Concentração do Extrato Hidrossolúvel de Soja

Documentos relacionados
DETERMINAÇÃO DE VIDA DE PRATELEIRA DA FARINHA OBTIDA A PARTIR DAS CASCAS DE ABACAXI (Ananas comosus L. Merril)

PROPOSTA DE PROCEDIMENTO DE SECAGEM DE BAGAÇO DE MAÇÃ PARA A PRODUÇÃO DE FARINHA

CRIOCONCENTRAÇÃO DE EXTRATO DE SOJA

EFEITO DA CONCENTRAÇÃO NA CINÉTICA DE DEGRADAÇÃO DA VITAMINA C DO SUCO DE ACEROLA CLARIFICADO E CONCENTRADO DURANTE A ARMAZENAGEM.

Atividades Desenvolvidas

POLPA DE FRUTA NÉCTAR SUCO

PURIFICAÇÃO DA GLICERINA A PARTIR DO MÉTODO DE DESTILAÇÃO E CENTRIFUGAÇÃO 1 INTRODUÇÃO

Redução da viscosidade da polpa de acerola

ELABORAÇÃO DE LICOR DE FRUTAS NATIVAS E TROPICAIS

ELABORAÇÃO DE BEBIDA A BASE DE EXTRATO HIDROSSOLÚVEL DE SOJA (Glycine max L.) E POLPA DE CUPUAÇU (Theobroma grandiflorum)

Métodos de extração de amido. Elessandra Zavareze

ENSAIOS PRELIMINARES PARA ELABORAÇÃO DE VINAGRE TIPO BALSÂMICO DE CAQUI (Diospyros kaki L)

EXTRAÇÃO E PASTEURIZAÇÃO FÁTIMA ZAMPA RAQUEL TEIXEIRA

CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS DO CAFÉ ESPECIAL TORRADO EM GRÃOS EM DIFERENTES CONDIÇÕES DE ACONDICIONAMENTO

UMIDADE E SÓLIDOS TOTAIS 11/05/2016. Umidade, Sólidos Totais e Cinzas INTRODUÇÃO

ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA DE SUCO DE CAJU. Iwalisson Nicolau de Araújo 1 Graduando em Licenciatura em Química pela Universidade Estadual da Paraíba.

BIOQUÍMICA DO PESCADO

Avaliação de parâmetros de qualidade de doce em massa e das matérias primas utilizadas na formulação

AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS DE PROCESSO PARA OBTENÇÃO DE MEL CO- CRISTALIZADO COM SACAROSE

Utilização de lama vermelha tratada com peróxido de BLUE 19

COMPARAÇÃO DE MODELOS FENOMENOLÓGICOS PARA A HIDRATAÇÃO DE GRÃOS DE SOJA

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Departamento de Engenharia Química para contato:

MEDEIROS 1. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Departamento de Engenharia Química para contato:

EFEITO DA EMBALAGEM NA QUALIDADE DE FARINHAS DE MANDIOCA TEMPERADAS DURANTE O ARMAZENAMENTO

Caracterização química e rendimento de extração de amido de arroz com diferentes teores de amilose

COMPARAÇÃO DE PARÂMETROS LABORATORIAIS EM DIFERENTES TIPOS DE GELEIAS CONVENCIONAIS DE MORANGO

TÍTULO: FERMENTAÇÃO DE EXTRATO HIDROSSOLÚVEL DE SOJA VERDE POR BACTÉRIAS PROBIÓTICAS

APLICAÇÃO DA EXTRAÇÃO LÍQUIDO-LÍQUIDO NA NEUTRALIZAÇÃO DE ÓLEO BRUTO DE SOJA COM FOCO NA PRODUÇÃO DE BIODIESEL

ELABORAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE BARRAS DE CEREAIS ELABORADAS COM RESÍDUO SÓLIDO DE CERVEJARIA

Processo de Concentração e Análise Físico-química da Polpa concentrada do Maracujá

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE POLPA DE ACEROLA IN NATURA E LIOFILIZADA PARA PREPARAÇÃO DE SORVETES

ELABORAÇÃO DE TALHARIM A BASE DE FARINHA DE FEIJÃO COMO FONTE ALTERNATIVA DE FERRO

ELABORAÇÃO E AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE QUEIJOS FUNCIONAIS

Composição química do café submetido ao processo de descafeinação.

