PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS PARA SE CONVIVER NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO

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Transcrição:

PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS PARA SE CONVIVER NO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO Karla Kallyana Filgueira Félix. INTRODUÇÃO Segundo Silva (2006, p. 15) o Semi-Árido é caracterizado por regiões com clima árido, solos pobres em matérias orgânicas e pelo baixo índice de chuvas, o que caracteriza a aridez sazonal. Em 1977 foi estabelecida pela ONU o Plano de Ação de Combate à Desertificação das Nações Unidas (ONU, 1977), que definiu o grau de aridez de uma região através da precipitação das águas das chuvas e da temperatura presente na mesma. Pois é por meio desta que há uma perda de água causada pela evapotranspiração potencial. Com base no índice, as terras áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas do planeta compreendem cerca de 51.720.000 km 2, ou seja, quase 33 de toda superfície terrestre (SILVA, 2006, p. 15). No Brasil, o Semi-Árido já recebeu outras denominações, como: Sertão e Nordeste das secas. Segundo Silva (2006 apud Brasil..., 2005d) abrangendo cerca de 1.133 municípios com um área de 969.589,4 km 2, corresponde a quase 90 da Região Nordeste e mais a região setentrional de Minas Gerais. Com uma população de mais ou menos 21 milhões de pessoas, o semi-árido é marcado pelo abandono das mesmas. Na busca por melhores condições de vida, o povo sertanejo acaba migrando para os grandes centros urbanos, onde na maioria das vezes não encontrarão trabalho, devido à falta de qualificação exigida. Assim, a dificuldade em oferecer oportunidade de emprego para essas pessoas acaba ocasionando outros problemas nas cidades, devido à falta de infraestrutura básica. Se considerarmos a maioria das regiões semi-áridas do mundo o semi-árido brasileiro conta com uma vantagem, seu índice de chuva anual varia entre 268 e 800mm, enquanto algumas regiões fora do território nacional apresentam uma média anual na ordem de 80 a 250mm. Assim, apesar de possuir um clima [...] muito quente e sazonalmente seco, que projeta derivadas radicais para o mundo das águas, o mundo orgânico das caatingas e o mundo sócioeconômico do viventes dos sertões

(AB SABER, 2003, p. 85), possui uma paisagem própria e possibilidade de uma convivência harmoniosa entre sua população e o meio ambiente. Convivência significa com viver, viver junto com outros, estar junto. Portanto, a convivência com o semi-árido implica em uma harmonia entre humanos e o meio ambiente, pois não se trata de tentar modificar suas características naturais, trata-se de se adaptar-se as mesmas. Dessa forma, é a possibilidade de interação e aceitação com o meio ambiente que irá possibilitar uma reciprocidade entre os diversos seres vivos, para que se estabeleça um equilíbrio. [...] da aceitação e do cuidado com o outro reconhecido em sua legitimidade enquanto outro da partilha, aquele com quem cada uma das partes da convivência estabelece laços de complementariedade e interdependência (PIMENTEL, 2002, p. 193). Conviver com as características particulares de cada região não é uma condição exclusiva do cenário brasileiro, mas do mundo. Exemplo disso são as regiões desérticas e os ambientes gelados dos hemisférios norte e sul do planeta Terra, onde as populações locais necessitam se adaptar a essas condições climáticas para poder sobreviver e conviver com as mesmas. Para poder se estabelecer uma convivência harmoniosa deve ser dada uma atenção especial a práticas sustentáveis de adaptação, como o manejo sustentável de mananciais e a valorização da captação das águas, seu armazenamento e a gestão das águas das chuvas. Assim, se faz necessário o desenvolvimento de tecnologias alternativas para a captação e o armazenamento dessas águas que possibilitem o crescimento e desenvolvimento da agricultura familiar e melhorias na condição de vida das pessoas, com também uma gestão comunitária dos mananciais hídricos, além da combinação de cultivos apropriados para cada região e o manejo sustentável da vegetação nativa. A agricultura familiar torna-se como uma alternativa para o pequeno agricultor poder cultivar a terra, produzindo não só o alimento que lhe garantirá seu sustento, mas também, que poderá lhe proporcionar uma alternativa de renda para sua família. Portanto, é imprescindível que as populações locais desenvolvam uma participação ativa no tocante ao desenvolvimento da agricultura familiar, onde essas pessoas possam se sensibilizar e priorizar as buscas por soluções apropriadas às

