Revista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo 2007 maio-ago; 19(2):137-46 ESTUDO HISTOLÓGICO COMPARATIVO ENTRE O MTA E O CIMENTO DE PORTLAND A COMPARATIVE HISTOLOGICAL STUDY AMONG MTA AND PORTLAND CEMENT Cristina de Jesus Reiss-Araujo* Kércya da Silva Paim ** Marcelo de Azevedo Rios *** Diana Santana de Albuquerque **** José Roberto Vanny ***** RESUMO Introdução: Um número de pesquisas tem demonstrado a eficácia do MTA em várias áreas da Odontologia. O objetivo deste trabalho é avaliar histologicamente o Agregado de Trióxido Mineral (MTA) comparando com o Cimento de Portland. Métodos: Foram utilizados dez ratos machos da espécie Ratus novergicus, da linhagem Wistar nos quais se realizaram retalhos de cada lado da região de filtro superior do animal. Sempre do lado esquerdo da arcada foi inserido o tubo de polietileno com MTA e do lado direito com o cimento de Portland. Os animais foram separados em dois grupos experimentais: G I cinco animais foram sacrificados após duas semanas; G II cinco animais foram sacrificados após doze semanas de realizadas as cirurgias. Resultados: G I para o cimento de Portland - infiltrado inflamatório que variou de discreto a intenso em áreas específicas. As lâminas sugeriram processo inflamatório agudo. G I para o MTA - reação inflamatória mais branda. G II para cimento de Portland - reação inflamatória de caráter crônico com predominância de linfócitos, macrófagos e fibroblastos. G II para o MTA - reação inflamatória de caráter crônico. Conclusão: Pode-se concluir que a reação inflamatória em ambos os cimentos após 2 semanas de inseridos no tecido foi de caráter agudo, sendo o MTA sensivelmente mais brando que o Portland. Após um período de 12 semanas, existiu uma semelhança histológica com relação aos componentes tissulares entre ambos os cimentos, com tendência à cronificação. DESCRITORES: Cimentos dentários Infiltração dentária Pulpotomia Estudo comparativo. ABSTRACT Introduction: A several number of investigations have been performed about the efficiency of MTA in dentistry. The aim of this study is to evaluate a histological evaluation of Mineral Trioxide Aggregate against Portland cement. Methods: Ten Ratus novergicus male species rats, Wistar cluster, were undergone to a surgical procedure on buccal mucosa. After incision, a polyethylene tube containing MTA (on the left side) and Portland cement (on the right side) were placed in contact with connective tissue. Two experimental groups were established: G I five animals sacrificed after two weeks of implantation and; G II five animals sacrificed after twelve weeks of implantation. Results: G I showed moderate to severe inflammatory infiltrate in specific areas to Portland cement, suggesting acute inflammation. On the other side, MTA in G I revealed a soft inflammatory reaction. GII in Portland cement presented a chronic inflammation, wit fibroblast, macrophage and lymphocytes infiltrated. GII to MTA showed normal connective tissue. Conclusion: After two weeks of implantation, both Portland cement and MTA showed acute inflammation, but in minor amount around MTA. After twelve weeks of implantation, was achieved a similar tissue reaction of both materials, with trend to the chronic inflammatory state. DESCRIPTORS: Dental cements Dental leakage Pulpotomy Comparative study. ***** Doutora em Endodontia pela Faculdade de Odontologia de Pernambuco e Professora de Endodontia da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) ***** Mestra em Clínica Odontológica Endodontia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Professora substituta da Universidade Estadual de Feira de Santana(UEFS) ***** Mestre e Professor de Periodontia da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) ***** Doutora e Professora de Endodontia da Faculdade de Odontologia de Pernambuco (FOP) ***** Doutor e Professor de Endodontia da Universidade de Passo Fundo (UPF-RS) 137