AVALIAÇÃO FISICO-QUIMICA E MEDIDAS INSTRUMENTAIS DO DOCE DE CORTE DE GOIABA E MARACUJÁ

Utilização de maracujá integral no desenvolvimento de sobremesa láctea (flan) e avaliação de suas características físico-químicas e sensorial.

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

PÓS-COLHEITA E AGROINDUTRIALIZAÇÃO DO CUPUAÇU

Programa Analítico de Disciplina ZOO448 Fundamentos de Análise de Alimentos para Animais

Conservação e Rotulagem de Alimentos Profª Vivian Pupo de Oliveira Machado 2009 TECNOLOGIA DAS FRUTAS

CINÉTICA DE EXTRAÇÃO DO ÓLEO DE BABAÇU VISANDO A PRODUÇÃO DE BIODIESEL.

ELABORAÇÃO DE BEBIDA LÁCTEA ACIDIFICADA

CARACTERIZAÇÃO DO ÓLEO DAS SEMENTES DE MAMÃO, VARIEDADE FORMOSA, COMO APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS

Título: Influência da umidade na estabilidade dimensional de bioespumas.

CARACTERIZAÇÃO E TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DO LABORATÓRIO DE QUÍMICA GERAL E INORGÂNICA DA UFCG/CES

UMIDADE DE COLHEITA E TEMPERATURA DO AR NA SECAGEM INTERMITENTE SOBRE A QUALIDADE TECNOLÓGICA DE TRIG0 1. Resumo

Cases de sucesso Problemas e Soluções

I SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EMBRAPA ACRE ACEITAÇÃO SENSORIAL DE BOLO ELABORADO COM FARINHAS DE CASTANHA- DO-BRASIL E BANANA VERDE

Utilização de microalgas na pirólise de lípidos para produção de biocombustíveis

Análise e Determinação da Umidade de Equilíbrio Higroscópico de Grãos e da Farinha de Trigo na Temperatura de 50 ºC

APOIO TÉCNICO E TECNOLÓGICO À PRODUÇÃO QUEIJEIRA ARTESANAL: PRODUTOR DE CARAMBEÍ PARANÁ.

INFORMAÇÃO NUTRICIONAL DE BEBIDA À BASE DE EXTRATOS DE ARROZ E DE SOJA INFORMAÇÃO NUTRICIONAL DE BEBIDA À BASE DE EXTRATOS DE ARROZ E DE SOJA

ESTUDO DA VIABILIDADE PARA A PRODUÇÃO DE CONCRETOS COM ADIÇÃO DE RESÍDUOS DE VIDRO EM SUBSTITUIÇÃO AO AGREGADO MIÚDO NA CIDADE DE PALMAS-TO

Determinação das Propriedades Físicas de Grãos de Girassol BRS G57.

PROCESSAMENTO E CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E FÍSICA DE FRUTOS DE MURICI-PASSA (Byrsonima verbascifolia)

PRODUÇÃO DE BIOCOMBUSTÍVEIS A PARTIR DA PROCESSAMENTO DA MANDIOCA

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO DOCE DE LEITE PRODUZIDO NO IFSULDEMINAS - CÂMPUS MUZAMBINHO E COMPARAÇÃO COM MARCAS COMERCIAIS

COMPOSIÇÃO CENTESIMAL DE FRUTOS DE JUAZEIRO NO ESTÁDIO DE MATURAÇÃO MADURO CENTESIMAL COMPOSITION OF JUAZEIRO FRUIT AT MATURE MATURATION STAGE

AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS DE QUALIDADE FÍSICO- QUÍMICOS DE SUCOS TROPICAIS

AVALIAÇÃO DO TEMPO DE COZIMENTO DA MASSA DE QUEIJO SOBRE A UMIDADE DE QUEIJO PRATO DURANTE A MATURAÇÃO

III BENEFÍCIOS DO RESFRIAMENTO EM GRÃOS DE MILHO

OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DA FARINHA DE ALGAROBA (Prosopis juliflora)

