UNICAMP 2004. Você na elite das universidades! PORTUGUÊS ELITE SEGUNDA FASE



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LÍNGUA PORTUGUESA 1. Em matéria recentemente publicada no Caderno Sinapse da Folha de S. Paulo, é apresentada uma definição de media training: ensinar profissionais a lidarem com a imprensa e se saírem bem nas entrevistas. Na parte final da reportagem, o jornalista faz a seguinte ressalva: O media training não se restringe a corporações. A Universidade X distribui para seus profissionais uma cartilha com dicas para que professores e médicos possam ter um bom relacionamento com a imprensa. Ironicamente intitulado de Corra que a Imprensa vem aí, o manual aponta gafes cometidas e dá dicas sobre a melhor forma de atender um repórter. (Adaptado de Vinícius Queiroz Galvão, Treinamento antigafe, Caderno Sinapse, 30/09/2003, p. 32). a) No trecho acima, as aspas são utilizadas em dois momentos diferentes. Transcreva as passagens entre aspas e explique seu uso em cada uma delas. b) Podemos relacionar o título da cartilha com o título em português da conhecida comédia norteamericana Corra que a polícia vem aí, que trata de um inspetor de polícia atrapalhado. Explicite os sentidos da palavra correr nos títulos do filme e do manual. a) Media training está colocado entre aspas por ser uma expressão estrangeira (estrangeirismo); Corra que a imprensa vem aí está destacado por aspas por ser o título de uma obra (uma cartilha). Deve-se acrescentar que aqui ocorre a relação entre os títulos do manual e do filme Corra que a Polícia vem aí, que é uma relação intertextual. b) A palavra correr no filme remete a uma idéia de fugir, esconder-se (por receio dos problemas que a polícia pode acarretar). Na cartilha, correr refere-se a preparar-se, sendo uma maneira de alertar os profissionais quanto aos riscos relacionados às declarações e depoimentos errôneos feitos em contatos com a imprensa. 2. Em sua coluna na Folha Ilustrada, Mônica Bergamo comenta sobre o curta-metragem previsto para ser lançado em novembro de 2003 Um Caffé com o Miécio. Transcrevemos parte da coluna a seguir: (...) Quando ouvia a trilha sonora do curta Um Caffé com o Miécio, que Carlos Adriano finaliza sobre o caricaturista, colecionador de discos e estudioso Miécio Caffé (1920-2003), Caetano Veloso se encantou por uma música específica. Era a desconhecida marchinha A Voz do Povo, de Malfitano e Frazão, que Orlando Silva gravou em 1940, cuja letra diz que raiva danada que eu tenho do povo, que não me deixa ser original. É um manifesto, como sua obra, disse o músico baiano ao cineasta paulistano. (Adaptado de Mônica Bergamo, Folha de S. Paulo, 11/10/2003, p. E2). a) Explique o título do curta-metragem. b) Identifique pelo menos duas possibilidades de leitura de sua obra e justifique cada uma delas. c) As três ocorrências da partícula que destacadas em negrito estabelecem relações de natureza lingüística diversa. Explicite-as. d) Os dois trechos sublinhados retomam elementos anteriormente apresentados no texto de maneira diferente dos recursos analisados nos itens b e c. Como funciona esse processo de retomada? a) O título do curta-metragem Um caffé com o Miécio faz um trocadilho entre o sobrenome do caricaturista e o substantivo comum café, sugerindo, de forma descontraída, o tema do filme: a vida do caricaturista. 1

