DOE 5.11.2010 PROCESSO - TC-6947/2008 INTERESSADO - BANESTES SEGUROS S/A ASSUNTO - CONSULTA CONTRATO DE DOAÇÃO GLOBAL ANUAL DE SUCATA PERTENCENTE À EMPRESA PÚBLICA PARA ENTIDADES FILANTRÓPICAS - POSSIBILIDADE CONDICIONADA À DISCRIMINAÇÃO DOS ITENS A SEREM DOADOS, FACE À IMPRESCINDIBILIDADE DE PROMOÇÃO DE AVALIAÇÃO PRÉVIA. Vistos, relatados e discutidos os autos do Processo TC-6947/2008, em que o Diretor-Presidente da Banestes Seguros S/A no exercício de 2008, Sr. José Carlos Lyrio Rocha, formula consulta a este Tribunal, nos seguintes termos: Há óbice legal, em tese, para que empresa pública estadual celebre contrato de doação anual, com entidade filantrópica, com o objetivo de transferir a propriedade de toda a sucata proveniente da reparação de veículos gerada sem a discriminação de cada item doado? Considerando que é da competência deste Tribunal decidir sobre consulta que lhe seja formulada, na forma estabelecida pelo Regimento Interno, conforme artigo 1º, inciso XVII, da Lei Complementar nº 32/93.
RESOLVEM os Srs. Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo, em sessão realizada no dia vinte e um de setembro de dois mil e dez, à unanimidade, acolhendo o voto do Relator, Conselheiro Sebastião Carlos Ranna de Macedo, preliminarmente, conhecer da consulta, para, no mérito, respondê-la positivamente, nos termos do voto do Relator, abaixo transcrito, que adotou os fundamentos explicitados na Orientação Técnica nº 4/2010, da 8ª Controladoria Técnica, firmada pelo Controlador de Recursos Públicos, Sr. Lyncoln de Oliveira Reis, e no Parecer nº 4693/2010, da Procuradoria Especial de Contas, subscrito pelo seu Procurador-Geral, Dr. Domingos Augusto Taufner: Tratam os autos de Consulta formulada pelo Banestes Seguros S.A, por intermédio de seu Diretor- Presidente, José Carlos Lyrio Rocha, indagando-nos textualmente sobre o seguinte tema: Há óbice legal, em tese, para que empresa pública estadual celebre contrato de doação anual, com entidade filantrópica, com o objetivo de transferir a propriedade de toda a sucata proveniente da reparação de veículos gerada sem a discriminação de cada item doado?. A 8ª Controladoria Técnica, às fls 4 e 5, por intermédio da Manifestação Técnica em Consulta, opina pelo não conhecimento da proposição, com fulcro no inciso II, parágrafo único do art. 98, da Resolução TC nº 182/02. À fls 07 dos autos dissenti da Área Técnica, entendendo que do texto seria possível extrair-se que a dúvida suscitada referia-se à aplicabilidade do artigo 17, CAPUT, inciso II, alínea a, da Lei 8666/93, propiciando, destarte, a formulação da resposta em tese. Assim sendo, encaminhei novamente os autos ao departamento competente, para que no afã de dar cumprimento à norma programática consignada no artigo 72 da Constituição Estadual se pronunciasse sobre o mérito da questão na forma que propusemos. Este o fez por
meio da OT-C 4/2010, cujos termos são vazados da seguinte forma: I - RELATÓRIO: Tratam os presentes autos de consulta formulada pelo Sr. José Carlos Lyrio Rocha, Diretor Presidente da Banestes Seguros SA, no sentido de ser respondida a seguinte indagação, que transcrevemos in verbis: Há óbice legal, em tese, para que empresa pública estadual celebre contrato de doação anual, com entidade filantrópica, com o objetivo de transferir a propriedade de toda a sucata proveniente da reparação de veículos gerada sem a discriminação de cada item doado?. É o relatório. II - REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE: Considerando que os requisitos de admissibilidade da presente Consulta já foram objeto de análise pelo Excelentíssimo Senhor Conselheiro Relator à fl. 7, passa-se à análise de mérito. III MÉRITO: O quesito apresentado pelo consulente diz respeito à existência de óbice legal para que empresa pública estadual celebre contrato com entidade filantrópica para doar anualmente toda a sucata proveniente da reparação de veículos da entidade, sem a necessidade de discriminar os itens constantes do ajuste. O fato de haver empresa pública envolvida na questão faz com que seja necessário revolver o disposto no art. 173, 1º, da Carta Magna: Art. 173 - Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. 1º - A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: [...] III - licitação e
