1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DA 13ª VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE CURITIBA (Processo-crime de autos nº 5046512-94.2016.404.7000) JOSÉ ADELMÁRIO PINHEIRO FILHO, já qualificado nos autos supracitados vem, à presença de Vossa Excelência, por seus procuradores adiante assinados, Roberto Lopes Telhada, Jacinto Nelson de Miranda Coutinho e Edward Rocha de Carvalho, advogados inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil, sob números 24.509/SP, 8.862/PR e 35.212/PR, com base nos arts. 396 e 396-A, do CPP, apresentar sua resposta à denúncia em razão dos motivos de fato e de direito a seguir expostos perante esse d. Juízo: 01. O requerente foi denunciado pelo i. órgão do MPF porque teria adequado sua conduta aos tipos do art. 333, do CP (corrupção ativa), e art. 1º, da Lei nº 9.613/98 (lavagem de capitais). 02. Desde logo, a imputação em relação ao art. 333, do CP, especificamente no que diz respeito às obras da REPAR e da RNEST, incide em inegável bis in idem com a imputação já realizada nos processos-crime
2 de autos nº 5083376-05.2015.404.7000 (EVENTO 1, DENUNCIA1; e EVENTO 824, SENT1) e 5025847-91.2015.404.7000 (EVENTO 2, DENUNCIA 1), com a consequente violação ao art. 5º, XXXVI (respeito à coisa julgada), XXXIX (princípio da legalidade), LIV (devido processo legal), e 2º, da CR (adoção de tratados internacionais), art. 8º, item 4, da Convenção Americana de Direitos Humanos (vedação ao duplo risco), art. 14, item 7, do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (vedação ao duplo risco), e a precedentes do e. STF (por todos, Ext 1.223, Rel. Min. Celso de Mello, DJe de 27/2/2014). 03. A razão é simples: o acusado já foi denunciado pela corrupção de Paulo Roberto Costa, Renato Duque e Pedro Barusco e outros integrantes do PT, nos seguintes moldes: O produto desse crime, além de ser contabilizado para o lucro das empresas, também servia em parte para os pagamentos (propina) feitos aos empregados públicos da PETROBRAS e a terceiros (operadores, agentes políticos e partidos políticos), por via dissimulada, conforme adiante será descrito. (g.n., EVENTO 1, DENUNCIA1, p. 18, autos nº 583376-05.2015.404.7000). Na divisão das vantagens indevidas, o valor da propina repassada a PAULO ROBERTO COSTA e às pessoas por ele indicadas, sobretudo operadores do mercado negro e integrantes do Partido Progressista (PP), era de ao menos 1% do valor total do contrato, no âmbito da Diretoria de Abastecimento. Por sua vez, o valor da propina repassada a empregados corrompidos da Diretoria de Serviços, em especial RENATO DUQUE, era de ao menos 2%, também do valor total do contrato, sendo que parte desses valores seria destinada a integrantes do Partido dos Trabalhadores. (g.n., EVENTO 1, DENUNCIA 1, p. 41, autos nº 583376-05.2015.404.7000). Por sua vez, o valor da propina repassada a empregados corrompidos da Diretoria de Serviços, em especial RENATO DUQUE e PEDRO BARUSCO, era de ao menos 2%, também do valor total do contrato, sendo que parte desses valores seria destinada a integrantes do Partido dos Trabalhadores (PT). (g.n., EVENTO 2, DENUNCIA1, p. 65, autos nº 5025847-91.2015.404.7000).
3 Quanto aos contratos ligados às demais diretorias, a porcentagem de 2% era em sua totalidade igualmente dividida a razão de ½ entre o Partido dos Trabalhadores PT e a Casa. (g.n., EVENTO 2, DENUNCIA1, p. 70, autos nº 5025847-91.2015.404.7000). Neste contexto, JOÃO VACCARI insere-se como coautor dos delitos de corrupção passiva praticados por RENATO DUQUE e PEDRO BARUSCO, visto que, não só participava ao reforçar a Solicitação de vantagens indevidas efetuadas por tais funcionários públicos a administradores de grandes empreiteiras contratadas pelas PETROBRAS, como também aceitava e recebia, para si e para o Partido dos Trabalhadores PT, tais vantagens indevidas. (g.n., EVENTO 2, DENUNCIA1, p. 71, autos nº 5025847-91.2015.404.7000). Além disso, mas também no citado período, JOÃO VACCARI também: (b) solicitou pessoalmente as mesmas vantagens indevidas em razão das funções exercidas por RENATO DUQUE e PEDRO BARUSCO, e (c) recebeu, agindo em nome do Partido dos Trabalhadores PT, parcela dessas vantagens indevidas prometidas. (g.n., EVENTO 2, DENUNCIA1, p. 81, autos nº 5025847-91.2015.404.7000). 04. Esse d. Juízo já teve oportunidade de ser muito claro em relação às imputações (e à condenação, num caso): Segundo as apurações, havia percentual destinado à Diretoria de Abastecimento e outro percentual dirigido à Diretoria de Serviços. Os valores seriam destinados aos empregados públicos corrompidos e ainda a outros agentes públicos e a partidos políticos. (g.n., EVENTO 13, DESPADEC1, autos nº 5012331-04.2015.404.7000) 202. Aos agentes políticos cabia dar sustentação à nomeação e à permanência nos cargos da Petrobrás dos referidos Diretores. Para tanto, recebiam remuneração periódica. (EVENTO 824, SENT1, autos nº 583376-05.2015.404.7000). 306. (...) No âmbito dos contratos relacionados à Diretoria de Abastecimento, ocupada por Paulo Roberto Costa, cerca de 1% do valor de todo contrato e aditivos seria repassado pelas empreiteiras a Alberto Youssef, que ficava encarregado de remunerar os agentes públicos, entre eles Paulo Roberto Costa. Do 1% da propina, parte ficava com Paulo