condições naturais locais. Não se trata apenas de novas tecnologias, é necessário uma conscientização por parte dessa população, pois não adianta apenas possuir a terra e tecnologias para seu manuseio, é preciso que haja um respeito e um cuidado com os mesmos, para que se evitem fracassos e um manuseio inadequado do solo, ocasionando na degradação do mesmo. Além da dimensão do problema causada pela escassez ou falta de água de corrente de estiagens prolongadas, há que considerar as condições estruturais posse e uso da terra, principalmente e o contexto cultural em que é realizada a agricultura familiar no semiárido nordestino. (DUARTE, 2002, p. 37). Dessa forma, o presente estudo abordará algumas práticas sustentáveis na convivência com o semi-árido, analisando seus contextos econômicos e como os mesmos poderão influenciar na qualidade de vidas das populações que vivem nessa região. Análise do contexto econômico da convivência com o semi-árido A viabilização das atividades econômicas necessárias ao desenvolvimento sustentável atrelado a combinação de princípios e valores da convivência nas regiões semiáridas é um dos grandes desafios enfrentados atualmente. [...] Do ponto de vista da dimensão econômica, a convivência é a capacidade de aproveitamento sustentável das potencialidades naturais, em atividades produtivas, apropriadas ao meio ambiente (SILVA, 2006, p.234). Assim, não se trata de tentar modificar as características particulares de cada ambiente para que se possa conviver com os mesmos, pelo contrário, é necessário que se criem práticas e métodos produtivos que se adequem as mesmas, pois nesse cenário o homem é um coadjuvante, sendo o ator principal a natureza. É necessário que se estabeleça uma relação de aprendizagem e ensino com os povos mais antigos, pois eles conseguiam conviver nas regiões semiáridas sem que fosse preciso degradar o meio ambiente. Mas isso não quer dizer que devemos abandonar a novas tecnologias que possibilitam um melhor aproveitamento do solo e de suas riquezas naturais. Pelo contrário, é imprescindível uma complementariedade de ambos, onde o conhecimento tradicional ocupa um lugar fundamental e abre as portas

para o conhecimento inovador, ambos trabalhando em conjunto para que se possa estabelecer um nível cada vez maior e melhor na qualidade de vidas das pessoas. Pois como bem sabemos, o uso inadequado de novas tecnologias pode acarretar o agravamento das condições naturais, ocasionando a desertificação do Semi-árido. Daí a importância de estudos sobre a convivência, como algo particular a cada região adaptando a economia a realidade semi-árida. Promovendo um desenvolvimento econômico que produza trabalho e renda para as famílias, por meio de alternativas sustentáveis de produção que se utilize de tecnologias contextualizadas promovendo uma justiça social no acesso aos recursos naturais, de forma que, possam contribuir para o desenvolvimento e o fortalecimento da economia do Semi-árido. Ou seja, a convivência com o Semi-árido requer outros valores e outros padrões de produção, como as alternativas baseadas na agroecologia, no manejo sustentável da Caatinga, na criação e pequenos animais e nos projetos associativos e cooperativos, que expressam uma economia solidária. (SILVA, 2006, p. 235) Algumas técnicas de irrigação é um exemplo, apesar das grandes dificuldades enfrentadas devido às políticas de expansão beneficiarem somente os grandes empreendimentos, pois estes detêm de um maior poder aquisitivo, possibilitando que estes investam em tecnologias e obtendo maior capacidade de inserção nos mercados, há também casos de sucesso com base na agricultura familiar no Semi-árido. São técnicas adequadas a cada tipo de solo e a disponibilidade hídrica, com um custeio baixo e fácil acesso aos agricultores, possibilita a pequena irrigação uma valorização na segurança alimentar. São exemplos dessas alternativas: A irrigação de salvação onde se aproveita a água de barreiros, açudes ou poço amazonas, durante o inverno para irrigar as lavouras sem prejudicar o abastecimento humano e animal; Irrigação por gotejamento onde a água é para todas as plantas, utilizando-a racionalmente, de forma que as raízes das plantas ficam sempre úmidas, além de se evitar o desperdício, podendo ser feita até por garrafas pet. Outra alternativa bastante utilizada como fonte de abastecimento alimentar e geração de renda das famílias que vivem nas regiões rurais é a pecuária. No entanto, por possuir um alto custo de manuseio, essa atividade torna-se pouco atrativa para essas regiões. A opção nesse caso é a criação de animais de pequeno porte, pois o custo com a alimentação e a quantidade de água exigida para criação desses animais é significativamente menor em relação à bovinocultura. Segundo Silva (2006) são