contratação de obras, serviços, compras e alienações, observados os princípios da administração pública; [...] 3º - A lei regulamentará as relações da empresa pública com o Estado e a sociedade. [grifo nosso]. Da análise do referido dispositivo, depreende-se que a criação de um estatuto próprio para as empresas públicas, sociedades de economia mista e para suas subsidiárias demanda a elaboração de lei específica. Tal regramento, além de disciplinar as questões relativas aos procedimentos licitatórios realizados por essas entidades também deverá dispor sobre a relação entre elas e a sociedade. Sem embargo, enquanto não sobrevier tal lei, devese adotar o Estatuto Geral das Licitações, a saber, a Lei n. 8.666/93, para reger tais hipóteses. Tal entendimento decorre do mandamento contido no art. 37, caput e inciso XXI, que estabelece que a Administração Pública Direta e Indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, deve observar o princípio da licitação para realizar obras, serviços, compras e alienações. Corroborando o dispositivo constitucional citado, o art. 1º, parágrafo único, da Lei n 8.666/93 assim estabelece: Art. 1º Esta Lei estabelece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Parágrafo único - Subordinam-se ao regime desta Lei, além dos órgãos da administração direta, os fundos especiais, as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. [grifo nosso] O diploma
legal em questão, em seu art. 17, II, dispõe sobre a alienação de bens móveis, que é o objeto da presente Consulta: Art. 17 A alienação de bens da Administração Pública, subordinada à existência de interesse público devidamente justificado, será precedida de avaliação e obedecerá às seguintes normas: [...] II - quando móveis, dependerá de avaliação prévia e de licitação, dispensada esta nos seguintes casos: a) doação, permitida exclusivamente para fins e uso de interesse social, após avaliação de sua oportunidade e conveniência sócio-econômica, relativamente à escolha de outra forma de alienação; [grifo nosso]. Da análise dos dispositivos citados, observa-se que a alienação de bens móveis depende basicamente da existência de três requisitos: 1) interesse público devidamente justificado; 2) avaliação prévia; e 3) licitação. Na hipótese objeto dessa Consulta, o consulente faz referência à sucata proveniente de reparação de veículos que, embora inservível para a entidade, é necessária para entidades filantrópicas que atuam nessa área, como v. g., aquelas que investem em menores em situação de risco social que trabalham na formação de mão-de-obra especializada, em reparação mecânica ou funilaria. Diante disso, é possível identificar a existência de interesse público, cumprindo-se o primeiro requisito. A segunda exigência, por outro lado, é capaz por si só de responder negativamente à presente Consulta, pois nesta se questiona a possibilidade de doação global de sucata decorrente da reparação de veículos, sem discriminação de itens. Tal hipótese se choca com o citado comando legal, que denota o cuidado do legislador em saber o preço do que vai ser transferido a outrem, buscando evitar eventuais prejuízos para a Administração. Na realidade, a
