A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO NA PREVENÇÃO DA PNEUMOCONIOSE - REGIÃO CARBONÍFERA DE SANTA CATARINA



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Transcrição:

UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO ANTÉRO MAFRA JÚNIOR MÁRIO SÉRGIO MADEIRA A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO NA PREVENÇÃO DA PNEUMOCONIOSE - REGIÃO CARBONÍFERA DE SANTA CATARINA CRICIÚMA, JUNHO DE 2005

2 ANTÉRO MAFRA JÚNIOR MÁRIO SÉRGIO MADEIRA A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO NA PREVENÇÃO DA PNEUMOCONIOSE - REGIÃO CARBONÍFERA DE SANTA CATARINA Monografia apresentada à Diretoria de Pósgraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, para a obtenção do título de especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho. Orientador: Profº. Msc. Casimiro Pereira Junior CRICIÚMA, JUNHO, 2005

3 ANTÉRO MAFRA JÚNIOR MÁRIO SÉRGIO MADEIRA A SEGURANÇA DO TRABALHO EM MINAS DE CARVÃO AGINDO NA PREVENÇÃO DA PNEUMOCONIOSE - REGIÃO CARBONÍFERA DE SANTA CATARINA Monografia apresentada à Diretoria de Pósgraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC, para a obtenção do título de especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho. Criciúma, 21 de Maio de 2005. BANCA EXAMINADORA: Prof. Msc. Casimiro Pereira Júnior - (UFSC) - Orientador Prof. Msc. Rafael Murilo Digiácomo - (UFSC) Prof. Msc. Marcelo Fontanella Webster - (UFSC)

4 AGRADECIMENTOS Agradecemos a todos os professores pela dedicação, e transferência de conhecimentos. Aos profissionais e empresas aqui citados. E nossos familiares, em especial as esposas e filhos que nos apoiaram em todos os momentos.

5 RESUMO A extração do carvão mineral é uma das principais atividades da região sul de Santa Catarina. A Região Carbonífera de Santa Catarina é composta de dez municípios, sendo responsável por quase 80% da produção nacional de carvão mineral. A extração ocorre em minas subterrâneas, onde são gerados poeira e gases, causando uma doença profissional, típica e comum entre os mineiros, a "Pneumoconiose dos mineiros de carvão". Neste trabalho apresentamos o histórico da extração do carvão, das técnicas utilizadas e dos riscos ocupacionais. Abordamos a pneumoconiose desde sua descrição na literatura médica, incidência e aspectos clínicos, até os dias atuais, número de casos, tarefas da mineração atual que ainda permite grande risco de exposição, as formas de controle utilizadas no Brasil, e, de maneira crítica, sua eficácia. Concluímos com sugestões para o controle da contaminação desta atividade produtiva, com o objetivo de contribuir para a melhora na qualidade da higiene e segurança do trabalho em ambientes de exploração do carvão mineral. Palavras chave: Pneumoconiose; Carvão Mineral; Região Carbonífera de Santa Catarina; Poeiras em minas de carvão; Segurança do trabalho em minas.

6 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Método Strip Mining Mina a Céu Aberto... Figura 2: Foto Mina Subterrânea... Figura 3: Processo de Beneficiamento do Carvão Mineral... 16 19 19 Figura 4: Carregadeira para operação em minas subterrâneas Bobcat. Mina semimecanizada... Figura 5: Monitoramento de Oxigênio e Gases... Figura 6: Airborne capture performance of four types of spray nozzles... 23 41 47

7 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Descrição do ambiente de trabalho de acordo com a base técnica... Tabela 2: Relatório de ocorrência de pneumoconiose... Tabela 3: Continuação da tabela anterior... 25 35 36 Tabela 4: Número de empregados no setor da mineração de extração de carvão mineral... 37

