Mulheres em movimento: O Grupo de Trabalhadoras Artesanais e Extrativistas GTAE no Sudeste do Pará.

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Transcrição:

14045 - Mulheres em movimento: O Grupo de Trabalhadoras Artesanais e Extrativistas GTAE no Sudeste do Pará. Women in Motion: The Group and Extractive Craft Workers - GTAE Southeast of Pará OLIVEIRA, Mariana Gomes 1 ; ARAUJO, Claudionísio Souza 2 ; Luís Mauro Santos Silva³; ASSIS, William Santos 4 ; ALVES, Sávio Coelho 5 1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará/Campus Rural de Marabá, muvigo22@gmail.com; 2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará/Campus Rural de Marabá, claudio.crmb@gmail.com; 3 Universidade Federal do Pará/NCADR e do Programa de Pós PDSTA, lmsilva@ufpa.br; 4 Universidade Federal do Pará/NCADR e do Programa de Pós PDSTA, williamassis@ufpa.br; 5 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará/Campus Rural de Marabá, saviomaraba@yahoo.com.br. Resumo: A experiência do Grupo de Trabalhadoras Artesanais e Extrativistas GTAE que são residentes no Projeto de Assentamento Agroextrativista Praialta Piranheira, Sudeste do Pará, mostra uma iniciativa de valoração da floresta. O presente trabalha objetiva descrever à retomada da extração do óleo de andiroba (Carapa guianensis Aublet) de forma artesanal e de produção dos fitocosméticos e fitoterápicos. As informações descritas foram obtidas através de visitas mensais as residências das extratoras, registro em um caderno de campo, relatórios de atividades e a participação nas oficinas. O grupo foi criado no ano de 2006 e até 2011, foram beneficiados com varias capacitações e produziram muitos fitocosméticos e fitoterápicos. No ano de 2011 houve o assassinato dos ambientalistas Dona Maria e José Claudio, desmotivando o grupo, mas a credibilidade na atividade e o apoio institucional impulsionaram o grupo a retomar suas atividades e atualmente já restabeleçam suas metas e ações. Palavras-Chave: Agroextrativistas; óleo de andiroba; fitocosmético; fitoterápicos. Abstract: Experience Group and Extractive Craft Workers - GTAE who are residents in Settlement Project Agroextrativista Praialta Piranheira, Southeast of Pará, shows initiative valuation of forest. This work aims to describe the resumption of oil extraction (Carapa guianensis Aublet) artisanal and production of phytocosmetic and herbal. The information described were obtained through monthly visits the residences of the producers, record in a field notebook, activity reports and participation in workshops. The group was created in 2006 and until 2011, benefited from various trainings and produced many phytocosmetic and herbal. In 2011 there was the murder of ambientalistas Dona Maria and Jose Claudio, group the discouragement, but the credibility of the activity and institutional support boosted the group to resume its activities and currently reinstating your goals and actions. Keywords: Agroextractivist; Andiroba oil; phytocosmetic; herbal. Contexto As atividades agroextrativistas desenvolvidas por um grupo de mulheres residentes no único assentamento agroextrativista da região Sudeste do Pará, são Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Nov 2013 1

