DESPACHO SEJUR N.º 499/2015

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DESPACHO SEJUR N.º 499/2015 (Aprovado em Reunião de Diretoria em 14/10/2015) Interessado: Dr. Luiz Alberto de Freitas. Expedientes n.º 9577/2015 Assunto: Análise jurídica. Médicos militares. Possibilidade de acumulação de cargos privativos de profissionais de saúde. Emenda Constitucional n.º 77/2014. Possibilidade. Revisão do posicionamento exarado por meio do Despacho Sejur n.º 250/2013. I DOS FATOS Trata-se de comunicação encaminhada pelo médico L. A. F. objetivando a revisão do posicionamento deste Conselho Federal de Medicina externado por meio do Despacho Sejur n.º 250/2013, aprovado pela Diretoria em 03/07/2013, o qual analisou os aspectos jurídicos decorrentes da impossibilidade da acumulação de cargos públicos por médicos militares, ante a ausência de previsão constitucional que autorizasse tal possibilidade. O citado Despacho foi manifestado com a seguinte conclusão, verbis: Pelo exposto acima, este Sejur conclui que: 1. Em que pese haver na jurisprudência formada no âmbito dos Tribunais ordinários a possibilidade de se encontrar linhas hermenêuticas em sentido contrário, no sentido de permitir a cumulação de cargos na hipótese em que o militar for também médico ou professor, desde que provada à compatibilidade de horários, tem-se que, por expressa previsão constitucional, é vedado aos servidores públicos federais militares, inclusive profissionais de saúde, a possibilidade de acumularem o posto ou a graduação com cargo público civil, em quaisquer das esferas políticas de poder. 2. Já quanto aos casos de acumulação indevida ocorridos até o advento da Constituição Federal de 1988, com base na norma do art. 17, parágrafos 1º e 2º, do ADCT, tem-se que tais situações foram convalidadas, de modo que os médicos militares podem exercer cumulativamente os cargos de profissionais de saúde. 3. Por fim, no que se refere aos médicos das Forças Armadas, bem como os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, conclui-se que eles podem exercer, na inatividade, outro cargo ou emprego público privativos de profissionais de saúde, na forma do contido no art 37, inciso, XVI, letra c da Constituição da República.

A par disso, o consulente solicita revisão do posicionamento acima externado em face da edição da Emenda Constitucional n.º 77/2014, que passou a permitir aos militares da área de saúde a acumulação de cargos semelhantes no serviço público civil. Aduz que se trata de assunto de interesse geral, pois em diversas localidades do país somente existem médicos pertencentes aos organismos militares, os quais eram impedidos de atuar perante os serviços públicos municipais, estaduais e federal de saúde. Por fim, questiona se a acumulação lícita de cargos poderia ocorrer perante a mesma esfera da Administração Pública ou somente perante Entes federativos diversos. É o relatório. II DA ANÁLISE JURÍDICA Com razão o consulente no pleito de revisão do posicionamento administrativo deste Conselho Federal de Medicina, senão vejamos. Como destacado, no dia 11 de fevereiro de 2014, foi promulgada pela Mesa do Senado Federal a Emenda Constitucional n.º 77/2014, que conferiu nova redação ao art. 143, 3º, inciso VIII, da Constituição Federal, para permitir a possibilidade de cumulação remunerada de dois cargos de profissionais de saúde. Transcrevemos o dispositivo para melhor visualização: Art. 142. (...) 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-selhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições: (...) VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII, XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV e XV, bem como, na forma da lei e com prevalência da atividade militar, no art. 37, inciso XVI, alínea "c"; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 77, de 2014) No caso, verifica-se que o dispositivo constitucional foi alterado para permitir a aplicação aos militares da regra prevista no art. 37, inciso XVI, alínea c, da CF/88, a qual permite a cumulação remunerada de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas. Portanto, diante da nova redação da CF/88, atualmente, é válida a cumulação remunerada de dois cargos públicos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas, como é o caso dos médicos, cuja regência se dá pelas Leis n.º 3.268/57 e 12.842/2013.

