TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO AMAZONAS Acórdão n.1 5 I 20 Processo n. 1406-51.2014.6.04.00 00 Classe 25 Prestação de Contas de Candidato Eleições 2014 Requerente: Francisco de Souza Advogado: Francisco Eduardo Ribeiro Relator: Juiz Ricardo Augusto de Sales ELEIÇÕES 2014 - PRESTAÇÃO DE CONTAS DE CANDIDATO - DEPUTADO ESTADUAL AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE ORIGEM DE RECURSOS. VALOR RELEVANTE NO CONJUNTO DA PRESTAÇÃO DE CONTAS. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE. CONTAS DESAPROVADAS. 1. Inaplicáveis os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade no julgamento das contas de campanha, quando os valores são expressivos, comprometendo o julgamento das contas. 2. Ausência de comprovação de gastos com combustíveis enseja a desaprovação das contas do candidato, por desrespeito ao art. 18 da Resolução TSE 23.406/2014. 3.Contas desaprovadas. Acordam os Juízes do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas, por maioria, e em consonância com o parecer ministerial, DESAPROVAR as contas do candidato, nos termos voto do Relator, que fica fazendo parte integrante da decisão. Sala das Sessões do Tribunal Regional Elei ral do Amazonas, em Manaus, 447 de 16 janeiro de 2015. e\ Desembargador JOÃ O BESSA Presidente, em exercício Juiz RICARDO AUGUSTO SALE Douto IR RI. M NS SANTOS Procurador Regional Eleitoral Substituto
Secretaria PCONT 1406-51.2014.6.04.0000 CLASSE 25 Judiciária RELATÓRIO O SENHOR JUIZ RICARDO AUGUSTO DE SALES: Trata-se de prestação de contas apresentada pelo candidato eleito FRANCISCO DE SOUZA ao cargo de Deputado Estadual nas Eleições de 2014, nos termos do art. 33 e 38 da Res. TSE n. 23.406/2014. Em seu parecer conclusivo de fls. 985/1004, a Secretaria de Controle Interno deste Tribunal opinou pela desaprovação das contas, nos seguintes moldes: "1)a análise realizada nas, peças e documentos apresentados nas prestações de contas final e retificadora, bem como nos documentos complementares e justificativas à diligência apresentados pelo candidato, restaram caracterizadas as seguintes irregularidades: Infração grave, conforme estabelecido no art. 36, 5 2 da Resolução TSE n. 23.406/201 4, uma vez que as prestações de contas parciais não corresponderam à efetiva movimentação de recursos ocorrida até a sua data de entrega, tendo em vista que foram arrecadados recursos estimáveis em dinheiro no montante de R$ 28.250,00 (vinte e oito mil, duzentos e cinquenta reais) à época da 2' parcial mas informados somente na prestação de contas final, conforme apontado no item 3.7. deste relatório; Não apresentação de documentação comprobatória referente ao 4.800,00 (quatro mil e uso de recursos estimáveis no valor de R$ oitocentos reais), e comício no valor de R$ 800,00 contrariando o disposto no art. 23 da Res. 23.406/2014/TSE., conforme apontado no item 3.2 deste relatório; Subavaliação de doações de estimáveis em dinheiro relativas a 2
PCONT 1406-51.2014.6.04.0000 CLASSE 25 serviços pessoais de militância e motorista, considerando o valor usual de mercado, conforme apontado no item 3.3 deste relatório, contrariando o disposto no art. 40, inciso I, alínea 'd', item 1, da Res. TSE 23.406/ 2014; Subavaliação de valores referentes a cessão de 22 veículos, conforme exposto no item 3.4 deste relatório, contrariando o disposto no art. 40, inciso I, alínea 'd', item 1, da Res. TSE 23.406/2014; Arrecadação de recursos estimáveis em dinheiro cujo doador originário não foi identificado, no montante de R$ 28.250,00, em desacordo com o que dispõe o art. 29 da Resolução TSE n. 23.406/2014, conforme exposto no item 3.6 deste relatório; Ausência de despesas com combustíveis dos veículos a diesel utilizados na campanha, caracterizando movimentação financeira fora da conta bancária nos termos do art. 18 da Res. 23.406/2014, que por si só ensejam em desaprovação da contas, conforme explanado no item 4.2 deste relatório. Omissão do registro da Nota Fiscal n. 2511 no valor de 9.920,00 (nove mil, novecentos e vinte reais) de 15/08/2014 da empresa FM Ind. Gráfica Ltda referente locação de 06 estruturas Box e 02 Telões para evento realizado no Stúdio 5 no dia 10/08/2014." O Douto Procurador Regional Eleitoral, em parecer escrito nos autos (1006-1009), manifestou-se pela desaprovação das contas. É o relatório. 3
