Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças atendidas em uma unidade básica de saúde no município de Antônio Prado (RS)

Documentos relacionados
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: RELAÇÃO ENTRE INATIVIDADE FÍSICA E ÍNDICE DE MASSA CORPORAL EM CRIANÇAS DA REDE MUNICIPAL DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO PE.

PERFIL NUTRICIONAL DE ESCOLARES DA REDE MUNICIPAL DE CAMBIRA- PR

RELAÇÃO ENTRE O NOVO ÍNDICE DE ADIPOSIDADE CORPORAL COM O ÍNDICE DE MASSA CORPORAL EM CRIANÇAS. Ivair Danziger Araújo

AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA DE IDOSOS FREQUENTADORES DE UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE

ÍNDICE. CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO Introdução Pertinência do trabalho Objectivos e Hipóteses de Estudo...

Avaliação do Índice de Massa Corporal em crianças de escola municipal de Barbacena MG, 2016.

Avaliação e Interpretação da Pressão Arterial na Infância

PREVALÊNCIA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL E A RELAÇÃO CINTURA/QUADRIL (RCQ ) E ÍNDICE DE MASSA CORPORAL (IMC) EM ESTUDANTES

PERFIL NUTRICIONAL E PREVALÊNCIA DE DOENÇAS EM PACIENTES ATENDIDOS NO LABORATÓRIO DE NUTRIÇÃO CLÍNICA DA UNIFRA 1

AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO NOS PRIMEIROS ANOS DE VIDA

Curso: Nutrição. Disciplina: Avaliação Nutricional Professora: Esp. Keilla Cardoso Outubro/2016

PERFIL ANTROPOMÉTRICO DOS POLICIAIS MILITARES DE UM BATALHÃO DO MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO RIO DE JANEIRO

PROMOÇÃO DA SAÚDE FATORES DE RISCO PARA DOENÇAS CARDIOVASCULARES EM FATIMA DO PIAUÍ.

AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA EM CRIANÇAS DE UMA CRECHE NA CIDADE DE FORTALEZA UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

COMPOSIÇÃO CORPORAL: análise e comparação entre alunos do ensino fundamental do município de Muzambinho e Guaxupé

Introdução. Nutricionista FACISA/UNIVIÇOSA. 2

Os escolares das Escolas Municipais de Ensino Fundamental

Índice de massa corporal e prevalência de doenças crônicas não transmissíveis em idosos institucionalizados

EXCESSO DE PESO, OBESIDADE ABDOMINAL E NÍVEIS PRESSÓRICOS EM UNIVERSITÁRIOS

Avaliação Nutricional

INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NAS MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DE COLABORADORES DE UMA PANIFICADORA

Apostila de Avaliação Nutricional NUT/UFS 2010 CAPÍTULO 3 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL ADULTOS

DIAGNÓSTICO DA PREVALÊNCIA DA OBESIDADE INFANTIL NO ENSINO FUNDAMENTAL DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE CORNÉLIO PROCÓPIO

PERFIL ANTROPOMÉTRICO DE ESCOLARES DE 10 A 14 ANOS DA CIDADE DE JOAÍMA, SITUADA NA ZONA DO MÉDIO JEQUITINHONHA - MINAS GERAIS RESUMO

PERFIL ANTROPOMÉTRICO DOS USUÁRIOS DE CENTROS DE CONVIVÊNCIA PARA IDOSOS NO MUNICÍPIO DE NATAL- RN

RELAÇÃO ENTRE CIRCUNFÊRENCIA DE PESCOÇO E OUTRAS MEDIDAS INDICADORAS DE ADIPOSIDADE CORPORAL EM MULHERES COM SOBREPESO E OBESIDADE.

FATORES ASSOCIADOS À DESISTÊNCIA DE PROGRAMAS MULTIPROFISSIONAIS DE TRATAMENTO DA OBESIDADE EM ADOLESCENTES

FACULDADE PITÁGORAS TÓPICOS ESPECIAIS EM NUTRIÇÃO I AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DO PACIENTE ACAMADO

RELAÇÃO ENTRE INDICADORES DE MUSCULATURA E DE ADIPOSIDADE COM MASSA CORPORAL E RISCO CARDIOVASCULAR EM IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS

Professora adjunta da Faculdade de Nutrição/UFPEL Campus Universitário - UFPEL - Caixa Postal CEP

ÍNDICE GERAL ÍNDICE GERAL ÍNDICE DE TABELAS ÍNDICE DE FIGURAS LISTA DE ABREVIATURAS RESUMO ABSTRACT VII IX X XI XII

TÍTULO: PREVALÊNCIA DE SOBREPESO E OBESIDADE EM CRIANÇAS PRÉ-ESCOLARES DE ESCOLAS MUNICIPAIS DA ZONA SUL DE SÃO PAULO

FIEP BULLETIN - Volume 82 - Special Edition - ARTICLE I (

COMPOSIÇÃO CORPORAL DE ESCOLARES DA REDE DE ENSINO PÚBLICA E PRIVADA EM UMA CIDADE DA REGIÃO NORTE RESUMO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO

LEVANTAMENTO DOS FATORES DE RISCO PARA OBESIDADE INFANTIL E HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA ENTRE ESCOLARES DO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO-CE

PERFIL NUTRICIONAL DE ESCOLARES DAS ESCOLAS DE CANÁPOLIS/MG E CAMPO ALEGRE DE GOIÁS/GO

ISSN Prevalência de excesso de peso infantil... Ribeiro, G. M.; Silva, L. M. L; Ibiapina, D. F. N. PESQUISA

ANÁLISE COMPARATIVA DE SOBREPESO E OBESIDADE NO ENSINO FUNDAMENTAL EM UMA ESCOLA PARTICULAR E UMA ESCOLA PÚBLICA DE FORTALEZA.

PERFIL NUTRICIONAL DE CRIANÇAS EM ESCOLA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE PIRAQUARA NUTRITIONAL PROFILE OF PUBLIC SCHOOL CHILDREN IN THE TOWN OF PIRAQUARA

AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E DO RISCO CARDIOVASCULAR DA CORPORAÇÃO DE BOMBEIROS DE MARINGÁ/PR

ESTADO NUTRICIONAL DE ESCOLARES DA REDE PÚBLICA DE GUARAPUAVA, PR. PALAVRAS-CHAVE: crianças; diagnóstico nutricional; obesidade; desnutrição.

