TRONCO ENCEFÁLICO Prof. João M. Bernardes FUNÇÃO O tronco encefálico funciona como uma área de passagem para muitas vias descendentes e ascendentes; Está envolvido no controle da respiração, funções do sistema cardiovascular e do estado da consciência, do sono e da vigília, através da formação reticular; 1
É o ponto de origem de 10 dos 12 pares de nervos cranianos. ANATOMIA MACROSCÓPICA O tronco encefálico está localizado acima da medula espinhal, anteriormente ao cerebelo e inferiormente ao cérebro; Do sentido caudal para o cranial o tronco encefálico é dividido em 3 segmentos: Bulbo (medula oblonga); Ponte; Mesencéfalo. 2
Bulbo O bulbo é a mais caudal das partes do tronco encefálico; Está conectado à medula em sua porção inferior e à ponte em sua porção superior; Considera-se o limite entre a medula e o bulbo está em um plano horizontal que passa imediatamente acima da raiz nervosa mais cranial do primeiro nervo cervical; 3
O limite superior do bulbo é o suco bulbo-pontino; A superfície do bulbo apresenta sulcos longitudinais que continuam com os sulcos da medula; Esses sulcos delimitam o bulbo, formando áreas anterior, lateral e posterior, as quais aparecem como uma continuação dos cordões da medula; De cada lado da fissura mediana anterior existe uma coluna longitudinal alongada, a pirâmide bulbar, limitada lateralmente pelo sulco ântero-lateral; As pirâmides bulbares são formadas por feixes compactos de fibras nervosas que ligam as áreas motoras do cérebro ao neurônios motores da medula, fazendo parte do trato piramidal; Na parte caudal do bulbo, 75% a 90% das fibras nervosas das pirâmides cruzam o plano mediano obliquamente em feixes que recobrem a fissura mediana anterior, dando origem a decussação das pirâmides; Lateralmente às pirâmides, separadas pelo sulco ântero-lateral, encontram-se as olivas; 4
Anteriormente às olivas, emergem do sulco ântero-lateral as raízes do nervo hipoglosso (XII par craniano); Já do sulco póstero-lateral emergem as raízes do nervo glossofaríngeo (IX par) e do nervo vago (X par); Caudalmente às raízes do nervo vago encontram-se as raízes bulbares do nervo acessório (XI par); 1 - Sulco bulbopontino 2 - Fissura mediana anterior 3 - Pirâmide bulbar 4 - Decussação das pirâmides 5 - Oliva 1 3 4 5 2 5
Entre o sulco póstero-lateral e o sulco mediano posterior está situada a área posterior do bulbo; A área posterior do bulbo, é divida em fascículo grácil e fascículo cuneiforme; Constituídos por fibras nervosas ascendentes da medula, estes fascículos terminam em duas massas de substância cinzenta, os núcleos grácil e cuneiforme; Os núcleos grácil e cuneiforme determinam o aparecimento do tubérculo do núcleo grácil, medialmente, e o tubérculo do núcleo cuneiforme, lateralmente; Acima dos tubérculos encontra-se o assoalho do IV ventrículo, o qual forma uma depressão rombóide rasa (porção aberta do bulbo); Em virtude do aparecimento do IV ventrículo, os tubérculos dos núcleos grácil e cuneiforme afastam-se como os dois ramos da letra V ; Acima encontram-se os peduncúlos cerebelares inferiores, os quais penetram no cerebelo. 6
5 4 1 - Sulco mediano posterior 2 - Fascículo grácil 3 - Fascículo cuneiforme 4 - Tubérculo grácil 5 - Tubérculo cuneiforme 1 3 2 1 1 - Assoalho do IV ventrículo 7
Ponte Localizada entre o bulbo e o mesencéfalo; A região anterior da ponte apresenta estrias transversais devido à presença de um sistema de fibras transversas (fibras pontinas transversas ou pontocerebelares); Estas fibras convergem de cada lado para formar o pedúnculo cerebelar médio, os quais entram nos hemisférios cerebelares; Medialmente ao pedúnculo cerebelar médio emerge o nervo trigêmeo (V par); O nervo abducente (VI par) emerge entre a ponte e a pirâmide do bulbo; O nervo facial (VII par) emerge entre a oliva e a ponte; O nervo vestibulococlear (VIII par) emerge lateralmente ao nervo facial;; 8
Entre os nervos facial e vestibulococlear emerge o nervo intermédio (raiz sensitiva do VII par); Dorsalmente a ponte, em conjunto com a porção aberta do bulbo, constitui o assoalho do IV ventrículo. 9
