Relatos de vivências na realidade do Sistema Único de Saúde Ver-SUS - Zona da Mata Paraibana / 2015.2 Vivente: Dilayne Diniz Pereira dos Santos João Pessoa, PB Agosto de 2015
Introdução O Ver-SUS Zona da Mata Paraibana, aconteceu entre os dias dia 27 de julho à 02 de agosto. Foram selecionados estudantes e profissionais da área da saúde e humanas, que vivenciaram de perto e na prática a realidade do Sistema Único de Saúde, onde puderam adquirir experiências para uma formação e atuação profissional humanizada e integral. Primeiro dia: a partir deste dia, deu-se início a rotina dos organizadores, facilitadores e viventes do Ver-SUS. No primeiro dia, as atividades deram início as 07:00 com uma roda de apresentação, místicas e dinâmicas realizada no local onde os estudantes/profissionais alojaram-se: o CEJUB. Após este primeiro momento, seguiram para o auditório do local para dar início à apresentação do que seria o Ver-SUS, apresentação dos organizadores e facilitadores e do que os participantes iriam enfrentar durantes os setes dias seguidos, onde foram tiradas dúvidas e dadas as instruções. Todos muito empolgados e interessados em busca de conhecer mais a história do SUS e continuar na luta. Logo depois, foi dado um breve histórico do SUS. O que me prendeu a atenção, pois foram informações muito ricas em conhecimento a respeito de uma história de luta, à qual eu, enquanto estudante conhecia muito pouco. Recebemos a partipação de duas professoras que se apresentaram e que nos próximos dias iria contribuir com seus relatos de experiências. Durante a tarde e a noite, houve a presença de Marquinhos, enfermeiro, mas atua como ator e poeta, contribuiu com mais explanações e discussões a cerca da história do SUS, de como a população tratava das doenças antes de ser conquistado o SUS e da implantação de uma constituinte popular. Segundo dia: assim como os próximos dias, ouve a mística, depois os viventes foram divididos em GV S ( grupos de vivências) que daí seguiriam juntos para as vivências internas/externas e trazer
seus relatos de experiências para ser compartilhado com os demais grupos. E a cada foi escolhido um coordenador para no final do dia reunir-se com aos organizadores, levando as demandas do grupo para serem debatidas. O tema proposto do segundo dia de vivência foi: determinantes sociais em saúde. Foram distribuídos cadernos de texto contendo diferentes temas para que os viventes pudessem ler, refletir e levar pro debate algumas questões. Dentro do tema abordado no segundo dia, diferentes determinantes foram abordados e apresentados, tais como: pobreza, fome, falta de moradia, saneamento básico, desemprego, falta de assistência à saúde entre outros. Tais determinantes foram apresentados de forma lúdica ou em forma de poema, música e etc. Trouxe à tona a realidade do contexto social em que diferentes famílias estão inseridas, é muito importante para sabe lidar e entender melhor como se dá o processo saúdedoença na sociedade brasileira. Ao final do dia, assistimos ao documentário O povo Brasileiro que relatava sobre a constituição e a formação da sociedade Brasileira. Este documentário trouxe questões muito interessantes em relação aos primeiros povos que aqui habitaram e as sucessivas descobertas, invasões e massacres sofridos pelo nosso povo. Um país miscigenado, de um povo onde a maioria sofre, trabalha e luta por um futuro melhor, por uma saúde melhor e de qualidade. Terceiro dia: pela manhã começamos as nossas visitas, onde o meu grupo de vivências visitou uma USF no Bairro Colinas do Sul, onde ao chegarmos, tivemos logo o contato com a população que lá são atendidas, ouvimos diversos relatos de vidas diferentes. Caso de doenças sérias, problemas familiares, mãe doente com filho preso por motivo de drogas, tendo que ainda cuidar da neta com problemas mentais, adolescentes grávidas pensando em abortar, e afins... Passado esse primeiro momento, fomos recebidos pela psicóloga Dayse Catão, que nos apresentou todos os ambientes da unidade, que por sinal estava bem limpa, equipada e arejada, apresentou-nos a algumas agentes comunitárias, enfermeiras, dentista, fisioterapeuta e os três médicos que lá estavam atuando a cerca de mais ou menos três semanas, depois de cerca de seis meses a população sofrer sem atendimento médico. O programa Mais Médicos beneficiou a população daquela região com estes três médicos, aos quais tivemos a oportunidade de conversar sobre atenção básica e o programa mais médicos. Eles relataram a diferença
