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Transcrição:

Capítulo 19 Intoxicações 1. OBJETIVOS No final da sessão os formandos deverão ser capazes de: Descrever intoxicação; Listar e descrever as vias de absorção mais frequentemente utilizadas; Listar e descrever os agentes mais frequentemente utilizados; Listar e descrever as medidas de proteção da equipa, vítima e outros intervenientes; Listar e descrever a nomenclatura AVDS e CHAMU incluídas no exame da vítima intoxicada; Listar e descrever os dados a recolher no local; Listar e descrever os critérios de prioridade de atuação perante um quadro de intoxicação; Listar e descrever os passos da atuação protocolados para este tipo de situação; Listar e descrever a técnica de administração do carvão ativado, suas indicações e contraindicações; Listar e descrever a técnica de indução do vómito, suas indicações e contraindicações; Listar e descrever as funções do Centro de Informação Anti-Venenos. 1

2. INTRODUÇÃO Quanto maior for o progresso técnico e científico, maiores serão as probabilidades de surgirem intoxicações. Há alguns séculos atrás, à exceção de uns escassos venenos, as intoxicações acidentais, resumiam-se à ingestão de plantas venenosas e picadas de alguns animais. Atualmente, a indústria inunda as nossas casas com produtos utilizados para facilitar as tarefas de limpeza de roupas, louças, paredes, metais, etc., os quais constituem venenos em potência, dependendo da sua correta utilização ou não. A cultura atual exige um ritual de higiene e beleza só possíveis através da utilização de produtos químicos (desodorizantes, depilatórios, perfumes), que podem ser nocivos quando ingeridos. Para além destes produtos, utilizamos ainda nas nossas casas no dia-a-dia, inúmeros produtos venenosos, nomeadamente, gás canalizado ou em garrafas, inseticidas, vernizes, plantas decorativas venenosas, etc. Os próprios medicamentos são um mundo de possíveis venenos. Um medicamento usado criteriosamente por quem dele precisa e na quantidade devida, constitui um bem, mas utilizado incorretamente ou em quantidades excessivas, comporta-se como um veneno. Assim, podemos verificar que o contacto com os tóxicos constitui uma realidade que se generaliza aos lares e campos, neste caso devido ao uso indispensável dos pesticidas. Na verdade, temos a consciência da existência de venenos por todo o lado, os quais na sua grande maioria, não podemos eliminar, porque, a nossa civilização e o esquema de vida que adotámos, não permitem que passemos sem os benefícios que estes produtos nos trouxeram. Impõe-se que todos nós aprendamos a utilizar esses produtos, que saibamos viver com eles, aproveitando-lhes os benefícios, sem no entanto nos deixarmos atingir pelos seus malefícios. Basicamente as intoxicações podem ser de origem acidental, profissional ou voluntária. A par disso, devemos educar as crianças a conhecê-los, a respeitá-los e a não os usar indevidamente, embora, só em parte, a educação e aprendizagem sejam eficazes, uma vez que há sempre a grande curiosidade da criança, que a leva a cheirar e a provar os diferentes produtos que vê manejar e ingerir. Não esqueçamos que como norma genérica, determinada substância só é venenosa de acordo com a dose. Se temos, pois, de fazer campanhas para a educação e esclarecimento com o fim de aumentar a prevenção, impõese também que saibamos atuar de imediato no início da intoxicação, para evitar os seus efeitos ou diminui-los. Como já vimos, há pois milhares de tóxicos, diferentes uns dos outros, que só um centro especializado nos pode dizer se este ou aquele produto é tóxico e quais as medidas a tomar para cada caso. Para se obterem respostas adequadas surgiram os Centros de Intoxicações, entre os quais o de Portugal CENTRO DE INFORMAÇÃO ANTIVENENOS (C.I.A.V.), o qual nos permite, mediante um telefonema, 24 horas por dia, contatarmos com médicos que nos elucidam quando à natureza do produto e sobre as medidas a tomar de imediato e a quem ou a que serviço deve recorrer. 2