8 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BC Bronquite Crônica CBCA Companhia Brasileira de Carvão Araranguaense CID Código Internacional da Doença CO Monóxido de Carbono CSN Companhia Siderúrgica Nacional EPI Equipamentos de Proteção Individual FMP Fibrose Maciça Progressiva INSS Instituto Nacional de Seguro Social OIT - Organização Internacional do Trabalho PTC Pneumoconiose de Trabalhadores de Carvão SIECESC Sindicato da Industria de Extração de Carvão do Estado de SC

9 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 11 1.1 Tema da Pesquisa: Pneumoconiose nos trabalhadores de minas de carvão... 11 1.2 Problema... 13 1.3 Objetivos... 1.3.1 Objetivo geral... 1.3.2 Objetivos específicos... 1.4 Justificativa... 1.5 Limitação... 13 13 13 14 14 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA... 2.1 O carvão mineral de Santa Catarina... 2.2 O processo de extração de carvão... 2.2.1 A extração do carvão a céu aberto... 2.2.2 A extração de carvão em subsolo... 15 15 15 15 16 2.3 O ambiente das minas... 20 2.4 A pneumoconiose dos trabalhadores de carvão... 2.4.1 Histórico... 25 25 2.4.2 Conceitos... 27 2.4.3 Incidência... 2.4.5 Prevalência... 30 31

10 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS... 33 3.1 Natureza... 33 3.2 Método... 33 3.3 Caracterização... 33 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS... 4.1 Monitoramento da poeira em suspensão... 4.2 Ventilação... 4.3 Proposta para a prevenção da pneumoconiose... 4.4 Programa de proteção à saúde... 35 41 43 46 48 5 CONCLUSÃO... 49 REFERÊNCIAS... 51 ANEXOS... 54 ANEXO 01 O CARVÃO MINERAL... ANEXO 02 - NORMA TÉCNICA PARA AVALIAÇÃO DA INCAPACIDADE... 55 67 ANEXO 03 - FOTOGRAFIA DA VISITA A EMPRESA MINERADORA DE CARVÃO MINERAL... 72

11 1 INTRODUÇÃO 1.2 Tema da Pesquisa: Pneumoconiose nos trabalhadores de minas de carvão A região Sul de Santa Catarina apresenta uma atividade extremamente peculiar no cenário de produção nacional. Aqui se encontram as jazidas de carvão mineral, cuja extração foi atividade econômica pioneira na região, que proporcionou principalmente à cidade de Criciúma tornar-se destaque no cenário brasileiro. A mineração de carvão fixou na região uma categoria especial de trabalhador: o mineiro, cujo trabalho apresenta características que difere das ocupações dos demais operários, já que sua atividade no subsolo está longe de ser um ambiente natural de trabalho. Sua atuação é única, em razão do processo produtivo ser extremamente dinâmico, modificando a cada momento as frentes de trabalho e expondo os trabalhadores da mineração a situações novas. O ambiente das minas subterrâneas apresenta ventilação forçada, ausência de iluminação natural e inadequada iluminação artificial. O trabalho de extração de carvão se desenvolve em espaços restritos, sujeitos ao calor, à umidade, à poeira, aos gases, aos ruídos e vibrações. Apresenta evidencia elevado risco potencial de acidentes, quer pelos possíveis e freqüentes caimentos de tetos, quer pela viabilidade de incêndios, por explosões de gases e/ou poeiras. A mineração está incluída entre as atividades de maior insalubridade e periculosidade (grau de risco 04), pelo Ministério do Trabalho e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), resultado das características próprias do seu

