Progresso na Erradicação da Poliomielite Etiópia, Somália e Sudão, Janeiro de 2001 Outubro de 2002 Desde que a Assembléia Mundial de Saúde resolveu em maio de 1988 erradicar a poliomielite, o número estimado de casos de pólio tem declinado globalmente >99%. O número de países nos quais a pólio foi estimada como endêmica diminuiu de 125 em 1988 para 10 em 2001, e três regiões da Organização Mundial de Saúde (OMS) (Americana, Européia e Pacífico Ocidental) compreendendo aproximadamente 55% da população mundial vêm sendo certificadas livres de pólio (1). O Sudão, Somália e Etiópia têm alcançado os níveis mais baixos de circulação do poliovírus desde que a iniciativa para erradicação da pólio foi iniciada e estão se aproximando da interrupção da transmissão. Este relatório descreve as atividades para erradicação da pólio nesses países durante o período de janeiro de 2001 a outubro de 2002, sumariza o progresso feito, e realça as alterações restantes. A concordância política e apoio financeiro contínuo serão necessários para erradicar a pólio nesses países. Imunização de Rotina De acordo com a estimativa nacional, 50% das crianças na Etiópia <1 ano de idade receberam 3 doses da vacina oral contra poliovírus (VOP3) em 2001. Na Somália, onde os serviços de vacinação são desenvolvidos através de organizações nacionais e internacionais não governamentais apoiadas pela OMS, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), e outras agências das Nações Unidas, a cobertura com VOP3 foi uma estimativa de 33% em 2001. No Sudão, oficialmente notificou que a cobertura aumentou de 65% em 2000 para 71% em 2001. Entretanto, devido à falta de um programa de vacinação de rotina nas áreas afetadas por conflitos da parte sul do país, a OMS e a UNICEF estima atualmente uma cobertura nacional total em 47%. Atividades Suplementares de Imunização As atividades suplementares de imunização (ASIs) iniciaram em 1994 no Sudão, em 1996 na Etiópia, e em 1997 na Somália (2-4). As ASIs foram intensificadas através da vacinação casa-a-casa a partir de 1999 na Somália e Sudão e em 2000 na Etiópia. Durante o período de 2001-2002, pelo menos duas etapas de Dias Nacionais de Imunizações (DNIs) * foram realizadas na Etiópia, Somália e Sudão entre crianças <5 * Campanhas de vacinação em massa durante curto período (dias a semanas) nas quais 2 doses de VOP são administradas a todas as crianças (usualmente <5 anos), independente de história de vacinação prévia, com um intervalo de 4-6 semanas entre as doses.
anos (população total alvo estimada: 13,7 milhões, 1,3 milhão e 7,0 milhões, respectivamente). Além dos DNIs, os países realizaram etapas adicionais de dias subnacionais de imunizações (DSNIs) visando populações e áreas de alto risco. Na Etiópia, os DSNIs foram realizados em 21 zonas e três áreas de subzonas em cinco regiões do país. Os critérios utilizados para selecionar essas áreas incluíram isolamento prévio do poliovírus selvagem, indicadores de vigilância deficientes, baixa cobertura vacinal de rotina, desempenho abaixo do ideal nas campanhas anteriores, dificuldade na obtenção de acesso, e fronteiras compartilhadas com países nos quais a pólio é endêmica. Aproximadamente 3,5 milhões de crianças foram vacinadas nessas campanhas. A implementação da alta qualidade das ASIs tem ocorrido na Somália e Sudão apenas da continuidade do conflito armado naqueles países. Na Somália, durante interrupções dos conflitos, uma estratégia de ASI de acesso rápido tem sido implementada nas quais os vacinadores têm trabalhado independentemente visando populações pequenas em um curto período de tempo. No Sudão, o qual vem enfrentando guerra civil por 34 anos, as ASIs em áreas controladas pelo governo vêm sendo coordenadas com êxito com ASIs em áreas no sul não controladas pelo governo central. Durante o período de 2000-2001, as acalmias nas lutas permitiram a implementação das ASIs pela primeira vez nas Montanhas Nuba e áreas do sul do Nilo Azul no Sudão. Vigilância da Paralisia Flácida Aguda Desde 2001, a Etiópia, Somália e Sudão têm excedido o alvo estabelecido pela OMS para uma taxa de paralisia flácida aguda não pólio (PFA) indicativa de vigilância sensível (ou seja, >1 por 100.000 <15 anos) (Tabela). Esses países não atendem as medidas de adequação do alvo da OMS da coleta de amostras de fezes (ou