PROCESSO - TC-6670/2007 INTERESSADO - PREFEITURA MUNICIPAL DE CASTELO ASSUNTO - CONSULTA COMPENSAÇÃO DE CRÉDITOS DE EXERCÍCIOS ANTERIORES PAGOS AO INSS E À SRF: A CONTABILIZAÇÃO DAS CONTRIBUIÇÕES AO INSS E AO PASEP DEVERÁ SER REALIZADA PELO VALORES REAIS, SEM EXCLUIR VALORES A COMPENSAR. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos do Processo TC-6670/2007, em que o Prefeito Municipal de Castelo, Sr. Cleone Gomes do Nascimento, formula consulta a este Tribunal, questionando acerca da contabilização de compensações de valores pagos ao Instituto Nacional da Seguridade Social - INSS e à Secretaria da Receita Federal - SRF. Considerando que é da competência deste Tribunal decidir sobre consulta que lhe seja formulada na forma estabelecida pelo Regimento Interno, conforme artigo 1º, inciso XVII, da Lei Complementar nº 32/93. RESOLVEM os Srs. Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo, em sessão realizada no dia treze de dezembro de dois mil e sete, por unanimidade, acolhendo o voto do Relator, Conselheiro Marcos Miranda Madureira, preliminarmente, conhecer da consulta, para, no mérito, respondê-la
Fls. 02 nos termos da Instrução Técnica nº 11/2007, da 8ª Controladoria Técnica, firmada pelo Controlador de Recursos Públicos, Sr. Alexsander Binda Alves, abaixo transcrita: I. RELATÓRIO. Tratam os presentes autos de consulta formulada pelo Sr. Cleone Gomes do Nascimento, Prefeito Municipal de Castelo, no sentido de serem respondidas as seguintes indagações, que transcrevemos in verbis: Favorecidos pela Instrução Normativa SRF nº 210, de 30 de setembro de 2002, que disciplina a restituição e compensação de quantias recolhidas a maior ao Tesouro Nacional, e pela Lei nº 9.506/97, que acresceu o inciso h, ao artigo 12 da lei nº 8.212/91, em virtude da inconstitucionalidade da cobrança em face de subsídios pagos aos titulares de cargos eletivos, alguns Municípios do Estado do Espírito Santo, através de terceirização de serviços especializados, conseguiram, legalmente, a compensação dos créditos de exercícios anteriores pagos ao Instituto Nacional de Seguridade Social e à Secretaria da Receita Federal (SRF). Os créditos recuperados serão compensados nos pagamentos mensais atuais das obrigações a recolher de INSS e de PASEP. Pergunta-se: A contabilização das despesas de INSS e de PASEP deverá ser feita no valor total apurado no mês em curso ou deverá ser descontado o valor compensado e empenhado somente o líquido a pagar aos órgãos federais? Caso contabilize o valor total do mês apurado (bruto), como deverá ser feita a contabilização dessas compensações? Quais serão os lançamentos contábeis para o registro da despesa? É o relatório. II. REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE. Transpostas as fases preestabelecidas no art. 97, caput e 2º, do Regimento Interno desta Corte (Resolução TC nº 182/2002) e tendo a autoridade competente se manifestado prosseguimento da presente consulta, passamos à análise do mérito das questões suscitadas pela consulente. III. MÉRITO. O tratamento dispensado à consulta formulada pelo gestor subdividir-se-á da seguinte forma: 1. No pagamento das contribuições ao INSS e ao PASEP, far-se-á a contabilização pelo valor líquido (valor devido valor a ser compensado) ou pelo valor bruto (valor devido)? 2. Se a contabilização acima for realizada pelo valor bruto, como devem ser realizados os lançamentos da despesa e da compensação? Dantes de adentrarmos nos questionamentos suscitados, cabe, preliminarmente, ressalvar que: Não foi
Fls. 03 averiguado o mérito da afirmação do consulente quanto à inconstitucionalidade da alínea h, inc. I da Lei nº 8.212/91, haja vista a vigência da alínea j, inc. I da Lei nº 8.212/91, que torna segurado obrigatório da Previdência Social o exercente de mandato eletivo federal, estadual ou municipal, desde que não vinculado a regime próprio de previdência social. Assim, em face da alegação oriunda da Prefeitura Municipal de Castelo - conseguiram, legalmente, a compensação dos créditos de exercícios anteriores pagos - procedem-se aos lançamentos contábeis com base no direito às compensações previdenciárias decorrentes do recolhimento do INSS. Para a compensação de INSS será utilizada a Instrução Normativa MPS/SRP nº 3/05 1, observando-se, ainda, que o montante a ser compensado não poderá ultrapassar a 30% do valor das contribuições devidas (art. 194). 