RECOMENDAÇÃO N 001/2012 PJCM O Ministério Público do Estado do Pará, neste ato representado pelos Promotores de Justiça Lorena de Moura Barbosa, Ely Soraya Silva Cezar e Carlos Eugênio Salgado, no pleno exercício de suas atribuições constitucionais e legais, com fulcro nos art. 127 e 129, inciso II da Constituição Federal, e, CONSIDERANDO que o Inquérito Policial compreende o conjunto de diligências realizadas pela autoridade policial para obtenção de elementos que apontem a autoria e comprovem a materialidade das infrações penais investigadas, permitindo, assim que o Ministério Público (nos crimes de ação penal pública) e ao ofendido (nos crimes de ação penal privada) o oferecimento da denúncia e da queixa-crime 1 ; CONSIDERANDO o disposto no artigo 127, caput, da Constituição Federal, que estabelece ser incumbência do Ministério Público a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos direitos individuais indisponíveis; CONSIDERANDO o disposto no artigo 129, I, da Constituição Federal, que estabeleceu ser atribuição privativa do Ministério Público promover a ação penal, na forma da lei; CONSIDERANDO o disposto no artigo 129, VII, da Constituição Federal, que estabeleceu ser função institucional do Ministério Público o controle externo da atividade policial, na forma de lei complementar; CONSIDERANDO o disposto no art. 144, 4º, da Constituição Federal que estabelece ser atribuição da policial civil, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares, consistindo o objetivo primordial do inquérito policial a reunião das provas de materialidade e indícios da autoria a fim de subsidiar a ação penal à ser manejada pelo Ministério Público; CONSIDERANDO o que dispõe o art. 178, caput, e o art. 182, I e VII, ambos da Constituição do Estado do Pará, que estabelecem ser atribuições do Parquet Estadual as mesmas previstas no Texto Constitucional de 1988, referidas acima; 1 AVENA, Norberto. Processo Penal esquematizado.pg. 149.
CONSIDERANDO o disposto no art. 80, da Lei 8.625, de 1993, c/c o disposto no art. 9º da Lei Complementar nº 75 de 1993, que dispõe sobre o controle externo da atividade policial exercido pelo Ministério Público da União, que tem aplicação na esfera estadual, vez que o art. 80 da Lei 8.625, de 1993 determina a aplicação ao Ministério Público do Estado as normas da Lei Orgânica do Ministério Público da União; CONSIDERANDO o disposto no art. 4º, inciso IX da Resolução 20 de 2007, elaborada pelo Conselho Nacional do Ministério Público CNMP, a qual objetiva regulamentar o art. 9º da Lei Complementar nº 75 de 1993 e art. 80, da Lei 8.625, de 1993, que definiu como atividade para o exercício e resultado do controle externo da atividade policial expedir recomendações, visando à melhoria dos serviços policiais; CONSIDERANDO o disposto na Resolução nº 11 de 2011, elaborada pelo Colégio de Procuradores de Justiça do Ministério Público do Estado, instrumento normativo que regulamenta o controle externo da atividade policial a ser desempenhado por este Órgão Ministerial, que no art. 4º, inciso IX, definiu como atividade para o exercício e resultado do controle externo concentrado da atividade policial a expedição de recomendações visando à melhoria dos serviços policiais; CONSIDERANDO o disposto nos incisos I e II, segunda parte, do art. 6º, da Resolução nº 23, de 2011, elaborada pelo Colégio de Procuradores de Justiça do Ministério Público do Estado do Pará, que estabelece serem atribuições dos 3º e 4º cargos de Promotoria de Justiça de Marabá a atuação nos procedimentos e processos judiciais e extrajudiciais, relativos à violação dos direitos humanos, no que refere as garantias individuais e ao fundamento constitucional da dignidade da pessoa humana, bem como a tutela dos direitos humanos e o controle externo concentrado da atividade policial; CONSIDERANDO que é imprescindível que sejam arrolados nos processos os policiais militares e demais pessoas que efetivamente tenham presenciado os fatos e pormenorizadas as diligências que culminaram na prisão em flagrante dos indiciados; CONSIDERANDO que grande número de inquéritos policiais são encaminhados a este Órgão Ministerial pendentes da juntada dos laudos periciais pertinentes para fazer prova da materialidade delitiva, fato observado inclusive nos procedimentos de indiciados presos; CONSIDERANDO que tem se tornado comum, Inquéritos Policiais de indiciados presos, nos quais consta em sua qualificação idade acima de 18 anos, contudo seguida à informação (adolescente 12 a 17 anos), entretanto sem que exista no respectivo procedimento nenhum documento idôneo à comprovar a idade do flagranteado ou indiciado, o que tem ensejado conflito de informações entre si e portanto o relaxamento de diversas prisões nesta comarca, vez que na dúvida há que prevalecer o tratamento prioritário bem como a garantia ao direito de liberdade do indiciado;