PROCESSAMENTO E ACEITABILIDADE DE BEBIDA MISTA DE EXTRATO LEITE DE BABAÇU E DE CASTANHA-DO-BRASIL

VIII Semana de Ciência e Tecnologia IFMG - campus Bambuí

03/02/2016. Métodos físicos e instrumentais de análise de alimentos INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, MÉTODOS FÍSICOS

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DO LEITE CRU E DO LEITE PASTEURIZADO COMERCIALIZADOS NO OESTE DE SANTA CATARINA

Características Químicas de Néctar e Suco de Mirtilo Obtido pelo Método de Arraste de Vapor

ANÁLISE EXPERIMENTAL DA VARIAÇÃO DE MASSA DA GASOLINA COMERCIALIZADA NA CIDADE DE CAMPINA GRANDE-PB DEVIDO OS EFEITOS DA DILATAÇÃO TÉRMICA

AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE HIDRÓLISE ÁCIDA DA FÉCULA DE MA DIOCA E MESOCARPO DE BABAÇU.

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE BLEND À BASE DE ACEROLA (Malpighia emarginata) E GOIABA (Psidium guajava)

PARÂMETROS DE QUALIDADE DA POLPA DE LARANJA

2. Resultados de pesquisa em grãos de canola

QUEIJO TIPO MINAS FRESCAL COM COLÁGENO HIDROLISADO E ORÉGANO: TECNOLOGIA DE FABRICAÇÃO E AVALIAÇÃO SENSORIAL

OBTENÇÃO E UTILIZAÇÃO DE FARINHA DE FEIJÕES-CAUPI DE GRÃOS BRANCOS NA ELABORAÇÃO DE PASTEL DE FORNO

CHAVES, Raliéli de Almeida 1 PENTEADO, Bruna Gonçalves 2 DOLINSKI, Juliana Gorte 3 ALMEIDA, Mareci Mendes de 4 CHIQUETTO, Nelci Catarina 5

CINÉTICA DE SECAGEM DE MASSA ALIMENTÍCIA INTEGRAL. Rebeca de L. Dantas 1, Ana Paula T. Rocha 2, Gilmar Trindade 3, Gabriela dos Santos Silva 4

CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E FÍSICO-QUÍMICA DE FRUTOS DE UM GENÓTIPO

EVAPORAÇÃO. Profa. Marianne Ayumi Shirai EVAPORAÇÃO

XI Jornada Científica XI Semana de Ciência e Tecnologia IFMG Campus Bambuí

COMPOTA DE ABACAXI ADICIONADO DE DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DE CANELA EM PAU

Obtenção e avaliação de parâmetros físico-químicos da polpa de goiaba (Psidium guajava L.), cultivar Paluma

SOLUÇÃO COMECE DO BÁSICO

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE IOGURTE FUNCIONAL DE LEITE DE CABRA COM SABOR DE FRUTOS TROPICAIS

Produção de Açúcar. Processos Químicos Industriais II

Efeitos da Temperatura de Secagem e do Tempo de Armazenamento na Composição Química de Sorgo Granífero

AULA PRÁTICA Nº / Abril / 2016 Profª Solange Brazaca DETERMINAÇÃO DE LIPÍDEOS

CONSERVAÇÃO DA POLPA DO FRUTO DO IMBUZEIRO (Spondias tuberosa Arruda) EM TEMPERATURA AMBIENTE

Nutritime. Uso do concentrado protéico de arroz na dieta de suínos, aves e peixes (salmão e truta).