1 1 - Assoalho do IV ventrículo Mesencéfalo É o menor segmento do tronco encefálico; Localizado entre a ponte e o cérebro; Transversalmente pode ser dividido em três porções: Porção dorsal ou teto do mesencéfalo; Porção central ou tegmento do mesencéfalo; Porção ventral ou base do mesencéfalo; 10
Anteriormente, aparecem duas elevações muito proeminentes, que surgem na borda superior da ponte e se dirigem em direção ao cérebro, os peduncúlos cerebrais; Entre os pedúnculos forma-se uma profunda depressão triangular medial, a fossa interpeduncular; Separando a base do tegmento, encontrase a substância negra, uma lâmina de cor bem mais escura, formada por neurônios que contém melanina; A substância negra é delimitada lateralmente pelo sulco lateral do mesencéfalo e medialmente pelo sulco medial do peduncúlo cerebral; 11
1 1 - Fossa interpeduncular Do sulco medial do pedúnculo cerebral emerge o nervo oculomotor (III par); Dorsalmente, o teto do mesencéfalo apresenta quatro eminências, os colículos superiores (relacionados com a audição) e os colículos inferiores (relacionados com a visão); Abaixo de cada colículo inferior emerge o nervo troclear (IV par) e, ainda, os pedúnculos cerebelares superiores, os quais se projetam ínfero-posteriormente em direção ao cerebelo. 12
1 2 1 - Colículo superior 2 - Colículo inferior VIAS E ESTRUTURAS INTERNAS 13
O interior do tronco encefálico é formado por três tipos de substâncias: Substância cinzenta; Substância branca; Substância reticular. Sendo os principais componentes estruturais internos os: Núcleos dos nervos cranianos (substância cinzenta homóloga); Núcleos próprios do tronco encefálico (substância cinzenta própria); Tratos descendentes, ascendentes e de associação (substância branca); Formação reticular (substância reticular). Núcleos dos nervos cranianos Formados por substância cinzenta, existente no interior do bulbo, da ponte e do mesencéfalo estes núcleos são a origem dos nervos cranianos; No tronco encefálico encontram-se os núcleos do III até o XII par de nervos cranianos; 14
Muitos dos nervos cranianos, transmitem mais de um tipo de informação e, por isso, possuem mais de um núcleo; De maneira geral, pode-se dizer que os núcleos motores se dispõem mais medialmente e os de função sensitiva se localizam mais lateralmente. Núcleos próprios Núcleos grácil e cuneiforme Localizados no bulbo, ao nível dos tubérculos do núcleo grácil e cuneiforme; Os neurônios destes núcleos recebem fibras que sobem pela medula espinhal através dos fascículos grácil e cuneiforme; Transmitem informações referentes ao toque discriminativo, posição articular e vibração para o tálamo. Núcleo olivar inferior Localizado no bulbo na região das olivas; Os neurônios deste núcleo recebem fibras da medula espinhal e do núcleo rubro e enviam fibras ao cerebelo; Está relacionado com a coordenação e ajuste fino de movimentos de precisão, assim como a coordenação dos movimentos de massa do tronco e extremidades. 15
Núcleos pontinos Localizados na porção ventral da ponte; Os neurônios deste núcleo recebem fibras vindas de regiões motoras do córtex cerebral e enviam fibras ao cerebelo; Esses núcleos fazem parte de um circuito motor, através da qual o cerebelo recebe esboços de movimentos originados no córtex cerebral, que devem ser por ele coordenados. Núcleo rubro Localizado no mesencéfalo; Os neurônios deste núcleo recebem fibras vindas principalmente do cerebelo e do córtex motor e enviam fibras que se dirigem ao núcleo olivar inferior; Dá origem ao trato rubro-espinhal (trato extrapiramidal); Através de ligações com o cerebelo possui importante função na coordenação da motricidade. Substância negra Localizada no mesencéfalo; Recebe fibras principalmente do corpo estriado e envia fibras principalmente para o tálamo e o colículo superior; Possui importante função no processo de iniciação dos movimentos. 16