Embora as indicações sejam fornecidas por médicos do C.I.A.V., é conveniente que a população em geral e os elementos envolvidos no socorro, tenham um certo número de conhecimentos básicos, que lhes permitam de uma forma rápida evitar o agravamento da situação e adotar procedimentos protocolados eficazes. 3. NOÇÕES DE TOXICOLOGIA O conceito de intoxicação depende de uma relação entre a forma como o organismo foi exposto à substância, a toxicidade da própria substância e quais as estruturas do organismo afetado e a sua sensibilidade, sendo que podemos apresentá-la através do conceito: EXPOSIÇÃO + TOXICIDADE = INTOXICAÇÃO 3.1. Via de Exposição Via Digestiva É a escolhida na maioria das tentativas de suicídio. Acontece quando se ingerem produtos caseiros, medicamentos em excesso, bebidas alcoólicas, entre outros. Via Respiratória Ocorre quando se inalam gases ou vapores, em cozinhas, nas fábricas ou durante combates a fogos. Via Cutânea Quando o contacto do produto se processa através da pele, nomeadamente nas situações de uso indevido de pesticidas, cáusticos, etc. Via Ocular Surge geralmente por acidente, quando um jato de um produto atinge os olhos. Por Injeção via parentérica Acontece com os toxicodependentes por overdose ou, em caso de erro terapêutico, habitualmente em ambiente hospitalar, quer ao nível da dose quer ao nível do próprio medicamento. Picada de animal Em Portugal está limitado ao escorpião, insetos, algumas víboras e peixes. por esta via. Para além destas vias, há ainda as Vias Retal e Vaginal, sendo no entanto raras as intoxicações que se processam 3.2. Toxicidade A toxicidade de um produto vai variar de acordo com os seguintes fatores: Concentração a que o produto se encontra. Saber se o produto foi ingerido puro ou diluído pode condicionar substancialmente a gravidade da intoxicação. Dose (quantidade) da qual resultou a intoxicação. Torna-se um dos dados que pode indicar ou não a toxicidade do produto em relação à vítima. 3

Rapidez da absorção do produto pelo organismo. Este é o dado sem dúvida que condiciona a intoxicação. Por exemplo, se a absorção for de uma substância sólida esta demorará mais tempo a ser absorvida pelo organismo do que uma que se encontre no estado líquido. Rapidez da metabolização: Consiste no conjunto de transformações químicas que as substâncias sofrem no interior do organismo, ficando assim disponíveis para interagir com outras substâncias ou estruturas do corpo. Claro que quanto mais rápida for essa metabolização, mais tóxica será a substância. Rapidez da eliminação: Passa pela capacidade que o organismo tem para eliminar a substância do seu interior, ficando assim livre do seu efeito. Obviamente que uma eliminação mais rápida da substância leva a um menor nível de toxicidade. Fig. 19.1. Rótulos de identificação. organismo: O tóxico, quando ingerido, inalado, injetado ou em contacto ocular ou cutâneo, atua de várias formas no Por contacto direto: lesando a pele, a conjuntiva dos olhos ou as mucosas da boca, do estômago e do intestino traduzindo-se em queimaduras, necroses e perfurações; Quando é absorvido: entra em circulação e vai atuar num ou mais órgãos, podendo provocar inconsciência, paralisia, lesão do fígado, dos rins, convulsões, etc. Na fase de eliminação: do produto, também pode provocar lesões do tubo digestivo e lesões renais. 4

O nível de intoxicação estará também dependente dos órgãos afetados pela substância tóxica e qual a sensibilidade ou capacidade de resistência que estes apresentem à ação do agente tóxico. Perante o facto de determinados órgãos serem envolvidos, normalmente a função destes fica afetada, pelo que a gravidade da intoxicação também poderá variar em relação aos órgãos e à importância das funções atingidas. 3.3. A vítima Em relação à vítima, existe um conjunto de informações que pode determinar a gravidade ou não da intoxicação. Assim deve-se procurar saber: Sexo; Idade; Peso aproximado; Antecedentes; Hábitos. 4. A ABORDAGEM À INTOXICAÇÃO Como se abordou anteriormente, a avaliação da situação da intoxicação está sempre condicionada à obtenção de respostas às seguintes perguntas: O quê; Quanto; Quando; Onde; Quem; Como. Por outras palavras deve permitir a caracterização do tóxico, do intoxicado e das condições da intoxicação. 4.1. Caracterização do tóxico Devemos averiguar o nome do ou dos produtos, e se não os soubermos, tentar indagar: Nome; Utilidade; Cor; Forma; Cheiro; Se foi utilizado puro ou diluído; Se foi utilizado com outra substância. 5

4.2. Características da vítima. Idade; Sexo; Gravidez; Peso; Doenças prévias (renal, cardíaco, diabético, hipertenso, epilético, doente psiquiátrico); Hábitos (toxicodependente, alcoólico); Estado de consciência; Parâmetros vitais; Lesões resultantes do contato com o tóxico. 4.3. Condições da intoxicação Quantidade / dose do tóxico; Hora da intoxicação; Com ou sem ingestão de álcool; Com ou sem ingestão de alimentos; Com ou sem ingestão de medicação; Quais os tratamentos já efetuados, por iniciativa própria, familiar ou médica; Local. 5. A atuação para as situações de intoxicação no âmbito do pré-hospitalar tem as seguintes componentes: Descontaminação; Suporte das funções vitais. A descontaminação consiste na retirada do tóxico do organismo de forma a evitar a sua absorção. As medidas a adotar vão variar em conformidade com a via de contacto. No entanto, a equipa de emergência deve salvaguardar a sua proteção uma vez que o risco de contaminação está sempre presente. A diversidade de tóxicos existentes e os seus efeitos condicionam muitas vezes a atuação. Por este motivo, todos os procedimentos a adotar devem seguir indicação do CIAV O suporte das funções vitais implica uma avaliação correta da vítima, identificando os sinais de compromisso. Os aparecimentos de cianose, palidez, sudorese, alterações do ritmo cardíaco são indicadores de gravidade, devendo ser adotadas as medidas necessárias para a estabilização das vítimas. Todos os procedimentos devem ser sempre submetidos a aconselhamento específico do CIAV. 6