1. No pagamento das contribuições ao INSS e ao PASEP, far-se-á a contabilização pelo valor líquido (valor devido valor a ser compensado) ou pelo valor bruto (valor devido)? Em resposta ao questionamento suscitado, deve-se, antes de tudo, observar a seqüência dos fatos a serem registrados, que, em tese, transcorreriam da seguinte forma: 1º. Registro do direito do valor a ser compensado e 2º. Registro da obrigação perante o INSS e/ou PASEP. Feito o devido esclarecimento, a solução é apresentada nas Normas Brasileiras e nos Princípios Fundamentais de Contabilidade, bem como no Princípio do Orçamento Bruto, insculpido no art. 6º da Lei nº 4.320/64: Princípio Fundamental de Contabilidade Princípio da Oportunidade e a Norma Brasileira de Contabilidade NBC T 1 Das Características da Informação Contábil A Resolução CFC nº 750/93, em seu art. 6º, que contempla o Princípio da Oportunidade, prevê que todo registro contábil deve ocorrer tempestivamente, ou seja, no momento em que o fato ocorreu. Prosseguindo, temos ainda que, o objetivo da informação contábil, inserida na sua condição de ciência social, é propiciar base segura para tomada de decisões ou para interpretações de determinadas situações e, dentre seus atributos, está aquele referente à confiabilidade: 1.4 Da Confiabilidade 1.4.1 A confiabilidade é atributo que faz com que o usuário aceite a informação contábil e a utilize como base de decisões, configurando, pois, elemento essencial na relação entre aquele e a própria informação. 1.4.2 A confiabilidade da informação fundamenta-se na veracidade, completeza e 1 Ministério da Previdência. Disponível em: http://www010.dataprev.gov.br/sislex/paginas/38/mpssrp/2005/3completa.htm. Acesso em 1 de novembro de 2007.
Fls. 04 pertinência do seu conteúdo. 1º A veracidade exige que as informações contábeis não contenham erros ou vieses, e sejam elaboradas em rigorosa consonância com os Princípios Fundamentais de Contabilidade e as Normas Brasileiras de Contabilidade e, na ausência de norma específica, com as técnicas e procedimentos respaldados na ciência da Contabilidade, nos limites de certeza e previsão por ela possibilitados. 2º A completeza diz respeito ao fato de a informação compreender todos os elementos relevantes e significativos sobre o que pretende revelar ou divulgar, como transações, previsões, análises, demonstrações, juízos ou outros elementos. 3º A pertinência requer que seu conteúdo esteja de acordo com a respectiva denominação ou título. [grifo nosso] Desta forma, observa-se que os registros envolvidos são distintos, ou seja, primeiro registra-se o direito à compensação e depois se inscreve o valor referente à obrigação perante o INSS. Assim, tem-se que, antes da entidade registrar o pagamento das contribuições, deverá ser efetuado o competente registro do valor a ser compensado, haja vista o Princípio da Oportunidade, ou seja, não poderia haver registro pelo valor líquido, porque o valor a ser compensado já estaria registrado no patrimônio da entidade. Princípio do Orçamento Bruto art. 6º da Lei nº 4.320/64 Corroborando o que está acima exposto, buscamos amparo no Princípio do Orçamento Bruto, no qual transcreve que todas as receitas e despesas constarão na Lei Orçamentária Anual pelos seus totais, vedadas quaisquer reduções. O princípio torna evidente que os valores, previstos e fixados no orçamento, constam pelos valores brutos. Por via reflexa, a contabilização das despesas perante o INSS e o PASEP deve ocorrer pelos seus valores totais, brutos. 2. Se a contabilização acima for realizada pelo valor bruto, como devem ser realizados os lançamentos da despesa e da compensação? Fincada a opinião sobre o lançamento bruto, transcrevemos abaixo os lançamentos inerentes, em conformidade com o plano de contas SISAUD, por se tratar de município, observando que não estão descartados outros tipos de lançamentos, desde que mantido o princípio contábil de que a essência deve prevalecer sobre a forma 2. a) Reconhecimento do Direito à Compensação do INSS e do PASEP de exercícios anteriores Lançamento 01 D CRÉDITOS DIVERSOS A RECEBER 2 MARTINS, Eliseu coordenador técnico. Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações - FIPECAFI. 6. ed. São Paulo : Atlas, 2003, p. 50.