INTRODUÇÃO A Odontologia, com o passar dos anos, vem evoluindo principalmente em relação aos materiais que surgem no mercado. Muitos desses materiais não têm credibilidade por parte dos profissionais, que não passam a utilizá-los por falta de pesquisas mais embasadas para seu uso. Dentre esses materiais podemos citar o Agregado de Trióxido Mineral (MTA) que é um material que foi desenvolvido na Universidade de Loma Linda na década de 90 e, desde então, não cessam trabalhos de pesquisa envolvendo esse material (Arens e Torabinejad 1, 1996; Busato et al. 3, 1999; Holland et al. 14, 2001) e o cimento de Portland que, embora não seja um material de uso odontológico direto, pode-se afirmar que possui basicamente os mesmos componentes químicos do MTA (Estrela et al. 9, 2000; Dammaschke et al. 7, 2005). O MTA é composto de um pó (branco ou cinza), que consiste de partículas hidrofílicas que se solidificam na presença de água e por isso o contato do material com os fluidos periapicais serve de estímulo para o início das reações químicas de endurecimento. Seus principais componentes são silicato tricálcico, aluminato tricálcico, óxido tricálcico e óxido de silicato, além de outros óxidos minerais (não especificados pelos autores) e do óxido de bismuto utilizado para dar radiopacidade ao material (Leonardo e Leal 17, 1998; Derzan Júnior e Garcia 8, 1998; Busato et al. 3, 1999; Camilleri et al. 5, 2005). Segundo Torabinejad et al. 27 (1995), a composição média dos prismas é de 87% de cálcio, 2,47% de sílica e o restante de oxigênio. A estrutura amorfa contém 49% de fosfato, 2% de carbono, 3% de cloreto e 6% de sílica. Estudaram, além da composição química, ph, radiopacidade, tempo de presa, solubilidade e resistência à compressão. Deve ser preparado imediatamente antes do seu uso. Suas características dependem do tamanho das partículas, da proporção pó-líquido, temperatura, presença de água e de vácuo entre as partículas. Para sua manipulação os pesquisadores preconizam a proporção pó-líquido (soro fisiológico) de 3:1 chegando-se a uma consistência de pasta de vidraceiro, que pode ser levada à cavidade usando-se um porta-amálgama e adaptando-se o material com pequeno pedaço de algodão (Soares 22, 1996; Holland et al. 13, 2001). Quanto às suas propriedades físicas e químicas, foi observado que o seu ph depois de manipulado passou de 10.2, para 12.5 em um período de 3 horas; depois disso se manteve constante. O tempo de endurecimento é em torno de 4 horas. Sua força de compressão foi baixa nas primeiras 24 horas, mas com o passar do tempo (21 dias) ela se compara à do super-eba e IRM (próximo de 70 Mpa), mas é significativamente menor que a do amálgama, 311 Mpa. Quanto à solubilidade, solidificase em estrutura dura, apresentando solubilidade insignificante, ao contrário do hidróxido de cálcio (Torabinejad et al. 23, 1993; Bates et al. 2, 1996; Faraco Júnior e Holland 10, 2001; Weldon et al. 35, 2002). É um cimento que possui várias utilidades como capeador pulpar em pulpotomias, material retro-obturador em cirurgias parendodônticas, selador de perfurações de furca ou radiculares. É um material de excelente biocompatibilidade e selamento, tem um bom comportamento em meio úmido, induz a formação de barreira de tecido duro devido ao seu elevado ph (assim como ocorre com o uso do hidróxido de cálcio sobre a polpa), portanto um material que tem excelentes características para a sua utilização, (Torabinejad et al. 26, 1995; Pitt Ford et al. 18, 1996; Torabinejad e Chivian 32, 1999; Faraco Júnior e Holland 11, 2004). Pitt Ford et al. 18 (1996), fizeram a comparação do capeamento pulpar direto com o MTA e Dycal num período pós-operatório de cinco meses. Do total de polpas capeadas com MTA, todas apresentaram formação de ponte de dentina, e apenas um caso apresentava inflamação. De todos os casos capeados com Dycal, dois apresentavam ponte, e todos estavam inflamados. Os autores da pesquisa chegaram à conclusão de que o MTA parece ter qualidades de um bom capeador pulpar, pois estimula a formação de ponte de dentina e previne a microinfiltração. Shabahang et al. 20 (1999) fizeram um estudo que comparava a eficácia da proteína osteogênica-1, e