5.1. Via respiratória Entende-se por intoxicação por via respiratória quando existe inalação de gases, fumos ou vapores. a) Procedimentos As intoxicações pela via respiratória normalmente são acidentais e estão associadas à inalação de fumos ou de gás devido a fugas nas respetivas canalizações. Os procedimentos para estes tipos de situações são: Remover a vítima do ambiente contaminado; Retirar as roupas contaminadas; Manter o doente aquecido; Administrar oxigénio a 15 L/m e fazer ventilação artificial, se necessário. b) Medidas de proteção individual Não entrar no local se não existirem as condições de segurança necessária. Arejar o local. Se possível, avaliar a vítima fora do local onde ocorreu a intoxicação. 5.2. Via cutânea Entende-se por intoxicação por via cutânea quando exista a absorção do tóxico através da pele. a) Procedimentos Este tipo de intoxicações é mais frequente no meio rural devido à utilização de produtos químicos no tratamento das colheitas e o não cumprimento das medidas de proteção individual aconselhadas. Podem também surgir alguns casos domésticos e outros industriais, no entanto com menor incidência. Os procedimentos a adotar para estes tipos de situações são: Retirar roupas contaminadas; Lavar abundantemente com água corrente; Não aplicar produtos químicos; Procurar possíveis lesões; b) Medidas de proteção individual Não entrar no local se não existirem as condições de segurança necessárias; Arejar o local; Se possível avaliar a vítima fora do local onde ocorreu a intoxicação; Luvas; Máscara de viseira ou óculos de proteção; Avental de plástico. 7

5.3. Via ocular Entende-se por intoxicação por via ocular quando exista a absorção do tóxico através do globo ocular. a) Procedimentos Este tipo de intoxicações são pouco frequentes e normalmente têm origem em acidentes de trabalho, aquando do manuseio de substancias químicas. Os procedimentos para estes tipos de situações são: Identificar o produto em causa; Lavar com água corrente, durante 15 minutos, mantendo as pálpebras afastadas (não usar produtos químicos); Procurar possíveis lesões. b) Medidas de proteção individual Máscara com viseira ou óculos de proteção; Luvas; Avental de plástico. 5.4. Via parentérica Entende-se por intoxicação por via parentérica quando exista introdução do tóxico no organismo diretamente por via endovenosa, arterial, intramuscular ou subcutânea. a) Procedimentos As overdoses são as situações mais frequentes neste tipo de intoxicações. No entanto estas também podem surgir acidentalmente, pela administração de um fármaco via endovenosa, intramuscular ou subcutânea. Os procedimentos para estes tipos de situações são: Identificar o produto em causa; Manter a vítima imobilizada; Atuar conforme a sintomatologia apresentada. b) Medidas de proteção individual Intervir somente quando estejam criadas condições de segurança; Luvas; Máscara com viseira ou óculos de proteção; Ter especial atenção à localização de objetos cortantes ou perfurantes, como lâminas, agulhas, etc. 8

5.5. Picada de animal um animal. Entende-se por intoxicação por picada de animal quando a absorção do tóxico ocorre por mordedura ou picada de a) Procedimentos Identificar o produto em causa; Manter a vítima em repouso; Não efetuar qualquer incisão ou sucção da zona atingida; Desinfetar o local da picada; Aplicar frio no local da picada; Atuar conforme a sintomatologia apresentada. b) Medidas de proteção individual Luvas; Máscara com viseira ou óculos de proteção; 5.6. Via retal ou vaginal Intoxicação por via retal ou vaginal é quando existe a absorção por introdução do tóxico no ânus ou na vagina. a) Procedimentos Identificar o produto em causa; Lavagem do local; Atuar conforme a sintomatologia apresentada. b) Medidas de proteção individual Máscara com viseira ou óculos de proteção; Luvas; Se existirem fluidos orgânicos como urina e fezes deve ser utilizado o avental de plástico. 5.7. Via digestiva As intoxicações resultantes da ingestão do tóxico são das mais frequentes. Para este tipo de situações existe os seguintes procedimentos: Esvaziamento gástrico; Absorção do tóxico; Administração de purgante; Medidas de proteção; 9

