VIABILIDADE ECONÔMICA DA IRRIGAÇÃO NA CULTURA DO PÊSSEGO NA SERRA GAÚCHA, RS R.O.C. MONTEIRO 1 ; A. ZANON 2 ; O. ANZOLIN 2 ; L.F.P. ORTIZ 2 RESUMO: O cultivo do pêssego é uma das atividades agrícolas de maior expressividade na Serra Gaúcha, sendo a região uma das 3 regiões-pólo de produção do Rio Grande do Sul. Nas regiões de Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Veranópolis, Farroupilha, Flores da Cunha, Nova Pádua, Antônio Prado, Ipê, Pinto Bandeira e Campestre da Serra, a cultura encontra clima e solos favoráveis para o seu desenvolvimento, no entanto, nos últimos anos, devido à escassez de chuvas por períodos longos, vários produtores passaram a se interessar pela implantação de sistemas de irrigação em suas áreas. Entretanto, como esta tecnologia demanda alto investimento, este trabalho se propôs a estudar os efeitos do custo de aquisição e a vida útil do sistema de irrigação sobre a viabilidade econômica na cultura do pêssego de ciclo tardio, a partir de dados coletados na região. Concluiu-se que a vida útil do equipamento exigiu um incremento de produtividade que variou de 11,6 a 149,1%, enquanto que o preço de aquisição exigiu de 8,9 até 125,2% de incremento de produtividade desde um sistema mais básico convencional com a cultura em produção estabilizada até um sistema de irrigação automatizado de alto custo no primeiro ano de produção da cultura. PALAVRAS-CHAVE: análise econômica, preço de aquisição, vida útil. INTRODUÇÃO Um contingente populacional bastante considerável na região da Serra Gaúcha tem na produção de pêssego sua sustentação econômica e social. Altitudes de até 750 m acima do nível do mar e umidade relativa do ar entre 70% e 80% permitem a exploração comercial do pêssego (Embrapa CNPUV, 2009a). Nas regiões de Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Veranópolis, Farroupilha, Flores da Cunha, Nova Pádua, Antônio Prado, Ipê, Pinto Bandeira e Campestre da Serra, a cultura do pêssego encontra clima favorável para o seu 1 Eng.º Agrônomo, Prof. Dr. em Irrigação e Drenagem, IFRS campus Bento Gonçalves, Av. Osvaldo Aranha, 540, CEP 95.700-000, Bento Gonçalves, RS. Fone (54) 3455-3200. email: rodrigo.monteiro@bento.ifrs.edu.br. 2 Estudante do Curso Técnico em Agricultura, IFRS campus Bento Gonçalves, Av. Osvaldo Aranha, 540, CEP 95.700-000, Bento Gonçalves, RS. Fone (54) 3455-3200.
desenvolvimento. Na safra 2000/2001, a região produziu cerca de 46 mil toneladas de pêssego que, na sua totalidade, são destinadas ao mercado de consumo in natura, numa área de aproximadamente 3.200 ha, o que representa uma produtividade superior a 14 Mg ha -1. A região tem potencial para aumentar a sua produtividade com o incremento de tecnologias que até então não eram demandadas, como a irrigação que, nos últimos anos, passou a ser uma necessidade devido à escassez de chuvas e a má distribuição pluviométrica da região. Vários produtores passaram a se interessar pela implantação de sistemas de irrigação em suas áreas. A grande maioria destes, no entanto, têm dúvidas para responder a duas perguntas: qual o acréscimo de produtividade da cultura que compensaria a instalação do sistema de irrigação em seus pomares de pessegueiros? Como a vida útil deste sistema pode interferir na viabilidade econômica da instalação do sistema de irrigação? Frizzone (1995) lembra que a irrigação é um fator tecnológico que demanda alto investimento inicial, com alto custo operacional devido ao gasto com energia para bombeamento da água e, em alguns casos, gastos com mão-de-obra para o manejo dos equipamentos. Neste sentido, este trabalho tem com objetivo estudar os efeitos do custo de aquisição e vida útil do equipamento sobre a viabilidade econômica da irrigação na cultura do pêssego de ciclo tardio. MATERIAL E MÉTODOS Os dados médios utilizados no estudo da viabilidade econômica são oriundos da região de Farroupilha, Caxias do Sul e Pinto Bandeira (Bento Gonçalves), Rio Grande do Sul e podem ser observados na Tabela 1. Considerou-se que, o emprego da irrigação na cultura do pêssego somente será economicamente viável se o incremento de produção for suficiente para gerar uma receita líquida maior que o incremento de custo anual do projeto. Por conseguinte, tal incremento foi calculado por: ( Pci Pcs 100) 00 IP = (1) em que IP é o incremento de produtividade necessário para viabilizar o emprego da irrigação, %, Pci é a produtividade da cultura irrigada, Mg ha -1 ano -1, Pcs é a produtividade da cultura de sequeiro, Mg ha -1 ano -1.