12 processo atual de produção, podendo ocasionar graves danos à saúde do trabalhador, como por exemplo: Alta incidência de doenças respiratórias devido à liberação de dióxido de enxofre, monóxido de carbono (máquinas), e outros gases (explosivos). A antracosilicose - Pneumoconiose nos mineiros das minas de carvão. Asma ocupacional e bronquite industrial. A pneumoconiose é uma doença crônica, adquirida pela inalação de partículas sólidas, de origem mineral ou orgânica. Não tem cura e apresenta manifestações tardias, entre cinco e oito anos após a exposição às poeiras. Por se tratar de uma doença incurável, diante do diagnóstico, o trabalhador deve ser afastado da sua atividade, sendo remanejado para outra função. Somente na Região de Criciúma há atualmente mais de 3.000 casos de pneumoconiose registrados. Destes, mais de 100 apresentam Fibrose Pulmonar Maciça, forma invalidante e fatal da doença. O tempo médio para o aparecimento da pneumoconiose depende da função do mineiro. Na função de furador de teto, com apenas cinco anos pode se desenvolver a doença. Estudos realizados pelos médicos, Albino José de Souza, Pneumologista, Valdir de Lucca, Radiologista e Sérgio Alice, Patologista, alertam para a importância da proteção respiratória, principalmente pela exposição excessiva do trabalhador em ambientes com o ar altamente contaminado das minas de Carvão. Na década de 80, a publicação destes trabalhos provocou a mudança no processo de mineração, com a introdução da água na frente de trabalho, o que mudou completamente o quadro de incidência da pneumoconiose na região carbonífera de Santa Catarina. Os capítulos da pesquisa versam sobre o carvão, o carvão na Região Carbonífera de Santa Catarina, o ambiente das minas de carvão; temas que se tornam relevantes para o estudo da pneumoconiose dos trabalhadores do carvão,

13 principal temática de estudo deste trabalho. 1.2 Problema Que procedimentos podem reduzir a incidência da pneumoconiose nos trabalhadores das minas de carvão? 1.3 Objetivos 1.3.1 Objetivo geral Propor métodos preventivos para redução, e ou, eliminação do risco de aquisição da pneumoconiose nas minas subterrâneas de carvão. 1.3.2 Objetivos específicos Identificar as características e propriedades do carvão mineral. Caracterizar o ambiente cotidiano de trabalho nas minas subterrâneas de carvão da Região Sul de Santa Catarina. Pesquisar a incidência da pneumoconiose na população de trabalhadores das minas de carvão. Propor métodos para o controle da poeira gerada nas minas de carvão.

14 1.4 Justificativa A iniciativa de realizar este trabalho surgiu da vivência junto à extração do carvão mineral em nossa região. Esta atividade produtiva, junto com a riqueza trouxe degradação ambiental e danos irreparáveis a saúde dos trabalhadores das minas. A doença do trabalho mais relevante é a pneumoconiose dos trabalhadores do carvão, que ainda hoje se manifesta nos trabalhadores da mineração. Surgiu então ha necessidade de apresentar um estudo com dados atuais da doença e sugestões técnicas para melhorar as condições dos ambientes de trabalho nas minas da região carbonífera. 1.5 Limitação A pesquisa realizada neste trabalho foi baseada em estudos na Região Carbonífera de Santa Catarina, localizada na região sul do estado de Santa Catarina, que compreende dez municípios: Criciúma, Forquilhinha, Siderópolis, Treviso, Lauro Müller, Urussanga, Morro da Fumaça, Cocal do Sul, Içara e Nova Veneza. Realizamos visitas técnicas na Empresa COOPERMINAS, cooperativa de extração de carvão. A empresa, fundada em 1998, funciona como cooperativa dos funcionários do carvão mineral, a partir da falência da empresa CBCA (Companhia Brasileira de Carvão Araranguaense), localizada no município de Forquilhinha/SC.

15 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 O carvão mineral de Santa Catarina Em Santa Catarina, o início das atividades carboníferas aconteceu no final do Século XIX, realizadas por uma companhia britânica que construiu uma ferrovia e explorava as minas. Em 1885 foi inaugurado o primeiro trecho da ferrovia Dona Tereza Cristina, ligando Lauro Müller ao Porto de Laguna (anexo 01). Desde então o carvão catarinense vem sendo explorado e utilizado tanto pela siderurgia nacional, como para geração de energia termoelétrica, principalmente pela Usina Termoelétrica Jorge Lacerda, localizada em Capivari de Baixo-SC. A seguir descreveremos os dois processos de extração do carvão mineral, realizados na Região Carbonífera de Santa Catarina. 2.2 O processo de extração de carvão 2.2.1 A extração do carvão a céu aberto A mineração a céu aberto é utilizada quando a camada localiza-se próxima da superfície, geralmente a menos de 30 metros de profundidade. Nesta forma de extração máquinas de grande porte rasgam o solo até alcançar o veio de carvão, havendo remoção de toda a cobertura rochosa e solo a ele sobreposto. A camada de carvão exposta é finalmente desagregada por perfuração e explosão.

