Número do 1.0000.11.029913-8/000 Númeração 0299138- Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Domingos Coelho Des.(a) Domingos Coelho 05/10/2011 17/10/2011 EMENTA: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA - JUÍZO DE DIREITO - JUÍZO DE JUIZADO ESPECIAL - COMPETÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Compete ao Superior Tribunal de Justiça dirimir conflito negativo de competência estabelecido entre juízos vinculados a tribunais diversos; Inteligência do artigo 105, I, "d", da Constituição Federal de 1.988. CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 1.0000.11.029913-8/000 - COMARCA DE - SUSCITANTE: JD JUIZADO ESPECIAL CÍVEL COMARCA PEDRO LEOPOLDO - INTERESSADO: VITOR EFIGÊNIO DE DEUS, TRADICAO ADMINISTRADORA CONSORCIO LTDA, BRASIL & MOVIMENTO S/A - SUSCITADO(A): JD 2 V COMARCA PEDRO LEOPOLDO A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 12ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, à unanimidade, em DECLINAR DA COMPETÊNCIA PARA O C. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Belo Horizonte, 05 de outubro de 2011. DES. DOMINGOS COELHO, RELATOR. DES. DOMINGOS COELHO (RELATOR) 1
V O T O Trata-se de conflito negativo de competência suscitado pelo Juiz de Direito do Juizado Especial Cível da Comarca de Pedro Leopoldo em face do MM. Juiz de Direito da 2ª Vara da mesma Comarca. Argumenta-se que, diante da complexidade da causa, que exige inclusive a realização de prova pericial para sua solução, a competência patra processar e julgar o feito seria da Justiça Comum Estadual. Às f. 117-119, em parecer, a d. Procuradoria de Justiça opina pelo provimento do conflito. Este o relatório. Decido. O conflito negativo de competência se dá entre magistrado do Juizado Especial Cível e magistrado da Justiça Comum Estadual, ambos da mesma Comarca. Neste passo, tenho que deve ser suscitada preliminar de ofício, referente a incompetência absoluta deste Egrégio Tribunal de Justiça para apreciar e julgar o presente conflito. É que ele se instaurou entre um Juiz de Direito e uma Juíza do Juizado Especial Estadual. Diz o art. 105, I, "d", da Constituição Federal: "Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: 2
(...) d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, 'o', bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos;" A teor da segunda parte da alínea acima transcrita, compete ao Egrégio Superior Tribunal de Justiça processar e julgar, originariamente, os conflitos de competência entre juízes vinculados a tribunais diversos. Embora, a rigor, não seja correto identificar a o Juizado Especial como um "tribunal", o maciço entendimento da jurisprudência nos informa que as decisões provenientes do referido Juizado não se submetem ao crivo dos Tribunais Estaduais, o que equivale a dizer que eles atuam, verdadeiramente, como órgãos autônomos em relação à Justiça Comum Estadual. Analisando a questão, decidiu o Excelso Supremo Tribunal Federal, mutatis mutandis: "DIREITO CONSTITUCIONAL, PENAL E PROCESSUAL PENAL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA, ENTRE A TURMA RECURSAL DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DA COMARCA DE BELO HORIZONTE E O TRIBUNAL DE ALÇADA DO ESTADO DE MINAS GERAIS. COMPETÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA PARA DIRIMI-LO (ART. 105, I, 'd', DA C.F.). E NÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (ART. 102, I, 'o'). 1. As decisões de Turma Recursal de Juizado Especial, composta por Juízes de 1º Grau, não estão sujeitas à jurisdição de Tribunais Estaduais (de Alçada ou de Justiça). 2. Também as dos Tribunais de Alçada não se submetem à dos Tribunais de Justiça. 3. Sendo assim, havendo Conflito de Competência, entre Turma Recursal de Juizado 3