b) O termo em destaque sua obra poderia referir-se à obra: do cineasta paulistano Carlos Adriano, do estudioso Miécio Caffé, dos compositores Malfitano e Frazão ou do cantor Orlando Silva. c) Na primeira ocorrência, que aparece como pronome indefinido, fazendo referência ao tamanho da raiva e, intensificando-a, tem valor interjeitivo; na segunda ocorrência, que é pronome relativo e retoma a expressão raiva, introduzindo a oração subordinada adjetiva restritiva, eu tenho pelo povo ; na última ocorrência, que é pronome relativo, estabelecendo uma relação entre a oração subordinada adjetiva explicativa não me deixa ser original e a palavra povo. d) Esse processo de retomada funciona como um aposto, levando em conta a atividade exercida pelos dois analisados na coluna em questão. 3. Folha de S. Paulo, 8/10/2003, p. F8. Jogos de imagens e palavras são característicos da linguagem de história em quadrinhos. Alguns desses jogos podem remeter a domínios específicos da linguagem a que temos acesso em nosso cotidiano, tais como a linguagem dos médicos, a linguagem dos economistas, a linguagem dos locutores de futebol, a linguagem dos surfistas, dentre outras. É o que ocorre na tira de Laerte, acima apresentada. a) Transcreva as passagens da tira que remetem a domínios específicos e explicite que domínios são esses. b) Levando em consideração as relações entre imagens e palavras, identifique um momento de humor na tira e explique como é produzido. a) A expressão perda total refere-se ao campo do seguro, especialmente de automóveis; a expressão reconstruíram meu corpo a partir do DNA relaciona-se à linguagem de biólogos especializados em genética molecular e molar cariado é um termo utilizado pela área da Odontologia. b) Uma vez que a personagem Hugo teria sido reconstruída a partir de um molar cariado, o autor criou o humor através da reconstrução da personagem com a aparência de um dente cariado. 2

4. Em setembro de 2003, uma universidade brasileira veiculou um convite-propaganda para a palestra Desenvolvimento da saúde e seus principais problemas, que seria proferida por José Serra, ex-ministro da saúde. Do convite-propaganda fazia parte uma foto de José Serra sobre a qual foi colocada uma tarja branca com o seguinte enunciado: A Universidade X ADVERTE: ESSA PALESTRA FAZ BEM À SAÚDE a) Esse enunciado faz alusão a um outro. Qual? b) Compare os dois enunciados. c) O convite-propaganda situa a Universidade X em um lugar de autoridade. Explique como isso acontece. a) Esse enunciado faz alusão ao anúncio do Ministério da Saúde, advertindo quanto ao fumo: O Ministério da Saúde adverte: fumar é prejudicial à saúde. b) Embora os dois enunciados possuam a mesma estrutura, o enunciado original é uma advertência quanto aos males causados pelo tabaco. O convite-propaganda, por sua vez, ressalta a importância da palestra. Além disto, na advertência original ocorre uma generalização em fumar é..., ao passo que, no anúncio da Universidade há uma particularização em essa palestra. c) Utilizando um enunciado de conhecimento público, o convite-propaganda substituiu o Ministério da Saúde instituição de autoridade reconhecida pelo nome da Universidade que promoveu a palestra, transferindo a credibilidade do Ministério da Saúde para a Universidade X. 5. Em 28/11/2003, quando muito se noticiava sobre a reforma ministerial, a Folha de S. Paulo publicou uma matéria intitulada Lula sugere que Walfrido e Agnelo ficam.. Considerando as relações entre as palavras que compõem o título da matéria, justifique o uso do verbo ficar no presente do indicativo. O verbo sugerir normalmente é utilizado com o modo subjuntivo da oração subordinada: Lula sugere que Walfrido e Agnelo fiquem.. No entanto, o uso do verbo ficar no modo indicativo (ficam) ocorre porque sugerir, neste contexto, significa dar a entender, fornecer indícios. 6. Por ocasião da comemoração do dia dos professores, no mês de outubro de 2003, foi veiculada a seguinte propaganda, assinada por uma grande corporação de ensino: Parabéns [Pl. de parabém] S. m. pl. 1. Felicitações, congratulações. 2. Oxítona terminada em ens, sempre acentuada. Acentuam-se também as terminadas em a, as, e, es, o, os, e em. Para a homenagem ao Dia do Professor ser completa, a gente precisava ensinar alguma coisa. a) Observe os itens 1 e 2 do verbete Parabéns no interior do quadro. Há diferenças entre eles. Aponte-as. b) Levando em conta o enunciado que está abaixo do quadro, a quem se dirige essa propaganda? c) Diferentes imagens da educação escolar sustentam essa propaganda. Indique pelo menos duas dessas imagens. a) No item 1, o valor do verbete é semântico, temos a sinonímia, há mais de um significado para o vocábulo. 3