16 Apesar de responsável por grande devastação do meio ambiente esta forma de mineração gera menos poeiras respiráveis do que a mineração de subsolo, conseqüentemente com menor risco de gerar pneumoconiose. Figura 1: Método Strip Mining Mina a Céu Aberto Fonte: Arquivo dos pesquisadores 2.2.2 A extração de carvão em subsolo Conforme a forma de ser atingida a camada de carvão das minas de subsolo podem ser classificadas em minas de encosta, em plano inclinado ou poço vertical. Nas minas de encosta a camada de carvão encontra-se acessível pela escavação praticamente horizontal da galeria, a partir de elevação topográfica. Nas minas de plano inclinado à camada de carvão está em pequena profundidade, sendo alcançado pela perfuração de galeria com pequena inclinação. Para que seja atingida a camada de carvão profunda é necessária à

17 escavação de poço vertical. A partir deste a mineração faz-se no sentido horizontal. A extração de carvão pode ser feita de maneira manual, semimecanizada ou mecanizada. No processo manual a camada de carvão é perfurada por meio de ponteiras e picaretas, e fragmentada com uso de explosivos. Este material é separado manualmente e transportado em vagonetes. No processo semimecanizado a camada de carvão passa a ser perfurada com perfuratrizes a ar comprimido. A desagregação das rochas é obtida por explosão, o resultado sendo transportado por esteiras apropriadas. Na forma mecanizada, cada vez mais comum, os processos principais são executados por máquinas potentes. Num primeiro momento esta forma de mineração cursou com aumento da geração de poeiras respiráveis. Com a adoção de métodos mais efetivos de ventilação e principalmente pelo uso da água em toda a cadeia extrativa, as concentrações de poeira em suspensão dentro das minas foram bastante reduzidos. O método de mineração atualmente utilizado denomina-se câmaras e pilares, com etapas definidas e grupos de trabalhadores atuando consecutivamente. As galerias têm aproximadamente 6 metros de largura e altura compatível com a camada viável de carvão, mantendo-se entre elas pilares de aproximadamente 14 metros de diâmetro. Estes pilares sustentam todas as camadas geológicas que ficam acima do filão de carvão. Inicialmente as galerias devem ter seus tetos fixados para que sejam evitados desmoronamentos. Grandes máquinas perfuratrizes ou mineiros com perfuratrizes a ar comprimido fazem furos verticais por onde são introduzidos parafusos apropriados, fixados na sua extremidade inferior a pranchas de madeira ou metal que dão sustentação ao teto.

18 Buscando segurança estes parafusos são fixados em camadas de rochas com maior consistência, geralmente arenitos, rochas sedimentares ricas em sílica. Neste estágio são geradas poeiras com altas concentrações deste mineral, e os trabalhadores envolvidos nesta função, mais sujeitos ao desenvolvimento de pneumoconiose. Atualmente a perfuração do teto processa-se com a injeção de água pela própria sonda perfuratriz. Na época da extração não mecanizada o escoramento do teto era feito através de pilares de madeira, e, sem a furação do teto rico em sílica, havia menor exposição dos mineiros. Escorado o teto, inicia-se o corte da camada na frente da galeria. Após o corte e exposição da nova frente de trabalho são abertos orifícios horizontais onde são alojados os explosivos. Após a detonação da linha de frente, veículos especiais retiram o material desagregado, mistura de carvão e outras rochas sedimentares, como arenitos e siltitos, levando-os para correias transportadoras, por onde atingem a superfície. Em minas altamente mecanizadas despende-se aproximadamente 2 horas entre o início da perfuração do teto e a colocação do material extraído nas correias transportadoras. As feições geológicas das jazidas definem o traçados dos vários eixos, todos ligados ao principal. Os mineiros trabalhadores seguem a rota dos eixos e as galerias vão se alongando, num percurso de até 3 (três) ou 4 (quatro) Km 2 (VOLPATO, 1984) (Figura 2).

