PERNAMBUCO TRIDIMENSIONAL: Base de dados espaciais para planejamento urbano e gestão territorial

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Transcrição:

PERNAMBUCO TRIDIMENSIONAL: Base de dados espaciais para planejamento urbano e gestão territorial JOSÉ ALMIR CIRILO 1 ; FELLIPE HENRIQUE BORBA ALVES 2 ; BRUNO DE MELO SILVA 3 ; PEDRO HENRIQUE DE ANDRADE LIMA CAMPOS 4 1 Professor Titular do Centro Acadêmico do Agreste da Universidade Federal de Pernambuco, Caruaru PE, Brasil. Secretário Executivo de Recursos Hídricos da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (SDEC). almir.cirilo@gmail.com 2 Mestrando em Engenharia Civil, Centro de Tecnologia e Geociências, Depto. de Engenharia Civil da UFPE, Recife PE, Brasil. Gestor de Geoprocessamento da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (SDEC). fellipehba@hotmail.com 3 Engenheiro Civil, Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Recife PE, Brasil. bruno_melos@hotmail.com.br 4 Estudante de Graduação em Engenharia Civil no Centro de Tecnologia e Geociências da Universidade Federal de Pernambuco. Recife PE, Brasil. pedrohalcampos@gmail.com RESUMO: Num cenário em que as cidades tendem a se expandir sem planejamento urbano adequado, torna-se um enorme desafio ampliar a infraestrutura de redes de serviços públicos em geral e em particular de abastecimento de água, esgotamento sanitário e drenagem, para atender de forma satisfatória a população. Ao mesmo tempo, é de interesse e obrigação dos gestores promover o respeito ao meio ambiente e aos recursos públicos utilizados e procurar as melhores soluções para ampliar a infraestrutura em geral, de modo a proporcionar o crescimento regional em bases sólidas. Ações como construção de barragens, desenvolvimento de agricultura irrigada e transporte de água, para limitar a discussão às questões hídricas, requerem acima de tudo o adequado conhecimento do território. O programa Pernambuco Tridimensional tem como objetivo maior gerar uma base de apoio às ações de gestão territorial. Este programa está levantando, para todo o território pernambucano, pontos cotados e imagens aéreas de modo a produzir ortofotos na escala 1:5.000 e Modelos Digitais do Terreno e Elevação (MDT s e MDE s) obtidos por meio de perfilamento laser com erro altimétrico melhor que 25cm. Até o momento cerca de 60% do Estado de Pernambuco já foi mapeado, sendo que aproximadamente 35% dos produtos foram entregues e validados. Todos os dados serão disponibilizados gratuitamente através de página na internet, como incentivo ao uso e desenvolvimento de aplicações que fortaleçam a gestão pública de maneira geral e o gerenciamento dos recursos hídricos em particular. Palavras-chave: Gestão pública, planejamento urbano, recobrimento aerofotogramétrico, varredura a laser, geoprocessamento. Tema 3: Água, território e adaptação à variabilidade climática