No item 2, o valor dado é fonético-ortográfico, tomando por base a classificação do vocábulo quanto à tonicidade e acentuação gráfica. b) Essa propaganda é dirigida ao público em geral e, especialmente aos professores, visando à homenagem ao dia do professor. c) Essa propaganda é sustentada pela imagem do professor como detentor do saber, como fonte da relação ensino-aprendizagem e a imagem da educação escolar como saber livresco, a educação pronta que pertence aos livros, sem espaços para o diálogo e a dúvida. 7. Leia a seguinte passagem da peça O demônio familiar (ato II, cena IV), que estreou em 1857. EDUARDO E que lucras tu com isto! Sou tão pobre que te falte aquilo de que precisas? Não te trato mais como amigo do que como escravo? PEDRO Oh! Trata muito bem, mas Pedro queria que senhor tivesse muito dinheiro e comprasse carro bem bonito para... EDUARDO Para... Dize! PEDRO Para Pedro ser cocheiro de senhor! EDUARDO Então a razão única de tudo isto é o desejo que tens de ser cocheiro? PEDRO Sim, senhor. (José de Alencar, Obras Completas. v. IV, Rio de Janeiro: Aguilar, 1960, p. 100). a) A que acontecimentos se refere Eduardo com a expressão tudo isto? b) Qual a relação entre esses acontecimentos e o título da peça? c) Na passagem citada acima, Eduardo pergunta a Pedro: Não te trato mais como amigo do que como escravo? No final da peça lhe diz: Toma: é a tua carta de liberdade, ela será a tua punição de hoje em diante (...). Que contradições as falas de Eduardo revelam a respeito da abolição? a) A expressão tudo isso se refere às ações que Pedrinho fez para aproximar tanto Eduardo da viúva rica, quanto Carlotinha de Azevedo. O moleque interveio várias vezes nas relações amorosas de seus senhores para conseguir seu objetivo: casar Eduardo ou Carlotinha com uma pessoa rica e, assim, o escravo se tornar cocheiro de uma elegante carruagem. Pedro adultera bilhetes, espalha boatos entre as personagens, faz inúmeras intrigas. b) No final da peça, Eduardo faz menção a uma antiga lenda que admitia existir nos lares um demônio familiar responsável por todos os males da família. A relação que existe entre tudo o que Pedro fez e o título é que o escravo é denominado por Eduardo, no final da peça, como demônio familiar no seio daquela família. c) Na primeira fala de Eduardo Não te trato mais como amigo do que como escravo?, ele admite que a escravidão é uma condição indigna e indesejável. Na segunda fala, Toma: é a tua carta de liberdade, ela será a tua punição de hoje em diante, Eduardo deixa transparecer que a vida como escravo, no seu entendimento, piora após a libertação. 8. Considere a seguinte passagem, que se encontra em um dos últimos capítulos do romance A Brasileira de Prazins: São impenetráveis os segredos revelados no tribunal da penitência por Marta ao seu diretor espiritual. O padre Osório, não obstante, suspeitava que a penitente revelasse, com escrupulosa consciência, solicitada por miúdas averiguações do missionário, saudades, reminiscências sensualistas, carnalidades que se lhe formalizavam no espírito dementado, enfim, visões e sonhos com José Dias. (Camilo Castelo Branco, A Brasileira de Prazins. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995). a) Por que Marta fica conhecida como a senhora Brasileira de Prazins? 4