seja, > 80%) em 2001, embora o Sudão tenha atendido este alvo em 2002. Em 2001, a taxa de isolamento de enterovírus não pólio (alvo: >10%), um marcador de desempenho laboratorial e a integridade da cadeia de frio reversa para amostras, foi 25% para a Etiópia, 17% para o Sudão e 16% para a Somália. TABELA. Número de casos notificados de paralisia flácida aguda (PFA) e número de casos confirmados de poliomielite, por indicadores chaves de vigilância, país e ano Etiópia, Somália e Sudão, janeiro de 2001 a outubro de 2002* % de pessoas com PFA com Nº casos de PFA Nº casos confirmados de poliovírus selvagem Taxa PFA n/pólio amostras adequadas de fezes 2001 2002 2001 Jan-Out 2001 Jan-Out 2002 2001 2002 2001 2001 Etiópia 553 376 1 1 0 1.74 1.31 47% 71% Somália 129 98 7 6 3 4.09 3.91 595 635 Sudão 303 306 1 1 0 2.15 2.65 745 89% * Até 4 de novembro de 2002. Os três casos confirmados de poliovírus selvagem na Somália durante janeiro-outubro de 2002 incluíram um caso notificado pelo pessoal de comunicação em 20 de novembro de 2002. Até janeiro de 2001. A Somália e o Sudão usaram o esquema de classificação virológica, o qual a Etiópia adotou durante 2001. Os casos com poliovírus isolado são classificados como confirmado e aqueles sem amostras adequadas, porém com sinais e sintomas compatíveis. Os casos entre pessoas com amostras inadequadas são revisados por um comitê de especialistas e descartados ou classificados com compatíveis com pólio. Por 100.000 habitantes <15 anos. Percentagem com duas amostras adequadas de fezes, coletadas 24 horas de intervalo dentro de 14 dias do início da paralisia. A vigilância da PFA na Etiópia, Somália e Sudão é facilitada pelo pessoal incluindo os funcionários reinados em erradicação da pólio. Na Etiópia, 19 equipes estão dispostas através do país. Na Somália, a qual não tem tido um governo central funcionando desde Campanhas de vacinação em massa similares aos DNI, porém em área menor. 2
1991, a UNICEF e a MOS tem organizado 164 equipes nacionais e internacionais de tempo integral em todos os distritos para auxiliar na vigilância e ASIs. No Sudão, 44 pessoas têm sido organizadas no norte e 230 no sul, uma área extensa com infraestrutura precária e enfrentando conflitos. Além da obrigação de erradicação da pólio, a equipe realiza atividades limitadas na vigilância de outras doenças imunopreveníveis (p. ex.: o sarampo) e participa na rede de alerta para outras principais doenças infecciosas. Incidência do Poliovírus Selvagem Os últimos casos positivos para poliovírus selvagem notificados na Etiópia e Sudão ocorreram em janeiro e abril de 2001, respectivamente (Figura). Os poliovírus foram tipo 1. Em 2000, a Etiópia notificou 155 casos confirmados de pólio, três dos quais foram confirmados virologicamente, e o Sudão notificou 79 casos, quatro dos quais foram confirmados virologicamente, 42 (92%) dos quais ocorreram na cidade capital, Mogadishu. Em 2001, sete casos confirmados virologicamente foram identificados na área densamente habitada de Mogadishu ( Lower Shabelle e Banadir). Durante 2002, três casos confirmados virologicamente têm sido identificados na Somália (o mais recentemente em outubro); todos esses casos ocorreram em área de Mogadishu (Lower Shabelle, Middle Shabelle, e Banadir). FIGURA. Casos confirmados de poliomielite*, por tipo de poliovírus isolado Etiópia, Somália e Sudão, Janeiro 2001 Outubro dd 2002. 3
*Até 4 de novembro de 2002. O tipo 3 de vírus selvagem em 2002. O Vírus selvagem tipo 3 de 2002 inclui um caso na Somália notificado pelo pessoal de comunicação em 20 de novembro de 2002. Relatado por: Escritórios do País para a Etiópia, Somália, e Sudão, Organização Mundial de Saúde. Programa para Erradicação da Pólio, Escritório Regional para o Mediterrâneo Oriental, Organização Mundial de Saúde, Cairo, Egito. Departamento de Vacinas e Biológicos, Organização Mundial de Saúde, Genebra, Suíça. Div. de Doenças Virais Rickettsiais, Centro Nacional de Doenças Infecciosas; Divisão de Imunização Global, Programa Nacional de Imunizações, CDC. Nota Editorial: Desde Janeiro de 2001, progresso substancial tem sido feito para a erradicação da pólio na Etiópia, Somália e Sudão. A Etiópia e Sudão não têm notificado um caso de pólio em >1 ano, e a transmissão na Somália parece limitada a área de Mogadishu. Esses avanços têm resultado