exigência de avaliação prévia almeja trazer ao gestor condições para aferir, v. g., se é melhor vender o bem, doá-lo ou permutálo por outro. De fato, é o que se depreende da parte final da alínea a do inciso II do art. 17, quando menciona, no caso da doação sem licitação, a necessidade de se ponderar a oportunidade e conveniência sócio-econômica, relativamente à escolha de outra forma de alienação. Quanto ao terceiro requisito, que estabelece a necessidade de licitação, entendese que é possível dispensá-lo no caso em análise, por força do art. 17, II, da Lei n. 8.666/93, uma vez que a doação dos bens móveis supostamente ocorreria para uma entidade filantrópica, restando clara a configuração do interesse social. Contudo, tal hipótese fica condicionada à existência de oportunidade e conveniência socioeconômica. Nesses termos, sugere-se que a presente Consulta seja respondida negativamente, uma vez que o art. 17, II, da Lei n. 8.666/93 exige a avaliação prévia do bem a ser alienado. Isso impede, então, que seja celebrado contrato por empresa pública estadual com entidade filantrópica para que haja doação global anual de sucata decorrente da reparação de veículos, sem discriminação de itens. IV - CONCLUSÃO: Por todo o exposto, opina-se no sentido de que a presente Consulta seja respondida negativamente, uma vez que o art. 17, II, da Lei n. 8.666/93 exige a avaliação prévia do bem a ser alienado. Isso impede, então, que seja celebrado contrato por empresa pública estadual com entidade filantrópica para que haja doação global anual de sucata decorrente da reparação de veículos, sem discriminação de itens. O Ministério Público Especial de Contas, por intermédio de seu Procurador-Chefe, assim concluiu às fls 20 dos autos: Frente ao exposto, opina esta
Procuradoria Especial de Contas que o Plenário deste Colendo Sodalício profira julgamento para que a resposta da consulta seja a partir do que foi explicitado na OT-C, no sentido de que é obrigatória a discriminação dos itens a serem doados.. Assim sendo, adoto os fundamentos da Área Técnica e do Ministério Público Especial de Contas como meus, divergindo daquela tão somente no que toca à admissibilidade da Consulta, já que vislumbro e isto restou provado com a brilhante manifestação da 8ª CT, a possibilidade de se responder ao mérito da propositura. Ante o exposto, VOTO pelo conhecimento da presente Consulta, para no mérito pugnar pela possibilidade de haver contrato de doação global anual de sucata pertencente à empresa pública para entidades filantrópicas, desde que haja discriminação dos itens a serem doados, face à imprescindibilidade de se promover à avaliação prévia dos mesmos, observada a exclusividade da doação para fins de uso de interesse social, se não for oportuno e conveniente sócio-economicamente, optar por outra forma de alienação dos bens. Acompanha este Parecer, integrando-o, o voto do Relator. Seguem, em anexo, a Orientação Técnica nº 4/2010, da 8ª Controladoria Técnica, e o Parecer nº 4693/2010, da ilustrada Procuradoria Especial de Contas. Presentes à sessão plenária da apreciação os Srs. Conselheiros Umberto Messias de Souza, Presidente, Sebastião Carlos Ranna de Macedo, Relator, Marcos Miranda Madureira, Elcy de Souza, Sérgio Aboudib Ferreira Pinto, José Antônio Almeida Pimentel e o Conselheiro em substituição Marco Antonio da
Silva. Presente, ainda, o Dr. Domingos Augusto Taufner, Procurador-Geral do Ministério Público Especial de Contas. Sala das Sessões, 21 de setembro de 2010. CONSELHEIRO UMBERTO MESSIAS DE SOUZA Presidente CONSELHEIRO SEBASTIÃO CARLOS RANNA DE MACEDO Relator CONSELHEIRO MARCOS MIRANDA MADUREIRA CONSELHEIRO ELCY DE SOUZA CONSELHEIRO SÉRGIO ABOUDIB FERREIRA PINTO CONSELHEIRO JOSÉ ANTÔNIO ALMEIDA PIMENTEL
CONSELHEIRO MARCO ANTONIO DA SILVA Em substituição DR. DOMINGOS AUGUSTO TAUFNER Procurador-Geral Lido na sessão do dia: PAULO CÉSAR ROCHA MALTA Secretário Geral das Sessões