a) Esvaziamento gástrico O esvaziamento gástrico faz-se habitualmente por: Indução do vómito; Aspiração/lavagem gástrica. Pode-se induzir o vómito por: Estimulação mecânica da úvula (campainha) usando os dedos, uma espátula ou o cabo de colher; Administrando por exemplo o xarope de ipecacuanha (Ipeca). O xarope de ipecacuanha é um agente emético (induz o vómito) de alta eficácia, inócuo e tem grande utilidade principalmente em pediatria. Em qualquer dos processos, para se induzir eficazmente o vómito, é necessário aumentar o conteúdo gástrico, administrando 200 a 300 ml de água. Para evitar a aspiração do vómito, com os consequentes problemas de pneumonia ou asfixia, tem de se atender ao posicionamento do doente, o qual deve estar sentado e inclinado para a frente. As crianças pequenas, enquanto esperam a ação do emético, devem permanecer sentadas e, durante o vómito a posição ideal é deitada no colo, em decúbito ventral. Fig. 19.2. Embalagem de xarope de ipeca. Quando a quantidade ou nocividade do tóxico exigem cuidados médicos sem perda de tempo, é preferível provocar o vómito, por estimulação mecânica, após prévia ingestão de água, em vez de escolher a ipeca que tem o inconveniente de só produzir efeito cerca de 20 minutos após a sua ingestão. O xarope de ipecacuanha, emético usa-se nas seguintes doses: Idade Dose 2 Anos 10 ml (1 colher de sobremesa) 2 a 5 anos 15 ml (1 colher de sopa) > 5 Anos 20 a 25 ml (2 colheres de sobremesa) Adultos 30 ml (1 frasco) 10

As contraindicações da indução do vómito, dependem da fase da intoxicação e da natureza do tóxico, assim temos: Vítimas sonolentas ou inconscientes; Ingestão de corrosivos; Tóxico que produzem espuma; Derivados do petróleo; Tóxicos convulsivantes; Vítimas com antecedentes de patologia cardíaca; Tóxicos depressores do SNC. Esvaziamento/lavagem gástrica Este tipo de técnica consiste na introdução de uma sonda pelo nariz até ao estômago o que permite aspirar o conteúdo gástrico. tóxicos. Absorção do tóxico Atualmente, utiliza-se muito o carvão ativado em toxicologia, devido à sua grande capacidade de absorção dos Fig. 19.3. Embalagem de carvão ativado. As contraindicações da administração do carvão ativado são: Antes do xarope de ipecacuanha atuar pois absorve a ipeca; Nos casos em que é necessário fazer endoscopia (exame que permite a visualização direta do tubo digestivo através da introdução de uma sonda endoscópio) pois limita a observação; A quando da ingestão de derivados do petróleo ou corrosivos. Doses para a administração do carvão ativado 11

Idade Criança Adulto Dose 1 grama por kg de peso 50 Gramas A preparação do carvão ativado implica a sua diluição em água conforme indicado na embalagem. O carvão ativado é tanto mais eficaz, quanto mais precoce é a sua administração. Purgante Os purgantes são medicamentos que aceleram o trânsito intestinal. A sua administração faz-se em meio hospitalar com o objetivo de acelerar a eliminação do tóxico ingerido, reduzindo assim a sua absorção. Medidas de proteção individual Neste tipo de intoxicações existe um alto risco de contaminação para a equipa de emergência. Por este motivo torna-se obrigatório o uso de: Máscara com viseira ou óculos de proteção; Luvas; Avental de plástico. 6. CASOS PARTICULARES DE INTOXICÃO Apesar do universo dos tóxicos ser variado, o que limita a definição dos procedimentos a adotar, existem no entanto um conjunto de situações que pela sua frequência em termos de ocorrência ou pela sua gravidade, obrigam a aplicação de protocolos de atuação específicos. 6.1. INTOXICAÇÕES POR DROGAS Ao longo da evolução da humanidade, o homem sempre conviveu com o uso de drogas, sem que esse fator fosse de alarme social. Atualmente as substâncias psicoativas ainda são consumidas em algumas regiões do mundo associadas ás culturas de alguns povos. Tem-se vindo a notar um aumento no consumo de drogas de forma alarmante, principalmente de substâncias consideradas proibidas. Este fator tem uma interferência direta e indireta na vida social, familiar, no trabalho, trânsito, disseminação de agentes infeciosos, tornando-se ainda um problema de saúde pública. 12

Tipos de drogas e seus efeitos TIPOS CARACTERÍSTICAS EXEMPLOS Normalmente chamadas de depressoras. Afetam o SNC, fazendo com que este funcione mais Drogas que diminuem a Tranquilizantes, álcool, lentamente. Diminuem o estado de alerta, bem como atividade mental heroína, etc. a concentração, tensão emocional e a capacidade intelectual Cafeína, tabaco, Drogas que aumentam a Designadas por estimulantes. Atuam sobre o SNC, anfetaminas, cocaína, atividade mental acelerando o seu funcionamento. crack, etc. Substância alucinogénias e provocam distúrbios no Drogas que alteram a funcionamento do SNC, originando o afastamento da perceção realidade, delírios ou alucinações LSD, ecstasy, haxixe, etc. 6.1.1. Cocaína A cocaína é extraída das folhas de uma planta designada por coca (arbusto encontrado normalmente na América do Sul). A sua aparência é semelhante a um pó branco que normalmente é embalado em pequenos sacos plásticos. O consumidor pode utilizá-la por: aspiração, fricção gengival, diluída ou injetada. Esta droga tem um efeito devastador no SNC, deixando sequelas que provocam alterações comportamentais e psíquicas. Fig. 19.4. Cocaína Fig. 19.5. Arbusto do qual se extrai a cocaína SINAIS E SINTOMAS Agitação psicomotora; Euforia; Taquicardia; 13