PCONT 1406-51.2014.6.04. 0000 CLASSE 25 VOTO O SENHOR JUIZ RICARDO AUGUSTO DE SALES : Senhor Presidente, Dignos Membros, Douto Procurador. A Coordenadoria de Controle Interno opinou pela desaprovação das contas do candidato por infração ao disposto nos arts.l8, 29, 36, 52 da Res. TSE n. 23.406/2014, in verbis: Art. 18. A movimentação de recursos financeiros fora das contas específicas de que trata os arts. 12 e 13 implicará a desaprovação das contas." Art. 29. Os recursos de origem não identificada não poderão ser utilizados pelos candidatos, partidos políticos e comitês financeiros e deverão ser transferidos ao Tesouro Nacional, por meio de Guia de Recolhimento da União (GRU), tão logo seja constatada a impossibilidade de identificação, observando-se o prazo de até 5 dias após o trânsito em julgado da decisão que julgar as contas de campanha. 1 A falta de identificação do doador e/ou a informação de números de inscrição inválidos no CPF ou no CNPJ caracterizam o recurso como de origem não identificada. Art. 36. Os candidatos e os diretórios nacional e estaduais dos partidos políticos são obrigados a entregar à Justiça Eleitoral, no período de 28 de julho a 2 de agosto e de 28 de agosto a 2 de setembro, as prestações de contas parciais, com a discriminação dos recursos em dinheiro ou estimáveis em dinheiro para financiamento da campanha eleitoral e dos gastos que realizaram, detalhando doadores e fornecedores, as quais serão divulgadas pela Justiça Eleitoral na internet nos dias 6 de agosto e 6 de setembro, respectivamente (Lei n 9.504/97, art. 28, 5 4, e Lei no 12.527/ 2011). 2 A prestação de contas parcial que não corresponda à efetiva 4
PCONT 1406-51.2014.6.04. 0000 CLASSE 25 movimentação de recursos ocorrida até a data da sua entrega, caracteriza infração grave, a ser apurada no momento do julgamento da prestação de contas final. No que concerne às doações recebidas em data anterior à entrega da segunda prestação de contas parcial, ocorrida em 02/09/2014, mas não informadas à época, verifico a boa fé do candidato, uma vez que, apesar de fora do prazo, forneceu ás informações ao Tribunal, permitindo a análise de suas contas. Nesse sentido é a jurisprudência deste Tribunal: EMENTA: PRESTAÇÃO DE CONTAS. ELEIÇÕES 2014. CANDIDATO. DEPUTADO FEDERAL. CAMPANHA ELEITORAL. OMISSÃO DE DOAÇÕES E DESPESAS ELEITORAIS NA PRESTAÇÃO DE CONTAS PARCIAIS. OMISSÃO DE DOAÇÃO EM ESPÉCIE A OUTRO CANDIDATO. IRREGULARIDADE. DOAÇÃO EM DINHEIRO SEM IDENTIFICAÇÃO DE DOADOR ORIGINÁRIO. VIOLAÇÃO AO ART. 26, 5 3, DA RES. TSE N 23.406/2014. IRREGULARIDADES NO PERCENTUAL DE 2,04%. APLICABILIDADE DOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. NÃO COMPROMETIMENTO DAS CONTAS. APROVAÇÃO COM RESSALVA. RECOLHIMENTO DO VALOR DE ORIGEM NÃO IDENTIFICADA AO TESOURO NACIONAL. ART. 29 RES. TSE N 23.406/2014.(ACÓRDÃO 720/2014. Relator Juiz Dídimo Santana Barros Filho. ) PRESTAÇÃO DE CONTAS. CAMPANHA 5