AULA 2 Fatores de Risco para Crianças e Adolescentes

3. Material e Métodos

PERFIL CLÍNICO E NUTRICIONAL DOS INDIVÍDUOS ATENDIDOS EM UM AMBULATÓRIO DE NUTRIÇÃO DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO (HUPAA/UFAL)

AUTOR(ES): LUIS FERNANDO ROCHA, ACKTISON WENZEL SOTANA, ANDRÉ LUIS GOMES, CAIO CÉSAR OLIVEIRA DE SOUZA, CLEBER CARLOS SILVA

ESCOLA MUNICIPAL LEITÃO DA CUNHA PROJETO BOM DE PESO

DIFERENÇAS NA COMPOSIÇÃO CORPORAL DE ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS E PARTICULARES RESUMO

ANÁLISE DO CRESCIMENTO CORPORAL DE CRIANÇAS DE 0 À 2 ANOS EM CRECHES MUNICIPAIS DE GOIÂNIA

EXCESSO DE PESO E FATORES ASSOCIADOS EM IDOSOS ASSISTIDOS PELO NASF DO MUNICÍPIO DE PATOS-PB

Quais os indicadores para diagnóstico nutricional?

Avaliação antropométrica de crianças

Avaliação nutricional e percepção corporal em adolescentes de uma escola pública do município de Barbacena, Minas Gerais

TÍTULO: ÍNDICE DE CONICIDADE EM ADULTOS SEDENTÁRIOS DA CIDADE DE CAMPO GRANDE-MS

EFEITOS DE DOIS PROTOCOLOS DE TREINAMENTO FÍSICO SOBRE O PESO CORPORAL E A COMPOSIÇÃO CORPORAL DE MULHERES OBESAS

AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS MENORES DE DOIS ANOS ATENDIDAS NA USF VIVER BEM DO MUNICIPIO DE JOÃO PESSOA-PB

INFLUÊNCIA DO EXCESSO DE PESO NA FORÇA MUSCULAR DE TRONCO DE MULHERES

Avaliação e Classificação do Estado Nutricional

COMO MEDIR A PRESSÃO ARTERIAL

PROMOÇÃO DA SAÚDE NUTRICIONAL DE ESCOLARES DO ENSINO FUNDAMENTAL DO MUNICIPIO DE FOZ DO IGUAÇU-PR.

O CRESCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS DE UMA ESCOLA MUNICIPAL¹

Avaliação da composição corporal de acadêmicos dos cursos de educação física e nutrição

UTILIZAÇÃO DE AVALIAÇÕES FÍSICAS PARA DIAGNÓSTICO DE SAÚDE DOS SERVIDORES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ

Obesidade Infantil. Nutrição & Atenção à Saúde. Grupo: Camila Barbosa, Clarisse Morioka, Laura Azevedo, Letícia Takarabe e Nathália Saffioti.

QUAL O IMC DOS ALUNOS CURSOS TÉCNICOS INTEGRADOS AO ENSINO MÉDIO NO IFTM CAMPUS UBERLÂNDIA?

25 a 28 de novembro de 2014 Câmpus de Palmas

IMC DOS ALUNOS DO 4º PERÍODO DO CURSO TÉCNICO EM ALIMENTOS DO INSTITUTO FEDERAL DE GOIÁS CAMPI/INHUMAS.

PERFIL CLÍNICO, ANTROPOMÉTRICO E AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR EM IDOSOS COM HIPERTENSÃO ARTERIAL NO MUNICÍPIO DE SANTA CRUZ-RN

ASSOCIAÇÃO ENTRE PRESSÃO ARTERIAL ELEVADA E DOENÇAS CARDIOVASCULARES EM CRIANÇAS COM SOBREPESO/OBESIDADE

Co-orientadora Profa. Dra. da Faculdade de Nutrição/UFG,

IV Mostra Interna de Trabalhos de Iniciação Científica do Cesumar 20 a 24 de outubro de 2008

Incorporação das novas curvas de crescimento da Organização Mundial da Saúde na Vigilância Nutricional

SEMINÁRIO TRANSDISCIPLINAR DA SAÚDE - nº 04 - ano 2016 ISSN:

Guias sobre tratamento da obesidade infantil

Weliton Nepomuceno Rodrigues 2, Larissa Luiza Fonseca Ferreira 2, Eliangela Saraiva Oliveira Pinto 3

PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS A SÍNDROME METABÓLICA EM ADOLESCENTES COM EXCESSO DE PESO

PERFIL NUTRICIONAL DAS CRIANÇAS QUE FREQUENTAM OS CENTROS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO INFANTIL DE JANDAIA DO SUL PR

Ana Paula Aires², Ariane de Oliveira Botega², Flaviana Pedron², Gabriela Pinto², Naiani Ramos², Priscila Pereira² e Ana Lúcia de Freitas Saccol³

Comparação e Avaliação da Concordância entre Pressão Arterial Periférica (Casual e Ambulatorial) em Idosas Fisicamente Ativas

Apostila de Avaliação Nutricional NUT/UFS 2010 CAPÍTULO 2 AVALIAÇÃO NUTRICIONAL ADOLESCENTES

MUDANÇA DE COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE INDIVÍDUOS PARTICIPANTES DE UM AMBULATÓRIO DE NUTRIÇÃO

1. Tabela de peso e estatura (percentil 50) utilizando como referencial o NCHS 77/8 - gênero masculino

DIETOTERAPIA INFANTIL DOENÇAS CRÔNICAS NA INFÂNCIA OBESIDADE

AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE GESTANTES ATENDIDAS NOS ESF DO MUNICÍPIO DE SÃO LUDGERO NO ANO DE 2007

ESTADO NUTRICIONAL E FREQUÊNCIA ALIMENTAR DE PACIENTES COM DIABETES MELLITUS

PERFIL DO ÍNDICE DE MASSA CORPORAL DOS ESCOLARES INGRESSOS NO INSTITUTO FEDERAL DO TOCANTINS Campus Paraíso do Tocantins