4 Roberto Costa, parte com Alberto Youssef, mas a maior parte, cerca de 60%, seria destinada a agentes políticos. (g.n., EVENTO 824, SENT1, autos nº 583376-05.2015.404.7000). 424. Deve ser considerado co-autor do crime de corrupção passiva, já que agia mais como agente de Paulo Roberto Costa e dos agentes políticos que lhe davam sustentação do que como agente das empreiteiras. (g.n., EVENTO 824, SENT1, autos nº 583376-05.2015.404.7000). 531. No caso presente, restou provada a existência de um esquema criminoso no âmbito da Petrobrás, e que envolvia cartel, fraudes à licitação, pagamento de propinas a agentes públicos e a agentes políticos e lavagem de dinheiro. 532. Como revelado inicialmente por Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, grandes empreiteiras, em cartel, fraudavam licitações da Petrobrás, impondo o seu preço nos contratos. O esquema era viabilizado e tolerado por Diretores da Petrobrás, entre eles Paulo Roberto Costa, mediante pagamento de propina. Um percentual de 2% ou 3% sobre cada grande contrato era destinado a propina para os Diretores e outros empregados da Petrobras e ainda para agentes políticos que os sustentavam nos cargos. (g.n., EVENTO 824, SENT1, autos nº 583376-05.2015.404.7000). 05. De forma bem objetiva e diante do que foi acima transcrito, fixou-se a imputação naqueles autos assim: o requerente teria corrompido Paulo Roberto Costa, Renato Duque e Pedro Barusco, que detinham sustentação política para permanecerem em seus cargos com intuito de enriquecimento, facilitação ao suposto cartel e arrecadação partidária, beneficiando diversos agentes políticos não nominados. 06. A imputação dos presentes autos, no que diz respeito à RNEST e REPAR, é idêntica: o requerente teria corrompido Paulo Roberto Costa, Renato Duque e Pedro Barusco, que detinham sustentação política para permanecerem em seus cargos com intuito de enriquecimento, facilitação ao suposto cartel e arrecadação partidária, beneficiando Luiz Inácio Lula da Silva.
5 07. Trata-se, à evidência, de dupla imputação (double jeopardy), de todo vedada no ordenamento jurídico brasileiro. 08. E isso é ilegal e inconstitucional. 09. Afinal, valesse o raciocínio proposto, a cada agente político que fosse descoberto como beneficiado pela alegada propina por ex., naqueles 60% que seriam distribuídos por Paulo Roberto Costa, deveria haver novo processo, com nova pena, e assim por diante. 10. As regras legais e constitucionais existem justamente para proibir tal proceder, sendo justamente esta a razão por que esse d. Juízo consignou expressamente que em relação à Paulo Roberto Costa, Renato de Souza Duque e Pedro José Barusco Filho, considerando que já foram denunciados nas ações penais 5083376-05.2014.4.04.7000 e 5025847-91.2015.404.7000, pelo recebimento de propinas do Grupo OAS, reputo razoável o não-oferecimento de nova denúncia em relação a eles pelo fato que é objeto da imputação. (EVENTO 28, DESPADEC1). 11. Em suma: os coautores da corrupção passiva, que desde sempre se imputou e decidiu agirem em favor de agentes políticos, não foram denunciados. Com as devidas vênias, o mesmo deveria ter ocorrido com o requerente. 12. De toda forma, a presente arguição vai separada em meio próprio, de exceção de litispendência. 13. Por fim, reputa a acusação improcedente, o que restará provado ao longo da instrução, requerendo desde já seja admitida a juntada de depoimentos de testemunhas já ouvidas sob o contraditório, sem necessidade de oitiva delas em Juízo.
6 POSTO ISTO, requer se digne Vossa Excelência receber a presente, com o fim de declarar a nulidade da denúncia em relação às obras da REPAR e da RNEST e, subsidiariamente absolver sumariamente o requerente, ou, em caso de não absolvição, a produção de todas as provas admitidas em direito, a começar pela oitiva das testemunhas que adiante seguem arroladas. Pede deferimento. Curitiba, 3 de outubro de 2016 JACINTO NELSON DE MIRANDA COUTINHO O.A.B./PR nº 8.862 ROBERTO LOPES TELHADA O.A.B./SP nº 24.509 EDWARD ROCHA DE CARVALHO O.A.B./PR nº 35.212
7 Antônio Sérgio Amado Simões, de quem requer seja determinado o traslado de depoimento já prestado nos autos 5083376-05.2014.4.04.7000; Romulo Dante Orrico Filho, de quem requer seja determinado o traslado de depoimento já prestado nos autos 5083376-05.2014.4.04.7000; Sérgio dos Santos Arantes, de quem requer seja determinado o traslado de depoimento já prestado nos autos 5083376-05.2014.4.04.7000; José Paulo de Assis, de quem requer seja determinado o traslado de depoimento já prestado nos autos 5083376-05.2014.4.04.7000; Luís Carlos Rios, de quem requer seja determinado o traslado de depoimento já prestado nos autos 5083376-05.2014.4.04.7000; Sergio de Araújo Costa, de quem requer seja determinado o traslado de depoimento já prestado nos autos 5083376-05.2014.4.04.7000; Mariana Silva, de quem requer seja determinado o traslado de depoimento já prestado nos autos 5083376-05.2014.4.04.7000; Diego Sampaio, de quem requer seja determinado o traslado de depoimento já prestado nos autos 5083376-05.2014.4.04.7000.