19 Figura 2: Foto Mina Subterrânea Fonte: Arquivo dos pesquisadores Várias galerias podem estar sendo mineradas concomitantemente. O carvão extraído das minas a céu aberto e subsolo, sofrem seu primeiro pré-beneficiamento nos lavadores das próprias carboníferas. Este processo é elaborado para retirar as impurezas, com um aproveitamento de 30% do material retirado (carvão pré-lavado), os 70% restantes são classificados como rejeitos piritosos (Figura 3). Estes rejeitos classificados como finos ou moinha, são recuperadas e enviadas as coquerias para a fabricação de coque. Figura 3: Processo de Beneficiamento do Carvão Mineral Fonte: Arquivo dos pesquisadores

20 2.3 O ambiente das minas A indústria do carvão não se assemelha às demais empresas. Difere-se delas já na forma de construção das unidades produtoras. As minas de carvão estendem-se enterradas a uma profundidade entre 50 a 200 metros; na superfície ficam os vestiários, algumas oficinas e escritórios. Essa indústria tem menos instalações e mais equipamentos móveis que, com seus operadores avançam pelas galerias que abrem o subsolo retirando o produto do meio da rocha, que é o carvão de pedra (BARAN, 1995). Na Região Carbonífera, o sistema de mineração é de câmaras e pilares, e há três tipos de minas: manual, semimecanizada e mecanizada. O processo de trabalho das minas, o acesso às galerias se faz através de poço, por elevadores ou do plano inclinado (BARAN, 1995). O conjunto de câmaras e pilares formam os painéis onde estão as várias frentes de trabalho. Os trabalhadores chegam às frentes a pé, fazendo um percurso de 1 a 4 Km, sendo que na maioria das mineradoras há meios de locomoção para o transporte dos mineiros. Os turnos são de seis horas com intervalos periódicos de quinze minutos para descanso e alimentação (VOLPATO, 1984). Quanto à operação realizada nas minas manuais, segundo (ALVES, 1996), a seqüência é a seguinte: 1 Escoramento do teto: realizado com prumos de madeiras (pés-direitos e travessões), pelo madeireiro e/ou trilheiro que também realiza o avanço dos trilhos. 2 Furação de frente: realizada pelo furador, com marteletes pneumáticos, são executados de 8 a 15 furos a cada frente. 3 Detonação ou desmonte: os detonadores carregam os furos com explosivos, processando-se a detonação em seqüência. É realizada uma detonação

21 em cada frente de trabalho por dia, em geral, no terceiro turno, quando os trabalhadores já se retiraram das frentes. 4 Limpeza das frentes ou paleação: realizada no primeiro turno depois de baixada a poeira do desmonte, pelos mineiros puxadores ou paleadores que, estão em dupla e munidos com o carvão desmontado. Cada paleador tem uma cota mínima estipulada pela empresa, em geral de 10 a 13 vagonetas com cerca de 500 Kg de capacidade cada, recebendo um adicional por vagoneta excedente. Como as galerias são baixas, esse trabalho é feito em posição encurvada. Após encher cada vagoneta, o mineiro empurra a mesma pelos trilhos, numa distância de 50 a 100 metros até a galeria-mestra, engatando-a no cabo sem-fim, de onde será tracionada até o virador na superfície. No cruzamento de duas galerias, existe uma chapa metálica, o chapão, sob o qual é colocada a vagoneta, permitindo a mudanças de direção da mesma. As galerias estreitas e baixas propiciam os acidentes por compressão durante essa manobra. Nas minas mecanizadas, ainda segundo (VOLPATO 1984), a seqüência de operação é a descrita a seguir: 1 Corte: o operador da máquina cortadeira inicia o processo de extração realizando um corte de 2 a 3 metros de profundidade por 5 metros de largura na base da camada de carvão. A cortadeira é uma máquina com avançamento mecânico de cerca de 3 metros de comprimento, onde se insere uma lança tipo moto serra. 2 Furação de frente: realizada pela perfuratriz mecânica operada por um trabalhador. 3 Detonação: realizada pelo blaster com espoletas, estopins e explosivos de forma seqüencial. 4 Carregamento e transporte: após o desmonte, a máquina Loader