MTA com o hidróxido de cálcio na formação de tecido duro em dentes imaturos de cães (apicificação). Foram utilizados 64 dentes de cães que apresentavam rizogênese incompleta. Após a indução de lesões periapicais, os canais foram instrumentados e preenchidos com hidróxido de cálcio. Decorridos 7 dias, o hidróxido de cálcio foi removido e os canais preenchidos com os materiais experimentais. Os animais foram sacrificados após 12 semanas do término dos procedimentos clínicos e as peças processadas para análise histomorfológica. Os resultados demonstraram que o Agregado de Trióxido Mineral produziu formação de tecido duro apical com maior consistência do que os outros materiais estudados. A diferença 138
da formação de tecido duro entre os três materiais não foi estatisticamente significante. Com relação à resposta inflamatória, não houve diferença entre os grupos experimentais. O cimento de Portland, está cada vez mais sendo pesquisado dentro da Odontologia. É um material que, para ser usado em procedimentos odontológicos, deve ter como uma de suas condições fundamentais a boa biocompatibilidade. Devido a isso, se torna indispensável a experimentação in vitro e in vivo (animais de laboratório) desses materiais, antes de serem utilizados na prática clínica. Estrela et al. 9 (2000) realizaram um estudo com o objetivo de investigar a ação antimicrobiana do Agregado de Trióxido Mineral, cimento de Portland, pasta de hidróxido de cálcio, Sealapex e Dycal. Além disso, eles analisaram os elementos químicos do MTA e do cimento de Portland. A análise química dos elementos presentes no MTA e nas duas amostras de cimento de Portland foi feita com um Espectrômetro de Fluorescência de Raios-X. Os resultados da pesquisa demonstraram que a atividade antimicrobiana da pasta de hidróxido de cálcio foi superior a todas as outras substâncias, sobre todos os microrganismos testados, apresentando zonas de inibição com 6-9,5 mm e zonas de difusão com 10-18 mm. O MTA, o cimento de Portland e o Sealapex apresentaram somente zonas de difusão e, dentre estes, o Sealapex apresentou a maior zona. O Dycal não apresentou halos de inibição, nem de difusão. Os cimentos de Portland contêm os mesmos elementos químicos que o MTA, com a exceção de que o MTA também apresenta, na sua constituição, o bismuto. O fato de que os principais componentes achados no MTA também estão presentes no cimento de Portland pode justificar por que os resultados dos testes de atividade antimicrobiana foram similares. Holland et al. 14 (2001) realizaram uma pesquisa onde estudaram a reação do tecido subcutâneo de ratos ao implante de tubos de dentina preenchidos com agregado de trióxido mineral, cimento Portland ou hidróxido de cálcio. Os animais foram sacrificados após 7 ou 30 dias e os espécimes não descalcificados foram preparados para análise histológica com luz polarizada e técnica de Von Kossa para tecidos mineralizados. Os resultados foram similares para os materiais estudados. Próximo às aberturas dos tubos foram observadas granulações Von Kossa positivas, birrefringentes à luz polarizada. Próximo a essas granulações existia um tecido irregular na forma de uma ponte, também Von Kossa positivo. As paredes de dentina dos tubos exibiram uma estrutura altamente birrefringente à luz polarizada, no interior dos túbulos, formando uma camada em diferentes profundidades. Diante do observado, os autores acharam que, possivelmente, no mecanismo de ação, os materiais estudados foram similares entre si. Dammaschke et al. 7 (2005) avaliaram as propriedades químicas e físicas do MTA branco (ProRoot) comparando-o com dois tipos comuns de cimentos de Portland (CEM1 e CEM2). Os componentes principais foram analisados por um espectroscópio fotoeletrônico de raio X (XPS) e os constituintes menores por espectroscópio ótico (XPS) e as mudanças morfológicas foram examinadas por microscopia eletrônica de varredura (MEV). Os resultados mostraram que os dois tipos de cimentos de Portland apresentaram partículas de grande tamanho, enquanto o MTA apresentou partículas