RESUMO. Palavras-chave: gestão escolar e empresarial tomada de decisão convergências - divergências



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Transcrição:

CONVERGÊNCIAS DA GESTÃO ESCOLAR E DA GESTÃO EMPRESARIAL: UM ESTUDO SOB O ENFOQUE ADMINISTRATIVO Fabíola MORONA (PUCPR) Alboni Marisa Dudeque Pianovski VIEIRA (PUCPR) ) Temática: Políticas e Gestão Educacional RESUMO Trata-se de estudo que busca discutir o paralelo existente entre a gestão escolar e a gestão empresarial, sob o enfoque administrativo. Propõe-se a identificar e analisar possíveis convergências entre ambas, na tomada de decisão administrativa. Parte do conceito de gestão, sob os enfoques escolar e empresarial, considerada como uma atividade pela qual se tenta chegar a uma finalidade, conforme Félix (1984), Mariotti (1996), Chiavenato (1999) e Ferreira (2001). Embora a gestão escolar tenha seus princípios fundamentados na gestão empresarial, ambas exercem uma função social, visando a atingir os objetivos determinados pela sociedade. Apresenta peculiaridades que devem ser aprofundadas em cada uma delas: Como funciona a tomada de decisão referente aos aspectos financeiros e de recursos humanos? Na tomada de decisão, o interesse predominante está voltado para as pessoas envolvidas no processo ou para o aspecto financeiro? Quais aos aspectos convergentes e os divergentes com que o gestor se defronta em seu trabalho, seja na escola ou na empresa? Para se obter a resposta a essas questões, analisa a atuação do gestor em duas escolas e em duas organizações comerciais consideradas de grande porte. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi o questionário, cuja análise e interpretação seguiu os passos sugeridos por Minayo (1994). Os resultados obtidos evidenciaram a interdependência entre as duas formas de gestão, em especial no que diz respeito ao processo de gerir, compreendendo a maneira como as decisões são tomadas, o que e quem é levado em consideração, a qualificação profissional e sobretudo o comprometimento da equipe para o alcance dos objetivos pré-estabelecidos. Palavras-chave: gestão escolar e empresarial tomada de decisão convergências - divergências Acadêmica do curso de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Professora e pesquisadora da Área da Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Mestre em Educação, Mestre em Gestão de Instituições de Educação Superior, Doutoranda em Educação. alboni@alboni.com

1 INTRODUÇÃO O objetivo deste estudo é discutir o paralelo existente entre a gestão escolar e a gestão empresarial, sob o enfoque administrativo. Para tanto, fazse necessário entender os conceitos de gestão apresentados na literatura específica, tendo-se claro que ela é uma atividade pela qual se tenta chegar a uma finalidade, ou seja, um meio destinado a um fim, no sentido que lhe atribuem Félix (1984), Mariotti (1996), Chiavenato (1999) e Ferrreira (2004). Sabe-se que a gestão escolar está relacionada com o modo como a escola se organiza, isto é, com as relações que se estabelecem entre a equipe pedagógica e a equipe administrativa. Já na gestão empresarial, o serviço empregado é o de produção e troca visando atender os interesses humanos. A gestão da escola, no entanto, tem os seus princípios fundamentados na gestão empresarial, do que decorrem algumas das semelhanças existentes, como as adequações da gestão escolar às condições sociais, visando a atingir os objetivos determinados pela sociedade, e a necessidade de assimilar métodos e técnicas de administração que garantam a eficiência do sistema. Importa ressaltar que ambas as formas exercem uma função social: a empresarial, de maneira geral, volta-se para a produção; e a escolar, atua junto à preparação do indivíduo. Esses dois modos de gestão procuram desenvolver programas de melhorias, cada qual enfocando sua área: cuidam da aparência física e imagem de cada local e também esclarecem a importância de atitudes reflexivas de respeito e cordialidade dentro e fora de cada ambiente. Se, por um lado, nem todas as tarefas de administrar, gerir, organizar, dirigir, tomar decisões, podem ser englobadas no conceito de administração, por outro administrar é regular tudo isso, demarcando esferas de responsabilidade e níveis de autoridade nas pessoas congregadas, tendo como missão o atingimento dos objetivos organizacionais. Assim, urge clarificar o conceito de gestão, considerada como o conjunto de processos intencionais e sistemáticos de se chegar a uma decisão e de fazer a decisão funcionar. O texto analisa a atuação dos gestores de duas escolas e de duas empresas comerciais, todas elas qualificadas como de grande porte.