22 recolhe o carvão com braços mecânicos e sistema de esteiras, e coloca no Shuttlecar, que o transporta até o alimentador da correia, ocorrendo aí à trituração primária do carvão: do alimentador, o carvão passa para a correia que transporta até a superfície; nestas etapas trabalham os operadores de máquinas e seus ajudantes, além dos serventes de subsolo. 5 Escoramento do teto: realizado pelo furador de teto e seu ajudante, com auxílio de marteletes pneumáticos; após perfurar o teto, colocam parafusos de ferro com blocos de madeira. É a operação de maior risco para o trabalhador, uma vez que a camada do teto é a que tem maior concentração de sílica em sua composição; também de maior risco de caimento de pedras do teto e desabamentos. As perfuratrizes com avanços mecânicos diminuem o risco de desabamentos, porem são pouco utilizadas. Esse ciclo de operações é realizado em meia hora, sendo repetido de 12 a 16 vezes por turno, em cada frente de trabalho. Volpato (1984) acrescenta que o ciclo de operações nas minas semimecanizadas é semelhante ao das minas mecanizadas, com exceção ao corte da camada inferior do carvão que não é realizado nas primeiras, a perfuração de frente que é realizada com martelete pneumático e a etapa de carregamento e transporte que é realizada por uma máquina, o bobcat. Os bobcats (figura 04) são pequenas máquinas carregadeiras, com motor elétrico ligado, que se locomovem em repetidas operações de vaivém, carregando e transportando o carvão das frentes até as calhas transportadoras nas galerias laterais.

23 Figura 4: Carregadeira para operação em minas subterrâneas Bobcat. Mina semimecanizada Fonte: Arquivo dos pesquisadores Das calhas, o carvão é transportado por esteiras até a correiatransportadora, localizada na galeria principal e daí para a superfície. No carregamento e transporte trabalham o operador de bobcats e o cabista. O operador de bobcat está exposto ao calor excessivo e trepidação do motor elétrico, gases e poeira, além de permanecer por seis horas em posição antiergonômica, principalmente os membros inferiores. O cabista controla o cabo do bobcats à meia distância entre a frente e a galeria lateral, estando exposto a poeiras, gases de detonação, caimento de pedras, choque elétrico e monotonia da atividade. Nas calhas e correias trabalham os serventes, os marreteiros e os comandos de correia, expostos a poeiras, deslocamento de pedras da correia e choque elétrico. Todos os trabalhadores estão expostos ao ruído (VOLPATO, 1984). Baran (1995), coloca que os Equipamentos de Proteção Individual (EPI) utilizados são: botas, capacetes, abafadores e máscaras nos três tipos de mina; quanto à proteção coletiva é feita através do sistema de ventilação com exaustores e