exemplos de pecuária adequada ao Semi-árido a caprinocultura e a ovinocultura, pois possuem fácil adaptação a essas regiões, além de produzir um adubo que facilita a absorção da água da chuva nos solos, fortalecendo sua fertilidade para a produção agrícola. Da mesma forma, a apicultura, a avicultura e a meliponicultura são alternativas incentivadas para fortalecer e diversificar a economia da agricultura familiar no Semiárido. No setor de extrativismo vegetal, o solo do Semi-árido possui grande gama de plantas que podem ser utilizadas para se gerar uma economia rentável a região, como: as produtoras de óleo; a produtora do látex; as de cera; de fibras; medicinais e frutíferas. Segundo Silva (2006 apud CAATINGA et. al.) são exemplos dessas práticas: o biodiesel, o novo combustível brasileiro está associado a produção da soja, mamona, dendê ou girassol; a produção da castanha in natura orgânica; as frutas típicas da região, como os umbuzeiros além de assumirem grande importância na dieta alimentar, são árvores que produzem também adubos para o solos, entre outros. Apesar de importantes, mudanças no sistema produtivo não é a única modificação necessária para se construir uma economia estável e equilibrada para o Semi-árido. É importante que haja também políticas que fortaleçam e deem base para que a agricultura familiar possa se desenvolver, fornecendo meios para que os pequenos agricultores possam sobreviver tanto na área agrícola como comercial. Um dos aspectos importantíssimos dessa questão é o incentivo dado ao associativismo e ao cooperativismo, como forma de posicionamento dos agricultores perante o mercado. Segundo Silva (2006 apud ASA et. Al.) há diversas formas de cooperação e associação: Fundos de pastos: uma prática bastante comum nos solos do Semi-árido brasileiro, se caracteriza pela utilização da terra por determinados integrantes de uma família, e nesse local, são criados animais de pequeno e grande porte soltos nessa área; Bancos e casas de sementes comunitárias: é um modelo de gestão associativa, onde as famílias estocam certa quantidade de sementes podendo pedir emprestada e são restituídos em quantidade superior após a colheita; Feira de agricultura familiar e agroecologia: são feirinhas com produtos advindos da agricultura familiar, que além de auxiliar na renda das famílias estabelecem uma aproximação entre consumidores e produtores; Redes e cooperativas de beneficiamento e comercialização: são espaços onde os agricultores comercializam produtos agroecológicos, artesanato, produtos de higiene pessoal entre outros, possibilitando e disseminando o incentivo ao uso dos