menores. Diante de tais resultados, os autores concluíram que, quanto às propriedades físicas e químicas, o MTA não pode ser substituído por qualquer tipo de cimento de Portland. Ambos os produtos são similares, mas não iguais e exibem diferenças marcantes. Camilleri et al. 6 (2005) avaliaram a biocompatibilidade do MTA e aceleraram o cimento de Portland analisando a função e proliferação metabólica celular. Para a avaliação química do cimento de Portland branco e cinza, do MTA branco e cinza e do cimento de Portland acelerado, foram feitas análises dispersivas de energia de difração do raio X. A biocompatibilidade dos materiais foi avaliada usando-se um método direto do teste, no qual a proliferação celular foi medida quantitativamente por meio de tintura azul de Alamar, e um método indireto em que as células se desenvolvessem em materiais solventes e a proliferação celular fosse analisada usandose o methyltetrazolium conforme ISSO 10993, parte 5. Os resultados mostraram que a constituição química era similar. Os estudos indiretos revelaram um aumento na atividade celular depois de 24h, comparados com o controle no meio de cultura (p< 0.001). Os resultados indicaram que houve biocompatibilidade dos cimentos e que a adição do óxido de bismuto não interferiu na biocompatibilidade. O cimento de Portland acelerado mostrou resultados similares. Diante de tantos questionamentos, o objetivo deste trabalho é avaliar histologicamente, em ratos, o Agregado de Trióxido Mineral, comparando com o Cimento 139
de Portland. MÉTODOS A pesquisa proposta por este trabalho consistiu em verificar, através de microscopia óptica, alterações sofridas pelo tecido conjuntivo da região do filtro de ratos (que corresponde ao fundo de sulco de humanos), diante de dois tipos de cimento: o Agregado Trióxido Mineral (MTA) - PRO ROOT (Dentsply, Tulsa Dental EUA) e o cimento de Portland (Cimento Zebu Companhia de Cimento Atol Brasil) - cuja especificação é CP2z32. Foram empregados dez ratos machos da espécie Ratus novergicus, da linhagem Wistar, com a média de 313,73g, sendo caracterizados como adultos jovens (aproximadamente três meses de idade). A utilização dos animais da presente pesquisa foi autorizada pelo Conselho de Bioética da Universidade Estadual de Feira de Santana. Antes da cirurgia, fez-se a supressão alimentar: duas horas antes sem água e seis horas sem ração. Os animais foram anestesiados com a seguinte associação anestésica: Acepran 1% (Univet), medicação pré-anestésica que é um neuroplégico, tranqüilizante (deixava os animais mais receptivos ao anestésico geral). Após dez minutos de intervalo, utilizou-se o Dopalen (Agribrands do Brasil LTDA), agente anestésico geral. A cirurgia consistiu em realizar um retalho de cada lado da região de filtro superior do animal, utilizando-se cabo de bisturi com lâmina número onze (Surgyplast) (Figura1). Tanto o cimento de Portland quanto o MTA foram manipulados com soro fisiológico estéril (Endomed) e, imediatamente após a manipulação, foram colocados em tubos de polietileno (escalpe de diâmetro inferior a 1,3mm - Biojet), cortados em aproximadamente 1 a 2mm de largura e inseridos nos retalhos. Do lado esquerdo da arcada foi inserido o tubo de polietileno com MTA (Figura 2) e do lado direito com o cimento de Portland (Figura 3) e a seguir suturados com fio reabsorvível (Catgut simples 3.0 Somer Ville). Os animais foram separados em dois grupos experimentais: Grupo I Composto por cinco animais que foram sacrificados após duas semanas de realizadas as cirurgias*. Grupo II Composto por cinco animais que foram sacrificados após doze semanas de realizadas as ci- Figura 1: Retalho no fundo de sulco Figura 2: Insersão de MTA (lado esquerdo no fundo de sulco) rurgias*. Concluída a parte experimental, os animais foram acondicionados em gaiolas segundo o agrupamento prévio e, ao acordar da anestesia, foram alimentados com dieta líquida no primeiro momento e, posteriormente, uma dieta balanceada. Nenhum espécime foi perdido durante o período experimental. As áreas da cirurgia