24 umidificação das etapas que causam emissão de poeiras (furação de frente e de teto, carregamento e transporte). O controle da produtividade e do ritmo de trabalho é exercido pelos encarregados, chefe de seção e chefes de turnos. Em resumo, as diferenças fundamentais entre os três tipos de processo de trabalho são: a duração do ciclo de operações e o volume de carvão desmontado por turno, desaparecimento da figura do mineiro que realizava todo o processo de lavra substituído por operadores de máquinas e trabalhadores em funções de manutenção e serventes de subsolo; a concentração de atividades em conjuntos mecanizados com a operação simultânea de cada etapa em frentes de trabalho mais próximas uma das outras, caracterizando um processo tipo linha de montagem que expõe todos os trabalhadores, independentemente de sua função, aos riscos ambientais. Essas diferenças caracterizam a divisão do trabalho, a especialização e a desqualificação dos trabalhadores, a divisão das tarefas com a perda do domínio do processo e do ritmo do trabalho, forma de organização, essa determinada pela exigência do aumento da produtividade e introdução de novas tecnologias, a mecanização neste caso.

25 Tabela 1: Descrição do ambiente de trabalho de acordo com a base técnica FATOR MANUAL SEMIMECANIZADA MECANIZADA Suficiente (Extensão Insuficiente (lanternas e Insuficiente (idem a Iluminação elétrica) baterias nas frentes) semimecanizada) Temperatura Umidade Condições de solo Altura e largura das galerias Ruído Poeiras Instalações Elétricas Média a quente conforme a profundidade Conforme características (muita, moderada ou pouca) Descontinuidade no solo e parede, acúmulos de fragmentos de minérios e água Amena nas galerias quente nas frentes Idem mais umidificação das poeiras Idem Mais elevado do que as demais frentes devido às máquinas Idem mais umidificação das poeiras em maior grau Idem Estreitas e baixas Intermediária Mais amplo De impacto pela detonação intermitente das perfurações contínua dos exaustores Remoção de volume ROM menor, gerando menor quantidade de poeiras Fios pa iluminação, bombas d água e exaustores Gases Menor concentração próprios da rocha, explosivos das detonações, respiração humana Fonte: Baran (1995, p. 17-18). Idem, mas máquinas e correiastransportadoras Maior concentração proveniente das furações, detonações e remoção de grandes camadas de carvão por bobcats Fiação para iluminação, para comandos de correias, cabos de alta tensão, das bobcats e das bombas d água Maior concentração Intenso pelas máquinas de grande porte alimentadorquebrador Alta concentração de partículas nas frentes de trabalhos Fio para iluminação, máquinas locomotivas, AT, exaustores, centro de transformação Maior concentração das cargas de motores de combustão orgânica 2.4 A pneumoconiose dos trabalhadores de carvão 2.4.1 Histórico No século XVI, já se descreviam as primeiras relações entre trabalho e

26 doença, mas apenas em 1700, foi que se chamou atenção para as doenças profissionais, quando o italiano Bernardino Ramazzini publicou o livro De Morbis Artificum Diatriba ( As Doenças dos Trabalhadores ). Nesta obra, ele descreveu, com extraordinária precisão para a época, uma série de doenças relacionadas com mais de 50 profissões diferentes. Diante disso, Ramazzini foi cognominado o Pai da Medicina do Trabalho, e as perguntas clássicas que o médico faz ao paciente na anammese clínica foi acrescentada mais uma: Qual a sua ocupação? (MARGOTTI, 1998). A pneumoconiose dos trabalhadores do carvão foi descrita na Inglaterra por Thompson em 1836. O número de casos de pneumoconiose aumentou muito com a eclosão da 1ª e 2ª Guerra Mundial, tornou-se um problema epidêmico principalmente no País de Gales e Inglaterra, razão pela qual em 1945 criou-se uma unidade de pesquisa das pneumoconioses (BARAN, 1995). Tais medidas resultaram em estudos, prevenção e queda significativa de prevalência da pneumoconiose dos trabalhadores de carvão. No Brasil, os primeiros relatos de pneumoconiose datam de 1943 nas minas de São Gerônimo e Butiá no Rio Grande do Sul. Na bacia carbonífera sul catarinense, o primeiro estudo foi de Manoel Moreira, do Departamento Nacional de Produção Mineral, Boletim nº 92, publicado em 1952, que relatou 01 caso de pneumoconiose. Em 1958, Raimundo Perez, radiologista de Criciúma, reuniu 11 casos de pneumoconiose. No período de 1969 a 1979, os médicos Albino José de Souza Filho, pneumologista; Valdir de Lucca, radiologista; e Sérgio Alice, patologista; fizeram um levantamento na população de mineiros e encontraram 536 casos de pneumoconiose e estudaram a prevalência, aspectos clínicos e classificação