Sudorese; Hipertermia; Midríase; Prurido; Arritmias Alucinações; Convulsões. Atuar se existirem condições de segurança, muitas vezes devido á agressividade da vítima tem de se recorrer a autoridade no local; Proteção individual da equipa; Avaliar o estado de consciência; Administrar oxigénio; Efetuar a recolha de informação (CHAMU); Transmitir a informação recolhida ao CIAV. 6.1.2. Opiáceos (heroína, morfina, etc.) A heroína começou a ser utilizada em fins medicinais. Mais tarde foi sintetizada, criando-se a morfina. Como a maioria dos opiáceos, substâncias que derivam do ópio, a heroína determina a dependência física e psíquica do utilizador, isto é, se for retirada vai provocar o síndroma da abstinência. As suas vias de absorção podem ser: inalação ou injetada. Fig. 19.6. Heroína. Fig. 19.7. Planta da qual se extrai a heroína (papoila). 14

SINAIS E SINTOMAS (Overdose) Miose bilateral; Bradipneia; Cianose; Sudorese; Broncoespasmo; Edema Agudo do Pulmão; Inconsciência. Estimular a vítima; Administrar oxigénio a 15 L/min; Se necessário assistir a ventilação; Avaliar os parâmetros vitais; Efetuar a recolha de informação (CHAMU); Transportar para a unidade de saúde. SINAIS E SINTOMAS (Abstinência) Náuseas, vómitos; Midríase; Sensibilidade à luz; Hipertensão; Hipertermia; Dores generalizadas; Insónias; Crises de choro; Tremores; Diarreias; (Abstinência) Criar e garantir condições de segurança; Administrar oxigénio a 3 l/min; Avaliar os parâmetros vitais; Efetuar a recolha de informação (CHAMU); Transportar para a unidade de saúde. 15

6.1.3. Anfetaminas As anfetaminas são drogas sintéticas fabricadas em laboratórios. São usadas em alguns casos para emagrecer, uma vez que moderam o apetite, e também para reduzir o sono, mantendo o consumidor acordado por longos períodos de tempo. O uso prolongado desta droga provoca dependência física e tem uma sintomatologia semelhante à da cocaína Fig. 19.8. Anfetaminas (forma de comprimido ou cápsula). SINAIS E SINTOMAS Midríase; Agitação psicomotora; Alucinações; Convulsões; Hipertensão; Arritmias; Vómitos; Diarreia; Hipertermia; Administração de carvão ativado (ordem médica); Avaliar os parâmetros vitais; Administrar oxigénio; Efetuar a recolha de informação (CHAMU); Transmitir a informação recolhida ao CIAV; Transporte à unidade de saúde; 16

6.1.4. LSD (Lysergic Saure Diethylamide) O LSD é um psicotrópico de produção clandestina. A sua potencialidade é medida em microgramas. Este pode apresentar-se em forma de líquido, podendo ser ingerida sem a vítima se aperceber, uma vez que não tem cheiro, cor ou gosto. Este facto associado a ser uma droga ilícita origina por vezes um excesso de dosagem que são responsáveis por muitas das mortes causadas pela droga. SINAIS E SINTOMAS Alucinações; Delírios; Perceção de falsa realidade; Estado de pânico. Fig. 19.9. LSD. Criar condições de segurança; Administrar oxigénio; Avaliar os parâmetros vitais; Efetuar a recolha de informação (CHAMU); Transporte à unidade de saúde 6.1.5. Ecstasy O Ecstasy estimula a produção de um neurotransmissor (serotonina) responsável pelas sensações de bem-estar. No entanto, sendo uma droga produzida clandestinamente é associada a outras substâncias que alteram por completo a sua composição e assim os seus efeitos, que podem ser devastadores para o consumidor. Esta droga provoca sensações de euforia e diminui o cansaço, podendo o seu utilizador estar horas em esforço físico (exemplo a dançar)) sem apresentar sinais de fadiga. A sua ingestão prolongada pode originar estados de depressão, 17

uma vez que o organismo vai precisar de maiores doses para produzir serotonina e assim sensações de bem-estar. A duração do efeito desta droga vai de 6 a 12 horas. Após o seu efeito surgem dores musculares, depressão e fadiga que podem durar vários dias a desaparecer. Fig. 19.10. Ecstasy. SINAIS E SINTOMAS Euforia; Ausência de fadiga; Taquicardia; Sede; Náuseas; Sudorese; Diminuição do apetite. SINAIS E SINTOMAS (Após o efeito da droga) Dores musculares; Desidratação; Depressão; Fadiga. Criar condições de segurança; Administrar oxigénio; Avaliar os parâmetros vitais; Efetuar a recolha de informação (CHAMU); Transporte à unidade de saúde. 18