APLICAÇÃO DE ÓLEOS E GORDURAS DE RELEVÂNCIA NUTRICIONAL EM PRODUTOS DE PANIFICAÇÃO. da Silva e Elisa Makiyama Kim FEA-UNICAMP

CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS E REOLÓGICAS DE VARIEDADES DE MANDIOCA CULTIVADAS NA BACIA DO AMAZONAS

Programa Analítico de Disciplina TAL469 Análise de Alimentos

ENGENHARIA DE MATERIAIS. Fenômenos de Transporte em Engenharia de Materiais (Transferência de Calor e Massa)

INTENÇÃO DE COMPRA DE BISCOITOS TIPO COOKIE SABOR CHOCOLATE COM DIFERENTES TEORES DE FARINHA DE UVA

DEUNICE NAZARÉ DE PAULA NOGUEIRA MENDES

ANÁLISE POR MICROSCOPIA ÓTICA DE SEÇÃO DE TESTES PARA ESTUDO DA DEPOSIÇÃO DE PARAFINA UTILIZANDO IMAGEM POR RESSONÂNCIA NUCLEAR MAGNÉTICA

Definição de Parâmetros Iniciais para Maceração de Película Comestível de Cajá (Spondias mombin L.)

TECNOLOGIA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS CRÉDITOS: 04

PROCESSO DE SATURAÇÃO DE FRUTOS DE ACEROLA SOB PRESSÃO ATMOSFÉRICA E VÁCUO

AULA 4 Físico-Química Industrial. Operações Unitárias Na Indústria Farmacêutica

Transcrição:

Concentração do Extrato Hidrossolúvel de Soja Leila Mendes da Luz (UTFPR) mendes.leila@yahoo.com.br Marli da Silva Santos (UTFPR) abiquim@bol.com.br Maria Helene Canteri Schemin (UTFPR) mhelene5@hotmail.com Antonio Carlos de Francisco (UTFPR) acfrancisco@utfpr.edu.br Resumo: O presente trabalho teve como objetivo avaliar o processo de crioconcentração para obtenção do Extrato Hidrossolúvel de Soja (EHS) concentrado, acompanhando para isso a evolução do teor de sólidos solúveis e valores de ph durante o processo e caracterização fisico-química comparativa do EHS concentrado e EHS in natura. O alto teor de proteínas faz da soja matéria-prima para obtenção de vários derivados protéicos, dentre eles o extrato hidrossolúvel obtido da seleção, maceração, tratamento térmico, cocção e posterior centrifugação dos grãos de soja. A crioconcentração é um método no qual a água é separada do meio líquido pela cristalização do gelo a baixa temperatura seguida da remoção do gelo do líquido concentrado. Foram realizados três ensaios para a concentração do EHS, onde estes apresentaram características semelhantes em relação aos teores de sólidos solúveis e valores de ph. A caracterização físico-química do EHS concentrado foi feita a partir do terceiro ensaio obtendo-se 77.67% de umidade, 15.44% de proteínas, 4% de lipídios, 2.29% de cinzas e traços de fibras, sendo o teor de sólidos solúveis de 26ºBrix e ph igual a 6.43 comparados com os valores obtidos para o EHS in natura 93.86% de umidade, 2.99% de proteínas, 1.5% de lipídios, 0.32% de cinzas, 4.93% de fibras, 6.5ºBrix e ph igual a 6.75, o processo de crioconcentração mostrou ser um método eficiente para concentração de EHS. Palavras-chave: Extrato hidrossolúvel de soja, crioconcentração, caracterização físico-química. 1. Introdução A soja é um produto com grande expressão na economia externa e interna do Brasil, não só pelo seu valor como grão para consumo, mas pelas grandes possibilidades de utilização devido aos seus altos teores de óleo e proteína e, também, à boa valorização comercial de seus derivados (RIBEIRO et al, 2005). O interesse na utilização de proteínas vegetais e seus derivados pela indústria de alimentos têm crescido nos últimos anos. A soja, devido a suas qualidades nutricionais e funcionais, disponibilidade de mercado, baixo custo e desenvolvimento de tecnologia apropriada, apresenta um consumo crescente entre os povos ocidentais (MARTINS, 2005). O alto teor de proteína faz desta leguminosa matéria prima para obtenção de vários derivados protéicos, dentre os quais podem ser ressaltados a farinha (integral e desengordurada), os isolados e concentrados protéicos, a proteína vegetal texturizada e os extratos hidrossolúveis, líquido e em pó (LEMOS; MELLO & CABRAL, 1977). O extrato hidrossolúvel de soja (EHS) é obtido através da seleção, maceração, tratamento térmico, cocção e posterior centrifugação da semente de soja (MIYASAKA e MEDINA, 1981).

