PROCESSO Nº: 0803859-87.2015.4.05.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - PB AGRAVANTE: WAGNER TORRES DE ARAUJO ADVOGADO: ROGÉRIO MAGNUS VARELA GONÇALVES AGRAVADO: FUNDACAO UNIVERSIDADE DE BRASILIA (e outro) RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA - 2ª TURMA RELATÓRIO Trata-se de agravo de instrumento interposto por WAGNER TORRES DE ARAUJO em face da UNIÃO e do CENTRO DE SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - CESPE/UNB, contra decisão que, em sede de ação cautelar, rejeitou a liminar para suspender o afastamento do autor, ora agravante, do concurso para Agente da Polícia Federal, regido pelo Edital nº 55/2014 - DGP/DPF e, por conseguinte, à permissão para se inscrever e participar do curso de formação de Polícia Federal e atos sequenciais do concurso público. Sustenta, em suma, o agravante que foi aprovado em todas as fases do concurso, tendo concorrido para as cotas de negros e pardos. Alega que no dia 28/05/2015 foi lançado o Edital nº 8, que instituía uma nova fase no concurso, criando novas regras e possíveis eliminações com base em critérios subjetivos, o que contraria o próprio edital de abertura, onde essa nova fase não existia, eis que se consubstanciou em inovação das regras do concurso no decorrer do próprio certame. Diz que o edital colidiu com a lei nº 12990/14, com entendimento do STF, e com orientação do IBGE. Alega que em 24/06/2015 ocorreu a eliminação de uma série de candidatos pardos, dentre os quais o autor, justificando a banca examinadora que "as características fenotípicas não atendem às exigências do edital". Diz que após inúmeras reclamações, a banca abriu espaço para que os candidatos eliminados pudessem juntar novas fotos e outros documentos comprobatórios de sua condição de candidato especial (preto ou pardo). Alega que apesar de ter juntado fotos e documentos públicos pessoais alegando a cor parda, a CESPE ignorou sumariamente todos os meios de prova, reprovando-o de forma definitiva e indeferindo o recurso. Registra que nem a lei, nem o edital, mencionam quais as características que deva enquadrar candidatos em avaliações na condição de negros ou pardos, recorrendo-se ao IBGE, que adota o critério da autodeclaração. Afirma que se autodeclarou pardo; Alega que existe laudo médico dermatológico dizendo que o recorrente é pardo, assim como existem diversos documentos públicos (Certidão de nº 323/2015 do Núcleo de Identificação Civil e Criminal do Estado da Paraíba) preexistentes à legislação de inclusão racial em que o Estado brasileiro entendeu que o recorrente era pardo.
Destaca que a nota alcançada pelo recorrente foi suficiente para ele ser aprovado, mesmo que na ampla concorrência. Explica que outro candidato, de nome Hilton Rocha Paulo de Albuquerque, alcançou nota idêntica ao do autor (76,32 pontos), tendo se classificado na 518ª posição. Diz que caso não tivesse sido eliminado do concurso, estaria ocupando a 519ª posição, figurando como aprovado dentro da ampla concorrência, dentre os 549 candidatos classificados. Esclarece que o concurso prevê o preenchimento de 600 vagas para Agente de Policia Federal, das quais 450 são destinadas para ampla concorrência, 30 para candidatos portadores de necessidades especiais e 120 reservadas aos candidatos negros (pretos e pardos). Entretanto, as 30 vagas dos PNEs não foram preenchidas e foram revertidas para ampla; das 120 das cotas apenas 51 foram preenchidas. Então, no final do concurso, ficaram 549 vagas na ampla e 51 nas cotas. Pondera que há uma enorme quantidade de precedentes favoráveis ao pleito do autor. A União apresentou contrarrazões tempestivamente. A Fundação Universidade de Brasília - FUB apresentou contrarrazões tempestivamente, arguindo a ilegitimidade passiva para figurar na lide. É o relatório. rcpg PROCESSO Nº: 0803859-87.2015.4.05.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - PB AGRAVANTE: WAGNER TORRES DE ARAUJO ADVOGADO: ROGÉRIO MAGNUS VARELA GONÇALVES AGRAVADO: FUNDACAO UNIVERSIDADE DE BRASILIA (e outro) RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA - 2ª TURMA VOTO Preliminarmente, conquanto o CESPE UnB/FUB (Fundação Universidade de Brasília) alegue em suas razões que não possui legitimidade para o polo passivo da causa, porque em verdade quem realizou o concurso foi o CEBRASPE (Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos), trata-se de tema a ser oportunamente apreciado pelo juízo de origem, inclusive, se o caso, instando o autor a promover citação respectiva. No mérito, vislumbro assistir razão ao agravante, mas não em face dos seus primeiros argumentos. O caso em questão cinge-se a respeito da possibilidade do agravante se inscrever no