desenvolvidas em um cenário de conflitos agrários e a pouca valorização de sua biodiversidade local. O desafio maior, além do fortalecimento organizacional, tem sido valorizar a floresta em pé, mesmo diante do predomínio de altas taxas de desmatamento e a perda exponencial da biodiversidade local. Aliar organização de mulheres e beneficiamento de óleos florestais tem sido o caminho para reverter conflitos e mudar a forma de perceber a floresta em região de fronteira agropecuária na Amazônia. Mesmo em pleno século XXI, os conflitos de terra se repetem. Exemplo de um fato que marca a complexidade dessa região foi o assassinato dos ambientalistas, Maria do Espírito Santo e José Claudio Ribeiro da Silva, no ano de 2011, que ocasionou desconfortos sociais significativos entre as famílias assentadas no Projeto de Assentamento Agroextrativista Praialta Piranheira, município de Nova Ipixuna PA, visto que eram dois agricultores animadores/incentivadores/experimentadores de atividades que tivessem objetivos sociais, econômicos e principalmente ecológicos. Ambos incentivavam o Grupo de Trabalhadoras Artesanais e Extrativistas GTAE, na extração artesanal de óleos vegetais nativos da floresta local, como meio de mostrar que havia uma diversidade de produtos de uso das famílias na floresta, além da produção de subprodutos como os fitocosméticos e fitoterápicos, a base destes óleos, principalmente os já conhecidos pelos agroextrativistas como o óleo de Andiroba (Carapa guianensis Aublet.), o óleo de Castanha do Brasil (Bertholletia excelsa Duck), o óleo de Cupuaçu (Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.)), e o óleo de Coco Babaçu (Attalea speciosa Mart) (RIBEIRO et al., 1999). Após o assassinato dos ambientalistas residentes no assentamento, o GTAE ficou desmotivado e interrompeu suas ações, mas no ano de 2012 à vontade e a credibilidade em uma atividade que vinha prosperando, impulsionaram duas das quinze mulheres que integravam o grupo a retomarem suas ações, as quais nesta fase, com o apoio profissional e financeiro de algumas instituições sociais e federais como a Comissão Pastoral da Terra CPT, Universidade Federal do Pará - UFPA, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará IFPA/Campus Rural de Marabá, conseguiram recursos através da Fundação Amazônica Paraense de Apoio à Pesquisa - FAPESPA via edital 015/2009. Com o projeto intitulado Valorização de sistemas agroextrativistas para produção de óleo de andiroba (Carapa guianensis, Aublet.) como estratégia de fortalecimento da agricultura familiar na região sudeste do Pará, a partir do segundo semestre de 2012, foi possível o grupo voltar a extração do óleo de andiroba e às produções de fitocosméticos e fitoterápicos. O relato objetivou descrever à retomada da extração do óleo de andiroba de forma artesanal e a produção dos fitocosméticos e fitoterápicos pelo GTAE. Descrição da experiência O relato trata-se da experiência do GTAE, que é um grupo que trabalha deste o ano de 2006, como a extração de óleo de andiroba e a produção de fitocosméticos e 2Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Nov 2013

fitoterápicos a base deste óleo. Este grupo tem sua estrutura física no Projeto de Assentamento Agroextrativista Praialta Piranheira, no município de Nova Ipixuna, Sudeste do Pará. Este projeto de assentamento possui 22.000 hectares, no qual, segundo informações da Associação de agricultores local, reside atualmente em torno de 500 famílias, organizadas em seis núcleos de moradias, e é o único da região de caráter agroextrativista. As informações aqui descritas foram obtidas através de visitas mensais as residências das extratoras, onde as mesmas eram registradas em um caderno de campo, relatórios de atividades e registros fotográficos. A participação da equipe técnica na oficina de Boas Práticas de Manejo da Andiroba que ocorreu no mês de abril de 2013 e a de Sensibilização que ocorreu no dia 14 de junho de 2013, foi fundamental para a compreensão do processo de retomada da extração de óleo e produção dos fitocosméticos fitoterápicos, momento este em que o grupo está vivendo. Durante a oficina de sensibilização foi utilizado uma ferramenta de diagnóstico rápido participativo, permitindo construir a linha do tempo, possibilitando a visualização de todo o caminho já trilhado pelo GTAE, com suas fraquezas, e fortalezas e as perspectivas para as próximas ações. Todos os dados foram transcritos para o caderno de campo. Resultados O GTAE foi criado em junho de 2006, após serem capacitadas por uma farmacêutica da FUNTAC Fundação de Tecnologia do Estado do Acre na produção de fitocosméticos e fitoterápicos. As mulheres que extraiam óleo de andiroba se sentiram motivadas a criar um grupo, com a principal finalidade de agregar mais valor ao óleo in natura extraído. Atrelado na criação do grupo estava à presença da Dona Maria e José Claudio, aconselhando e incentivando, tentando mostrar que as atividades em grupo são para além de benefícios econômicos. Durante os anos de 2006 a 2011 o grupo recebeu outras capacitações, como: em elaboração de embalagens alternativas, aproveitamento de resíduos de madeira e de relações interpessoais. Havia reunião de produção e de prestação de contas mensais durante todo ano, muitos produtos foram comercializados e participaram de vários eventos locais, municipais, regionais, estaduais e nacionais. Durante a Oficina de Sensibilização no mês de junho/2013, as mulheres relataram o que aprenderam depois da criação do GTAE, como: extrair o óleo de andiroba de forma artesanal com qualidade aceitável pelo consumidor varejista, identificar o ponto ideal de cozimento das sementes de andiroba, produzir sabão, sabonete líquido e em barra, sabão em pó, óleo repelente, óleo trifásico, hidratante corporal, gel para contusão, pomada para picada de insetos, shampoo, velas repelentes e perfumadas, criar embalagens alternativas com papel ondulado e materiais da floresta, construir objetos decorativos e de uso doméstico com resíduos de madeira, Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Nov 2013 3