Tabela 1. Dados médios utilizados no estudo da viabilidade econômica da irrigação em pessegueiro de ciclo tardio - Bento Gonçalves, RS 2009. Caracterização Unidade Valor Potência do sistema de irrigação cv ha -1 2 Preço de aquisição do sistema de irrigação com motor elétrico US$ ha -1 1.900,00-4.614,54 Vida útil do sistema de irrigação anos 5-20 Tempo de operação do sistema de irrigação h dia -1 1 Tempo de irrigação no período com tarifa de energia reduzida h dia -1 1 Período de operação do sistema de irrigação meses ano -1 4 Taxa anual de juros % 12 Custo da energia instalada 1 US$ kw -1 2,50 Custo da energia consumida 1 US$ kw -1.h -1 0,015 Custo de aquisição da rede elétrica US$ km -1 3.700,00 Comprimento da rede elétrica km 0,04 Redução na tarifa de energia % 90 Espaçamento entre linhas e entre plantas m 5,0 X 2,0 Área Irrigada ha 2 Intensidade de aplicação do emissor mm h -1 2 Produtividade da cultura não irrigada Mg ha -1 ano -1 3,0 20,0 Preço de venda do Produto 2 US$ Mg -1 245,00 Evapotranspiração de referência média anual (ETo) 3 mm dia -1 2,6 Coeficiente da Cultura (Kc) 4-0,8 Evapotranspiração da cultura média anual (ETc) 5 mm dia -1 2,1 1 http://www.rge-rs.com.br/informese/tarifas.asp; 2 Fonte: http://www.ceasa.rs.gov.br/; 3 Fonte: http://www.cnpuv.embrapa.br/; 4 Doorenbos e Pruitt (1977); 5 ETc = ETo Kc Considerou-se ainda que para a viabilidade econômica do projeto, a receita líquida do pomar irrigado deveria ser, no mínimo, igual à receita líquida do pomar de sequeiro: [( Pcs Pp) + CTA] Pci = Pp (2) em que Pp é o preço de venda do produto, US$ Mg -1, CTA é o custo total anual do projeto de irrigação, US$ ha -1 ano -1, calculado por CTA = CFA + CVA (3) em que CVA é o custo variável anual, US$ ha -1 ano -1,CFA é o custo fixo anual, US$ ha -1 ano -1 : ( FRC Csi) CFA = (4) em que Csi é o preço de aquisição do sistema de irrigação, US$ ha -1, FRC é o fator de recuperação do capital obtido por: VU [( j 100 ) ( j 100 ) + 1) ] ( j 100 1 ) + 1) VU [ ] 1 FRC = (5) em que j é a taxa anual de juros, %, VU é a vida útil do projeto, anos. O custo CVA foi dado por:
CVA = Ce + Cm + Mo (6) em que Mo é o custo da mão-de-obra para a operação do sistema, US$ ha -1 ano -1, Cm é o custo da manutenção do equipamento (PRONI, 1987), US$ ha -1 ano -1, Ce é o custo total anual da energia, US$ ha -1 ano -1, obtido de acordo com BRASIL (1988): Ce = FDA + FCA (8) em que FCA é o faturamento de consumo anual, US$ ha -1 ano -1, FDA é o faturamento de demanda anual, US$ ha -1 ano -1, dado por: ( 12 Cei ) ( 1,36 ) 1 FDA = Pi (9) em que Cei é o custo da energia instalada, US$ ha -1 ano -1, Pi é a potência instalada, cv ha -1 e FCA : FCA 1 [ ( 100 ) 100 ) ( ) ] 1 Tr Cec Rt + T Tr Cecc = 30 M T Pi 1,36 T em que Tr é o tempo de funcionamento da irrigação no período de tarifa de energia reduzida, h dia -1, Rt é a redução na tarifa de energia, %, Cec o custo da energia consumida, US$ kw -1. A análise de sensibilidade foi realizada simulando-se em planilhas eletrônicas diversas situações, em que se variou o preço e a vida útil do equipamento de irrigação, mantendo-se as demais variáveis com valores médios e constantes. (10) RESULTADOS E DISCUSSÃO Como esperado, o preço de aquisição do equipamento de irrigação, que está diretamente relacionado à qualidade do material empregado e às características específicas de cada projeto, influenciou o incremento de produtividade, necessário para viabilizar a irrigação na cultura do pêssego, o que pode ser visualizado na Figura 1a. Considerando que a produtividade estava relacionada ao estádio de desenvolvimento da cultura, verifica-se na Figura 1a que o incremento de produtividade necessário para se viabilizar a irrigação alcançou valores de até 125,2%. Este incremento foi resultado da condição mais extrema, ou seja, equipamento com o maior custo de aquisição e cultura no primeiro ano de produção. Todavia, se for considerado a produtividade provável quando a cultura atinge a estabilidade de produção e o custo mais baixo de aquisição, ou mesmo o mais alto, o incremento passa a ser relativamente pequeno, variando de 8,9 a 18,8%.