de ações substanciais pelos países com o apoio da parceria do setor público e privado internacional para erradicação da pólio. O avanço para a erradicação da pólio na Somália e Sudão demonstra que as estratégias para erradicação podem ser implementadas com êxito mesmo em áreas de difícil acesso e conflitos em andamento. Os acordos de cessar fogo têm permitido acesso a crianças previamente não alcançadas pelos serviços. A capacidade nacional tem sido fortalecida para tratar de outras doenças pela construção de sistemas de vigilância e notificação de doenças e pelo desenvolvimento de recursos humanos nacionais através de treinamento. O programa tem desenvolvido uma plataforma para fornecer serviços de saúde em todo o país pelo estabelecimento de um sistema extensivo para acessar crianças. Os desafios chaves para os programas de erradicação incluem melhoria da qualidade das ASIs e vigilância. Os países classificados como livres de pólio devem manter altos níveis de cobertura vacinal e vigilância para garantir a interrupção da transmissão do vírus e fornecer uma barreira contra a importação do vírus. As atividades do programa devem ser fortalecidas na Somália e regiões distantes da Etiópia em fronteira com a Somália; as infraestruturas de saúde fracas ou ausentes nessas regiões têm resultado em baixa cobertura vacinal e vigilância inadequada da PFA. Embora o alcance de crianças em áreas em conflito (incluindo a área de Mogadishu) seja difícil, o acesso deve ser garantido para interromper a transmissão do poliovírus. A colaboração íntima entre a OMS e a UNICEF, a qual tem sido de importância crítica na Somália, deve continuar. Para realçar as atividades de erradicação, os países devem fornecer o apoio técnico necessário e manter a concordância política enquanto a incidência da pólio declina e voltar a atenção para outras necessidades urgentes da saúde. Em abril de 2002, o Grupo Consultivo Técnico Global para Erradicação da Poliomielite identificou o desafio maior para a erradicação da pólio como a garantia da necessidade de recursos financeiros (5). Para apoiar a continuidade da alta qualidade das atividades para erradicação da pólio na Etiópia, Somaria e Sudão, a OMS e a UNICEF necessitará de uma estimativa de $50 milhões em 2003. As ações de apoio aos programas para erradicação da pólio continuarão. Grupos consultivos técnicos independentes se reunirão e revisões administrativas serão realizadas em cada país para monitorar o progresso e fornecer diretrizes. Antes da certificação 4
regional da erradicação da pólio, a contenção laboratorial do poliovírus selvagem deve ser alcançada. A OMS está auxiliando os países em desenvolvimento e implementando os planos nacionais para contenção laboratorial do poliovírus (6), e os países livres de pólio da Etiópia e Sudão tem iniciado o processo de contenção. Pessoal treinado e a infraestrutura substancial têm sido estabelecidas na Etiópia, Somaria e Sudão através dos programas de erradicação da pólio, particularmente na Somália e Sudão; esta infraestrutura estará disponível após a erradicação da pólio para tratar de outros pontos importantes da saúde, e o planejamento será necessário para garantir o uso ideal. Referências 1. CDC. Progress toward global eradication of poliomyelitis, 2001. MMWR 2002;51:253-6. 2. CDC. Progress toward poliomyelitis and dracunculiasis eradication-sudan, 1999-2000. MMWR 2001;50:269-73. 3. CDC. Progress toward poliomyelitis eradication-ethiopia, 1997-August 2000. MMWR 2000;49:867-70. 4. CDC. Progress toward poliomyelitis eradication during armed conflict-somalia and Southern Sudan, January 1998-June 1999. MMWR 1999;48:633-7. 5. World Health Organization. Report of the Seventh Meeting of the Global Technical Consultative Group (TCG) for Poliomyelitis Eradication. Geneva, Switzerland: World Health Organization, 2002 (WHO document no. WHO/V&B/02.12). 6. CDC. Global progress toward laboratory containment of wild polioviruses, July 2001- August 2002. MMWR 2002;51:993-6. Este documento traduzido trata-se de uma contribuição da Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações CGPNI/CENEPI/FUNASA/MS, em parceria com a Organização Pan Americana de Saúde OPAS - Escritório Regional da Organização Mundial de Saúde para a Região das Américas - Brasil, a todos que se dedicam às ações de imunizações. 5