b) Qual a relação entre Marta e José Dias quando ela se confessa ao missionário? c) Padre Osório e Frei João, o missionário confessor, tinham explicações diferentes para o fato de Marta ter um espírito dementado. Quais são elas e o que indicam sobre o pensamento da época? a) Marta ficou conhecida como a senhora brasileira de Prazins porque se tornou esposa de Feliciano Rodrigues Prazins, apelidado de o brasileiro por ter enriquecido com o comércio no Pernambuco (o termo o brasileiro era aplicado a todos os portugueses que enriqueciam no Brasil). b) Nesta altura do romance, quando Marta se confessa ao padre João, ela já era amante de José Dias. Os dois se unem contra a vontade de seus pais. O fracasso deste amor resulta no enlouquecimento de Marta. c) Padre Osório explica a demência de Marta com uma teoria científica, de que se trata de uma propensão genética da família da moça, enquanto o missionário João considera a demência da personagem como uma possessão demoníaca, sendo necessário um exorcismo. Estas visões sobre a demência de Marta nos mostram os conflitos entre as posições científicas (padre Osório) e as posições místicas (missionário João) que existiam na época do romance. No final do livro, Camilo Castelo Branco deixa claras suas opiniões sobre o cientificismo comum em seu tempo, não se identificando com ele, apesar de que em sua obra em vários momentos encontramos ecos das teorias positivistas do final do século XIX. 9. O poema abaixo pertence ao Cancioneiro de Fernando Pessoa. 1 Ah, quanta vez, na hora suave 2 Em que me esqueço, 3 Vejo passar um vôo de ave 4 E me entristeço! 5 Por que é ligeiro, leve, certo 6 No ar de amavio? 7 Por que vai sob o céu aberto 8 Sem um desvio? 9 Por que ter asas simboliza 10 A liberdade 11 Que a vida nega e a alma precisa? 12 Sei que me invade 13 Um horror de me ter que cobre 14 Como uma cheia 15 Meu coração, e entorna sobre 16 Minh alma alheia 17 Um desejo, não de ser ave, 18 Mas de poder 19 Ter não sei quê do vôo suave 20 Dentro em meu ser. * Amavio: feitiço, encanto (Fernando Pessoa, Obra Poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995, p.138). 5

a) Identifique o recurso lingüístico que representa a ave tanto no plano sonoro quanto no imagético. b) Que relação o eu lírico estabelece entre a tristeza e a liberdade? c) Interprete o fato de que as três interrogações (do verso 5 ao 11) são respondidas, a partir do verso 12, em uma única e longa frase. a) No plano sonoro, o poeta relaciona o movimento alternante das asas de uma ave com o uso do som das rimas alternadas a, b, a, b e de palavras com fricativas sonoras /s/, /v/. No plano imagético, o poeta dá ao poema uma estruturação gráfica de versos mais recuados e menos recuados de forma alternada, fazendo também alusão ao movimento alternante das asas. b) A relação estabelecida entre a tristeza e a liberdade é de causa e conseqüência: a tristeza (conseqüência) existe pela impossibilidade de se alcançar a liberdade (causa). c) As indagações apontam para a contemplação do encanto que o vôo de pássaro inspira ao eu-lírico, bem como sua leveza e suavidade, e para a constatação da falta do domínio do vôo pelo eu-lírico. A partir do verso 12, o poeta responde que a tristeza está não no vôo do passaro, nem no desejo de ser ave, mas no desejo de ter não sei quê do vôo suave em si, denunciando a impossibilidade de ser livre. 10. Considera-se a estréia da peça Vestido de noiva (1943), de Nelson Rodrigues, um marco na renovação do teatro brasileiro. a) Cite a principal novidade estrutural da peça e comente. b) Por que no encerramento da peça uma rubrica indica que a Marcha Nupcial e a Marcha Fúnebre devem ser executadas simultaneamente? a) A divisão das ações da peça em três planos, o que provocou muitos comentários da crítica especializada da época: as dimensões da realidade, da memória e da alucinação. Com isto, a peça Vestido de noiva inova, quebrando a linearidade temporal do teatro tradicional. No espaço do palco existem, concomitantemente três planos para os acontecimentos, estes planos são distinguidos pelo uso da iluminação de palco. b) Este recurso (a execução da Marcha Nupcial com a Marcha Fúnebre) remete ao fato de que o casamento de Lúcia só fora possível com a morte de Alaíde. Acentua-se assim a percepção de morte e casamento lado a lado, tanto é que, na última cena, temos o casamento de Lúcia e, presente na cerimônia, o fantasma de Alaíde. 