PCONT 1406-51.2014.6.04. 0000 - CLASSE 25 ELEITORAL. ELEIÇÕES 2014. EMISSÃO RECIBOS ELEITORAIS APÓS A PRESTAÇÃO DE CONTAS. POSSIBILIDADE. DIVERGÊNCIA ENTRE AS INFORMAÇÕES DA PRESTAÇÃO DE CONTAS PARCIAL E FINAL. I RRE LE VÂNCI A. CONTAS APROVADAS COM RESSALVAS. ( Acórdão 726/2014. Relator Marco Antônio Pinto da Costa. 12.12.2014). DE TREJAM Em relação a não comprovação de supostas recursos estimáveis no valor de R$800,00, em consonância com o parecer ministerial, entendo ser valor de pouca expressão, que não compromete a prestação de contas como um todo. No que tange a eventuais subavaliações de doações de estimáveis em dinheiro concernentes a serviços pessoais de militância e motorista, estas não podem ser aferidas por este magistrado, uma vez que não há nos autos elementos que demonstrem qual seria o real valor de mercado com vistas a se avaliar referida subavaliação. Outrossim, conforme asseverado pelo Ministério Público Eleitoral, não há prova de má-fé do candidato, pois este efetivou a declaração de todas as doa ções. Houve a arrecadação de cujo doador originário não foi R$28.250,00, em desacordo com o 23.406/2014. recursos estimáveis em dinheiro identificado, no montante de que preconiza o art. 29 da Res. Instado a se manifestar, o candidato informou que não se 6
PCONT 1406-51.2014.6.04.0000 - CLASSE 25 trata de recursos em espécie e sim de materiais gráficos doados para divulgar a campanha do candidato e que foi realizada a retificadora para inserir o nome e o CPF do doador originário, sendo o mesmo ELEIÇÃO 2014 SILAS CÂMARA DEPUTADO FEDERAL e ao final requereu que fosse diligenciado o referido candidato para fins de eventual confirmação. (f1.736). Assim, não -comprovou o candidato a origem dos recursos técnicos oriundos de outros candidatos, cabendo ressaltar, inclusive, que não cabe a esta Justiça Eleitoral diligenciar junto a terceiros as informações apresentadas, mas sim ao prestador, o qual é o interessado na aprovação de suas contas, oferecer a comprovação dos fatos por si alegados. Cumpre destacar, ainda, que me filio ao posicionamento desta Corte, seguindo voto do Dr. Affimar Cabo Verde Filho, nos autos do processo 1621-27.2014.6.04.0000 de que: "Discordo, todavia, da conclusão tecida pelo Analista Técnico e acompanhada pelo Ministério Público Eleitoral, no sentido.de que "Com relação a esse tipo de recurso, a ausência de identificação do doador originário verifica-se que a aplicação do dispositivo previsto na Resolução TSE n 23.406/2014, quais sejam os artigos 26, 3 c/c 29, 51, deve ser mitigada, pois como se trata de bens físicos doados entre candidatos torna-se inviável eventual recolhimento de valores à conta única do Tesouro Nacional por meio de Guia de Recolhimento da União - GRU, a considerar que já houve anteriormente a conversão do recurso financeiro em bens materiais. A lei não traça diferenciação entre doações em espécie ou 7
PCONT 1406-51.2014.6.04.0 000 CLASSE 25 em bens físicos, tampouco os dispositivos referidos estabelecem quaisquer ressalvas no sentido de mitigar a constatação da irrègularidade quando o candidato recebe recurso consistente em bem estimável em dinheiro de origem não identificada, portanto, é vedado todo e qualquer recebimento de recurso de origem não identificada." Assim, entendo que todos os recursos de origem não identificadas devem ser devolvidos aos Tesouro Nacional. valor de RS Em relação à omissão do registro da nota fiscal n. 2511 no 9.920,00 (nove mil, novecentos e vinte reais), cumpre notar que a existência da declaração de fls. 919 não comprova o efetivo cancelamento de referida nota fiscal, razão pela qual se trata de despesa não declarada, ensejando a desaprovação das contas do candidato. Por fim, quanto à ausência de declaração de despesas.com combustíveis dos veículos a diesel utilizados na campanha, verifico que se constitui em afronta ao art. 18 da Resolução de regência, ensejando a desaprovação das contas apresentadas. Na análise das irregularidades acima apontadas, apreendo que o Tribunal Superior Eleitoral tem jurisprudência já consolidada no sentido da "[...] aplicabilidade dos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade no julgamento das contas de campanha, quando verificadas faltas que não lhes comprometam a regularidade" (AgR- RO n 274641/RR, rei. Mm. Arnaldo Versiani, DJe de 15.10.2012).