curso de formação da Polícia Federal (segunda etapa do concurso público para agente da polícia federal), concorrendo à vaga na condição de candidato negro, após ter sido eliminado por decisão da administração proferida com base no edital suplementar nº 8/2015 - DGP/DPF, que convocou os candidatos beneficiados com a cota para o procedimento administrativo de verificação da condição de candidato negro (preto ou pardo). A decisão da administração foi no sentido de que as características do agravante não atendem às exigências do edital. O Edital de abertura do certame, nº 55/2014 - DGP/DPF, estabelecera: "5.1.2 Para concorrer às vagas reservadas, o candidato deverá no ato da inscrição, optar por concorrer às vagas reservadas aos negros, preenchendo a autodeclaração de que é preto ou pardo, conforme quesito cor ou raça utilizado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE". Mais, o Edital nº 55 dispôs que "5.1.4.1 Na hipótese de constatação de declaração falsa, o candidato será eliminado do concurso e, se tiver sido nomeado, ficará sujeito à anulação de sua admissão ao serviço ou emprego público, após procedimento administrativo em que lhes sejam assegurados o contraditório e a ampla defesa, sem prejuízo de outras sanções cabíveis". Por seu turno, o Edital nº 8, no dizer do agravante, instituiu uma nova fase no concurso, criando novas regras e possíveis eliminações com base em critérios subjetivos, o que contraria o próprio edital de abertura, onde essa nova fase não existia, eis que se consubstanciou em inovação das regras do concurso no decorrer do próprio certame. Ocorre que o segundo edital, em rigor, não cuidou de inovar quanto as regras do certame, como pondera o agravante. Trata-se tão só de explicitação das regras já insculpidas no edital primeiro. Tal significa dizer que embora no primeiro edital conste cláusula que registra que o candidato prestaria a autodeclaração enquanto cotista porque afrodescendente, ali também consta que incumbe à administração proceder à constatação da veracidade da declaração, e nesse sentido procedeu o ato que o considerou como não integrante da condição de negros ou pardos, justificando a banca examinadora que "as características fenotípicas não atendem às exigências do edital". Sob essa ótica, não é dado concluir que existira qualquer afronta ao devido processo legal ou às normas do certame originariamente estabelecidas. Nada obstante, impõe-se reconhecer que a verificação pela administração da inocorrência de enquadramento do candidato como cotista não pode ter o condão de eliminá-lo do certame como um todo, mas tão só da lista destinada aos cotistas. Esse Tribunal tem entendido semelhantemente quanto aos candidatos a concursos vestibulares egressos de escolas públicas. Naqueles casos, se por hipótese o candidato não for considerado como cotista, porque não fizera todo o ensino médio em escola pública, ainda assim poderá participar de ampla concorrência. Da mesma forma no caso presente. Se o candidato possuir nota suficiente para sua aprovação no número de vagas de ampla concorrência, não há falar em sua eliminação do certame. Ao que aduz o agravante, sua nota o enquadraria na classificação 519, portanto dentro
das 549 que restaram (no final do concurso, e já revertidas algumas inicialmente destinadas às cotas, mas não preenchidas) para a ampla concorrência. Mercê do exposto, DOU PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO. É como voto. PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA Desembargador Federal Relator RCPG PROCESSO Nº: 0803859-87.2015.4.05.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - PB AGRAVANTE: WAGNER TORRES DE ARAUJO ADVOGADO: ROGÉRIO MAGNUS VARELA GONÇALVES AGRAVADO: FUNDACAO UNIVERSIDADE DE BRASILIA (e outro) RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA - 2ª TURMA EMENTA AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONCURSO PÚBLICO. COTAS. CARACTERÍSTICAS FENOTÍPICAS DO CANDIDATO NÃO CONSTATADAS PELA ADMINISTRAÇÃO. NÃO ELIMINAÇÃO DO CERTAME. DIREITO À DISPUTA DAS VAGAS DE AMPLA CONCORRÊNCIA. 