2 GESTÃO ESCOLAR A administração escolar tem como objetivos essenciais, planejar, organizar, dirigir e controlar os serviços necessários à educação. Esses princípios gerais estabelecidos por Fayol (apud SANTOS, 1966, p. 18) poderão ser aplicados à gestão escolar, desde que sejam adaptados às condições específicas do trabalho educativo. Ao aplicar esses princípios, não se deve esquecer que existe um abismo profundo e intransponível entre a atividade educativa e a produção industrial. A educação não é uma técnica, mas uma atividade que não pode ser subordinada a normas mecânicas e a regras inflexíveis. Compreende-se, portanto, que a gestão escolar seja profundamente influenciada pela filosofia de cada povo e de cada época. Representa ainda, um conjunto, um sistema de meios para atingir determinados fins. Liberal ou dogmática, democrática ou totalitária, centralizada ou descentralizada, a gestão escolar é sempre o reflexo das doutrinas filosóficas e políticas que orientam o destino das nacionalidades em cada momento histórico. Por isso, na organização e na direção de uma classe, de uma escola ou de um sistema escolar, existe sempre, patente ou latente, uma concepção do homem e da vida. (SANTOS, 1966, p. 22). Nos dias de hoje, a escola tem a preocupação de conquistar o apoio da comunidade, considerando-o relevante para uma atuação eficaz. A imagem da escola tem um duplo efeito, ou seja, age tanto externa, quanto internamente. Se for positiva, a imagem da escola desperta boa vontade e desejo de cooperação na comunidade, tornando-se, assim, mais fácil o desenvolvimento de seu trabalho. Por outro lado, a própria escola também se beneficia de uma imagem favorável: alunos, professores e funcionários sentem maior satisfação por pertencerem a uma instituição tida como modelar e, conseqüentemente, agem no sentido de preservar a imagem da escola. Assim, o efeito interno da imagem positiva da escola é a criação de um clima favorável ao bom desempenho de alunos e professores. Apesar de todas as dificuldades com que notoriamente se defrontam os trabalhadores em educação, freqüentemente se tem notícia de escolas que se destacam como realizadoras de um trabalho excepcional. A primeira constatação em relação a estas escolas é a de que conseguiram romper com a

3 rotina e está se introduzindo algum tipo de inovação, quer no trabalho em sala de aula, quer na forma de gestão, quer ainda em relação à participação da comunidade na vida da escola. A partir daí a escola deixa de ser um lugar de comparecimento obrigatório, em que se realiza um trabalho rotineiro, para transformar-se em ponto de encontro para troca de idéias e realização de projetos em benefício da aprendizagem. A participação da comunidade na administração da escola está, pelo menos teoricamente, garantida por meio do funcionamento do Conselho de Escola, cuja forma atual é resultado de uma luta política com o sentido de dotar a escola de autonomia para poder elaborar e executar seu projeto educativo. De tudo isso, contudo, um ponto deve ser destacado: esta comunicação ocorre, em geral, entre pessoas com diferentes formações e habilidades, ou seja, entre agentes dotados de distintas competências para a construção de um plano coletivo e consensual de ação. Na prática da gestão escolar, esta diferença que em si não é original nem única, assume uma dimensão muito maior do que a grande maioria das propostas de gestão participativa e autogestão que pode ser observada. (FERREIRA, 2001, p.71) Finalmente, o universo da escola é parcialmente complexo e específico. O diálogo só pode ser verdadeiro e frutífero a partir de um esforço de aproximação onde todos tentem perceber e conhecer o outro em seu próprio contexto e a partir de sua própria história. É necessário praticar constantemente o exercício da participação em todos os seus sentidos: internamente na prática administrativa, na inserção política transformadora e emancipadora, no diálogo intelectual com todas as outras áreas de conhecimento e, provavelmente a dimensão mais difícil, de cada um consigo mesmo por meio do autoconhecimento, procurando tornar-se uma pessoa mais sensível, tolerante e atenta ao diferente, aos seus direitos e à contribuição que ele seguramente tem para dar. Em resumo, buscar construir comunicativamente o consenso pelo diálogo com todos os envolvidos, e não apenas com aqueles que pensam como nós. ( FERREIRA, 2001, p. 74)

