QUALIDADE DA ÁGUA DE AÇUDES UTILIZADOS NA CRIAÇÃO DE PEIXES EM SISTEMA DE POLICULTIVO UM ESTUDO DE CASO

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Transcrição:

QUALIDADE DA ÁGUA DE AÇUDES UTILIZADOS NA CRIAÇÃO DE PEIXES EM SISTEMA DE POLICULTIVO UM ESTUDO DE CASO Márcio de Souza Caetano¹, Bruno de Lima Preto 2, Luciano Bestete Oliveira 3, Atanásio Alves do Amaral 4 1 Pós-graduando em Agroecologia do Instituto Federal do Espírito Santo Campus de Alegre, Alegre, ES, Brasil (sgt.caetano@gmail.com) 2 Professor Doutor, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo Campus de Alegre, Setor de Aquicultura, Alegre, ES, Brasil 3 Laboratório de Ecologia Aquática e Produção de Plâncton, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo Campus de Alegre, Alegre, ES, Brasil 4 Professor Titular-Livre, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo Campus de Alegre, Alegre, ES, Brasil Recebido em: 08/09/2015 Aprovado em: 14/11/2015 Publicado em: 17/12/2015 RESUMO Esse trabalho teve como objetivo avaliar a qualidade da água de dois açudes de cultivo de peixes, em sistema de policultivo, e propor medidas para a melhoria das condições desses açudes, caso estejam fora dos padrões recomendados para o cultivo de peixes. Amostras de água foram coletadas a 10 cm de profundidade, nos meses de agosto e setembro de 2013 e janeiro de 2014, próximo ao local do escoamento da água de cada viveiro, para análise de variáveis físico-químicas. Os valores de DBO 5 e de fósforo total foram maiores que o limite máximo recomendado. De modo geral, a água dos dois açudes estudados apresentou um padrão de qualidade inferior ao recomendado para o cultivo de peixes, havendo necessidade de se implementar um manejo mais adequado, visando à melhoria da qualidade dessa água, tanto para a prática da piscicultura, quanto para o lançamento de seu efluente no ambiente. PALAVRAS-CHAVE: Piscicultura. Sistema de manejo. Variáveis físico-químicas da água. WATER QUALITY OF TWO DAMS OF FISH REARING IN POLYCULTURE SYSTEM ABSTRACT This study aimed to assess the quality of water of two dams of fish rearing in polyculture system, and propose measures to improve the conditions of these dams, if outside of the recommended for growing fish patterns. Water samples were collected at 10 cm depth in the months of August and September 2013 and January 2014, near the site of the flow of each nursery water for analysis of physico-chemical variables. The values of BOD 5 and total phosphorus were higher than the recommended upper limit. In general, the two water reservoirs studied showed a pattern lower than recommended for the cultivation of fish quality, there is a need to ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 190 2015