Fls. 05 112191200 VALORES DE INSS A COMPENSAR 112199900 OUTROS CRÉDITOS A RECEBER (PASEP) C 623170100 CRÉDITOS A RECEBER Var. Ativ. Ind. Exec. Orç. valor a compensar Lançamento 02 D 199300100 VALORES NOMINAIS EMITIDOS (INSS/PASEP) C 299900100 CONTRAPARTIDA DE DIVERSOS (INSS/PASEP) valor a compensar b) Pagamento de INSS e de PASEP (exercício atual), descontados os valores a compensar Lançamento 03 D 292110100 CRÉDITO DISPONÍVEL C 292210100 CRÉDITO EMPENHADO - A LIQUIDAR valor bruto Lançamento 04 D 292210100 CRÉDITO EMPENHADO - A LIQUIDAR C 292220100 CRÉDITO EMPENHADO LIQUIDADO valor bruto Lançamento 05 D 292220100 CRÉDITO EMPENHADO - LIQUIDADO C Despesa a recolher de INSS/PASEP 331901302 INSTITUTO NACIONAL DE SEGURO SOCIAL 333904101 PASEP valor bruto Lançamento 06 D Despesa a recolher de INSS/PASEP 331901302 INSTITUTO NACIONAL DE SEGURO SOCIAL 333904101 PASEP C Despesa a recolher de INSS/PASEP valor bruto 214121500 OUTRAS DESPESAS DE PESSOAL A PAGAR 214120900 PIS/PASEP Lançamento 07 D Despesa a recolher de INSS/PASEP 214121500 OUTRAS DESPESAS DE PESSOAL A PAGAR 214120900 PIS/PASEP C 111120100 BANCO DO ESTADO DO ESPIRITO SANTO S.A. valor líquido Lançamento 08 D Despesa a recolher de INSS/PASEP
Fls. 06 214121500 OUTRAS DESPESAS DE PESSOAL A PAGAR 214120900 PIS/PASEP C Créditos a receber valor da compensação 112191200 VALORES DE INSS A COMPENSAR 112199900 OUTROS CRÉDITOS A RECEBER (PASEP) Lançamento 09 D 299900100 CONTRAPARTIDA DE DIVERSOS (INSS/PASEP) C 199300100 VALORES NOMINAIS EMITIDOS (INSS/PASEP) valor a compensar IV. CONCLUSÃO Por todo o exposto, entendemos que os valores a compensar de INSS e de PASEP devem ser contabilizados pelos seus valores totais, sem excluir valores a compensar, haja vista as Normas Brasileiras e os Princípios Fundamentais de Contabilidade, bem como o Princípio do Orçamento Bruto. Quanto ao segundo quesito, apresentamos no item III.2 a devida contabilização dos fatos em voga. Presentes à sessão plenária da apreciação os Srs. Conselheiros Elcy de Souza, Vice-Presidente no exercício da Presidência, Marcos Miranda Madureira, Relator, Mário Alves Moreira, Umberto Messias de Souza, Dailson Laranja e Enivaldo Euzébio dos Anjos. Presente, ainda, a Drª Célia Lúcia Vaz de Araujo, Procuradora de Justiça do Ministério Público junto a este Tribunal. Sala das Sessões, 13 de dezembro de 2007. CONSELHEIRO ELCY DE SOUZA Vice-Presidente no exercício da Presidência CONSELHEIRO MARCOS MIRANDA MADUREIRA Relator
Fls. 07 CONSELHEIRO MÁRIO ALVES MOREIRA CONSELHEIRO UMBERTO MESSIAS DE SOUZA CONSELHEIRO DAILSON LARANJA CONSELHEIRO ENIVALDO EUZÉBIO DOS ANJOS DRª CÉLIA LÚCIA VAZ DE ARAUJO Procuradora de Justiça Lido na sessão do dia: FÁTIMA FERRARI CORTELETTI Secretária Geral das Sessões fbc/bhs