O processo de crioconcentração consiste em cristalizar a água de uma solução pelo resfriamento, ou seja, precipita-se a água da solução aumentando a concentração do soluto no sistema. Neste processo a água é separada do meio líquido pela cristalização do gelo a baixa temperatura, seguida da remoção do gelo do líquido concentrado (SILVA, 2003). Segundo Mellor (1978) in Degaspari et al (2002) é importante considerar a temperatura em que o produto congela como um todo, a concentração deverá ser feita em temperatura superior a esta. Este processo desperta grande interesse na indústria de alimentos, por excluir plenamente perdas de aroma por evaporação e não modificar apreciavelmente a cor e o valor nutricional do alimento, resultando em um produto de melhor qualidade. A crioconcentração é particularmente importante para a concentração de líquidos com presença de componentes voláteis, componentes termicamente sensíveis, componentes diluídos entre outros. Uma vez que a água é retirada da solução através de uma transformação de fase do líquido para o sólido, não ocorre perda por decomposição térmica (SILVA, 2003). O presente trabalho teve como objetivo avaliar o processo de crioconcentração para obtenção do Extrato Hidrossolúvel de Soja concentrado, acompanhando para isso a evolução do teor de sólidos solúveis e valores de ph durante esse processo e caracterização fisico-química comparativa do EHS concentrado e EHS in natura. 2. Material e métodos O presente estudo foi desenvolvido nos Laboratórios de Bioquímica e Industrialização de Vegetais da Coordenação de Alimentos da Universidade Tecnológica Federal do Paraná Campus Ponta Grossa. 2.1 Material O extrato hidrossolúvel de soja (EHS) utilizado para concentração foi obtido por doação da Unidade de Produção de Alimentos da Secretaria Municipal de Assistência Social da Prefeitura de Ponta Grossa. 2.2 Métodos Foram acondicionados quatro litros de EHS em recipiente de alumínio de 32 x 45 cm, o qual foi isolado por placas de isopor, com espessura de um centímetro e mantido durante 24 horas em freezer a -18ºC (Cônsul, 280). Após este período, a massa de gelo obtida foi quebrada, acondicionada em saco de poliéster e centrifugada (centrífuga de roupas Sec Fácil Consul) até redução do volume, para separação dos cristais de gelo formado do EHS concentrado. Foram realizados três ensaios para a crioconcentração do EHS, sendo que em cada um deles o processo de crioconcentração foi repetido por seis vezes, com exceção do segundo ensaio que foi repetido por cinco vezes por falta de material. Durante o processo de concentração o EHS foi avaliado quanto ao teor de sólidos solúveis totais, expresso em Graus Brix por meio de refratômetro e em relação ao ph por meio de phmetro digital.

2.3 Determinações físico-química As análises físico-químicas do EHS in natura utilizado na concentração e do concentrado obtido foram realizadas em triplicata, sendo feitas as seguintes determinações: umidade, cinzas, lipídios e proteínas segundo as Normas do Instituto Adolfo Lutz (1985) e fibras de acordo com o método da AOAC (2000). 3. Resultados e discussão Nos três ensaios realizados o EHS apresentou características semelhantes em relação aos valores de ph e teores de sólidos solúveis (ºBrix). Na figura 1 é possível observar a relação existente entre o número de concentração e o aumento do ºBrix na medida em que o EHS é concentrado. 35 30 ºBrix 25 20 15 10 Ensaio 1 Ensaio 2 Ensaio 3 5 0 0 1 2 3 4 5 6 nº concentração Figura 1 Sólidos solúveis (ºBrix) do EHS durante crioconcentração O teor de sólidos solúveis do EHS inicial (in natura) utilizado no ensaio 1, 2 e 3 foi de 6, 6.6 e 6.5ºBrix respectivamente, chegando a 31ºBrix no ensaio 1 e 26ºBrix no ensaio 3 para o EHS concentrado no final da sexta concentração, o ensaio 2 não apresenta valor para a sexta concentração por falta de material sendo analisado até a quinta concentração onde apresentou 26ºBrix. Como pode ser observado na Figura 2, os valores de ph apresentam comportamento inversamente proporcional ao ºBrix, conforme aumenta o número de concentração o EHS apresenta um decaimento nos valores de ph, variando de 6.66 a 6.37 no ensaio 1, 7.5 a 6.45 no ensaio 2 e 6.75 a 6.43 no ensaio 3. A variação maior ocorre até a segunda concentração, mantendo-se praticamente constante da terceira até a sexta concentração tanto em relação aos três ensaios realizados como em relação as concentrações realizadas em cada ensaio. Isso demonstra que os experimentos realizados apresentaram boa reprodutibilidade.