27 radiológica e histopatológica nos casos de biópsia e necropsia, trabalho publicado no Jornal da Pneumologia em 1981. Os autores Souza Filho e Alice fizeram estudo de casos de fibrose maciça pulmonar progressiva, correspondendo a 6% de 1.500 casos de pneumoconiose, da grande maioria dos trabalhadores das minas de carvão, publicado no Jornal de Pneumologia em dezembro de 1991. Souza Filho (1990) coloca que para os mineiros do mundo, as pneumoconioses em geral e a silicose em particular, constitui-se em um dos mais graves problemas de higiene do trabalho com que tem de lutar e talvez o mais difícil de resolver. Em Santa Catarina, a Pneumoconiose dos mineiros do carvão é uma combinação de Antracose e silicose, sendo a última a responsável pela patologia. 2.4.2 Conceitos Poeira: é a suspensão de partículas sólida no ar, gerada por ruptura mecânica de um sólido. As poeiras são geradas no manuseio de sólidos a granel, como grãos; na britagem ou moagem de minérios; na detonação para desmontes de rochas; no peneiramento de materiais orgânicos e inorgânicos; e outros. Normalmente, têm tamanho de 0,1 µm a 25 µm. A maior parte das poeiras em indústrias é formada por partículas de tamanho muito variado, prevalecendo, numericamente, as menores, embora sejam percebidas apenas as de maior tamanho. A visão humana normal pode ver partículas de poeira acima de 50 µm, entre 50 µm e 10 µm consegue-se perceber com um feixe luminoso intenso, e as menores que 10 µm, individualmente só podem ser vistas com auxílio de um

28 microscópio. Pneumoconiose: Pneumo pulmão; conis pó. Com este nome genérico são designados os estados patológicos produzidos pela retenção da poeira nos pulmões. As principais pneumoconioses asbestose, pneumoconiose dos mineiros de carvão e silicose ocorrem tipicamente após exposição contínua a concentrações de poeira que não são mais legalmente permitidas em muitos países desenvolvidos, inclusive os Estados Unidos. Silicose: é definida como uma enfermidade devida à respiração de ar contendo partículas de sílica livre (SiO 2 ), caracterizada por mudanças fibróticas generalizadas e desenvolvimento de uma nodulação invasiva e clinicamente por um decréscimo da capacidade respiratória e da expansão torácica, diminuição da capacidade para o trabalho, ausência de febre, aumento de suscetibilidade à tuberculose e imagem característica no Raio X (MARGOTTI, 1998). Antracosilicose ou Pneumoconiose de trabalhadores de carvão - Reação pulmonar, não neoplásica por mineral ou pós-orgânicos. O acúmulo da poeira de sílica livre e cristalina no pulmão provoca uma reação do organismo a essas partículas, e, como conseqüência, leva a uma fibrose pulmonar (como cicatrizes internas), a qual diminui a capacidade de trocas gasosas do pulmão (MARGOTTI, 1998). A exposição a poeiras de carvão mineral relaciona-se com a pneumoconiose de trabalhadores de carvão PTC (FLETCHER apud MENDES, 1995), fibrose maciça progressiva FMP (COCHRANE apud MENDES, 1995), bronquite crônica BC (HIGGINS e COLS., apud MENDES, 1995; TAE, WALKER & ATTFIELD apud MENDES, 1995) e enfisema pulmonar (RYDER e cols., apud MENDES, 1995; COCKCROFT e cols., apud MENDES, 1995). Estas entidades