6.1.6. Haxixe O haxixe é as extremidades e a resina da Cannabis sativa (folhas e flores). É frequentemente fumado ou tomado por uma via oral. Cria grande dependência psíquica e a dependência física é nula, mas possível. O uso habitual da cannabis ou haxixe provoca relaxamento, euforia, diminuição das inibições e aumento do apetite na fase final do efeito. A sobredosagem cria pânico e o seu uso a longo prazo cria debilitação e sindroma amotivacional. Fig. 19.11. Folha de cannabis Fig. 19.12. Haxixe SINAIS E SINTOMAS Taquicardia; Hipertensão; Olhos vermelhos; Aumento da sensibilidade à luz; Tosse; Euforia; Sonolência; Comportamento paranoico; Alterações motoras; Atuar se existirem condições de segurança, muitas vezes devido á agressividade da vítima tem de se recorrer a autoridade no local; Proteção individual da equipa; Avaliar o estado de consciência; Administrar oxigénio; Efetuar a recolha de informação (CHAMU); Transmitir a informação recolhida ao CIAV. 19

6.1.7. Inalantes e solventes (cola de contacto, diluentes, éter, clorofórmio, tintas, etc.) A utilização de substâncias inalantes ou solventes (ex. diluentes, colas, etc.) é mais evidente na toxicodependência infantil. Após a inalação dos gases libertados por este tipo de substância, o seu efeito normalmente é rápido, com uma duração que varia entre os 15 e os 40 minutos. Os sinais e sintomas que surgem vão desde uma pequena estimulação, seguida de depressão de SNC até surgirem processos alucinatórios. Os solventes estão presentes em muitos produtos comerciais (colas, vernizes, perfumes, etc.). Em termos de metabolismo provocam taquicardia e em casos mais graves lesões renais, do fígado e do Sistema Nervoso Periférico. SINAIS E SINTOMAS 1ª FASE Euforia; Tonturas; Perturbações auditivas e visuais; Em alguns casos: náuseas, tosse, hipersalivação. 2ª FASE Confusão; Desorientação; Dificuldade na fala e visão; Perda de autocontrolo; Alucinações. 3ª FASE Depressão profunda Alteração da consciência; Falta de coordenação motora; Lentidão de reflexos; Alucinações. 4ª FASE Hipotensão; Convulsões; Inconsciência; Tonturas. 20

Estimular a vítima; Administrar oxigénio; Se necessário assistir a ventilação; Avaliar os parâmetros vitais; Efetuar a recolha de informação (CHAMU); Transportar para a unidade de saúde. 6.1.8. Álcool etílico O álcool atua como depressor do Sistema Nervoso Central, sendo o seu efeito variado em conformidade com a quantidade ingerida. Na maioria dos casos não representa um perigo de vida imediato para o seu consumidor. No entanto, a sua utilização prolongada vai dar origem à degradação do seu estado mental e físico, contribuindo para o aparecimento de um conjunto de patologias, das quais se destaca a cirrose hepática. SINAIS E SINTOMAS Euforia; Comportamento desinibido; Descoordenação motora; Sonolência; Pele vermelha, quente e húmida; Odor a álcool; Inconsciência. A vítima pode ser encontrada inconsciente apresentando: Ventilação rápida e superficial; Pulso rápido e fino; Pele pálida e fria; Odor a álcool (pode ou não ser detetado). Vítima Consciente Manter uma atitude calma e segura, evitando o recurso à utilização da força física; Administrar bebidas açucaradas; Avaliar os parâmetros vitais; Vítima Inconsciente 21

Manter a permeabilidade das vias aéreas; Despistar uma possível hipoglicemia determinando a glicemia capilar. Administrar papa de açúcar no interior das bochechas; Administrar oxigénio; Avaliar, caraterizar e registar os sinais vitais; Despistar o choque e atuar em conformidade; Elevação dos membros inferiores; Manutenção da temperatura corporal; Recolher o máximo de informação (CHAMU) Transporte para o hospital com vigilância do estado de consciência e dos sinais vitais. 6.2. MEDICAMENTOS As intoxicações por ingestão acentuada de medicamentos são bastante comuns. Habitualmente poderá haver mistura de diversos tipos de medicamentos, bem como da ingestão de bebidas alcoólicas em excesso. 6.2.1. Antidepressivos São drogas produzidas em laboratório que visam combater os estados depressivos. Sendo drogas vulgarmente utilizadas pela população, as intoxicações oriundas da sua ingestão resultam essencialmente da automedicação ou de tentativas de suicídio. A sintomatologia deste tipo de intoxicações pode surgir 1 a 2 horas após a ingestão, podendo em alguns casos surgir somente após 6 horas. Atuam sobre o SNC, e têm interesse no controlo dos sintomas de depressão. Os mais conhecidos são a Fluoxetina (Prozac) e Paroxetina (Seroxat, Paxetil). SINAIS E SINTOMAS Confusão; Agitação; Alucinações; Sonolência; Mucosas secas; Midríase; Alterações do estado de consciência; Convulsões; 22