do sistema publico de saúde entre o Brasil e os países onde graduaram: Espanha, Cuba e Venezuela. E a gratidão da população por atendê-los e nos pareceram profissionais realmente humanizados independente do contexto. Durante a tarde, houve a plenária com a roda de conversa sobre a temática: opressões. Foi um momento forte e um misto de emoções, onde quem foi vítima de racismo, GLBTfobia, preconceito, poderia dar o seu relato e assim, emocionando a todos presentes, proporcionando ainda um conhecimento a cerca do movimento feminista, GLBT, população negra, etc. Todos esses relatos discorreram pelo resto do dia da plenária. Pudemos ter conhecimentos da força que estes grupos têm para lutar diante de tanto preconceito e recusa por partes da sociedade. Despertando-nos a vontade de entrar na luta em busca da igualdade. Quarto dia: pela manhã fizemos uma visita técnica ao UPA ( Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro de Valentina que foi inaugurada quase um ano. Fomos apoiados pela diretora administrativa e o coordenador de enfermagem. Que atenciosamente nos apresentou todos os ambientes de atendimento, muito bem instalados, limpos, arejados e ambiente bastante amplo. Foram explicadas as demandas da população, as queixas causadas pelo não entendimento por parte da população de que ali não funciona um hospital e sim uma unidade que serve cuidados paliativos. Por se tratar de um ambiente novo e bem equipado, os pacientes não querem ser transferido para os hospitais ou até mesmo, receber alta, visto que, perderiam todo tratamento que recebem lá. A tarde e a noite houve a plenária, onde cada grupo de vivência traziam seus relatos e discussões de suas vivências do dia. Neste dia tivemos a presença do professor Alexandre (conhecido como Alemão)de saúde da família do curso de Medicina da UFPB, que abordou questões norteadoras acerca da assistência da saúde às famílias carentes e o contexto ao qual estão inseridas. Quinto dia: O meu grupo de vivências IV, fomos pela manhã ao hospital psiquiátrico Juliano Moreira. Fomos recebidos pela Psicóloga de lá muito atenciosa, que nos acompanhou e apresentou a biblioteca onde são realizada atividades com o
pacientes, como desenhos, pinturas, leituras... posteriormente passamos pelas enfermarias permitidas, as dos adolescentes, jovens e a ala de dependentes de álcool e drogas ilícitas. Há uma restrita, que é a dos pacientes em crise. Foi notório o carinho com que os pacientes tem com a psicóloga que lá desde fevereiro, junto com a nova direção. Ela é muito atenciosa com todos. Exemplo de profissional humanizado em meio a um ambiente muito triste. Durante a tarde visitamos o Centro de Prático Integrativas ( Equilíbrio do Ser) vinculado ao SUS, localizado no Bairro dos Bancários, onde essas práticas funcionam como recursos terapêuticos que envolvem abordagens de estímulo aos mecanismos naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde, por meio de tecnologias eficazes e seguras, com ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade, bem como a visão ampliada do processo saúde-doença e a promoção global do cuidado humano, especialmente do autocuidado. A noite, houve mais uma plenária sobre o tema do dia: Saúde Mental e Saúde do Trabalhador. Em que foi debatido os riscos e exploração ao qual sofrem os trabalhadores, a grande jornada de trabalho. E a saúde psíquica, os fatores fisiológicos e sociais que contribuem para o desencadeamento e agravamento dessas doenças. Sexto dia: Foi mais um dia de grande choque de realidade. Conhecer o acampamento do MST em Caaporã. Chegamos lá pela manhã e fomo embora as 15:00. Pude conhecer como é a realidade daquele povo que luta pelo seu pedaço de terra. Pessoas trabalhadoras, do bem,de família. Crianças de nove anos de idade lavando roupas à mão, lavando pratos, andando descalças, sem água encanada, eletricidade precária, na casas improvisadas, ausência de banheiro, tendo que improvisar para realizarem as suas necessidades fisiológicas. Uma realidade diferente da qual a mídia propaga. Lá existe disciplina, trabalho e respeito. Pessoas que só querem viver da e para terra. A noite, durante a roda de debate, todos muitos emocionados ao relatarem suas experiências do dia. A luta pela reforma agrária, pelo direito à moradia é real e triste. Mais em meio a tanto sofrimento, não desistem de lutar pelos seus direitos.
Sétimo e último dia: foi um misto de despedida, tristeza e alegria. Foram feitas as avaliações finais entre os grupos de vivências, facilitadores e organizadores. Realizou as místicas, retrataram o racismo, movimento estudantil, LGBTfobia, feminismo. Houveram dinâmicas e por fim, a revelação do anjo ao seu protegido, onde trocamos lembranças,bilhetes,cartas, declarações, afetos.e assim, nos despedimos. E desse momento, jamais esquecerei de cada abraço, palavras de carinho e votos de felicidades e de luta por um SUS popular e humanizado. Considerações A minha participação no Ver-SUS, foi mais que um presente para mim. Pois convivi por sete dias com pessoas de diferentes lugares e personalidades, aprendendo sempre a respeitar, esperar o espaço-tempo do outro. Levo comigo cada um de uma forma singular. Cada vivência, cada palavra dita, aprendizado, conversas com pacientes, usuários e profissionais me fazem crer numa saúde popular e integrativa. Cada vivência foi única e especial. Espero que muitas outras pessoas sejam premiadas por essas experiências na realidade do SUS, assim como eu fui. E que saiam com essa vontade de um dia contribuir a saúde para a população.