1. INTRODUÇÃO Ao considerar as dimensões da extensão territorial do Brasil em relação a outros países, pode ser possível mensurar os desafios associados à gestão territorial e ao crescimento das 5.561 sedes municipais. Em muitos casos, o acompanhamento da expansão urbana não é associado por planejamento para ordenar o crescimento das cidades, e consequentemente os problemas surgem, sendo eles mais calamitosos na ocorrência de eventos extremos como chuvas intensas, que impactam as cidades com inundações e deslizamento de encostas. A mitigação dos efeitos de eventos extremos, sejam de natureza eólica, sísmica, geotécnica ou hidrológica, e neste caso se referindo a excesso ou escassez, está inteiramente relacionada ao planejamento territorial. Tais fenômenos são ocorrências naturais que podem ser agravadas com as mudanças climáticas e as alterações localizadas decorrentes da ação antrópica. Considerando que a população é uma variável livre, resta à gestão pública planejar ações que reduzam o perigo e a vulnerabilidade. No caso dos riscos geotécnicos, Gusmão (1995) registra que a maior parte dos municípios da Região Metropolitana do Recife possuem condições de susceptibilidade a deslizamento de encostas, havendo registro de mais de 50 mortes em apenas um ano, por ocasião de chuvas intensas. Ainda segundo o mesmo autor, o monitoramento das chuvas e a elaboração de cartas geotécnicas são essenciais para mapeamento e prevenção de acidentes nas áreas de risco. Tal ação requer fundamentalmente o conhecimento detalhado do relevo. Além dos deslizamentos de terras, as chuvas intensas são responsáveis pelo aumento natural da vazão e nível dos rios. Em áreas onde existe alta urbanização às margens de rios, pode haver graves danos durante eventos extremos. Em 2010 e 2011 Pernambuco teve 10 municípios fortemente atingidos por enchentes severas nas bacias hidrográficas dos rios Una, Mundaú, Paraíba e Sirinhaém. Um conjunto de ações foi executado de imediato para mitigar os efeitos da catástrofe. Logo após a conclusão das ações emergenciais, o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Recursos Hídricos e Energéticos, decidiu contratar o recobrimento aerofotogramétrico e varredura a laser, utilizando a tecnologia LiDAR (Ligth Detection and Ranging), para mapeamento da calha e leito de inundação dos referidos rios e sedes dos municípios atingidos. De posse destes dados, foi possível desenvolver estudos para modelagem do comportamento hidrodinâmico dos rios durante as cheias (Dantas et al, 2014), subsidiar a elaboração de projetos para construção de barragens, ampliação da calha de rios e ações de reconstrução. Posteriormente, surgiu a ideia de estender o trabalho de mapeamento para todo o território do Estado, o que deu origem ao Pernambuco Tridimensional. 2. OBJETIVOS O Programa Pernambuco Tridimensional tem objetivos amplos que visam aplicações em diversas áreas de conhecimento. A apresentação do presente trabalho tem como objetivos: Informar quais os principais produtos fornecidos através do programa Pernambuco Tridimensional

Atualizar o andamento dos serviços já realizados, bem como as áreas onde já existem produtos disponíveis para utilização Divulgar a forma de obtenção dos dados existentes Relacionar aplicações em diversas áreas de atuação como gestão territorial, planejamento urbano, mapeamento de risco geotécnico, implantação de infraestrutura em geral e de obras hídricas em particular, com foco ao controle de cheias. 3. METODOLOGIA O programa Pernambuco Tridimensional teve início em janeiro de 2014. Os serviços contratados visam o recobrimento aerofotogramétrico e perfilamento laser de todo o território pernambucano. Os 98.149km² do Estado de Pernambuco foram subdivididos em 12.962 folhas articuladas. Essas, por sua vez, foram agrupadas em cinco blocos, como pode ser visto na Figura 1. Para cada uma das articulações está sendo elaborado um conjunto de produtos gerados por meio de recobrimento aerofotogramétrico na escala 1:5.000 e outro a partir de varredura a laser utilizando a tecnologia LiDAR. Figura 1. Divisão do Estado de Pernambuco em 5 blocos de mapeamento. A partir do recobrimento aerofotogramétrico estão sendo geradas ortofotos na escala 1:5000, com resolução espacial de 50cm, assim como fotoíndices e seus respectivos metadados. Para o perfilamento laser, os produtos são Imagens de Intensidade Hipsométrica, Modelos Digitais de Elevação e de Terreno nos formatos de arquivo texto com as coordenadas x,y,z de cada ponto, bem como no formato Geotiff, padrão usual para esse tipo de produto. A densidade de pontos cotados é de aproximadamente 1 ponto a cada 2m². Quando concluído o trabalho, a base de dados conterá cotas para aproximadamente 50 bilhões de pontos do território pernambucano. Adicionalmente, as áreas urbanas das sedes de 26 municípios já se encontram mapeadas na escala 1:1000. Essas áreas urbanas totalizam área aproximada de 870 km², a resolução espacial das ortofotos é da ordem de 12cm. Para o perfilamento laser destas cidades, o erro aceitável de altimetria inferior a 10cm, enquanto a densidade média do levantamento é de aproximadamente 4 pontos/m².

