O Brasil e o IDH No mês de setembro de 2005 o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) divulgou o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH 2005), com a análise de 177 países. Com dados referentes ao ano de 2003, o índice brasileiro passou de 0,790, em 2002, para 0,792, resultado que não alterou a posição do país no ranking mundial, permanecendo na 63ª posição, entre as nações de médio desenvolvimento humano. Entretanto, apesar dessa pequena melhora numérica do índice, deve ser destacado que em educação e longevidade o país teve um pequeno avanço, mas no quesito renda houve uma significativa regressão. Talvez cause certa estranheza para aqueles que estão acostumados a verificar o desempenho do Brasil no ranking do IDH a posição 63ª, uma vez que no RDH 2004 o Brasil aparecia na 72ª posição, e não na 63ª, como consta no atual relatório. Os dados utilizados para o cálculo do índice foram alterados novamente nesse ano, e, visando a uma real comparação com as edições anteriores, o RDH usou as novas séries de estatísticas não só para o cálculo do IDH de 2003, como também recalculou o IDH de 2003 e de outros sete anos de referência: 1975, 1980, 1985, 1990, 1995 e 2000. As três variáveis utilizadas no cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano empregam os seguintes critérios: a longevidade é calculada a partir da esperança de vida ao nascer, na atual situação o Brasil evoluiu de 70,2 para 70,5 anos, estando na 86ª posição no ranking mundial; quanto à escolaridade ou acesso ao conhecimento, o relatório usa dois indicadores: taxa de alfabetização de pessoas com 15 anos ou mais de idade e taxa de matrícula bruta nos três níveis de ensino (relação entre a população em idade escolar e o número de pessoas 1
matriculadas no ensino fundamental, médio e superior). O Brasil ocupa a 91ª posição no ranking mundial com 11,6% de analfabetismo. No caso da renda, o índice é avaliado pelo Produto Interno Bruto per capita, ajustado pela paridade do poder de compra (dólar PPC, taxa que elimina as diferenças de custo de vida entre os países). De 2002 para 2003, o PIB per capita brasileiro recuou 1,6%? passou de US$ 7.918 para US$ 7.790. O país está em 64º lugar no ranking de renda, pouco abaixo da posição no ranking do IDH. A decomposição do IDH ressalta exatamente o ponto vulnerável da nossa economia, mostra que o Brasil tem um subíndice de renda inferior ao da média mundial e também ao da América Latina. Em esperança de vida, supera a média global, mas não a latino-americana. Somente na educação, o país tem desempenho melhor que a média mundial e regional. A grande questão enfatizada pela mídia, entretanto, é a disparidade quanto às desigualdades socioeconômicas, em que os 10% mais pobres ficam com uma pequena parcela da renda, 0,7%, situando o país à frente somente de cinco países: Venezuela e Paraguai (0,6%), Serra Leoa, Lesoto e Namíbia (0,5%). Por outro lado, em apenas sete países? Chile (47%), República Centro-Africana (47,7%), Guatemala e Lesoto (48,3%), Suazilândia (50,2%), Botsuana (56,6%) e Namíbia (64,5%)? os 10% mais ricos da população se apropriam de uma fatia de renda nacional maior do que ricos brasileiros, que abocanham 46,9% da renda. Para agravar esses dados, numa simulação feita pelo relatório, considerando os 20% mais pobres do país, a qualidade de vida é comparável a países como Honduras, Guatemala e Mongólia, caindo nessa situação para a 115ª posição. O Brasil é o oitavo pior em outro indicador usado para medir desigualdade, o índice de Gini, cujo valor varia de 0 (quando não há desigualdade, ou seja, todos os indivíduos têm a mesma renda) a 100 (quando apenas um indivíduo detém toda a renda da sociedade). O índice 2
brasileiro é 59,3 melhor apenas que Guatemala (59,9), Suazilândia (60,9), República Centro-Africana (61,3), Serra Leoa (62,9), Botsuana (63,0), Lesoto (63,2) e Namíbia (70,7). Uma grande iniqüidade, segundo o relatório, ajuda a travar a expansão econômica e torna mais difícil que os pobres sejam beneficiados pelo crescimento. Altos níveis de desigualdade de renda são ruins para o crescimento e enfraquecem a taxa em que o crescimento se converte em redução de pobreza: eles reduzem o tamanho do bolo econômico e o tamanho da fatia abocanhada pelos pobres, afirma o documento. O Brasil é usado novamente como exemplo para se ressaltar que uma má distribuição de renda agrava a pobreza: A renda média é três vezes maior em um país de renda mediana e alta desigualdade como o Brasil do que em um país de baixa desigualdade e baixa renda como o Vietnã. Mas a renda dos 10% mais pobres no Brasil é menor que a dos 10% mais pobres no Vietnã. Se o IDH fosse baseado não no PIB per capita, mas na renda dos 20% mais pobres (mantendo-se as variáveis de educação e longevidade intactas), o Brasil cairia 52 posições no ranking, de 63ª para 115ª. Em países com condições similares às do Brasil e às do México grande desigualdade e grande número de pobres, uma modesta transferência de renda teria grande impacto na redução da pobreza, avalia o estudo do PNUD. No Brasil, a transferência de 5% da renda dos 20% mais ricos para os mais pobres teria os seguintes efeitos: cerca de 26 milhões de pessoas sairiam da linha de pobreza, reduzindo a taxa de pobreza de 22% para 7%. Em uma sociedade que dê mais peso ao ganho de bem-estar dos pobres do que ao dos ricos, a transferência poderia ser considerada uma melhoria no bem-estar de toda a sociedade, mesmo que alguns percam. 3
O novo ranking não apresenta alterações no primeiro lugar, que continua com a Noruega com índice de 0,963, entretanto Serra Leoa (0,298), país localizado na África subsaariana, deixa a incômoda última posição para Níger (0,281), país que também está localizado nessa região, onde estão os maiores bolsões de miséria do mundo e que apresenta os 24 últimos países no atual RDH. O Haiti aparece na 25ª posição, sendo o país mais pobre latino-americano. Na frente do Brasil, no continente americano aparecem vários países, por exemplo: o Canadá (5º), Estados Unidos (10º), Argentina (34º), Chile (37º), Uruguai (46º), Costa Rica (47º), Cuba (52º), no grupo dos países de elevado IDH, cuja variação vai de 1,00 a 0,800. Fonte: http://www.pnud.org.br/home/ Ademir Aquino Professor de geografia e história no ensino médio e pré-vestibular 4
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