identificar a árvore da andiroba na mata e as diferentes variedades do fruto da andiroba. Em maio de 2011 foi de grande perda o assassinato do casal agroextrativista, considerada na região como uma das formas de desarticular pessoas ou grupos que lutam contra o modelo de produção capitalista dominante na região. Com o assassinato do casal Dona Maria e José Claudio, o grupo desmoronou, pois eram os principais motivadores das práticas do grupo, que a partir de então estavam caladas para sempre. Foram momentos de muitas tristezas para os membros do grupo e toda a sociedade que comunga dos mesmos ideais. Todos os momentos vividos, as relações pessoais, o aprendizado e as convicções da atividade que o GTAE realizava, impulsionaram a continuarem na luta. Nesta fase duas mulheres foram às bases, Laisa Sampaio e Maria Ildenes, que perceberam que deveriam e podiam continuar as ações de extração de óleo de andiroba e a produção dos fitocosméticos e fitoterápicos. A educadora e extrativista Laisa destacou em sua fala que: Os outros renascem das cinzas nós renascemos do sangue, referindo-se ao impacto do assassinato na vida das mulheres que compõem o GTAE. Com a repercussão na mídia nacional e internacional sobre o assassinato, atraiu atenção de pessoas e instituições para com a causa do GTAE, e quatro instituições foram e continuam sendo importantes, CPT, UFPA, IFPA e CAFOD, que através de projetos conseguiram recursos financeiros para dar continuidade e fortalecer as atividades produtivas de extração do óleo e os fitocosméticos e fitoterápicos no PAEX. Ao observa a fragilidade das relações inter e pessoais dos membros do GTAE, foi proposto uma oficina de sensibilização para o grupo, buscando fortalecer o diálogo entre elas e as ações já desenvolvidas anteriormente com suas perspectivas para as novas ações, destacando a importância e vantagens do GTAE ser um grupo forte e unido. Um dos resultados positivos dessa atividade foi à percepção de vários momentos alegres do convívio em grupo, mas também como se sentiram com o assassinato, toda a fragilidade que dominou, é o desejo de que essa história continue a ser construída. Para isso, alguns objetivos foram destacados: melhorar o trabalho em grupo; ter mais união e diálogo; organizar mais o trabalho e a gestão; melhorar o espaço de trabalho; conquistar pontos de comercialização e registrar os produtos seguindo os padrões da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. O recomeço possibilitou que as mulheres se enxergassem como dependentes umas das outras em cada momento de existência do GTAE, bem como, a dedicação responsável que cada uma pode oferecer ao grupo. Outro ponto importante discutido foi à constituição de uma liderança interna que tenha facilidade de comunicação internamente e externamente, que expresse confiança do grupo e que tenha 4Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Nov 2013

domínio com a escrita. Percebe-se que para a consolidação de um grupo de agricultoras em um Projeto de Assentamento, requer muita sensibilidade da assessoria nos mais diversos aspectos, como: o social, o econômico, o ambiental, o ético e o político. Ou seja, todos estes fatores estão imbricados no dia a dia das famílias e causando interferências nas mais simples até as mais complexas atividades de produção comunitária. Outro aspecto fundamental nesta experiência tem sido a presença institucional como garantia de apoio ao fragilizado ambiente socioambiental, herança dos conflitos recentes. Agradecimentos Ao GTAE- Grupo de Trabalhadoras Artesanais e Extrativistas A FAPESPA Fundação Amazônia Paraense In memória aos agroextrativistas: Maria do Espírito Santo e José Claudio Ribeiro da Silva Referências bibliográficas: RIBEIRO, J. E. L. [et al.] Flora da Reserva Ducke: Guia de identificação das plantas vasculares de uma floresta de terra-firme na Amazônia Centra. Manaus: INPA, 1999. 816 p. il. Cadernos de Agroecologia ISSN 2236-7934 Vol 8, No. 2, Nov 2013 5