Incremento de produtividade (%) 120.0 100.0 80.0 60.0 40.0 20.0 US$1.900,10/ha US$2.443,00/ha US$2.985,88/ha US$3.528,77/ha US$4.071,61/ha US$4.614,54/ha (a) Incremento de produtividade (%) 140.0 120.0 100.0 80.0 60.0 40.0 20.0 5 anos de vida útil 10 anos de vida útil 20 anos de vida útil (b) 0.0 3.0 6.5 13.0 20.0 0.0 3.0 6.5 13.0 20.0 Produtividade (Mg.ha -1.ano -1 ) Produtividade (Mg.ha -1.ano -1 ) Figura 1. Variação da necessidade de incremento de produtividade (%) com o preço (a) e vida útil (b) do equipamento irrigação. Da mesma forma, a vida útil do equipamento de irrigação também influenciou o incremento de produtividade. De acordo com Figura 1b, a vida útil do equipamento fez com que o incremento de produtividade alcançasse valores ao redor de 149,1%. Quando comparados os equipamentos com vida útil de 5, com os de 10 e com os de 20 anos, os incrementos de produtividade foram 63,2 e 51,8% maiores, respectivamente. Por conseguinte, isto mostra que nem sempre é economicamente viável optar por equipamentos de menor custo de aquisição e vida útil. Além disso, deve-se considerar que um equipamento com preço muito baixo pode possuir partes de baixa qualidade, que exigem manutenções ou substituições freqüentes, apresentando baixa eficiência e uniformidade de distribuição de água, assim como tubulações de menor diâmetro, que provocam maior perda de carga e consumo de energia. É interessante ressaltar que quando a cultura encontra-se em estabilidade de produção e o irrigante escolhe um sistema de irrigação de custo intermediário (US$ ha -1 3.528,77), a necessidade de incremento de produtividade fica em torno de 14,8%, o que pode ser alcançado sem maiores problemas, desconsiderando, ainda, a possibilidade de se aplicar fertilizantes via água de irrigação, o que certamente aumentaria, mais ainda, a produtividade da cultura e a eficiência de aproveitamento de nutrientes e, por extensão, redução do custo com adubos e com a mão-de-obra para aplicações destes.
CONCLUSÕES Nas condições em que este trabalho foi realizado concluiu-se que a vida útil do equipamento exigiu um incremento de produtividade que variou de 11,6 a 149,1%, enquanto que o preço de aquisição exigiu de 8,9 até 125,2% de incremento de produtividade desde um sistema mais básico convencional com a cultura em produção estabilizada até um sistema de irrigação automatizado de alto custo no primeiro ano de produção da cultura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Comitê de Distribuição de Energia Elétrica. Tarifas horosazonais, manual de orientação ao consumidor. Rio de Janeiro: CODI, 1988. 28 p. DOORENBOS, J.; PRUITT, W.O. Crop water requirements. Rome: FAO, 1977. (FAO. Irrigation and Drainage paper, 24). EMBRAPA UVA E VINHO. 2009a. Sistema de Produção de Pêssego de Mesa na Região da Serra Gaúcha. Disponível em: <http://www.cnpuv.embrapa.br/publica/sprod/pessegodemesaregiaoserragaucha/>. Acesso em: 03 set. 2009. EMBRAPA UVA E VINHO. 2009b. Dados meteorológicos. Disponível em: <http://www.cnpuv.embrapa.br/>. Acesso em: 03 set. 2009. FRIZZONE, J.A. Aspectos econômicos da irrigação do feijão. Preços Agrícolas, n. 105, p. 6-7, 1995. PRONI - PROGRAMA NACIONAL DE IRRIGAÇÃO - Tempo de irrigar: manual do irrigante. São Paulo: Mater, Fundação Victor Civita. 1987. 160 p.