4 GESTÃO EMPRESARIAL Olhando à nossa volta, verifica-se que nos últimos 150 anos a vida da humanidade tem girado em torno de uma estrutura onde a grande maioria dos homens ditos civilizados passa a maior parte de seu tempo, ao longo das 24 horas de cada dia. Trata-se da estrutura em que cada homem que trabalha busca, de um lado, a remuneração pela atividade desenvolvida, que lhe serve para o sustento pessoal e de sua família; mas busca, de outro lado, sua realização, enquanto pessoa humana, no trabalho que desenvolve, verdadeiro complemento de sua personalidade. Essa estrutura é a empresa. (GONÇALVES, 1989, p. 151-152) A empresa moderna reúne integrantes cujas responsabilidades são diferentes e hierarquizadas, mas aos quais o trabalho deve oferecer condições para cumprir de maneira sempre mais perfeita suas obrigações pessoais, familiares e sociais. (GONÇALVES, 1989, p. 153). Exige uma organização dos recursos básicos radicalmente diferente de tudo o que já se conheceu. Em primeiro lugar, o período de tempo abrangido pela produção moderna e pelas decisões empresariais contemporâneas é tão longo que ultrapassa em muito o período em que o homem é fator ativo do processo econômico. Em segundo lugar, os recursos precisam ser reunidos numa organização tanto material quanto humana que deve ter um alto grau de permanência para se tornar produtiva. Além disso, os recursos humanos e materiais precisam ser concentrados, para se obter o melhor desempenho econômico e o melhor desempenho social. (DRUCKER, 1981, p.359-360) A responsabilidade da administração é decisiva não só para a própria empresa, mas também para o prestígio, sucesso e posição do administrador, para o futuro do sistema econômico e social, e para a sobrevivência da empresa como uma instituição autônoma. A responsabilidade pública da administração deve, portanto, estar subjacente a tudo que fizer. Basicamente, constitui a fonte da ética da administração. (DRUCKER, 1981, p. 361) Vale a pena lembrar que essa entidade a empresa destinada à produção, à troca, à circulação de bens e/ou serviços, nasce de um ato, uma iniciativa que só pode ser fruto da atividade de homens, destinada a atender às expectativas de outros homens. Por esse ato, reúnem-se pessoas e coisas;

5 estas últimas, que são estéreis por sua própria natureza, tornam-se fecundas e produtivas pela ação das pessoas. (GONÇALVES, 1989, p. 153). Por tais razões, não se pode deixar de reconhecer que a empresa, ao lado de ser uma realidade econômica, é também uma realidade humana. Por sua própria natureza ela não se resume nos estoques acumulados, nem nos lucros contabilizados, mas consiste formalmente num complexo de atos humanos, dos quais estoques e lucros não são mais do que o resultado. As organizações são entidades igualmente orientadas para objetivos. Quase tudo dentro das organizações está orientado para uma meta, finalidade, estado futuro ou resultado a alcançar. Cada organização define os seus próprios objetivos organizacionais. Objetivo organizacional funciona como uma imagem. Quando um objetivo é alcançado, ele deixa de ser imagem orientadora da organização para se incorporar a ela como algo real e atual. Um objetivo atingido passa a ser parte da realidade. (CHIAVENATO, 1999, p. 256). Em cada decisão que tomar, a administração empresarial deve colocar o desempenho econômico em primeiro lugar. Ela só pode justificar sua existência e sua autoridade mediante os resultados econômicos que produzir. Mesmo que haja grandes resultados não-econômicos, a administração terá fracassado se não houver obtido resultados econômicos. Terá fracassado se não fornecer os bens e serviços desejados pelo consumidor a um preço que esteja disposto a pagar. (DRUCKER, 1981, p. 8-9) O administrador é o responsável pelo desempenho da organização e obtém resultados através de sua organização e das pessoas que nela trabalham. Para tanto, ele planeja, organiza, dirige pessoas, gere e controla recursos materiais, financeiros, de informações e tecnologia visando à realização de determinados objetivos. Na verdade, o administrador consegue fazer as coisas através das pessoas, razão pela qual elas ocupam posição primordial nos negócios de todas as organizações. As pessoas são geralmente chamadas de subordinados, funcionários, colaboradores, parceiros ou empreendedores internos. Provavelmente não existe algo mais vital à sociedade do qual o papel do administrador, o qual determina se uma instituição social pode servir bem à comunidade ou simplesmente desperdiçar talentos e recursos.