FATORES DE RISCO PARA O DIAGNÓSTICO DA SÍNDROME METABÓLICA EM ADOLESCENTES SOBREPESOS, OBESOS E SUPEROBESOS

PREVALÊNCIA DE PRESSÃO ARTERIAL ELEVADA EM ADOLESCENTES DE ACORDO COM ÍNDICE DE MASSA CORPORAL E NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA

12. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 1 ÍNDICE DE MASSA CORPORAL DE ALUNOS DO PROJETO ESCOLA DA BOLA COM BASE NOS TESTES DA PROESP-BR

KARLA DE TOLEDO CANDIDO AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL DE PRÉ- ESCOLARES DE CEINFS MUNICIPAIS DE CAMPO GRANDE - MS

CONEXÃO FAMETRO: ÉTICA, CIDADANIA E SUSTENTABILIDADE XII SEMANA ACADÊMICA ISSN:

PERFIL NUTRICIONAL DE HIPERTENSOS ATENDIDOS NO POSTO DE SAÚDE DA FAMÍLIA NO BAIRRO CRISTAL/HARMONIA-RS

PREVALÊNCIA DE SÍNDROME METABÓLICA EM PACIENTES HOSPITALIZADOS

1 Professores do Curso de Educação Física, NOVAFAPI

PERFIL NUTRICIONAL E CONSUMO DE AÇÚCAR SIMPLES COMO FATOR DE RISCO NO DESENVOLVIMENTO DE OBESIDADE INFANTIL

PERFIL NUTRICIONAL E DE SAÚDE DE IDOSOS DIABÉTICOS ATENDIDOS NO AMBULATÓRIO DE NUTRIÇÃO DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO LAURO WANDERLEY

DIABETES MELLITUS E HIPERTENSÃO ARTERIAL EM POPULAÇÃO ATENDIDA DURANTE ESTÁGIO EM NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA DA UNIVERSIDADE DO SAGRADO CORAÇÃO

Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento ISSN versão eletrônica

Transcrição:

Artigo original Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças atendidas em uma unidade básica de saúde no município de Antônio Prado (RS) Prevalence of overweight and obesity in children assisted in a Basic Health Care Unit at the city of Antônio Prado, Rio Grande do Sul, Brazil Cláudia Meneguzzo 1, Simone Rufatto Ricalde 2, Jacqueline Schaurich dos Santos 3, Karina Giane Mendes 4 Resumo O aumento alarmante do excesso de peso na infância constitui um sério problema de Saúde Pública, devido ao aparecimento precoce de doenças associadas. O objetivo deste estudo foi verificar as prevalências de sobrepeso e obesidade em crianças atendidas em uma Unidade Básica de Saúde além de sua relação com a elevação da pressão arterial (PA) e os valores da circunferência muscular braquial (CMB). Foram avaliadas 65 crianças de ambos os sexos, com idades entre dois e dez anos. Para a determinação de sobrepeso e obesidade, foi utilizado o índice de massa corporal, sendo os valores estratificados na forma de escore-z. Foram analisadas as adequações de peso/idade (P/I) e estatura/idade (E/I), medida da dobra cutânea tricipital e da circunferência braquial para posterior cálculo da CMB e verificação da PA. As prevalências de sobrepeso e obesidade foram de 24,61 e 13,84%, respectivamente. Para a variável P/I, 23,07% dos indivíduos encontravam-se com peso elevado, e para E/I, 96,9% apresentaram estatura adequada para idade. Do total da amostra, 40% dos indivíduos apresentaram pré-hipertensão e 3,07%, hipertensão estágio I. A prevalência de excesso de peso encontrada nas crianças avaliadas mostrou-se elevada, confirmando a magnitude do problema. Palavras-chave: Prevalência, sobrepeso, obesidade, criança, pressão arterial Abstract The alarming increase of overweight in childhood is a serious Public Health problem due to the early onset of diseases related to it. The goal of this study was to verify the prevalences of overweight and obesity in children seen in a Basic Health Care Unit, besides its relation with the high blood pressure (BP) and the values of the muscle circumference of the arm (MCA). Sixty-five children from both genders and with ages between two and ten years old were evaluated. To determine overweight and obesity, the body mass index was applied with the values stratified at the Z-score. The right weight/age (W/A) and height/ age (H/A), the measurement of the triceps skin fold and the circumference of the arm for a post calculation of the MCA and assessment of BP were analyzed. The overweight and obesity prevalences were 24.61 and 13.84%, respectively. For the W/A variable, 23.07% of the children were overweight, and for H/A, 96.9% had the right height per age. From the total of the sample, 40% of the children presented pre-high blood pressure and 3.07% presented high BP level 1. The prevalence of overweight found in the assessed children was high, confirming the magnitude of the problem. Key words: Prevalence, overweight, obesity, child, blood pressure 1 Acadêmica do Curso de Nutrição do Centro de Ciências da Saúde da Universidade de Caxias do Sul (UCS). End.: Rua 7 de Setembro, 292, apto. 401 Centro Antônio Prado (RS) CEP: 95250-000 E-mail: claudiameneguzzo@ibest.com.br 2 Mestre em Bioquímica. Professora do Curso de Nutrição do Centro de Ciências da Saúde da UCS. 3 Mestre em Endocrinologia. Professora do Curso de Nutrição do Centro de Ciências da Saúde da UCS. 4 Mestre em Saúde Coletiva. Professora do Curso de Nutrição do Centro de Ciências da Saúde da UCS. Cad. Saúde Colet., 2010, Rio de Janeiro, 18 (2): 275-81 275