As sedes municipais foram selecionadas em função do andamento de projetos para implantação ou ampliação de redes de abastecimento de água e/ou esgotamento sanitário. Em continuação ao programa de construção de barragens na Mata Sul Pernambucana, destinadas ao controle de cheias, estão sendo projetadas novas barragens, já com a utilização da base de dados do Pernambuco Tridimensional, agora para abastecimento de água e para controle de cheias no Agreste Meridional de Pernambuco e no vizinho estado de Alagoas. Todos os dados do mapeamento deverão ser disponibilizados na internet sem custos aos usuários. O acesso aos dados poderá ser feito através do endereço eletrônico www.pe3d.pe.gov.br. Um cadastro precisa ser feito, e logo após, o usuário deve selecionar o tipo de arquivo que deseja obter, escolher as quadrículas que compõem a área de interesse, verificar a lista de produtos disponíveis e realizar o download dos dados. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Andamento dos serviços de mapeamento Em agosto de 2015 o programa Pernambuco Tridimensional apresenta cerca de 60% do território pernambucano mapeado e aproximadamente 35% dos produtos estão disponíveis. Todas as áreas urbanas das 26 sedes municipais foram mapeadas com previsão de recebimento total dos produtos na escala 1:1000 até outubro de 2015. A Figura 2 permite a visualização das áreas onde já existem produtos da escala 1:5000 validados e prontos para o uso. Para estas áreas, podem ser vistos exemplos dos produtos disponíveis na Figura 3. Na Figura 3a é mostrado um exemplo de ortofoto do mapeamento da escala 1:1000. As ortofotos são acompanhadas de arquivos padrão CAD com todas as configurações definidas para impressão das imagens. Na Figura 3b ilustra-se uma imagem de composição de intensidade-hipsometria. Essa composição é feita entre a intensidade de retorno do pulso luminoso emitido pelo laser e a hipsometria que representa a altitude numa escala de cores. Figura 2. Distribuição de áreas com produtos disponíveis em agosto de 2015: - Produtos Disponíveis - Produtos Indisponíveis Os produtos altimétricos do perfilamento laser devem ser analisados em duas condições. A primeira consiste na amostragem de todos os pontos que retornam após a emissão do feixe de luz. Estes pontos formam o Modelo Digital de Elevação (MDE) e são fornecidos num arquivo.x,y,z,i que contém três coordenadas e o percentual de intensidade do retorno de luz. Este conjunto de pontos representa todos os alvos da superfície como edifícios, pontes, vegetação e corpos d água.