produtos produzidos pela agricultura familiar, além da valorização criada pela identificação das marcas desses produtos agroecológicos e regionais. Segundo Silva (2006, p. 241): Um levantamento realizado em 2005, pela Secretaria Nacional de Economia Solidária, do Ministério do Trabalho e Emprego, identificou em 542 dos municípios do Semi-árido (61 do total de municípios) a existência de 3.869 de Empreendimento Econômicos Solidários (EES), que correspondem a 59 do total pesquisado nas nove Unidades da Federação do Nordeste. Os EES são organizações econômicas coletivas que assumem as seguintes tipologias: associações de produtores e produtoras (73 ), grupos produtivos informais (22 ) e cooperativas populares (5 ). Nesses EES participam 244 mil pessoas, sem 59 de homens e 41 de mulheres. No entanto, o cooperativo e associativismo desenvolvidos pelos EES enfrentam algumas dificuldades no que diz respeito ao acesso ao crédito. Diante disso, algumas organização públicas e privadas tem sido incentivadas a criação de um sistema solidário que supra essa deficiência ocasionada pela falta de acesso ao crédito na região semiárida, que são segundo Silva (2006 apud ASA (2003, 2004); ROCHA E COSTA(2005)): Fundos rotativos solidários: realizadas em sua maioria por ONG S e organizações de Cooperação Internacional, é uma forma de gestão de recursos provenientes de devoluções de empréstimos especiais concedidos as pessoas ou organizações comunitárias; Cooperativas de crédito: que em sua maioria atuam com recursos do Pronaf, e tem a finalidade de facilitar o crédito para os pequenos produtores. Portanto, percebe-se que o sistema econômico do Semi-árido requer uma atenção especial, seja por meio da produção agrícola como também as formas de crédito disponibilizada para a população. Assim, a convivência econômica só será possível com um desenvolvimento sustentável e práticas que estejam de acordo com as características particulares da região. Considerações finais Podemos perceber durante todo o texto que a economia na região semi-árida não difere de outras regiões e precisa estar enquadrada num contexto onde as práticas utilizadas estejam de acordo com o mesmo. Assim, se faz necessário que as pessoas que vivem nessa região possam criar um espaço para o diálogo, onde não adianta tentar adaptar a natureza ao seu modo de vida, pelo contrário, são as pessoas que devem se

adaptar as características particulares de cada região. Pois nesse cenário, os seres humanos são meros coadjuvantes da história. Nesse contexto, é necessário o incentivo a produção de produtos agrícolas que estejam de acordo com o bioma da Caatinga. Não adianta tentar produzir algo que esteja em desacordo com a fertilidade do solo, pois além de perder o dinheiro investido ainda ocasionará degradação ao meio ambiente. Como também podemos perceber o acesso ao crédito nessa região não é uma questão muito simples, se fazendo necessário a conscientização das práticas sustentáveis, seja pelo manuseio de novas tecnologias ou na captação das águas da chuva, é importante que as pessoas aprendam a conviver em grupo, para a partir disso poderem desenvolver suas atividades por meio do cooperativismo ou associativismo. O que inclusive, se tornou uma alternativa para que esses pequenos produtores possam ganhar espaço no mercado. Além de propiciar também, uma aproximação entre produtores e consumidores. Portanto, trata-se de um trabalho em conjunto. Onde todos os elementos se interligam e dependem mutuamente um do outro. Uma economia bem desenvolvida para essa região, além de produzir uma qualidade de vida adequada ainda garante a perpetuação das espécies, como também a preservação da natureza.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA AB SABER, Aziz. Sertões e Sertanejos: uma geografia humana sofrida. Revista Estudos Avançados, São Paulo, v. 13, n. 36, p. 7-59, maio-agos. 1999. (USP/IEA).. Os Domínios da Natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. PIMENTEL, Álamo. O Elogio da Convivência e suas Pedagogias Subterrâneas no Semi-árido Brasileiro. (Tese de Doutorado). Porto Alegre: UFRGS, 2002. 341f. DUARTE, Renato Santos. O Estado da arte das tecnologias para a convivência com as secas no Nordeste. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Fortaleza: BNB, 2002. (Série Estudos sobre as secas no Nordeste). SILVA, Roberto Marinho Alves. Entre o Combate a Seca e a Convivência com o Semi- Árido: transições paradigmáticas e sustentabilidade do desenvolvimento. (Tese de Doutorado). Brasilia: UNB, 2006, 298p.