1. Trata-se de agravo de instrumento interposto por WAGNER TORRES DE ARAUJO em face da UNIÃO e do CENTRO DE SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - CESPE/UNB, contra decisão que, em sede de ação cautelar, rejeitou a liminar para suspender o afastamento do autor, ora agravante, do concurso para Agente da Polícia Federal, regido pelo Edital nº 55/2014 - DGP/DPF e, por conseguinte, à permissão para se inscrever e participar do curso de formação de Polícia Federal e atos sequenciais do concurso público. 2. O caso em questão cinge-se a respeito da possibilidade do agravante se inscrever no curso de formação da Polícia Federal (segunda etapa do concurso público para agente da polícia federal), concorrendo à vaga na condição de candidato negro, após ter sido eliminado por decisão da administração proferida com base no edital suplementar nº 8/2015 - DGP/DPF, que convocou os candidatos beneficiados com a
cota para o procedimento administrativo de verificação da condição de candidato negro (preto ou pardo). A decisão da administração foi no sentido de que as características do agravante não atendem às exigências do edital. 3. O Edital de abertura do certame, nº 55/2014 - DGP/DPF, estabelecera: "5.1.2 Para concorrer às vagas reservadas, o candidato deverá no ato da inscrição, optar por concorrer às vagas reservadas aos negros, preenchendo a autodeclaração de que é preto ou pardo, conforme quesito cor ou raça utilizado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE". Mais, o Edital nº 55 dispôs que "5.1.4.1 Na hipótese de constatação de declaração falsa, o candidato será eliminado do concurso e, se tiver sido nomeado, ficará sujeito à anulação de sua admissão ao serviço ou emprego público, após procedimento administrativo em que lhes sejam assegurados o contraditório e a ampla defesa, sem prejuízo de outras sanções cabíveis". 4. Por seu turno, o Edital nº 8, no dizer do agravante, instituiu uma nova fase no concurso, criando novas regras e possíveis eliminações com base em critérios subjetivos, o que contraria o próprio edital de abertura, onde essa nova fase não existia, eis que se consubstanciou em inovação das regras do concurso no decorrer do próprio certame. 5. Ocorre que o segundo edital, em rigor, não cuidou de inovar quanto as regras do certame, como pondera o agravante. Trata-se tão só de explicitação das regras já insculpidas no edital primeiro. Tal significa dizer que embora no primeiro edital conste cláusula que registra que o candidato prestaria a autodeclaração enquanto cotista porque afrodescendente, ali também consta que incumbe à administração proceder à constatação da veracidade da declaração, e nesse sentido procedeu o ato que o considerou como não integrante da condição de negros ou pardos, justificando a banca examinadora que "as características fenotípicas não atendem às exigências do edital". Sob essa ótica, não é dado concluir que existira qualquer afronta ao devido processo legal ou às normas do certame originariamente estabelecidas. 6. Nada obstante, impõe-se reconhecer que a verificação pela administração da inocorrência de enquadramento do candidato como cotista não pode ter o condão de eliminá-lo do certame como um todo, mas tão só da lista destinada aos cotistas. Esse Tribunal tem entendido semelhantemente quanto aos candidatos a concursos vestibulares egressos de escolas públicas. Naqueles casos, se por hipótese o candidato não for considerado como cotista, porque não fizera todo o ensino médio em escola pública, ainda assim poderá participar de ampla concorrência. Da mesma forma no caso presente. Se o candidato possuir nota suficiente para sua aprovação no número de vagas de ampla concorrência, não há falar em sua eliminação do certame. Ao que aduz o agravante, sua nota o enquadraria na classificação 519, portanto dentro das 549 que restaram (no final do concurso, e já revertidas algumas inicialmente destinadas às cotas, mas não preenchidas) para a ampla concorrência. 7. Agravo de instrumento provido.
RCPG ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, em que figuram como partes as acima indicadas. DECIDE a Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, à unanimidade, DAR PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO, nos termos do voto do Relator e das notas taquigráficas, que passam a integrar o presente julgado. Recife, 15 de setembro de 2015. PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA Desembargador Federal Relator RCPG