LUFT, Celso Pedro. Novo Manual de Português. 17ª Ed. Porto Alegre: Globo, 1986.

MIRANDA, Ana Ruth M. MEDINA, Sabrina Z. SILVA, Michelle R. da. O Sistema Ortográfico do Português Brasileiro e sua Aquisição. Linguagem e Cidadania. Revista Eletrônica, UFSM. Julho/dezembro; edição 14, 2005. MONTEIRO, Ana Maria L. Sebra-ssono-pessado-asado O uso do S sob a ótica daquele que aprende. In: O aprendizado da ortografia. MORAIS, Artur Gomes de. (org). Belo Horizonte: Autêntica, 2000. MORAIS, Artur Gomes de. Ortografia: ensinar e aprender. São Paulo: Editora Ática, 2003.