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Transcrição:

Parecer nº 01/2016 SPD nº 21043/2016 Processo nº 210443 Matéria Aplicação da medida administrativa do art. 167-CTB Tendo sido posto em votação na sessão do pleno do CETRAN/RS, do dia 05/04/2016, o voto do Conselheiro Lieverson Luiz Perin, acerca da manutenção ou alteração da Súmula 02/2013 do Conselho, decorrente da consulta feita pelo Presidente ao DENATRAN, pedi vistas para análise, que o faço nos termos que seguem: A matéria, ao meu sentir, comporta abordagem tanto no aspecto formal, quanto material e ainda outras considerações. 1. Quanto à forma Súmula ou Resolução Penso não seja a forma de súmula a mais adequada, já que súmula, na conceituação média dos operadores do direito é o resumo de vários julgados de um tribunal sobre determinada matéria, quando as decisões são no mesmo sentido, de forma a pacificar o entendimento e para servir de orientação a julgamentos futuros que versarem sobre a mesma matéria, não tendo assim, via de regra, natureza jurídica mandamental, mas orientadora, salvo as súmulas vinculantes do Supremo Tribunal Federal. Afora isto, não encontro na legislação, especialmente no art. 161-CTB, disposição inicial do capítulo XV, que trata das infrações, menção a que o CONTRAN edite súmulas e sim resoluções.

Na mesma esteira, o inciso II do art. 14-CTB, autoriza a que o CETRAN elabore normas no âmbito das respectivas competências, sem adentrar na forma da norma, pois definida no art. 161, ou seja, resolução. Veja-se agora a conceituação média dos operadores de direito quanto ao que seja resolução, são atos administrativos normativos através dos quais se disciplinam matérias de sua competência específica, tendo assim caráter jurídico mandamental Resolução, como o próprio nome já diz, é para resolver, dizer como se faz, é administrativo e súmula é para sumular, ou seja orientar o julgamento de casos semelhantes, é judicial. Assim, se pretende o CETRAN normatizar a forma de atendimento, preenchimento do AIT e aplicação da medida administrativa do art. 167-CTB, entendo que a forma deverá ser a de resolução e não súmula, que não se prestaria, por sua definição e natureza jurídica, ao fim colimado. 2. Quanto à matéria A questão a ser solvida, no caso presente, é de se saber se o CETRAN ao editar resolução ou súmula, acerca do atendimento, preenchimento do AIT e da aplicação da medida administrativa decorrente da infração ao art. 167, está ou não decidindo sobre matéria de trânsito, se estiver, não pode, porque a União Federal, pelo inciso XI do art. 22 da Constituição Federal, reservou para si, privativamente, legislar sobre trânsito. Caso entenda-se não ser matéria de trânsito, poderá o CETRAN editar a norma que entender cabível, súmula ou resolução, ao meu entendimento, como já explicitado, resolução.

Tenho, respeitando posições contrárias, que é matéria de trânsito, portanto inviável, legalmente, venha o Conselho, legislar, mediante resolução ou súmula, sobre lei de trânsito, expedindo norma de caráter mandamental e de observância obrigatória, pois ao se determinar que o agente de trânsito consigne, no campo apropriado do AIT, declaração sobre a impossibilidade da abordagem, invade seara alheia, a da União Federal e repete o que já consta no 3º do art. 280 do CTB, sendo assim, ao meu sentir, desnecessário a emissão de súmula ou resolução pelo CETRAN para explicitar o que já está explicitado na lei. Seria mera repetição. 3. Outras considerações a. Obrigatoriedade ou não da abordagem A também de se decidir quanto à infração do art. 167-CTB, se a aplicação da medida administrativa, de retenção do veículo até a colocação do cinto de segurança, é obrigatória ou facultativa. Para a resposta me socorro da lei, art. 161- CTB, que prescreve que a sanção e a medida administrativa devem ser aplicadas, não diz o artigo a sanção e ou a medida administrativa, logo é impositivo, obrigatório, no que aliás, em respeito à lei, é seguido pelo Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito, vol. I, que determina ser a abordagem obrigatória, tanto que o parecer do DENATRAN assim reconhece, também em conformidade aos artigos 270 e 167 do CTB. O entendimento de que é dispensada a abordagem em casos excepcionais não tem amparo legal, sendo mera interpretação do 3º do art. 280-CTB, até porque a lei não lista quais são os casos excepcionais, pelo que não pode ficar ao alvedrio do agente definir o que é caso excepcional. O parágrafo em comento se refere a situação em que não sendo possível a autuação em flagrante, o agente a relatará à autoridade,

ora a verificação da não utilização do cinto será sempre em flagrância, logo, indispensável a abordagem. A permissão dada pelo 2º do art. 280-CTB, que é exceção e não regra, precisa ser, urgentemente, regulamentada, ou dita por quem faz a defesa judicial do CETRAN, no caso a Procuradoria Geral do Estado, qual a interpretação correta não só deste dispositivo, mas de todos os outros até aqui analisados, vez que o parecer do DENATRAN não é conclusivo, pois admite que a abordagem é obrigatória e que quando não possível, poderá ser exarado o AIT com a declaração do agente, logo é de se concluir de que a determinação do Manual Brasileiro de Trânsito da abordagem obrigatória, torna-se letra morta, devendo dele ser retirada. Mais, em caso de eventual questionamento judicial do tema e é provável que venha, será a PGE que responderá em nome do CETRAN, logo, sensato que ela seja consultada antes da expedição da norma, até porque o DENATRAN ao ser consultado, encaminhou o tema à Procuradoria Geral da República e é dela o parecer final, assim sensato que se mande à nossa PGE. O que temos hoje e tenho isto constatado, é de que a exceção virou regra e neste sentido a mera declaração do agente no AIT, vira, pelo princípio da legitimidade dos atos emanados dos agentes públicos, fato definitivo, tornando impossível a defesa do autuado, restando aos julgadores das JARIs e do CETRAN, meramente homologarem o que do AIT consta. 4. Conclusão Concluo entendendo que o documento a ser elaborado deva ser resolução e pela remessa à Procuradoria Geral de Justiça, respeitando posições divergentes, para análise e manifestação sobre a questão suscitada pelo Presidente do CETRAN/RS, quanto a abordagem obrigatória ou não do condutor na infração ao art. 167-CTB e o que é, para a PGE, a situação excepcional do 3º do art. 280, que autorize a expedição da notificação de

infração, sem a abordagem do condutor, para que então possa o Conselho, com segurança, decidir em definitivo sobre a questão. E, enquanto não vier a manifestação da PGE, se for decidido pela remessa, que se suspenda a aplicação da Súmula 02/2013 do CETRAN, ou ainda que simplesmente se a revogue, o que se aprovado liquidaria em grande parte o assunto, restando apenas a definição do que se pode entender pela expressão, não sendo possível a abordagem no art. 167 do CTB. É como voto Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Conselheiros. Porto Alegre, 18 de abril de 2016. Sergio Renato Teixeira Conselheiro Parecer aprovado na sessão do Pleno de 19/04/2016, conforme Ata 006/2016.