6 O administrador dá direção e rumo às organizações, proporciona liderança às pessoas e decide como os recursos organizacionais devem ser dispostos e utilizados para atingir os objetivos esperados. E é nesse processo que o administrador deve tomar algumas decisões. Decidir é uma parte importante do trabalho de administrar. A tomada de decisão é o processo de escolher um curso de ação entre várias alternativas para se defrontar com um problema ou oportunidade. (CHIAVENATO,1999, p.285) O processo decisorial ocorre em um determinado ambiente que o influencia profundamente. Todo tomador de decisão está inserido em uma determinada situação, pretende alcançar objetivos, tem preferências pessoais e segue estratégias (curso de ação) para obter resultados. Assim, diferentes problemas exigem diferentes tipos de decisão. Assuntos rotineiros e cotidianos de menor importância, como entregar a clientes, devolução de mercadorias ou pagamento de contas, são definidos através de um conjunto de procedimentos previamente estabelecidos: as decisões programadas. PARALELO ENTRE GESTÃO ESCOLAR E GESTÃO EMPRESARIAL Para Félix (1989, p.71), enquanto a gestão de empresa desenvolve as teorias sobre a organização do trabalho nas empresas capitalistas, a gestão escolar apresenta proposições teóricas sobre a organização do trabalho na escola e no sistema escolar. No entanto, a Administração Escolar não construiu um corpo teórico próprio e no seu conteúdo podem ser identificadas as diferentes escolas da Administração de Empresa, o que significa uma aplicação dessas teorias a uma atividade específica, neste caso, à educação. A gestão escolar enquanto disciplina e prática administrativa tem como referencial as teorias da gestão de empresa, utilizando-o na análise das questões da estrutura e funcionamento do sistema escolar e na proposição de modelos de organização e administração. Os teóricos da Administração Escolar utilizam nos seus estudos as teorias da Administração de Empresa, procurando alcançar um grau de cientificidade necessário para comprovar a importância da Administração Escolar como orientação teórica capaz de assegurar o funcionamento satisfatório da organização escolar em

7 correspondência às expectativas da sociedade. Nota-se, de um lado, o empenho dos teóricos da Administração de Empresa em elaborar uma teoria que se aplique à administração de todas as organizações, garantindo, assim, a sua generalização. Por outro lado, o desenvolvimento dos estudos dos teóricos da Administração Escolar, na tentativa de validar as suas proposições teóricas em bases científicas para nortear a prática administrativa na organização escolar de tal forma que ela possa alcançar padrões de eficiência e racionalização, já alcançados por outras organizações e, especialmente, pelas empresas. (FÉLIX, 1989, p. 73). Dois pressupostos básicos, segundo Félix (1989, p. 73-74) estão subjacentes a essas posições e a explicitação desses pressupostos pode encaminhar a discussão sobre a relação que se estabelece entre ambas. O primeiro deles é o de que as organizações, apesar de terem objetivos diferentes, são semelhantes e, por isso, têm estruturas similares, podendo ser administradas segundo os mesmos princípios, conforme os mesmos modelos propostos pelas teorias da Administração de Empresa, feitas apenas as adaptações necessárias para atingir suas metas específicas. O segundo pressuposto é o de que a organização escolar e o sistema escolar como um todo, para adequar-se às condições sociais existentes e atingir os objetivos que são determinados pela sociedade, necessitam assimilar métodos e técnicas de administração que garantam a eficiência do sistema, justificando assim a sua própria manutenção. A Administração Escolar adota a orientação da Administração de Empresa, pois busca o seu modelo de eficiência, e esta procura ampliar a sua validade, elaborando assim, proposições sobre as estruturas organizacionais e os critérios da avaliação do seu funcionamento, influenciadas historicamente pelo modo de produção capitalista. (FÉLIX, 1989, p. 75-78). Entendida como elemento de mediação do domínio exercido pela classe detentora do capital no nível da estrutura econômica e da superestrutura da sociedade capitalista, a Administração de um modo geral e a Administração Escolar, de modo específico, cumpre dupla função: técnica e ideológica. Isto significa que, na operacionalização da função administrativa os parâmetros da eficiência e da produtividade são utilizados para orientar o aperfeiçoamento da

estrutura burocrática como se o único critério que determinasse essa ação fosse o da racionalidade técnica. 8 METODOLOGIA DE PESQUISA A análise do tema foi sustentada por vivências em espaços de atuação do pedagogo, no sentido de entender a necessidade de um trabalho colaborativo e desafiador. Pretendeu-se analisar como se dá a atuação do gestor em duas escolas e em outros dois ambientes nos quais está presente a função social. O instrumento utilizado para coletar os dados que auxiliaram a pesquisa foi o questionário. Além da solicitação dos dados pessoais dos profissionais foram feitas perguntas relativas à gestão, cujas respostas foram interpretadas de acordo com os passos sugeridos por Minayo (1994, p. 78-79). Das respostas dos gestores à pergunta: o que você entende por gestão?, percebeu-se que as organizações pesquisadas reforçam a teoria de Fayol, adequando-a para seus espaços. Nas escolas, onde o comum para os gestores é o ato de prever, governar e dirigir nas suas etapas, é necessário entender que estes fatores precisam ser adequados à realidade escolar, para que assim possa haver harmonia no trabalho realizado pelos diversos segmentos da escola. Assimilase os conceitos de gestão e depois se os transforma de acordo com os objetivos de cada instituição para atingir as metas almejadas. Já para as empresas, o comum entre o pensamento de seus gestores é a administração com recursos. As empresas tendem a administrar os recursos disponíveis, para se atingir um bom resultado. Ou seja, elas devem trabalhar com todos os recursos envolvidos, em conjunto e em harmonia, para chegar ao pleno desenvolvimento. A respeito da tomada de decisão, foram realizadas as seguintes perguntas: Como funciona a tomada de decisão na sua empresa / escola, referente aos aspectos financeiros e de recursos humanos? Qual é a porcentagem da participação de outras pessoas na tomada de decisão? Dos dados coletados, verificou-se que nas quatro instituições as decisões são tomadas em conjunto, obedecendo a critérios para o bom