foram removidas em bloco. O corte das peças foi de quatro micrômetros de espessura e corados com hematoxilina e eosina. Após a leitura das lâminas, foram confeccionadas quatro tabelas através das quais, uma contagem dicotômica foi utilizada para a observação de componentes não-celulares (tecido fibroso, vasos congestos e não congestos e necrose) e componentes celulares (fibroblastos, neutrófilos, macrófagos, eosinófilos, linfócitos, plasmócitos, células gigantes) tanto do Agregado de Trióxido Mineral (MTA) como do Cimento de Portland (CP). * Determinação da ISSO número 10.993, ano 1991; ADA documento número 41, ano 1979 (prática biológica). 140
Figura 3: Insersão do cimento Portland (lado direito no fundo de sulco) Figura 5: Cimento Portland - Grupo II - infriltado inflamatório cronificado H.E., 40X Figura 4: Cimento Portland - Grupo I - infriltado inflamatório intenso H.E., 40X Figura 6: MTA - Grupo I - grânulos do cimento e ausência de células inflamatórias, formação de tecido fibroso. H.E., 40X Os dados coletados foram submetidos a tratamento estatístico nos programas Sigmastat (Jeandel Scientific) e SPSS 7.5, no qual foram aplicados os testes t-student e Mann-Whitney para análises pareadas. O teste de Mann- Whitney foi utilizado quando os dados não passaram pela normalidade ou pela variância equivalente. RESULTADOS Grupo I (animais sacrificados com duas semanas após a cirurgia) - para o cimento de Portland observouse: infiltrado inflamatório, que variou de discreto a intenso em áreas específicas, tecido fibroso, vasos congestos, neoformação capilar, fibroblastos, neutrófilos e macrófagos. Em duas das cinco amostras encontrou-se fibrina. Em uma das amostras não foram observados tecido fibroso, macrófagos e fibroblastos. Plasmócitos, linfócitos, eosinófilos e células gigantes não foram encontrados em nenhuma das amostras. As lâminas sugeriram processo Figura 7: MTA - Grupo II - escalpe com alguns grânulos do cimento e tecido fibroso. H.E., 40X inflamatório agudo (Figura 4). Grupo II (animais sacrificados com doze semanas após a cirurgia) - para o cimento de Portland: verificouse que havia busca da resolução do processo inflamató- 141
Tabela 2 - Valor de p para os cruzamentos dos grupos entre MTA e Cimento de Portland Componentes celulares. Cruzamento Componentes celulares Para valores de p < 0,05 * teste t-student **teste Mann-Whitney Agregado de Trióxido Mineral X Cimento de Portland Grupo 1 Grupo 2 Fibroblastos P = 0,690** P = 1,000* Macrófagos P = 0,690** - Neutrófilos P < 0,0001* - Linfócitos - P = 0,151** Células gigantes - P = 0,032** rio, reação granulomatosa, formação de tecido fibroso, aumento da vascularização, reação inflamatória de caráter crônico com predominância de linfócitos, macrófagos e fibroblastos. Em uma das amostras observou-se tecido conjuntivo de aspecto normal com raros macrófagos. Neutrófilos, eosinófilos, plasmócitos não foram verificados nesse grupo, assim como necrose e vasos não congestos. Nesse segundo grupo, podemos notar que a inflamação aguda, presente no Grupo I, agora caminha para uma inflamação crônica (Figuras 5). No Grupo I do MTA foi observado: ausência de células inflamatórias agudas, infiltrado inflamatório com presença de macrófagos, fibroblastos, tecido fibroso, vasos congestos, aumento de vascularizações, capilares neoformados. Nesse grupo notou-se que a reação inflamatória foi branda (Figura 6). No Grupo II para o MTA, foi observada proliferação vascular, processo inflamatório, tecido conjuntivo, tecido fibroso, fibroblastos e macrófagos com aspectos normais. Não foram encontrados vasos congestos. Vasos não-congestos, necrose, eosinófilos, linfócitos, plasmócitos e células gigantes não foram detectados tanto no Grupo I quanto no Grupo II do MTA. Em relação ao Grupo I, o aspecto foi de um tecido caminhando para cronificação. (Figura 7). Na análise estatística, fez-se o cruzamento dos componentes não-celulares entre o MTA e o cimento de Portland, dos grupos I e II, como podemos observar na Tabela 1. Em nenhum dos itens avaliados nessa tabela