ph 7,6 7,4 7,2 7 6,8 6,6 6,4 6,2 6 5,8 0 1 2 3 4 5 6 nº concentração Ensaio 1 Ensaio 2 Ensaio 3 Figura 2 Variação do ph durante a Crioconcentração do EHS Analisando a massa de EHS in natura utilizado no início e a massa de EHS concentrado obtido no fim do processo obtemos um rendimento de 4% para o ensaio 1, 4.2% para o ensaio 2 e 4.75% para o ensaio 3, apresentando resultados próximos nos três ensaios realizados. Na figura 3 temos como referência a massa de EHS utilizada, a massa de cristais de gelo separada e de EHS concentrado obtido em cada concentração realizada no ensaio 3. 4000 3500 3000 massa (g) 2500 2000 1500 1000 500 0 1 2 3 4 5 6 nº concentração EHS Cristais de gelo EHS concentrado Figura 3 Massa de EHS utilizado e obtido na crioconcentração

A caracterização físico-química do EHS concentrado foi feita a partir do EHS obtido na sexta concentração do terceiro ensaio. Os resultados obtidos nas análises estão apresentados na Tabela 1. Tabela 1 Composição média do EHS (%) Análise EHS CONCENTRADO EHS in natura Umidade 77,67 93,86 Proteínas 15,44 2,99 Lipídios 4 1,5 Cinzas 2,29 0,32 Fibras traços 4,93 Estabelecendo uma comparação entre o EHS concentrado e o EHS in natura nota-se um aumento significativo nos teores de proteínas, lipídios e cinzas, com exceção do teor de fibras que fica abaixo do esperado, sendo a proteína o componente que mais se destaca. Darmanyan (1997) in Silva (2003), estudando as transformações estruturais de proteínas durante a desidratação em alta e em baixa temperatura, verificou que a crioconcentração mostrou ser um bom método no estudo do rearranjo molecular da proteína, visto que não altera a estrutura da biomolécula, já que ocorre a baixa temperatura, evitando assim a perda por decomposição térmica, isso pode ser confirmado com a porcentagem de proteína encontrada no EHS concentrado que variou de 2,99% do EHS in natura para 15,44% no concentrado. O efeito do processo de crioconcentração do EHS pode então ser confirmado pelo aumento significativo no teor de sólidos solúveis presente no EHS concentrado e pelos resultados obtidos nas análises físico-químicas. No processo de crioconcentração a eficiência na separação do gelo da solução de concentrado é determinada pela área superficial dos cristais de gelo por unidade de volume: quanto menor é a área, menor é a quantidade de concentrado que adere aos cristais quando estes são separados mecanicamente (SILVA, 2003). Nas primeiras concentrações em que o EHS apresenta teor de sólidos menor, notou-se a formação de pequenos cristais após a centrifugação para separação do gelo do concentrado, nos quais não nota-se a presença de concentrado aderido. Porém para alimentos mais concentrados a remoção dos cristais de gelo torna-se mais difícil (DEGÁSPARI et al, 2002). Nas últimas concentrações a porcentagem de concentrado que adere aos cristais aumenta conforme aumenta o número de concentrações, aumentando, portanto a perda de sólidos solúveis na massa de gelo, além de necessitar um tempo maior de centrifugação, que variou de 8 minutos para 15 a 20 minutos. Estudos demonstraram que até a terceira concentração o teor de sólidos solúveis agregado ao gelo fica em torno de 3ºBrix, porém na quarta, quinta e sexta concentração o teor de sólidos solúveis que permanece no gelo aumenta gradativamente, chegando a 7ºBrix na sexta concentração (LUZ et al, 2007), indicando que quanto mais concentrado for o EHS mais difícil é a separação do gelo do concentrado e consequentemente o rendimento é menor. No