CONSIDERANDO que nos termos da lei federal nº 12.037/2009 deve ser priorizada a identificação civil do flagranteado ou indiciado, salvo nos casos previstos neste diploma legal em que deverá ser realizada a identificação criminal, mediante processo datiloscópico e fotográfico e sempre com a tomada de providencias necessárias pela autoridade encarregada de evitar o constrangimento do identificado; CONSIDERANDO que nos termos do art. 41 do CPPB é requisito imprescindível para o oferecimento da Denúncia, a qualificação completa dos indiciados e portanto a informação quanto ao endereço dos mesmos, e que muitos Inquéritos Policiais encaminhados às Promotorias de Justiça Criminais de Marabá, tem apresentado falhas no que diz respeito a qualificação dos imputados. CONSIDERANDO a pretensão punitiva do Estado pode falecer em razão de ausência de lastro probatório mínimo a ser apresentado em Juízo e portanto, objetiva-se com o presente instrumento, o aperfeiçoamento dos procedimentos tombados pela polícia civil local, a valorização das atividades desenvolvidas pela polícia judiciária e por conseguinte o êxito das ações penais propostas pelo Ministério Público Estadual lastreadas pelos respectivos procedimentos; RECOMENDA: Ao Senhor Doutor Superintendente Delegado de Polícia da Região Administrativa Sudeste, ao Senhor Doutor Corregedor Regional de Polícia Civil e ao Senhor Doutor Corregedor Geral de Polícia Civil do Estado do Pará, que determinem aos delegados de polícia lotados na comarca de Marabá que: 1 - Juntem aos autos de inquérito policial os laudos das perícias técnicas pertinentes, a fim de provar a materialidade do crime sob investigação, notadamente nos casos em que são condição sine qua non à propositura da ação penal, como os crimes contra a vida, tráfico de drogas, e que envolvem o uso e posse de arma de fogo, conferindo especial atenção aos procedimentos administrativos que tratam de indiciado preso; 2 Reduzam a termo nos inquéritos policias as declarações dos policiais militares individualmente e das pessoas que testemunharam as diligências que culminaram na prisão dos flagranteados/indiciados ou, no caso de ser impossível ouvi-las, que seja indicado o nome e o endereço da testemunha, nos termos do art. 10, 2º 2 do Código de Processo Penal; 2 Art. 10 (...) 2º- No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas.
3 No auto de apreensão de substância entorpecente e de outros objetos produto de crime, sejam esclarecidos os exatos locais onde foram encontrados e/ou as pessoas em poder das quais foram apreendidos; 5 Sejam apreendidos apenas os bens e objetos que tiverem relação com os crimes objeto dos procedimentos administrativos investigatórios, sejam instrumentos, sejam as coisas subtraídas ou encontradas, nada mais; 4 Sejam individualizadas as condutas dos indiciados nas declarações dos policiais militares ou civis, e das testemunhas, principalmente nos casos de inquérito policial iniciado mediante auto de prisão em flagrante, ou por meio de portaria, especialmente para apuração dos crimes de tráfico de drogas, dada a grande demanda estatística de procedimentos apuratórios sobre a matéria; 5 Seja priorizada a identificação civil do flagranteado ou indiciado mediante a juntada de documento indôneo à comprovar sua qualificação e especialmente sua maioridade penal, leia-se imputabilidade, conforme rol de documentos previstos no art. 2º da lei federal nº 12.037/2009 3 e principalmente seja dada especial atenção, aos imputados presos, quanto a sua qualificação, e portanto somente em caso de impossibilidade da identificação civil e nos casos previstos em lei, seja realizada pela autoridade policial a identificação criminal, dos indiciados ou flagranteados, mediante processo datiloscópico e fotográfico, e sempre com a tomada de providências necessárias pela autoridade encarregada de evitar o constrangimento do identificado, conforme exigência legal; 6 Seja requerida dilação de prazo, nos termos do 3º do art. 10 do CPP, quando o lapso legal se esgotar e se a assim a autoridade policial entender ser necessário e imprescindível para o deslinde das investigações; 7 Sejam recolhidas ao cárcere apenas as pessoas que foram conduzidas em flagrante delito e/ou em cumprimento a mandados de prisão; 8 Não se olvidem de encaminhar as pessoas presas ao Instituto Médico Legal para realização do exame de Corpo de Delito, de natureza cautelar, ou para constatação de lesões experimentadas em quaisquer circunstâncias relacionadas à custódia das tais pessoas; 9 Não deixem de descrever, por ocasião do registro da ocorrência policial que versar sobre prisão de pessoa, a existência de lesão eventualmente presente na pessoa presa, recente ou não, e todas as circunstâncias que as ensejaram; 3 Lei Federal nº 12.037/2009 dispõe sobre a identificação criminal do civilmente identificado, regulamentando o art. 5º, inciso LVIII da Constituição Federal; Art. 5º, inciso LVIII (CF/88)- O civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;
10 - Após a adoção das medidas indicadas, seja informada sua fiel observação ao Ministério Público do Estado do Pará. Oficie-se à Direção Geral da Polícia Civil do Estado do Pará dando conta da presente recomendação, uma vez que cuida de aspectos importantes ao aprimoramento da atividade policial e que poderão ser adotados pelas autoridades policiais lotadas também em delegacias de policias diversas do município de Marabá e em casos análogos, bem como a fim de garantir que sejam fornecidos às unidades policiais condições materiais e aparelhos necessários ao cumprimento desta recomendação e ao fiel cumprimento da lei. Publique-se e Registre-se em livro próprio. Marabá (PA), 31 de maio de 2012. LORENA DE MOURA BARBOSA Promotora de Justiça respondendo pelo 1º cargo e Juizado Criminal em Marabá. ELY SORAYA SILVA CEZAR Promotora de Justiça Respondendo pela 2ª e 4ª Promotorias de Justiça Criminais de Marabá CARLOS EUGÊNIO RODRIGUES SALGADO DOS SANTOS Promotor de Justiça Respondendo pela 3ª Promotoria de Justiça Criminal de Marabá