houve diferença estatisticamente significante, pois todos os valores de p foram >0.05. Na Tabela 2 observa-se o cruzamento dos componentes celulares, entre o MTA e o cimento de Portland dos grupos I e II. Em relação aos neutrófilos, do Grupo I, houve diferença estatisticamente significante p<0.0001 e nas células gigantes no Grupo II também houve diferença estatisticamente significante p=0.032. Eosinófilos e plasmócitos não foram encontrados em nenhuma amostra tanto do MTA como no cimento de Portland em ambos os grupos. No cruzamento dos componentes não-celulares com os componentes celulares realizados entre os grupos I e II do mesmo material (MTA ou cimento de Portland), só puderam ser avaliados os itens: tecido fibroso (c. nãocelulares), onde para o MTA p=0.690 (Teste Mann- Whitney) e para o cimento de Portland, p=1.000 (Teste t-student), ambos para valores de p<0.05; portanto, não Tabela 3 - Valor de p para os cruzamentos dos grupos I e II (componentes celulares e não-celulares) para os cimentos testados. Tabela 1 - Valor de p para os cruzamentos dos grupos entre MTA e Cimento de Portland Componentes não-celulares. Cruzamento Componentes não-celulares Para valores de p < 0,05 * teste t-student **teste Mann-Whitney Agregado de Trióxido Mineral X Cimento de Portland Grupo 1 Grupo 2 Tecido fibroso P = 0,690** P = 1,000* Vasos congestos P = 1,000* P = 0,310** Cruzamento Componentes Tecido fibroso (não celular) Fibroblastos (celular) Macrófagos (celular) Para valores de p < 0,05 * teste t-student ** teste Mann-Whitney Agregado de Trióxido Mineral Grupo 1 X Grupo 2 Cimento de Portland Grupo 1 X Grupo 2 p = 0,690** p = 1,000* p = 1,000* p = 0,690** p = 1,000* p =0,690** 142
houve diferença estatisticamente significante. No caso dos componentes celulares os itens fibroblastos e macrófagos foram avaliados. No caso dos fibroblastos não houve diferença estatisticamente significante, pois para o MTA p=1.000 (Teste t-student) e para o cimento de Portland p=0.690 (Teste Mann-Whitney), sendo para valores de p<0.05.(tabela 3). DISCUSSÃO A utilização de materiais que tenham biocompatibilidade tem sido uma busca constante na Odontologia (Torabinejad et al. 24, 1994; Torabinejad et al. 30, 1995; Torabinejad et al. 31, 1995; Holland et al. 13, 2001; Camirelli et al. 6, 2005). Este trabalho visa avaliar o comportamento histológico entre os cimentos MTA e Portland, em tecido conjuntivo de ratos através de microscopia ótica. Esta pesquisa foi realizada em roedores, pois o modelo experimental atende às exigências básicas necessárias para o estudo proposto; além disso, houve a facilidade de acesso aos animais, controle da sua dieta e saúde geral, além da presença constante dos pesquisadores, principalmente no que diz respeito aos cuidados pós-operatórios, como alimentação dos animais. A amostra, portanto, foi homogênea, assim favorecendo a resultados fidedignos, concordando com achados de Shahi et al. 21, 2006. O MTA, embora amplamente pesquisado (Torabinejad et al. 25, 1995; Torabinejad et al. 28, 1995d; Shabahang et al. 20, 1999; Funteas et al. 12, 2003), ainda abre espaço para pesquisas. Em relação ao cimento de Portland, as pesquisas são mais recentes no tocante ao seu uso odontológico, pois se descobriu que possuía basicamente a mesma composição química do Agregado de Trióxido Mineral, sendo que este possui o bismuto que lhe confere radiopacidade (Torabinejad et al. 27, 1995; Estrela et al. 9, 2000; Valera et al. 33, 2006; Islam et al. 15, 2006). Avaliações comparativas entre os dois cimentos vêm surgindo gradativamente como linha de pesquisa por alguns estudiosos (Holland et al. 14, 2001; Dammaschke et al. 7, 2005; Camillleri et al. 6, 2005; Islam et al. 15, 2006 ). Através da pesquisa realizada neste trabalho, buscou-se observar se ambos os cimentos possuíam comportamentos histológicos similares. Ambos os materiais utilizados foram manipulados com soro fisiológico, por se tratar de uma substância estéril e, assim, não influenciaria nos resultados, até se chegar a uma consistência de pasta de vidraceiro, como