Na segunda situação é utilizado um algoritmo de classificação para filtrar os pontos correspondentes aos alvos citados. Estes pontos formam o Modelo Digital do Terreno (MDT) e são fornecidos num arquivo.x,y,z que contém apenas as três coordenadas dos pontos que representam efetivamente a superfície do terreno. Cabe salientar que os dados laser coletados não obtém informações abaixo do nível d agua de rios e reservatórios, havendo baixa precisão da cota de qualquer lâmina de água. A nuvem de pontos para representação de cada modelo é processada e convertida para arquivos de imagens geotiff com resolução espacial de 1m. Nas Figuras 3c e 3d podem ser vistas a representação dos produtos correspondentes ao MDE e MDT, sendo também mostrado um perfil longitudinal obtido para uma mesma seção em cada modelo (Figura 4). Até junho de 2016 espera-se que todo o mapeamento esteja concluído. Os dados disponíveis serão atualizados na página de disponibilização a cada mês. No presente, ao longo da execução dos serviços algumas demandas do estado já vêm sendo atendidas, permitindo assim que se faça o uso imediato da nova base de informações, iniciando-se um processo de redução de custos com serviços de topografia, associado ao ganho de qualidade na fase de planejamento, projeto e concepção de obras de infraestrutura. 4.2 Suporte da base de dados para projeto e construção de obras hídricas Com relação aos resultados obtidos a partir da base de dados altimétricos na calha e adjacências dos rios Una e Mundaú em 2011, devem ser destacados os ganhos de tempo e de qualidade na locação de eixos, elaboração dos estudos de concepção e projetos de barragens. Entre 2012 e 2015, o Governo do Estado de Pernambuco deu início a estudos ou construção de 11 barragens. Destas barragens, oito projetos foram realizados com a base de dados LiDAR obtida em 2011, e suas obras já foram iniciadas. Outras três barragens já foram projetadas utilizando os dados do PE Tridimensional. A Figura 5 mostra a localização do mapeamento da calha dos rios e das primeiras oito barragens em implantação. Para exemplificar o ganho de qualidade que resultou do uso da base LiDAR: o estudo de concepção da barragem de Serro Azul, desenvolvido há 13 anos com base na cartografia então existente, previa, para a cota que hoje define sua capacidade máxima de 303 milhões de m³, apenas um volume de acumulação da ordem de 100 milhões de m³ (TECHNE ENGENHEIROS CONSULTORES, 2002). A Figura 6 mostra a representação no MDE de parte do espelho d água na fase de projeto da barragem Serro Azul, no rio Una, região da Mata Sul pernambucana. A Figura 7 mostra a barragem em construção. 4.3 Suporte à modelagem hidrológica e hidrodinâmica Outra importante linha de aplicação dos dados laser foi o desenvolvimento de sistemas de alerta para controle de cheias (Dantas, 2012, Dantas et al, 2014) e Almeida (2013). O ganho de qualidade na modelagem dos processos hidrológicos e hidrodinâmicos devido aos produtos do perfilamento laser são evidentes. Atualmente está sendo aprimorado um sistema de monitoramento de cheias desenvolvido por Silva (2015), que possibilitará, através de uma mesma plataforma operacional, a previsão de eventos de inundação utilizando a previsão meteorológica e posteriormente o radar meteorológico que está sendo adquirido pelo Estado.

3a 3b 3c Figura 3. Exemplos dos produtos obtidos a partir do mapeamento PE Tridimensional. 3a Ortofoto; 3b Composição de intensidade-hipsométrica; 3c Modelo Digital de Elevação, 3d Modelo Digital do Terreno. 3d

Cota (m) 397 396 ÁRVORE Perfil MDT CASA Perfil MDE CASA 395 394 ÁRVORE 393 RUA 392 391 0 10 20 30 40 50 60 Extensão (m) Figura 4. Comparativo entre seções obtidas a partir do Modelo Digital de Elevação e do Modelo Digital do Terreno com resolução espacial de 50cm. Figura 5. Áreas mapeadas na bacia dos rios Una, Mundaú e Sirinhaém, e localização de oito barragens em execução As ferramentas desenvolvidas possibilitam, atualmente, a geração de cenários prevendo a operação das barragens de controle de cheia na bacia do rio Una, a mais atingida nos eventos de 2010 e 2011. Espera-se que na próxima estação chuvosa as barragens possam ser operadas para esse fim. A plataforma de simulação foi desenvolvida sobre as ferramentas do Hydrologic Engineering Center HEC, sendo utilizado o Hydrologic Modeling System HEC-HMS (USACE, 2013) e o River Analysis System HEC-RAS, (USACE, 2010).

Figura 6. Representação esquemática do barramento e espelho d água de Serro Azul. Figura 7. Imagens da construção da barragem de Serro Azul no início e com 80% de execução.