Arritmias. Hipotensão; Depressão respiratória. Manter a via aérea permeável; Administrar oxigénio; Se a vítima estiver consciente, orientada e não se encontra sonolenta deve-se induzir o vómito de forma mecânica. No caso de hipotensão elevar os membros inferiores; Avaliar e registar os parâmetros vitais; Efetuar a recolha de informação (CHAMU); Transportar em decúbito lateral; Contatar o CIAV. 6.2.2. Benzodiazepinas Este tipo de substância é utilizado normalmente para o controlo da ansiedade, insónia, convulsões entre outras. Existem vários medicamentos com base desta substância, daí que está presente na maioria das intoxicações voluntárias. Embora os casos de morte por ingestão deste tipo de substância de uma forma isolada possa ser pouco frequente, o mesmo não se pode dizer nas intoxicações em que estejam associadas outras substâncias. A causa mais direta da intoxicação com este tipo de substâncias é a depressão respiratória e a hipotensão São medicamentos muito comuns, atuam ao nível do Sistema Nervoso Central, sendo os mais conhecidos os Diazepam (Valium, Unisedil), Alprazolam (Xanax), Midazolam (Dormicum) e Oxazepam (Serenal). SINAIS E SINTOMAS Sonolência; Depressão respiratória; Hipotensão. Manter a via aérea permeável; Administrar oxigénio; Se a vítima estiver consciente, orientada e não se encontra sonolenta deve-se induzir o vómito de forma mecânica. No caso de hipotensão elevar os membros inferiores; Avaliar e registar os parâmetros vitais; Efetuar a recolha de informação (CHAMU); 23

Transportar em decúbito lateral. Contatar o CIAV. 6.3. INTOXICAÇÕES POR OUTRAS SUBSTÂNCIAS a) Ingestão de cáusticos Os agentes cáusticos são encontrados em muitos produtos de limpeza, quer domésticos, quer industriais. Este tipo de produto quando ingerido vai provocar queimaduras da mucosa e consequentemente a sua destruição. Pode também, em contacto com a pele originar queimaduras graves. Fig. 19.13. Produtos de limpeza de uso doméstico. SINAIS E SINTOMAS Quando ingerido: Hipersalivação; Disfonia; Dor/Ardor retroesternal; Hemorragia digestiva; Dor abdominal. Quando em contato com a pele: Ardor e dor; Prurido; Queimadura. Quando ingerido: Identificar o produto; Não provocar o vómito; 24

Avaliar e registar os parâmetros vitais; Contatar o C.I.A.V. Quando em contato com a pele: Identificar o produto; Expor a zona atingida; Lavar abundantemente com água; Não tapar as zonas atingidas; Contatar o C.I.A.V. b) Monóxido de carbono O monóxido de carbono é um gás tóxico resultante da combustão. Trata-se na maioria dos casos de intoxicações acidentais, que resultam na maioria da combustão de materiais em ambientes fechados, incêndios ou de acidentes resultantes da existência de esquentadores na casa de banho. O seu grau de toxicidade é alto, bastando uma pequena concentração para matar a vítima. SINAIS E SINTOMAS Cefaleias; Náuseas e vómitos; Disfunção neurológica; Alteração da visão; Insuficiência respiratória; Cianose; Arritmias; Hipotensão; Convulsões. Arejar o local; Retirar a vítima do local; Permeabilizar a via aérea; Administrar oxigénio a 15 L/min; Avaliar e registar os parâmetros vitais; Efetuar a recolha de informação; Contatar o C.I.A.V. 25

c) Hidrocarbonetos (petróleo, gasolina, gasóleo, etc.) Este tipo de intoxicação é raro, e ocorre na maioria dos casos por acidente. Os hidrocarbonetos quando ingeridos provocam alterações fisiológicas significativas que surgem na sua maioria algum tempo após ter ocorrido a ingestão. SINAIS E SINTOMAS Alterações de consciência; Tonturas; Sonolência; Comportamento tipo alcoolizado; Agitação; Depressão respiratória; Cianose; Taquicardia; Hipotensão; Tremor; Queimaduras das mucosas; Dor /ardor retroesternal; Dor abdominal; Náuseas e vómitos; Diarreia. Não induzir o vómito nem administrar carvão ativado; Avaliar o nível de consciência; Procurar lesões da pele e das mucosas; Efetuar a recolha de informação (CHAMU); Contatar o CIAV. d) Organofosforados e carbamatos ( E-605 forte, Roxion, Gusation, etc.) O organofosforado é uma substância química com um elevado grau de toxicidade na maioria dos pesticidas de uso agrícola. Este tipo de substância é um inibidor irreversível de uma enzima (colinesterase) envolvida na transmissão dos estímulos nervosos. O carbamato à semelhança do organofosforado é um inibidor mais reversível desta mesma enzima. 26