foi visto nas pesquisas Torabinejad et al. 32 (1999); Kogan et al. 16 (2006). Ao longo dos anos, as pesquisas demonstraram o MTA um material com várias indicações clínicas: retrobturações, perfurações de furca ou radiculares, capeamento pulpar, apicificação de dentes imaturos (Torabinejad et al. 29, 1995; Derzan Júnior e Garcia 8, 1998; Busato et al. 3, 1999; Holland et al. 13,2001; Camilleri et al. 4, 2004; Walker et al. 34, 2006). Os achados obtidos nesta pesquisa concordam com os autores supracitados, pois o MTA é portador de ótima biocompatibilidade, portanto passível de uso em qualquer uma dessas aplicações. No estudo feito por Estrela et al. 9,(2000), além dos componentes químicos do Agregado de Trióxido Mineral e do cimento de Portland, avaliaram-se: ação antimicrobiana do MTA, cimento de Portland, pasta de hidróxido de cálcio, Sealapex e Dycal. Observaram os autores que tanto o MTA quanto o cimento de Portland apresentaram os resultados dos testes de atividade antimicrobiana similares, atribuindo-se a isso o fato desses dois cimentos apresentarem basicamente a mesma composição química, corroborando com os achados de Faraco Júnior e Holland 11, (2004). Em contrapartida, Dammaschke et al. 7,(2005) mencionaram que, em relação às propriedades físico-químicas, o cimento de Portland apresentou partículas maiores do que as do MTA Pro Root e que o MTA não pode ser substituído por qualquer cimento de Portland. Ambos os produtos são similares, mas não iguais e exibem diferenças marcantes. Diante dos fatos apresentados, procurou-se ter critérios com relação à escolha do cimento de Portland para esta pesquisa e observar se as avaliações histológicas dos dois cimentos neste caso seriam semelhantes, já que eles possuíam basicamente os mesmos componentes químicos e atividade antimicrobiana. Pôde-se observar que os cimentos se comportaram de maneiras semelhantes no segundo grupo das amostras. No presente estudo, vasos congestos foram verificados em ambos os grupos do cimento de Portland, confirmando o estado inflamatório das amostras. Em relação ao MTA, só no Grupo I foram encontrados vasos congestos. Foi notório que, no primeiro momento, o cimento de Portland, apresentou inflamação mais intensa em relação ao Agregado de Trióxido Mineral e, no segundo momento, ambos os cimentos tiveram reações similares. Notou-se que o MTA apresentou biocompatibilida- 143
de de forma mais rápida que o cimento de Portland que apresentou maior biocompatibilidade no Grupo II (12 semanas) confirmando achados de Saidon et al. 19 (2003); Camilleri et al. 6 (2005). Muitas vezes o cirurgião-dentista é seduzido a optar por substâncias, materiais e técnicas aos quais os fabricantes atribuem os melhores resultados. No entanto, seu uso só pode ser alicercado em estudos longitudinais biológicos, que atestem sua vantagem em relação à técnica existente. Fica o desafio para a ciência procurar materiais que realmente sejam biocompatíveis, aproveitando-se as várias metodologias que podem ser utilizadas. Enquanto isso, cabe ao operador recorrer à sua criatividade, mas utilizando produtos que ofereçam segurança de suas propriedades, considerando-se suas vantagens e limitações. CONCLUSÃO Tendo-se em vista os resultados obtidos, foi possível concluir que, com relação à avaliação histológica dos cimentos MTA e Portland: 1. A reação inflamatória em ambos os cimentos no Grupo I (2 semanas) foi de caráter agudo, sendo o MTA sensivelmente mais brando que o Portland; 2. Existiu uma tendência à semelhança histológica com relação aos componentes tissulares entre ambos os cimentos após o período de 12 semanas nas amostras avaliadas, com tendência à cronificação. AGRADECIMENTOS Gostaríamos de agradecer ao Dr. Orestes, médico veterinário e Verônica, bióloga, ambos da Universidade Estadual de Feira de Santana, por não medirem esforços para o auxílio prático desta pesquisa e ao prof. Dr. José Antonio Polly de Figueiredo, pessoa sempre presente, mesmo à distância, pelo incentivo à pesquisa. 144
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