Cláudia Meneguzzo, Simone Rufatto Ricalde, Jacqueline Schaurich dos Santos, Karina Giane Mendes Introdução A obesidade pode ser definida pelo acúmulo excessivo de gordura no organismo, sendo caracterizada como uma doença não-transmissível, com envolvimento de fatores ambientais, comportamentais e genéticos (Souza et al., 2007). Quantitativamente, o excesso de peso pode ser descrito por meio dos pontos de corte estabelecidos para crianças e adolescentes de 2 a 20 anos, considerando-se como sobrepeso o valor do índice de massa corporal (IMC), de acordo com a idade, acima do percentil 85 e obesidade acima do percentil 95, segundo Giuliano e Melo (2004). Na faixa etária adulta, classificam-se com sobrepeso os indivíduos com IMC entre 25 a 30 kg/m 2, e foram considerados obesos os indivíduos acima de 30 kg/m 2 (Bueno e Fisberg, 2006). Entre as principais causas da obesidade estão a ingestão alimentar excessiva e o baixo dispêndio de energia; entretanto, existem diversos fatores que atuam de forma isolada ou conjuntamente, favorecendo o acúmulo de tecido adiposo de forma gradual, entre eles, o sedentarismo (Suñé et al., 2007). O aumento alarmante do excesso de peso evidenciado na população infantil tornou-se um problema de Saúde Pública, devido ao aparecimento de comorbidades e complicações físicas e psicológicas que, anteriormente, representavam situações clínicas observadas apenas no adulto (Small et al., 2007). O surgimento precoce de problemas respiratórios, cardiovasculares, metabólicos e a própria insatisfação corporal associados à presença de sobrepeso e obesidade trazem prejuízos ao crescimento e desenvolvimento dos indivíduos na faixa etária pediátrica, além do impacto negativo na qualidade de vida. Deve-se considerar ainda que os processos patológicos que se iniciam na infância, na presença de excesso de peso, sofrem aceleração, sendo conduzidos para morbidades crônicas e taxas de mortalidade elevadas (Daniels, 2006). Em relação aos dados epidemiológicos, é possível observar uma frequência maior de casos de obesidade em países subdesenvolvidos em comparação com os países desenvolvidos, revelando a ocorrência da transição nutricional (Kelishadi, 2007). Observa-se que, ao mesmo tempo em que acontece um declínio rápido no aparecimento da desnutrição entre crianças e adultos, aumenta a prevalência de excesso de peso na população brasileira, estabelecendo antagonismo de tendências entre os estados nutricionais, determinando uma característica marcante da transição nutricional (Tardido e Falcão, 2006). Confirmando essa situação, de acordo com Small et al. (2007), as análises do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) indicaram aumento de 21% em 2001, na ocorrência de sobrepeso e obesidade em crianças entre dois e cinco anos. Dados do National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion (2007) evidenciam os índices crescentes de excesso de peso nos últimos 30 anos. Entre 1976 e 1980 e 2003 e 2004, a prevalência de obesidade entre as crianças de 2 a 5 anos aumentou de 5 para 13,9%, e de 6,5 para 18,8%, considerando-se crianças de 6 e 11 anos. Segundo os dados coletados no Brasil pela pesquisa sobre padrão de vida (PPV), do IBGE, em 1997, realizada com crianças e adolescentes de 2 a 17 anos, pôde-se observar que a prevalência de obesidade foi de 10,1%, sendo maior no Sudeste (11,9%) em comparação com o Nordeste (8,2%) (Giuliano et al., 2005). O aumento progressivo do excesso de peso gera um custo anual para a Saúde Pública no Brasil, de quase R$ 1 bilhão, usado para pagar internações, consultas e medicamentos, relacionados com as comorbidades decorrentes do sobrepeso (Pimentel, 2007). Conforme pesquisa realizada no município de Goiânia (GO), Goiás, com 3.169 escolares entre 7 e 14 anos da rede pública e particular, de ambos os sexos, observaram-se 506 (16%) casos de excesso de peso, dos quais 156 (4,9%) eram casos de obesidade (Monego e Jardim, 2006). Na pesquisa de Fernandes et al. (2006), foram avaliadas 347 crianças com 3 e 7 anos que frequentavam escolas municipais de educação infantil em Mogi-Guaçu, São Paulo, observando-se uma prevalência de 71% de sobrepeso e 29% de obesidade em meninos e meninas. Assim, a obesidade é um dos principais fatores para o desenvolvimento de diversas doenças, entre elas, a hipertensão arterial sistêmica na infância, determinada pelo ponto de corte de pressão arterial (PA) sistêmica igual ou superior ao percentil 95 para idade, sexo e percentil de estatura, atualmente aceito e utilizado de acordo com o relatório do National High Blood Pressure Education Program (Koch, 2005). A hipertensão arterial pediátrica teve prevalência de 20,6%, de acordo com estudo de Urrutia-Rojas et al. (2006), que avaliaram crianças de 8 a 13 anos de ambos os sexos, nos Estados Unidos. De acordo com Araújo et al. (2007), crianças com níveis de PA acima do percentil 90 possuem maior probabilidade de tornarem-se adultos hipertensos. O National High Blood Pressure Education Program considera a hipertensão arterial um importante fator de risco para o estabelecimento de doenças cardiovasculares (Oliveira et al., 2004). Ainda em relação à PA, segundo uma pesquisa realizada em uma escola de ensino fundamental e médio em Fortaleza, no Ceará, com 342 escolares de 6 a 18 anos, de ambos os sexos, identificou-se um percentual de 44,7% da amostra com pré-hipertensão, dos quais 16,8% apresentaram sobrepeso ou obesidade e 51,5% eram sedentários (Araújo et al., 2008). A investigação das medidas antropométricas é importante na infância, devido à ocorrência de diversas variações na com- 276 Cad. Saúde Colet., 2010, Rio de Janeiro, 18 (2): 275-81

Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças atendidas em uma unidade básica de saúde no município de Antônio Prado (RS) posição corporal, reguladas por inúmeros fatores associados, influenciando no tamanho e na forma do indivíduo, sendo que, durante o crescimento, as composições de tecido adiposo e muscular sofrem alterações fisiológicas, podendo provocar desvios no peso corporal (Rigoni et al. 2007). A dobra cutânea tricipital (DCT) e a circunferência braquial (CB) são utilizadas para o cálculo da circunferência muscular braquial (CMB). A DCT é um melhor indicador de adiposidade do que o IMC, apontando o acúmulo de gordura periférica e sugerindo a identificação de grupos de risco na população investigada, segundo Duquia et al. (2008). A medida da CB pode ser utilizada como indicativo do estado nutricional, mas devido à sua inespecificidade, faz-se necessário o cálculo da CMB, a fim de diferenciar os compartimentos de tecido adiposo e muscular (Rogato, 2003). O presente trabalho teve por objetivo avaliar a presença de sobrepeso e obesidade na população infantil, além de sua relação com o surgimento de hipertensão arterial e os valores de CMB. Metodologia O estudo foi do tipo transversal, com amostragem por conveniência. Foi realizado no período de julho e agosto de 2008 em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do município de Antônio Prado, (RS), sendo que a amostra abrangeu 65 crianças de 2 a 10 anos, de ambos os sexos, cadastradas na unidade e residentes no município. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Universidade de Caxias do Sul, sob o número 026/08. A aferição das medidas foi realizada nas crianças presentes na UBS para avaliação médica de rotina e aconteceu após o atendimento pediátrico. Os dados de idade e sexo foram coletados no momento da pesquisa com as crianças selecionadas para o estudo, após a aprovação da participação pelos pais ou responsáveis por meio do termo de consentimento livre e esclarecido. Para a determinação do estado nutricional da amostra estudada, realizaram-se as medidas antropométricas: peso; estatura; IMC; peso para idade (P/I); estatura para idade (E/I); PA, por meio dos valores de pressão arterial sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD); e composição corporal (DCT, CB e CMB). Embora as variáveis em estudo de maior importância para a detecção dos distúrbios nutricionais em questão sejam o peso e a estatura para posterior cálculo do IMC, foram utilizados os índices de P/I e E/I para a avaliação das adequações de peso e estatura, correlacionados com a idade da criança. A verificação do peso corporal foi realizada por meio de uma balança digital modelo 9BC553 Ironman (Tanita, Illinois, USA), com capacidade de 150 kg e precisão de 100 g. As crianças foram pesadas com roupas leves e descalças, ficando de pé na plataforma da balança, com o peso igualmente distribuído entre os pés. Para a verificação da estatura, utilizou-se uma fita métrica fixada a uma parede sem rodapé, com extensão de 2 m e sensibilidade de 0,5 cm, medindo-se a altura em pé, com a criança posicionada descalça em uma superfície plana em ângulo reto com a fita métrica, com os calcanhares juntos e a cabeça ereta, olhando para frente (Heyward e Stolarczyk, 2000). A partir dos dados acima, calculou-se o IMC (peso/altura 2 kg/m²), indicando a proporção do peso do corpo para altura elevada ao quadrado. A classificação do estado nutricional, segundo o IMC, P/I e E/I para crianças, foi realizada pelos gráficos de crescimento, padronizados pela Organização Mundial de Saúde, em 2007, de acordo com a idade. Os valores foram estratificados na forma de escore-z e segundo o IMC, sendo consideradas obesas as crianças que se encontravam nos índices superiores ou iguais a escore-z + 2, e com sobrepeso as crianças com índices entre o escore-z +1 e escore-z +2, sendo que os pontos de corte entre escore-z -1 e escore-z +1 indicam eutrofia, enquanto as crianças consideradas com baixo peso encontraram-se abaixo do escore-z -2 (Sisvan, 2008). De acordo com a tabela de P/I, considera-se peso elevado para idade os índices superiores ou iguais ao escore-z +2, peso adequado ou eutrófico os valores entre escore-z -2 e escore-z +2, com baixo peso as crianças com índices entre o escore-z -3 e escore-z-2 e com muito baixo peso para a idade as crianças com índices inferiores ao escore-z-3. Segundo a tabela de E/I, são consideradas com baixa estatura para a idade as crianças com índices inferiores ao escore-z-2, enquanto as que se encontram com índices superiores ou iguais ao escore-z-2 são consideradas com estatura adequada para idade (Sisvan, 2008). A aferição da DCT foi realizada utilizando-se um adipômetro científico (Cescorf Equipamentos Antropométricos Ltda.), obtida no ponto médio entre o acrômio e o olecrano, na face posterior do membro direito, com o cúbito flexionado a 90 e por meio de uma fita métrica para a localização do ponto médio (Heyward e Stolarczyk, 2000). A medida foi realizada em triplicata para o posterior cálculo da média. Para a medida da CB, utilizou-se uma fita métrica (Vonder ) não distensível, com intervalos de 0,1 cm e extensão de 100 cm, e a aferição foi realizada no braço direito, estando o mesmo relaxado, no ponto médio entre o acrômio e o olecrano. A DCT e a CB foram usadas para o cálculo da CMB por meio da equação: CMB = CB - (DCT x 3,14), de acordo com a classificação de Frisancho (1981). Considerou-se a idade, o sexo e os pontos de corte para desnutrição, eutrofia e sobrepeso, representados pelos valores inferiores ao percentil 10, entre os percentis 10 e 90 e acima do percentil 90, respectivamente (Frisancho, 1981). Cad. Saúde Colet., 2010, Rio de Janeiro, 18 (2): 275-81 277