Fig. 19.14.Gusation disponível no mercado. SINAIS E SINTOMAS Cefaleias; Tonturas; Visão desfocada; Fraqueza; Descoordenação motora; Fasciculações musculares; Tremores; Diarreia; Cólicas abdominais; Hipersalivação; Sudorese; Incontinência de esfínteres; Miose; Bradicardia; Convulsões; Hipotensão; Inconsciência; Paragem ventilatória. Indução mecânica do vómito (consciente) por ordem do C.I.A.V.; Administração de carvão ativado (ordem médica); Permeabilizar a via aérea; Aspiração de secreções; Administração de O2 a 15 l/min; Efetuar ventilação artificial com recurso ao insuflador manual no caso de paragem ventilatória; 27

Lavagem corporal; Avaliação dos parâmetros vitais; Efetuar a recolha de informação (CHAMU); Contatar o C.I.A.V. e) Raticidas (Racumin, Ratax, Ratibrom, etc.) Na sua generalidade são pesticidas de baixa toxicidade e fundamentalmente à base de anticoagulantes. As intoxicações deste tipo de produtos são frequentes, sendo a sua maioria de fácil resolução. A maior parte das vítimas apresentam-se assintomáticas. Fig. 19.15. Os raticidas são organofosforados de baixa toxicidade. Avaliar ABCDE; Avaliar parâmetros vitais; Efetuar a recolha de informação (CHAMU); Induzir o vómito; Contatar C.I.A.V; f) Paraquato (Gramoxone, Paraquato-SAPEC) O Paraquato é um pesticida de elevada toxicidade utilizado na agricultura. Neste tipo de intoxicações as vítimas vão apresentar-se assintomáticas, ou seja, não apresentam sinais e sintomas da intoxicação. Este facto não significa que as vítimas estejam fora de perigo, pelo contrário. O Paraquato atua lentamente no organismo e normalmente leva à morte da vítima dias após a ingestão. 28

Fig. 19.16.Paraquato. SINAIS E SINTOMAS Na maioria dos casos as vítimas apresentam-se assintomáticas Avaliar ABCDE; Retirar roupas contaminadas; Efetuar lavagem corporal; NÃO ADMINISTAR OXIGÉNIO; Avaliar e registar os parâmetros vitais; Efetuar a recolha de informação (CHAMU); Contatar o C.I.A.V. f) Hipoclorito de sódio (Lixívia) A ingestão de lixívia normalmente é de origem acidental e deve-se a deglutição de pequenas quantidades. Não sendo uma substância muito corrosiva é no entanto irritante para as mucosas, determinando queixas de odinofagia e ardor retroesternal. Fig. 19.17. A lixívia de uso doméstico tem várias percentagens de hipoclorito de sódio. SINAIS E SINTOMAS Ansiedade; 29

Ardor retroesternal; Irritação das mucosas; Odinofagia dificuldade em deglutir. Não induzir o vómito; Avaliar o estado das mucosas; Avaliar e registar os parâmetros vitais; Efetuar a recolha de informação (CHAMU); Contatar o C.I.A.V. g) Detergentes A ingestão de detergentes normalmente não origina intoxicações graves, sendo na sua maioria inofensivas. No entanto, alguns condicionam uma toxicidade sistémica ou produzem lesões locais graves. Assim, neste tipo de intoxicação, a recolha de informação e uma abordagem correta da vítima torna-se fundamental para a determinação de gravidade ou não. O recurso ao CIAV é necessário para a determinação dos procedimentos s adotar. A atuação para estes casos resume-se à contraindicação de induzir o vómito e devido à diversidade de produtos existentes o contacto com o CIAV. 7. RESUMO Uma boa observação do doente e a aplicação precoce das medidas que evitem a absorção do tóxico podem impedir que o quadro clínico da intoxicação assuma proporções de maior gravidade. Não deve esquecer que um intoxicado é um doente como outro qualquer, que merece atenção e respeito, e mesmo quando se trata de um toxicodependente ou suicida, nunca se deve comportar como juiz, nem manifestar reprovação ou desprezo. Assim e pelo que foi dito, podemos verificar que o C.I.AV, tem um papel fundamental neste tipo de situações, pelo que é importante, sempre que possível, estabelecer contato com este subsistema. 30