9 andamento do ambiente de trabalho. As decisões, quando descentralizadas, permitem maior interesse e comprometimento dos funcionários. Como cita Chiavenatto (1999, p. 503-504), as decisões são tomadas em conjunto, para que os funcionários possam compartilhar um significativo grau de poder na tomada de decisões com seus superiores imediatos, redistribuindo o poder dentro da organização. À terceira pergunta: Nas tomadas de decisão, o interesse predominante são as pessoas que estão envolvidas no processo ou o aspecto financeiro?, os gestores responderam que sempre o interesse predominante são as pessoas envolvidas no processo, sem contudo desconsiderar o interesse financeiro, ou seja, o lucro. Sendo assim, é importante que as metas sejam estáveis e que seus critérios sejam facilmente identificados, para se chegar ao resultado almejado. A última questão a ser analisada, é talvez a mais importante, pois interroga sobre os aspectos convergentes no papel do gestor da escola privada e da empresa: Na sua opinião, quais são os aspectos convergentes e os divergentes no papel do gestor da escola privada e da empresa? Como aspectos convergentes, foram citados a necessidade de se buscar mão-de-obra qualificada para a obtenção de bons resultados; de se estabelecer rotinas pré-determinadas; de se possuir objetivos comuns e estar comprometido com eles; de o gestor exercer o papel de mediador. Como aspecto divergente, foi enunciado que a escola trabalha com pessoas e nem sempre os resultados são fáceis de serem mensurados. A maioria das empresas trabalha em coisas, aí fica fácil de mensurar qualitativamente e quantitativamente. Acrescentou-se a maior velocidade com que as mudanças ocorrem na empresa. Ambos os gestores precisam saber utilizar os recursos organizacionais disponíveis no sentido de obter eficiência e eficácia, bem como alto grau de satisfação entre as pessoas que fazem o trabalho e as que o recebem. (CHIAVENATTO, 1999, p. 6)

10 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante das respostas, tornou-se clara a interdependência entre as duas formas de gestão: a gestão escolar é uma extensão das práticas exercidas pela gestão empresarial. Evidencia-se essa relação no processo de gerir, isto é, na maneira como as decisões são tomadas, no que e quem é levado em consideração, na qualificação profissional e sobretudo no comprometimento da equipe para o alcance dos objetivos pré-estabelecidos. Ficou clara a preocupação de todos os pesquisados com o aspecto financeiro, o que é compreensível já que todas as fontes eram organizações de natureza privada. O que mais chamou a atenção, contudo, foi a circunstância de que todas as instituições estão preocupadas hoje, em formar e participar da vida do cidadão, enquanto aluno e, também como pessoa. Daí a preocupação com o seu bem estar e sua formação. Por último, vale a pena ressaltar que a figura do gestor, em qualquer hipótese, é extremamente importante para os direcionamentos que cada instituição deva seguir. REFERÊNCIAS CHIAVENATO, I. Administração nos novos tempos.rio de Janeiro: Campus, 1999. DRUCKER, P.F. Prática da administração de empresas. São Paulo: Pioneira, 1981. FÉLIX, M.D.F.C. Administração escolar: um problema educativo ou empresarial. São Paulo: Cortez, 1989. FERREIRA, N.S.C. Gestão democrática da educação: atuais tendências novos desafios. São Paulo: Cortez, 2004. GONÇALVES, E.L. A gestão empresarial visão doutrinária e aspectos pragmáticos. São Paulo: Edições Loyola, 1989. MARIOTTI, H. Organização de aprendizagem educação continuada e a empresa do futuro. São Paulo: Atlas, 1996. MINAYO, M. C. de S. (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 1994. SANTOS, T.M. Curso de psicologia e pedagogia noções de administração escolar. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1966.