Cláudia Meneguzzo, Simone Rufatto Ricalde, Jacqueline Schaurich dos Santos, Karina Giane Mendes A aferição da PA foi realizada com aparelho de pressão analógico e estetoscópio duplo Premium (Accumed), específico para crianças, com medida de pulso de 9 a 21 cm. Os valores foram obtidos por meio da medida da PAS e da PAD, sendo as mesmas realizadas em medida tripla, com intervalos de um minuto em cada verificação para o cálculo da média aritmética (Araújo et al., 2007). No método de verificação, o estetoscópio foi colocado sobre a artéria braquial, insuflando-se o manguito até 30 mmhg acima do desaparecimento do pulso radial e esvaziando mais lentamente, 2 a 3 mmhg/segundo. Na ausculta dos ruídos de Korotkoff, padronizou-se o primeiro som (aparecimento do som) como PAS e o quinto (desaparecimento dos sons) para a PAD (Salgado e Carvalhaes, 2003). Os resultados obtidos foram classificados segundo os valores de PA de acordo com a idade, sexo e percentil de estatura, relacionados com os percentis 50, 90, 95 e 99, em conformidade com as diretrizes de 2005, propostas pelo The Fourth Report on The Diagnosis, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure in Children and Adolescents, para crianças de 1 a 17 anos, de ambos os sexos (National High Blood Pressure Education Program Working Group on Hypertension Control in Children and Adolescents, 1996). A PA de crianças e adolescentes pode ser classificada como normotensão, quando os valores encontram-se abaixo do percentil 90, pré-hipertensão, entre os percentis 90 e 95, considerando-se valores em torno de 120/80 mmhg, hipertensão em estágio 1, com valores entre os percentis 95 e 99, e hipertensão em estágio 2, quando os valores resultantes ultrapassam o percentil 99 (National High Blood Pressure Education Program Working Group on Hypertension Control in Children and Adolescents, 1996). Os dados obtidos foram apresentados em percentuais e armazenados em um banco de dados elaborado por meio do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 16.0, com auxílio do programa StatsDirect, versão 2.6.6, e do software Microsoft Excel 2000. Para a comparação das variáveis foi utilizado teste estatístico paramétrico ANOVA univariado, considerando-se significativo o valor de p<0,05. Resultados Foram coletados os dados de 65 crianças de ambos os sexos, sendo 27 (41,5%) do sexo masculino, com média de idade de 6,21±2,40, e 38 (58,4%) do sexo feminino, com média de idade de 6,34±2,58. O número de indivíduos que se recusou a participar da pesquisa totalizou 5 (7,1%). A Figura 1 apresenta o estado nutricional das crianças estudadas, utilizando-se os valores de IMC (kg/m²) estratificados de acordo com a classificação de escore-z segundo a idade para ambos os sexos, além dos respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%). As prevalências de sobrepeso e obesidade foram 24,61 e 13,84%, respectivamente e, do total da amostra, 58,46% dos indivíduos foram classificados como eutróficos e 3,07% apresentaram baixo peso. Somando-se os valores de sobrepeso e obesidade, 38,45% (IC95%=26,91-51,38%) das crianças avaliadas apresentaram excesso de peso. Na Tabela 1 são apresentados os valores em percentual de P/I para ambos os sexos, também estratificados na forma de escore-z, por meio das tabelas com referência nas curvas de crescimento, nas quais a maioria dos indivíduos apresentou eutrofia. Ainda na Tabela 1 são demonstrados os valores obtidos da variável E/I na forma de escore-z para ambos os sexos, com os respectivos IC95%, sendo que a maioria apresentou estatura adequada para a idade. Os valores resultantes da variável CMB estão expressos na Tabela 2, de acordo com os percentis da classificação de Frisancho (1981). Do total da amostra avaliada, a maioria dos indivíduos apresentou eutrofia e a minoria classificou-se como sobrepeso. A Figura 2 demonstra os valores obtidos por meio dos percentis para a PA, PAS e PAD, em que 56,9% dos indivíduos classificaram-se como normotensos, 40% apresentaram pré-hipertensão e 3,07% ficaram na faixa de classificação Figura 1 - Percentual de sobrepeso e obesidade em crianças de acordo com o índice de massa corporal (IMC) para ambos os sexos, 2008. Tabela 1 - Valores (%) de peso para idade (P/I), estatura para idade (E/I) e intervalos de confiança de 95% (IC95%) para ambos os sexos, 2008. Variáveis Classificação n % IC95% P/I Baixo peso 2 3,07 0,37-10,67 Eutrofia 48 73,84 61,46-83,96 Peso elevado 15 23,07 13,52-35,18 Total 65 E/I Baixa estatura 2 3,07 0,37-10,67 Estatura adequada 63 96,9 89,32-99,62 Total 65 Análise descritiva, dados expressos em frequência e percentual e intervalo de confiança de 95% de acordo com o total da amostra. 278 Cad. Saúde Colet., 2010, Rio de Janeiro, 18 (2): 275-81

Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças atendidas em uma unidade básica de saúde no município de Antônio Prado (RS) para hipertensão estágio I. Deve-se observar que não houve a ocorrência de hipertensão estágio II para nenhuma das crianças avaliadas. A Tabela 3 apresenta a comparação entre as médias dos valores de PAS com os percentis resultantes da variável CMB para os indivíduos classificados como desnutridos, eutróficos e com sobrepeso, e dos valores de PAD também relacionados aos percentis da CMB. A comparação entre as médias de PAS (p=0,989) e PAD (p=0,974) com os valores obtidos de CMB, conforme classificação, não apresentou diferença estatística significante. Discussão Os resultados encontrados no presente estudo demonstram elevada prevalência de sobrepeso e obesidade nas crianças atendidas na UBS no município de Antônio Prado, evidenciando um aumento alarmante do excesso de peso na população infantil, considerado o principal fator de risco para o desenvolvimento precoce de doenças crônicas de acordo com Torres et al. (2006). Comparando-se os resultados com outros estudos, podese observar que a prevalência de sobrepeso e obesidade obtida na pesquisa que foi de 24,61 e 13,84%, por meio do IMC por idade é semelhante aos dados do estudo de Giugliano e Carneiro (2004), que avaliaram 452 alunos do Centro Educacional Católica de Brasília, Taguatinga (DF), envolvendo crianças de classe média e média alta, com idades entre 6 e 10 anos, de ambos os sexos, encontrando as prevalências de 16,8% de sobrepeso e 5,3% de obesidade. Apesar de a maioria das crianças avaliadas no presente estudo estarem dentro da faixa de normalidade de peso, o excesso, que resultou em 38,45%, é preocupante devido aos riscos associados ao estabelecimento de sobrepeso e obesidade na infância. Em um estudo realizado por Costa et al. (2006), com 10.822 crianças de escolas públicas e particulares, na cidade de Santos, São Paulo, com idades entre 7 e 10 anos, as prevalências totais de sobrepeso e obesidade foram de 15,7 e 18%, respectivamente, para ambos os sexos. Neste estudo, verificou-se um percentual mais elevado de obesidade do que na pesquisa realizada, na qual o número de crianças com sobrepeso prevaleceu. Entretanto, devem ser consideradas as diferenças socioeconômicas e locais da população em estudo. Segundo Oliveira et al. (2004), em um estudo com 701 crianças de 5 a 9 anos, realizado em escolas da rede de ensino público e privado da zona urbana de Feira de Santana, (BA), a prevalência encontrada de hipertensão arterial foi de 3,6% para ambos os sexos e, em relação às variáveis sobrepeso e obesidade, as prevalências foram de 9,1 a 4,3%, respectivamente. Esses dados confirmam os achados do presente estudo, no qual 40% das crianças apresentaram pré-hipertensão, 3,07%, hipertensão estágio I e 56,9% foram classificados como normotensos, índices considerados preocupantes para a faixa etária avaliada. Diversos estudos identificaram associação positiva entre o IMC elevado e a prevalência de hipertensão, como o estudo de Monego e Jardim (2006) realizado com 3.169 escolares de ambos os sexos, com faixa etária de 7 a 14 anos no qual 158 casos (5%) eram de hipertensão arterial e 196 (6,2%) de pré-hipertensão, além de haver associação significante Tabela 2 - Valores (%) de circunferência muscular braquial (CMB) e intervalos de confiança de 95% (IC95%) para ambos os sexos, 2008. Variável Classificação n % IC95% CMB Desnutrição 7 10,76 4,44-20,93 Eutrofia 52 80 68,23-88,89 Sobrepeso 6 9,24 3,46-19,01 Total 65 100 Análise descritiva, dados expressos em frequência e percentual e intervalo de confiança de 95% de acordo com o total da amostra. Figura 2 - Valores (%) de pressão arterial sistêmica sistólica e diastólica de acordo com a classificação em percentis para ambos os sexos, 2008. Tabela 3 - Comparação entre as médias de pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) com a classificação da circunferência muscular braquial (CMB), intervalos de confiança de 95% (IC95%) e desvio padrão (DP) para ambos os sexos, 2008. Variáveis Pressão arterial CMB n Média DP IC95% Valor de p PAS Desnutrição 7 101,71 10,45 92,05-111,38 0,989 Eutrofia 52 101,65 10,39 98,76-104,55 0,989 Sobrepeso 6 101 10,06 90,44-111,56 0,989 Total 65 101,6 10,21 99,07-104,13 0,989 PAD Desnutrição 7 62,57 11,9 51,57-73,58 0,974 Eutrofia 52 61,5 12,64 57,98-65,02 0,974 Sobrepeso 6 61,17 11,94 48,64-73,70 0,974 Total 65 61,58 12,32 58,53-64,64 0,974 Dados significantes para p<0,05. Dados expressos em média/desvio padrão e intervalo de confiança de 95% de acordo com o total da amostra. Cad. Saúde Colet., 2010, Rio de Janeiro, 18 (2): 275-81 279