Especial e Tribunal de Alçada, deve ele ser dirimido pelo Superior Tribunal de Justiça, nos termos do art. 105, I, 'd', da C.F., segundo o qual a incumbência lhe cabe, quando envolva 'tribunal e juizes a ele não vinculados'. 4. Conflito não conhecido, com remessa dos autos ao Superior Tribunal de Justiça, para julgá-lo, como lhe parecer de direito. 5. Plenário. Decisão unânime." (STF - Tribunal Pleno - CC 7081 - MG - Rel. Min. Sydney Sanches - J. 19.08.2002 - J. 19.08.2002 - DJ 27.09.2002 - p. 81 - unânime) Em igual sentido, o Egrégio Superior Tribunal de Justiça: "(...) Assim entendido o dispositivo [art. 105, I, d, da CF/88], nele está compreendida, implicitamente, a competência do STJ para dirimir qualquer conflito entre juízes não vinculados a um mesmo tribunal local ou regional. A jurisprudência do STF e da Corte Especial do STJ considera que as Turmas Recursais de Juizado Especial e os Tribunais de Alçada do mesmo Estado não são órgãos vinculados ao Tribunal de Justiça (...)" (STJ - 1ª Seção - CC 58796 - BA - Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ 04.09.2006, p. 211). Ora, se a decisão de magistrado (monocrática) ou mesmo de Turma Recursal do Juizado Especial não se sujeita à jurisdição de Tribunal Estadual, o exame do conflito de competência instaurado entre Juiz integrante de tal Juizado e um Juiz da Justiça Comum Estadual não cabe a esta Egrégia Corte Estadual, mas sim ao Egrégio Superior Tribunal de Justiça, a teor do citado art. 105, I, "d", da Constituição Federal supra citado. 4
O que interessa, na hipótese, é que este Egrégio Tribunal não possui competência jurisdicional para dizer sobre as decisões proferidas pelos Juizados Especiais, fato este bastante para entender que a solução do conflito instaurado deve ficar a cargo do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, como determina a Constituição Federal. Confira-se ainda, mutatis mutandis: "CONFLITO NEGATIVO DE JURISDIÇÃO - JUIZADO ESPECIAL E JUSTIÇA COMUM - COMPETENCIA DO STJ - ARTIGO 105 INCISO I ALÍNEA D DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 1988 - COMPETÊNCIA DECLINADA. - Compete ao Superior Tribunal de Justiça dirimir Conflito de Jurisdição entre Juizado Especial e Justiça Comum nos termos do artigo 105 inciso I alínea "d" da Constituição da República de 1988." (TJMG, CC nº 1.0000.08.475768-1/000, Rel. Des. PEDRO VERGARA, j. 21/07/2009) "CONFLITO DE COMPETÊNCIA - JUSTIÇA COMUM X JUIZADO ESPECIAL - JUÍZES SUBORDINADOS A TRIBUNAIS DIVERSOS - ART. 105, I, d, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL - COMPETÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA PARA CONHECIMENTO E JULGAMENTO DO CONFLITO - COMPETÊNCIA DECLINADA. - O conflito de jurisdição instaurado entre juízes vinculados a Tribunais distintos deve ser solucionado pelo STJ, consoante preceituado no art. 105, I, d, da Constituição Federal." (Conflito de Competência nº. 1.0000.08.486229-1/000, Rel. Des. Beatriz Pinheiro Caires, 2ª Câmara Criminal do TJMG, DJ 27.11.2008). "CONFLITO DE COMPETÊNCIA - JUIZ DA VARA COMUM E JUIZ DO JUIZADO ESPECIAL - VINCULAÇÃO A TRIBUNAIS DIFERENTES - COMPETÊNCIA - STJ - INTERPRETAÇÃO DO ART. 105, I, D, CF/88 - PRECEDENTES - COMPETÊNCIA DECLINADA." (Conflito de Competência nº. 1.0000.08.478498-2/000, Rel. Des. Maria Celeste Porto, 5ª 5
Câmara Criminal do TJMG, DJ 11.11.2008). Com essas considerações, suscito preliminar de incompetência deste Tribunal de Justiça para analisar o presente conflito, DECLINANDO DA COMPETÊNCIA PARA O EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, tendo em vista a incompetência absoluta deste Egrégio Tribunal de Justiça para apreciar e julgar o conflito instaurado. Sem custas. DES. JOSÉ FLÁVIO DE ALMEIDA - De acordo com o(a) Relator(a). DES. NILO LACERDA - De acordo com o(a) Relator(a). SÚMULA: "DECLINARAM DA COMPETÊNCIA PARA O C. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA." 6