entanto a perda de protuto, ou seja, de sólidos solúveis nos cristais de gelo pode ser evitada com a lavagem dos mesmos, obtendo-se então uma exelente separação do gelo do concentrado (SILVA, 2003; MELLOR, 1978 in DEGASPARI et al, 2000). 4. Conclusão O processo de crioconcentração demonstrou ser um método eficiente para concentração do EHS. Tal afirmação pode ser comprovada através dos resultados obtidos nas análises físicoquímicas, que indicaram um aumento significativo nos teores de sólidos solúveis e principalmente na porcentagem de proteínas no produto final. Referências AOAC. Official Methods of Analysis of AOAC Internacional. 17. ed. Gaithersburg, 2000. 2v. DARMANYAN, E. B. Strutural Transformation of Serum Protein During High-Temperature and Low- Temperature Dehydration. Applied Biochemystry and Microbiology, Vol-33(2) p 158-163 Mar-Apr, 1997. In: SILVA, J. M. F. da. Aperfeiçoamento Tecnológico do Processo de Crioconcentração: modelagem e simulação. 2003. 207 f. Tese (Doutorado em Engenharia Química) Departamento de Processos Químicos, UNICAMP, Campinas. DEGASPARI, C. H.; LEITE, B. Z.; BALSINI, I. D. A.; GUERRA, A. S. Obtenção de extrato de carqueja (Baccharis articulata (Lam.) Pers.) por diferentes processos de concentração. Disponível em http://www.utp.br/tuiuticienciaecultura/facet/facet%2029/pdf/art%208.pdf. Acesso em 16/06/2007. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz. 3ªed. São Paulo: imesp, 1985, v.1, 533p LEMOS, J. L.; MELLO, M. C. & CABRAL, L.C. Estudo da solubilidade das proteínas de extratos hidrossolúveis de soja em pó. 1997. Disponivel em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0101 20611997000300027&script=sci_arttext acesso em 25-maio-2008. LUZ, L. M.; SANTOS, M. S.; CANTERI-SCHEMIN, M. H.; FRANCISCO, A. C. Comparação de métodos para concentração do extrato hidrossolúvel de soja. In: I Jornada da Produção Científica e Tecnológica da Região Sul.2007. Santa Catarina. Anais. CD-Rom. MARTINS, M. T. S. Caracterização química e Nutricional de Plasteína Produzida a Partir de Hidrolisado Pancreático de Isolado Protéico de Soja. Boletim da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, nº25, p. 683, out./set. 2005. MELLOR, J. D. Fundamentals of freeze-drying. New York: Academic Press, 1978. In: DEGASPARI, C. H.; LEITE, B. Z.; BALSINI, I. D. A.; GUERRA, A. S. Obtenção de extrato de carqueja (Baccharis articulata (Lam.) Pers.) por diferentes processos de concentração. Disponível em http://www.utp.br/tuiuticienciaecultura/facet/facet%2029/pdf/art%208.pdf. Acesso em 16/06/2007. MIYASAKA, S.; MEDINA, J. C. A Soja no Brasil. Campinas: ITAL, 1981, 1062 p. RIBEIRO, D. M.; CÔRREA, P. C.; RODRIGUES, D. H.; GONELI, A. L. D. Análise da variação das propriedades físicas dos grãos de soja durante o processo de secagem. Boletim da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, n 25, p. 611-617, jul/set 2005. SILVA, J. M. F. da. Aperfeiçoamento Tecnológico do Processo de Crioconcentração: modelagem e simulação. 2003. 207 f. Tese (Doutorado em Engenharia Química) Departamento de Processos Químicos, UNICAMP, Campinas.