Secretaria PCONT 1406-51.2014.6.04.0000 CLASSE 25 Tais princípios têm incidido inclusive nos casos de irregularidades consideradas insanáveis, como, por exemplo, as doações oriundas de fontes vedadas, desde que o valor não seja expressivo. Nesse sentido, cito os seguintes julgados: Judiciária TREJAM "Prestação de contas. Campanha eleitoral. Candidato a deputado. Fonte vedada. 2. Ainda que se entenda que a doação seja oriunda de fonte vedada, a jurisprudência desta Corte Superior tem assentado que, se o montante do recurso arrecadado não se afigura expressivo diante do total da prestação de contas, deve ser mantida a aprovação das contas, com ressalvas, por aplicação dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. Agravo regimental a que se nega provimento." (AgR-REspe n 963587/MG, DJe de 18.6.2013, rei. Mm. Henrique Neves). (original sem o grifo) "Prestação de contas. Doação por fonte vedada 1.É de manter-se a decisão do Tribunal Regional Eleitoral que, em observância aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, entendeu, diante das particularidades do caso, aprovar com ressalva as contas do candidato, considerando que a irregularidade alusiva à doação por fonte vedada - proveniente de sindicato - correspondeu a percentual ínfimo em relação ao total de recursos arrecadados para a campanha. 2.0 TSE 'á decidiu que, se a doação recebida de fonte vedada for de pequeno valor e não se averiguar a má-fé do candidato ou a ravidade das circunstâncias diante do caso concreto é ro orcionalidad
PCONT 1406-51.2014.6.04.0000 - CLASSE 25 e da razoabilidade para aprovar, com ressalva, prestação de contas. Precedente: Agravo Regimental no Agravo de Instrumento n 82-42. Agravo regimental não provido." (AgR-Al n 1020743/MG, DJe de 27.11.2012, rei. Mm. Arnaldo Versiani). (original sem o grifo) a Entretanto, forçoso salientar que as falhas apontadas corresponderam a aproximadamente 18,88 % do total de recursos arrecadados, segundo informação prestada e atestada pela analista de contas, circunstância que não permite a aplicação da orientação jurisprudencial da Corte Superior Eleitoral quanto à possibilidade de se aplicar os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade na análise das contas, consoante acima demonstrado. Nesse sentido, são os seguintes julgados proferidos pelo egrégio Tribunal Regional Eleitoral, da lavra do Dr. Dídimo Santana Barros Filho. EMENTA: PRESTAÇÃO DE CONTAS. ELEIÇÕES 2014. CANDIDATO. DEPUTADO ESTADUAL. CAMPANHA ELEITORAL. OMISSÃO DE GASTOS ELEITORAIS NA PRESTAÇÃO DE CONTAS. GASTOS REALIZADOS APÓS A DATA DA ELEIÇÃO. VIOLAÇÃO ART. 30 E 5 DA RES. TSE. N 23.406/2014. IRREGULARIDADE NO PERCENTUAL DE 10,29%. INAPLICABILIDADE DOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIADE. COMPROMETIMENTO DAS CONTAS. DESAPROVAÇÃO. (Acórdão 740/2014. 10
PCONT 1406-51.2014.6.04.0000 - CLASSE 25 Juiz Dídimo Santana Barros Filho.15/ 12/2014) EMENTA: PRESTAÇÃO DE CONTAS. ELEIÇÕES 2014. CANDIDATO DEPUTADO ESTADUAL.CAMPANHA ELEITORAL. RECEBIMENTO DE VALORES SEM EMISSÃO DE RECIBO ELEITORAL. NÃO IDENTIFICAÇÃO DA ORIGEM DOS RECURSO. DOAÇÃO EM DINHEIRO SEM IDENTIFICAÇÃO DE DOADOR ORIGINÁRIO. VIOLAÇÃO AO ART. 26, 53, DA RES. TSE. N 23.406/2014. IRREGULARIDADE NO PERCENTUAL DE 64,55%. INAPLICABILIDADE DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE COMPROMETIMENTO DAS CONTAS. DESAPROVAÇÃO. RECOLHIMENTO DO VALOR DE ORIGEM NÃO IDENTIFICADA AO 'TESOURO NAQONAL.ART.29 RES. TSE. N 23.406/2014. (Acórdão 770/2014. Relator Dídimo Santana Barros Filho) Assim, devem as contas serem consideradas desaprovadas e conforme determina o art. 29 da Res. TSE 23.406/2014, deve o requerente recolher ao Tesouro Nacional o valor de RS 28.250,00 (vinte e oito mil, duzentos e cinquenta reais) por configurar recurso de origem não identificada, no prazo de até cinco dias após o trânsito em julgado desta decisão. Ante o exposto, voto, em consonância com o parecer ministerial, pela desaprovação das contas de FRANCISCO DE 1 11
PCONT 1406-51.2014.6.04.0000 - CLASSE 25 SOUZA ao cargo de Deputado Estadual nas Eleições de 2014. É como voto. Manaus, 16 de janeiro de 2015. Juiz RICARDO AU d ST DE 12