Por oportuno, compreende-se, ainda, que nas hipóteses do art. 37, XVI, c e art. 143, 3º, VIII, ambos da CF/88, não há qualquer vedação constitucional ou legal para que ocorra a acumulação de cargos públicos perante o mesmo Ente federativo ou Entes diversos. Ou seja, o médico que seja militar da União ou dos Estados poderá cumular seu cargo com outro cargo de médico na esfera federal, estadual ou municipal, desde que observe o limite constitucional de dois vínculos efetivos e haja compatibilidade de horários para o exercício de ambas as atividades. Neste ponto, convém destacar que o STJ entende que a acumulação de cargos públicos é sempre excepcional, somente podendo ocorrer nos casos expressamente previstos na Constituição e observada a estrita compatibilidade entre as jornadas de trabalho. Segue a transcrição de acórdão exarado pela 1ª Seção do Tribunal da Cidadania, a saber: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ACUMULAÇÃO DE CARGOS PÚBLICOS. ENFERMAGEM. CARGA HORÁRIA MÁXIMA SEMANAL. PARECER AGU GQ-145/1998. JORNADA SEMANAL SUPERIOR A 60 (SESSENTA HORAS). 1. "A 1ª Seção do STJ, no julgamento do MS 19.336/DF, julgado em 26/2/2014, DJe 14/10/2014, decidiu que o Parecer GQ-145/98 da AGU, que trata da limitação da carga horária semanal nas hipóteses de acumulação de cargos públicos, não esvazia a garantia prevista no art. 37, XVI, da Constituição Federal - "é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI" -, isso porque a acumulação de cargos constitui exceção, devendo ser interpretada de forma restritiva, de forma a atender ao princípio constitucional da eficiência, na medida em que o profissional da área de saúde precisa estar em boas condições físicas e mentais para bem exercer as suas atribuições, o que certamente depende de adequado descanso no intervalo entre o final de uma jornada de trabalho e o início da outra, o que é impossível em condições de sobrecarga de trabalho. Desse modo, revela-se coerente o limite de 60 (sessenta) horas semanais, fato que certamente não decorre de coincidência, mas da preocupação em se otimizarem os serviços públicos, que dependem de adequado descanso dos servidores públicos" (AgRg nos EDcl no AgRg no AREsp 508.091/RN, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. p/ Acórdão Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 28/4/2015, DJe 13/5/2015) 2. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no AREsp 728.249/RJ, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/09/2015, DJe 23/09/2015) Tal orientação está baseada no princípio constitucional da eficiência, na medida em que o profissional da área de saúde precisa estar em boas condições físicas e mentais para bem exercer as suas atribuições, o que certamente depende de adequado descanso no intervalo entre o

final de uma jornada de trabalho e o início da outra, o que é impossível em condições de sobrecarga de trabalho. Nessa linha, o STJ considera válido o Parecer GQ-145/98 da AGU, que trata da limitação da carga horária semanal nas hipóteses de acumulação de cargos públicos, pois revela-se coerente o limite de 60 (sessenta) horas semanais, fato que certamente não decorre de coincidência, mas da preocupação em se otimizarem os serviços públicos, que dependem de adequado descanso dos servidores públicos. Assim, conforme orientação jurisprudencial, somente é possível acumular cargos públicos em âmbito federal caso se observe o limite máximo de 60 horas semanais. Por fim, é preciso esclarecer que o art. 142, 3º, VIII, da CF/88, inseriu regra limitativa quanto à possibilidade de cumulação de cargos de saúde por militares. Trata-se da seguinte expressão: bem como, na forma da lei e com prevalência da atividade militar, no art. 37, inciso XVI, alínea "c". Em primeiro lugar, a redação leva a crer que a acumulação de cargos públicos de saúde por militares somente poderia ocorrer na forma da lei, ou seja, após a edição de lei que regulamente as hipóteses cabíveis. Todavia, essa não parece ser a melhor interpretação, eis que a teleologia da norma foi justamente autorizar a cumulação de públicos e não criar novo obstáculo ao exercício de tal direito em decorrência da necessidade de que seja editada lei para reger o tema. Assim, a norma deve ser compreendida como sendo de eficácia contida e não limitada, de modo a produzir todos os seus efeitos a partir da publicação da EC n.º 77/2014, o que não impede, porém, que seja editada lei ordinária que regule e limite as hipóteses de cumulação de cargos de saúde por militares. Por sua vez, é preciso observar que a cumulação de cargos de saúde por militares deve observar a prevalência da atividade militar. Ou seja, as atividades decorrentes do vínculo militar não podem ser prejudicadas em razão do exercício cumulado de outro cargo público, haja vista o interesse público que circunda a função militar, o qual é definido como a defesa da Pátria, a garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. III DA CONCLUSÃO Portanto, este Sejur entende que: a) Deve ser revisto o posicionamento firmado pelo Despacho Sejur n.º 250/2013, pois, a partir da publicação da Emenda Constitucional n.º 77/2014, que conferiu nova redação ao art. 143, 3º, inciso VIII, da Constituição Federal, passou a ser permitida a possibilidade de cumulação remunerada por militares da União e dos Estados de dois cargos de profissionais de saúde com profissões regulamentadas, situação na qual se incluem os médicos.

b) O médico que seja militar da União ou dos Estados poderá cumular seu cargo com outro cargo de médico na esfera federal, estadual ou municipal, desde que observe o limite constitucional de dois vínculos efetivos e haja compatibilidade de horários para o exercício de ambas as atividades. c) O STJ considera válido o Parecer GQ-145/98 da AGU, que trata da limitação da carga horária semanal nas hipóteses de acumulação de cargos públicos e que define o limite de 60 (sessenta) horas semanais. d) A norma do art. 142, 3º, VIII, da CF/88 deve ser compreendida como sendo de eficácia contida e não limitada, de modo a produzir todos os seus efeitos a partir da publicação da EC n.º 77/2014, o que não impede, porém, que seja editada lei ordinária que regule e limite as hipóteses de cumulação de cargos de saúde por militares. e) A cumulação de cargos de saúde por militares deve observar a prevalência da atividade militar. É o que nos parece, s.m.j. Brasília/DF, 30 de setembro de 2015. Rafael Leandro Arantes Ribeiro Advogado do Conselho Federal de Medicina OAB/DF n.º 39.310 De Acordo: José Alejandro Bullón Chefe do SEJUR