Cláudia Meneguzzo, Simone Rufatto Ricalde, Jacqueline Schaurich dos Santos, Karina Giane Mendes (p=0,01) entre os níveis de PA elevados e o excesso de peso, que apresentou valores de 16%. Os dados de prevalência de sobrepeso e obesidade e os valores elevados de pré-hipertensão obtidos na pesquisa, assim como em outros estudos, também servem como possíveis indicadores da relação direta entre o IMC elevado e o surgimento de doenças crônicas ainda na infância. Portanto, o acompanhamento da população avaliada é essencial para a prevenção do estabelecimento de hipertensão arterial. Na comparação entre as médias das PAS e PAD e a CMB, não houve associação estatística (p=0,989 e p=0,974), devido ao elevado percentual de baixo peso em relação ao sobrepeso, apresentado pela variável CMB. Como principais fatores limitantes do estudo, pode-se citar o tamanho da amostra, que abrangeu um número pequeno de indivíduos, e a aferição da PA. De acordo com Koch (2005), a criança que apresentar medida de PA acima do percentil 90 deve ser reavaliada para se confirmar a presença de pré-hipertensão, já que alguns fatores como o nervosismo ou o medo podem estar presentes durante a tomada da medida, influenciando o resultado. Deve-se considerar, ainda, que a maioria dos estudos referentes a crianças são realizados em escolas, limitando a comparação com os dados obtidos neste estudo, devido às particularidades das populações que frequentam as escolas e as UBS. A procura por postos de saúde pode estar relacionada a algum problema de saúde, o qual pode influenciar o estado nutricional, gerando diferenças no momento da avaliação e aferição de medidas. Cabe ressaltar que não foram encontrados estudos que utilizassem a CMB como indicador antropométrico na associação entre excesso de peso e PA. Compreende-se como uma medida importante a utilização de indicadores como a CMB e a DCT para o diagnóstico do estado nutricional, bem como para avaliação do impacto da composição corporal nas modificações dos níveis de PA, principalmente durante a fase de crescimento e desenvolvimento. Considerações Finais A prevalência de sobrepeso e obesidade verificada no estudo, bem como o elevado índice de pré-hipertensão, tornamse preocupantes pelo aparecimento de complicações futuras. Deve-se levar em conta o ônus gerado para os serviços de Saúde, considerando-se a possibilidade de estabelecimento de doenças crônicas não-transmissíveis, as quais exigem tratamentos constantes, com altos custos sociais e econômicos, além de afetarem a realização de atividades importantes, como o trabalho, criando uma população com sérias limitações e dificuldades de sobrevivência. O estudo realizado permitiu a visualização da problemática relacionada aos riscos gerados no decorrer do processo de crescimento e desenvolvimento, na presença da elevação do peso corporal. Portanto, é de fundamental importância a aplicação de estratégias de prevenção e detecção precoce da obesidade, com o objetivo de tornar o tratamento eficaz, por meio da mudança dos hábitos alimentares das crianças, com o devido acompanhamento, para que as modificações sejam permanentes e facilitem o processo de reeducação alimentar, com a formação de um estilo de vida saudável. Os resultados apresentados neste estudo podem ser utilizados para incentivar a criação de ações públicas locais e atividades de intervenção específicas para a população em estudo, evitando desfechos desfavoráveis na idade adulta por meio do aumento na qualidade de vida e diminuição dos fatores de risco decorrentes do excesso de peso, os quais estão cada vez mais presentes na faixa etária infantil. Referências Araújo, T. L. et al. Análise de indicadores de risco para hipertensão arterial em crianças e adolescentes. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 42, n. 1, p. 120-126, 2008.. Pressão arterial de crianças e adolescentes de uma escola pública de Fortaleza Ceará. ACTA Paulista de Enfermagem, v. 20, n. 4, p. 476-482, 2007. Brilmann, M.; Oliveira, M. S.; Thiers, V. O. Avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde na obesidade. Cadernos de Saúde Coletiva, v. 15, n. 1, p. 39-54, 2007. Bueno, M. B; Fisberg, R. M. Comparação de três critérios de classificação de sobrepeso e obesidade entre pré-escolares. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v. 6, n. 4, p. 411-418, 2006. Costa, R. F.; Cintra, I. P.; Fisberg, M. Prevalência de sobrepeso e obesidade em escolares da cidade de Santos, SP. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, v. 50, n. 1, p. 60-66, 2006, Daniels, S. R. The consequences of childhood overweight and obesity. The Future of Children, v. 16, n. 1, p. 47-67, 2006. Duquia, R. P. et al. Epidemiologia das pregas cutâneas tricipital e subescapular elevadas em adolescentes. Cadernos de Saúde Pública, v. 24, n. 1, p. 113-121, 2008. Fernandes, I. T.; Gallo, P. R.; Adívincula, A. O. Avaliação antropométrica de pré-escolares do município de Mogi-Guaçu, São Paulo: subsídio para políticas públicas de saúde. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v. 6, n. 2, p. 217-222, 2006. 280 Cad. Saúde Colet., 2010, Rio de Janeiro, 18 (2): 275-81

Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças atendidas em uma unidade básica de saúde no município de Antônio Prado (RS) Frisancho, A. R. New norms of upper limb fat and muscle areas for assessment of nutritional status. The American Journal of Clinical Nutrition, New York, US, v. 34, n. 11, p. 2540-2545, 1981. Disponível em: <http://www. ajcn.org/cgi/content/abstract/34/11/2540>. Acesso em: 3 nov. 2008. Giuliano, I. C. et al. Lípides séricos em crianças e adolescentes de Florianópolis, SC - Estudo Floripa Saudável 2040. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 85, n. 2, p. 85-91, 2005. Giugliano, R; Carneiro, E. C. Fatores associados à obesidade em escolares. Jornal de Pediatria, v. 80, n. 1, p. 17-22, 2004. Giuliano, R; Melo, A. L. P. Diagnóstico de sobrepeso e obesidade em escolares: utilização do índice de massa corporal segundo padrão internacional. Jornal de Pediatria, v. 80, n. 2, p. 129-134, 2004. Heyward, V. H.; Stolarczyk L. M. Avaliação da composição corporal aplicada. São Paulo: Manole, 2000. Kelishadi, R. Childhood overweight, obesity, and the metabolic syndrome in developing countries. Epidemiologic Review, v. 29, p. 62-76, 2007. Koch, V. H. Aspectos diagnósticos e terapêuticos atuais da hipertensão arterial na criança e no adolescente, com ênfase no Fourth Report on the Diagnosis, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure in Children and Adolescents de 2004. Jornal Brasileiro de Nefologia, v. 27, n. 2, p. 84-92, 2005. Monego, E. T.; Jardim, P. C. B. V. Determinantes de risco para doenças cardiovasculares em escolares. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 87, n. 1, p. 37-45, 2006. National Center For Chronic Disease Prevention And Health Promotion. Physical Activity and Good Nutrition. Essential Elements to Prevent Chronic Diseases and Obesity. 2007. Disponível em: < http://www.healthdome. net/downloads/usdepthealth.cdc.physicalactivitygoodnutrition.pdf>. Acesso em: 22 set. 2008. National High Blood Pressure Education Program Working Group on Hypertension Control in Children and Adolescents. Update on the 1987 Task Force Report on high blood pressure in children and adolescents: a working group report from the National High Blood Pressure Education Program.. Pediatrics, v. 98, n. 6, p. 649-658, 1996. Oliveira, A. M. A. et al. Fatores ambientais e antropométricos associados à hipertensão arterial infantil. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, v. 48, n. 6, p. 849-854, 2004. Pimentel, G. D. Prevalência de excesso de peso e risco de doença cardiovascular em uma Unidade Básica de Saúde. Revista Médica Ana Costa, v. 12, n. 3, p. 61-64, 2007. Rigoni, C. C.; Bardini, C. W.; Liberali, R. Comparação da composição corporal de pré-escolares residentes em regiões litorânea e não litorânea. Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento. São Paulo, v. 1, n. 2, p. 55-66, 2007. Rogato, G. P. Composição corporal e perfil antropométrico de ginastas masculinos. Revista Digital. Buenos Aires, v. 9, n. 62, 2003. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd62/ginastas.htm>. Acesso em: 6 out. 2010. Urrutia-Rojas, X. et al. High blood pressure in school children: prevalence and risk factors. BMC Pediatrics, v. 6, p. 32, 2006. Salgado, C. M.; Carvalhaes, J. T. A. Hipertensão arterial na infância. Jornal de Pediatria, v. 79, p. S115 - S124, 2003. Suplemento 1. Sisvan. Vigilância Alimentar e Nutricional. Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde. Ministério da Saúde. Fev, 2008. Disponível em: < http://www.sonutricao.com.br/downloads/sisvan_ norma_tecnica_preliminar_criancas.pdf>. Acesso em: 15 out. 2008. Souza, D. P. et al. Etiologia da obesidade em crianças e adolescentes. Revista Brasileira de Nutrição Clínica, v. 22, n. 1, p. 72-76, 2007. Suñé, F. R. et al. Prevalência e fatores associados para sobrepeso e obesidade em escolares de uma cidade no Sul do Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 23, n. 6, p. 1361-1371, 2007. Small, L.; Anderson, D.; Melnyk, B. M. Prevention and early treatment of overweight and obesity in young children: a critical review and appraisal of the evidence. Pediatric Nursing, v. 33, n. 2, p. 149-161, 2007. Tardido, A. P.; Falcão, M. C. O impacto da modernização na transição nutricional e obesidade. Revista Brasileira de Nutrição Clínica, v. 21, n. 2, p. 117-124, 2006. Torres, A. A. L.; Furumoto, R. A. V.; Alves, E. D. Avaliação e tratamento da obesidade na infância. Dissertação (Mestrado em Nutrição) Universidade de Brasília, Brasília, 2006. Recebido em: 5/5/2009 Aprovado em: 27/12/2009 Cad. Saúde Colet., 2010, Rio de Janeiro, 18 (2): 275-81 281