11. Leia a seguinte passagem do Conto de escola, de Machado de Assis. (...) E lá fora, no céu azul, por cima do morro, o mesmo eterno papagaio, guinando a um lado e outro, como se me chamasse a ir ter com ele. Imaginei-me ali, com os livros e a pedra embaixo da mangueira, e a pratinha no bolso das calças, que eu não daria a ninguém, nem que me serrassem; guardá-la-ia em casa, dizendo a mamãe que a tinha achado na rua. Para que me não fugisse, ia-a apalpando, roçando-lhe os dedos pelo cunho, quase lendo pelo tacto a inscrição, com uma grande vontade de espiá-la. (Machado de Assis, Várias histórias. Obra completa, v. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1979, p. 552-553). a) Como o narrador personagem conseguiu a pratinha que estava em seu bolso? b) Qual o destino final da pratinha? c) Nessa passagem, há uma oposição entre o espaço da rua ( Lá fora, no céu azul ) e o espaço em que acontece a ação, oposição que também comparece no início e no final do conto. Em que medida tal oposição contribui para caracterizar a personagem que narra? 6

a) Aceitando ensinar uma lição a Raimundo, filho do mestre Policarpo, em troca de pagamento. b) A pratinha foi lançada pela janela, num momento de fúria do professor, ao descobrir o acordo entre Pilar e Raimundo. c) A oposição consiste em ser rua descrita no conto, lugar de liberdade, de prazeres autênticos; ao passo que a sala de aula, espaço em que acontece a ação é descrita como lugar de opressão e tedioso. A personagem narradora, o menino Pilar, se caracteriza principalmente por sua facilidade de aprender tanto na escola, quanto na experiência vivida fora da escola. Ele é um bom aluno, por isso fora reivindicado por Raimundo, e é alguém que aprende com os fatos que lhe acontecem na experiência da vida. 12. Considere o seguinte poema de Hilda Hilst: Passará Tem passado Passa com a sua fina faca. Tem nome de ninguém. Não faz ruído. Não fala. Mas passa com a sua fina faca. Fecha feridas, é ungüento. Mas pode abrir a tua mágoa Com a sua fina faca. Estanca ventura e voz Silêncio e desventura. Imóvel Garrote Algoz No corpo da tua água passará Tem passado Passa com a sua fina faca. (Hilda Hilst, Da morte. Odes mínimas. São Paulo: Globo, 2003, p. 72). a) Tendo em vista que esse poema faz parte de uma série intitulada Tempo-morte, indique de que maneira a primeira estrofe exprime certo sentido de absoluto associado ao título. b) Nesse poema há pronomes de segunda e terceira pessoas. Transcreva uma estrofe em que constem ambas as pessoas pronominais e diga a que se referem. a) A maneira como a primeira estrofe indica um sentido absoluto é ressaltando a atemporalidade do tempo-morte, que passará (noção de futuro), tem passado (noção de continuidade, abrangendo passado e presente) e passa (presente, com noção de atemporalidade). b) Poderiam ser transcritas as estrofes: Fecha feridas, é ungüento. Mas pode abrir a tua mágoa Com a sua fina faca. ou No corpo da tua água passará Tem passado Passa com a sua fina faca. 7

O pronome de segunda pessoa tu se refere ao interlocutor do poema, ou se assim preferirmos, o leitor. O pronome de terceira pessoa sua se refere ao possuidor da fina-faca, como podemos inferir, o tempomorte. 100% de aprovação na primeira fase da Unicamp 2004 (turma Exatas: Engenharia e Medicina)! 8