Tratos ascendentes São constituídos pelos seguintes tratos: Fascículos grácil e cuneiforme; Lemnisco medial (união do grácil e cuneiforme); Trato espinotalâmico; Lemnisco Espinhal (união dos espinotalâmicos); Trato espinocerebelar; Lemnisco trigeminal; Lemnisco lateral. Lemnisco medial: Os neurônios situados nos núcleos grácil e cuneiforme dão origem à axônios que se unem e formam uma entidade única que cruza a linha média e sobe através do tronco encefálico em direção ao tálamo. Lemnisco espinhal: Corresponde aos tratos espinotalâmico anterior e lateral que se unem na área das olivas, formando uma entidade única que irá subir em direção ao tálamo; 17
Lemnisco trigeminal: Fibras provenientes do nervo trigêmeo (VI par) trazem informações para as células presentes nos núcleos sensitivos deste nervo; Estas, então, dão origem a axônios que cruzam a linha mediana e sobem em direção ao tálamo; O lemnisco trigeminal é responsável, portanto, pela condução da sensibilidade da face. Lemnisco lateral: Fibras provenientes do nervo vestíbulo-coclear (VIII par) trazem informações para as células presentes nos núcleos sensitivos deste nervo; Estas, então, dão origem a axônios, muitos cruzados, outros ipsilaterais, que sobem pelo tronco encefálico em direção ao colículo inferior; Daí o lemnisco lateral tem continuidade, indo terminar no corpo geniculado medial, no tálamo; O lemnisco lateral é responsável, pela condução de informações auditivas. 18
Tratos descendentes São constituídos pelos seguintes tratos: Tratos piramidais (tratos córtico-espinhal anterior e lateral); Tratos extrapiramidais (tratos rubro-espinhal, vestíbulo-espinhal e retículo espinhal); Trato córtico-nuclear; Trato córtico-pontino. Trato córtico-nuclear: Os corpos dos neurônios presentes neste feixe se encontram no córtex motor cerebral; Seus axônios descem até o tronco encefálico, na altura da ponte, suas fibras cruzam de lado; Após cruzar de lado, entram em contato com neurônios motores situados em núcleos motores de diversos nervos cranianos (facial, trigêmeo, abducente, ambíguo e hipoglosso); Está relacionado com o controle voluntário da musculatura da cabeça e do pescoço. 19
Trato córtico-pontino: Os corpos dos neurônios presentes neste feixe se encontram no córtex motor cerebral; Seus axônios descem sem cruzar de lado até os núcleos pontinos; Este trato participa do circuito motor que liga o cortéx cerebral ao cerebelo, através do qual o cerebelo recebe esboços de movimentos originados no córtex cerebral, que devem ser por ele coordenados. Trato de associação Fascículo longitudinal medial Presente em toda a extensão do tronco encefálico; Liga todos os núcleos motores dos nervos cranianos, sendo especialmente importantes suas conexões com os relacionados com o movimento do olho e da cabeça; Essa ligação permite que movimentos reflexos dos olhos compensem movimentos da cabeça, dando estabilidade visual. 20
Formação reticular É um conjunto de células e fibras que ocupam toda a região central do tronco encefálico, preenchendo os espaços não ocupados por núcleos e tratos; Apresenta uma estrutura que não corresponde exatamente à da substância branca ou cinzenta, sendo, de certo modo, intermediária entre elas; A formação reticular apresenta conexões recíprocas (aferentes e eferentes) com as seguintes regiões do SNC: Medula espinhal; Núcleos dos nervos cranianos; Cerebelo; Córtex cerebral. 21
Apresenta funções relacionadas com: O controle dos mecanismos de sono e vigília; A supressão endógena da dor; A atenção seletiva; A regulação do comportamento emocional; A regulação do tônus muscular; A coordenação dos reflexos de medo e fuga; A liberação de hormônios hipofisários; O controle de diversas funções viscerais (ritmo respiratório, ritmo cardíaco, pressão arterial). BIBLIOGRAFIA SPENCE, A. P. Anatomia humana básica. 2 ed. São Paulo: Manole, 1991. TREPEL, M. Neuroanatomia: estrutura e função. 2 ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2005. MACHADO, A. Neuroanatomia funcional. 2 ed. São Paulo: Atheneu, 1993. MENESES, M. S. Neuroanatomia aplicada. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. GUYTON, A. C. Neurociência básica: anatomia e fisiologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1993. RUBIN, M.; SAFDIEH, J. E. Netter: neuroanatomia essencial. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. KIERNAN, J. A. Neuroanatomia humana de Barr. 7 ed. São Paulo: Manole, 2003. 22