Vazão, (m³/s) Como exemplo, apresenta-se na Figura 8 o hidrograma simulado para o evento de cheia de 2010, comparado com as vazões que efetivamente chegariam às cidades atingidas se as quatro barragens em construção (Serro Azul, Igarapeba, Panelas e Gatos) estivessem operando: redução de 57% da vazão máxima. A Figura 9 representa em tons mais claros as áreas que seriam inundadas na cidade de Palmares com a retenção pelas barragens (a maior parte nos limites não habitados da cidade). Em tom mais escuro, a área inundada em 2010. SIMULAÇÃO SEM BARRAGENS SIMULAÇÃO COM BARRAGENS 2500 2000 1500 1000 500 0 0 12 24 36 48 60 72 Tempo, (h) Figura 8. Vazões simuladas para o evento de junho de 2010 no rio Una, seção na entrada da cidade de Palmares. Figura 9. Impacto simulado da inundação em 2010 na cidade de Palmares com e sem a retenção de água pelas barragens.

5. CONCLUSÃO O programa Pernambuco Tridimensional está sendo desenvolvido para se tornar uma importante ferramenta de gestão e planejamento territorial no Estado de Pernambuco. A realização dos serviços encontra-se em andamento, no entanto aproximadamente 35% dos produtos já se está disponível para utilização. A partir destes dados foram desenvolvidas aplicações para monitoramento e prevenção dos efeitos de enchentes, sendo esperado que diversas outras surjam nas mais diversas áreas de conhecimento, como monitoramento de riscos geotécnicos e ações de controle de erosão, projetos de redes de água, esgoto, linhas de transmissão, estradas, planejamento urbano, ações de controle e recuperação ambiental, implantação de empreendimentos agrícolas e industriais e muitas outras ações voltadas ao desenvolvimento, com amplas possibilidades para realização dessas ações dentro de princípios sustentáveis de gestão. 6. REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. M. (2013). Modelagem do acompanhamento e controle de cheias em bacias hidrográficas de grande variação de altitude. Estudo de caso: Bacia do rio Mundaú, 107p. Dissertação de Mestrado Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco, Recife. DANTAS, C. E. O. (2012). Previsão e controle de inundações em meio urbano com suporte de informações espaciais de alta resolução, 212p. Tese de Doutorado Programa de Pós- Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco, Recife. DANTAS, C.E.O., CIRILO, J. A., RIBEIRO NETO, A., SILVA, E. R. (2014). Caracterização da Formação de Cheias na Bacia do Rio Una em Pernambuco - Análise Estatística Regional. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, V. 19, N.4. GUSMÃO FILHO, J. A. A experiência de encostas ocupadas do Recife. Conferência. Revista do Instituto Geológico, São Paulo, Volume Especial. p. 09-22. 1995. Disponível em: <http://ppegeo.igc.usp.br/pdf/rig/v16nesp/v16nespa02.pdf>. Acesso em: 28 agosto 2015. RIBEIRO NETO, A.; CIRILO, J. A.; DANTAS, C.E.O.; SILVA, E. R. (2015). Caracterização da Formação de Cheias na Bacia do Rio Una em Pernambuco Simulação Hidrológica- Hidrodinâmica. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v. 20, p. 394-403. SILVA, E. R. (2015). Modelagem Integrada para Controle de Cheias, Previsão e Alerta de Inundações: Estudo de Caso da Bacia do Rio Una em Pernambuco, 144p. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco, Recife. TECHNE ENGENHEIROS CONSULTORES. (2002) Relatório Preliminar (Anteprojeto) de Três Barramentos para o Controle de Cheias na Bacia do Rio Una PE. UNITED STATES ARMY CORPS ENGINEERS USACE (2010). HEC-RAS River Analysis System. Hydrologic Engineering Center (HEC). Davis, Califórnia, USA. UNITED STATES ARMY CORPS ENGINEERS USACE (2013). HEC-HMS River Analysis System. Hydrologic Engineering Center (HEC). Davis, Califórnia, USA.