implement a more appropriate handling to improve the quality of such water, both for fish farming both the launch of its effluent into the environment. KEYWORDS: Fish culture. Management system. Physicochemical water variables. INTRODUÇÃO A qualidade da água é um dos fatores mais importantes para o sucesso do cultivo de organismos aquáticos (PROENÇA & BITTENCOURT, 1994; VINATEA ARANA, 2003), sendo determinada por variáveis físicas (temperatura, cor, turbidez e condutividade), químicas (ph, alcalinidade, dureza e gases dissolvidos) e biológicas (produção primária e secundária) (PÁDUA, 2001; VINATEA ARANA, 2004). Essas variáveis são influenciadas pela morfometria dos viveiros e pelos aspectos geomorfológicos e climáticos da região (SIPAÚBA-TAVARES, 1995). Na aquicultura, a deterioração da qualidade da água se deve à eutrofização, provocada pela matéria orgânica proveniente dos restos de alimentos, dos adubos e das fezes dos animais cultivados (SIPAÚBA-TAVARES, 2000). Segundo PÁDUA 2001), as chuvas, os fertilizantes e a decomposição microbiana de compostos nitrogenados são as principais fontes de nutrientes em sistemas de cultivo. SIPAÚBA-TAVARES (1995) considera a precipitação um fator importante, pois promove a agitação da água, mudando a dinâmica do corpo hídrico. A Resolução nº 357, de 17 de março de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) estabeleceu nove classes de qualidade de água, em função dos principais usos (BRASIL, 2005). De acordo com essa Resolução, as águas destinadas ao cultivo de organismos aquáticos para alimentação humana devem se manter no padrão da Classe 2. As principais variáveis da água a serem monitoradas, durante o cultivo de animais aquáticos, são a temperatura, o oxigênio dissolvido (OD), o ph, a alcalinidade, a dureza, a condutividade elétrica, a transparência, a amônia, o nitrito, o nitrato, o nitrogênio total, o fósforo total e a comunidade planctônica (SIPAÚBA- TAVARES, 1995; PÁDUA, 2001; VINATEA ARANA, 2003). Os valores dessas variáveis devem se manter dentro dos limites máximos e mínimos, estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/2005, para águas de Classe 2. Esse trabalho teve como objetivo avaliar a qualidade da água de dois açudes de policultivo de peixes, em regime semi-extensivo, e propor medidas para a melhoria das condições desses açudes. MATERIAL E MÉTODOS Caracterização da área de estudo O município do Alegre localiza-se no sul do Estado do Espírito Santo e a principal atividade econômica é agrossilvipastoril. A região é montanhosa, apresentando clima tropical quente úmido (Cwa), com verão quente e chuvoso e inverno seco. A temperatura média anual é de 23,1 ºC, com 29,7 ºC no verão e 18,5 ºC no inverno. A precipitação média anual é de 1341 mm, com 111,8 mm no período seco (maio a setembro) e 1229,2 mm no período chuvoso (outubro a abril) (LIMA et al., 2008). A Fazenda Santa Rosa (Figura 1), com área de 154,88 ha, localiza-se no Distrito de Araraí, município de Alegre, tendo como atividade principal a criação de gado de leite e de corte e a plantação de eucalipto. A piscicultura é exercida como atividade secundária, em ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 191 2015

dois açudes formados pelo represamento da água de nascentes, um deles com área de 430 m 2 e o outro com área de 802 m 2. Os açudes situam-se entre morros, existindo pasto, no entorno do primeiro açude, e no entorno do segundo açude uma plantação de café do lado esquerdo da imagem e do lado direito uma plantação de goiabas. O sistema de abastecimento de água não é independente e o segundo açude recebe o efluente do primeiro. As espécies cultivadas são o piauçu (Leporinus macrocephalus), a matrinxã (Brycon cephalus), o pacu (Piaractus mesopotamicus), a carpa capim (Ctenopharyngodon idella) e a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus). O sistema de cultivo é semi-intensivo, com densidade de estocagem de 1 peixe m - 2. Os peixes são alimentados com frutas e com restos de comida, nunca recebendo ração comercial. A fertilização dos açudes é feita a cada seis meses, com esterco bovino, utilizando-se 300 kg no açude 1 e 500 kg no açude 2. A taxa de renovação diária da água corresponde a 3% do volume dos açudes. FIGURA 1 Vista geral da Fazenda Santa Rosa, mostrando os açudes utilizados para a criação de peixes Fonte: Google Earth. Os resultados foram discutidos com base na Resolução CONAMA nº 357, de 17 de março de 2005 (BRASIL, 2005) e nos valores de referência para aquicultura, encontrados na literatura. A Tabela 1 apresenta uma síntese dos valores de referência utilizados nesse trabalho. Procedimento amostral Amostras de água dos dois açudes foram coletadas em triplicata, a 10 cm de profundidade, nos meses de agosto e setembro de 2013 e janeiro de 2014, próximo ao local do escoamento da água de cada viveiro. As coletas foram feitas entre 07 h e 09 h da manhã, em frascos de polietileno com capacidade para 2 L (análise de alcalinidade, dureza e DBO 5 ) e em frascos de polietileno com capacidade para 600 ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 192 2015

ml (análise de nutrientes da série do nitrogênio e do fósforo). Os frascos foram mantidos em isopor com gelo, onde foram transportados até o Laboratório de Ecologia Aquática e Produção do Plâncton (LEAPP) do Ifes Campus de Alegre, onde foram analisadas. As seguintes variáveis foram analisadas: transparência (disco de Secchi), temperatura (termômetro digital), ph (peagômetro Tecnopon mpa 210), condutividade elétrica (condutivímetro Tecnopon mca 150P), OD, DBO 5, alcalinidade e dureza (titrimetria), série do nitrogênio (nitrito, nitrato, amônia e nitrogênio total) e série do fósforo (ortofosfato e fósforo total). Os teores de nitrogênio e de fósforo, em todas as formas citadas, foram determinados por leitura em espectrofotômetro (PG T80+), conforme a metodologia descrita no Standard methods for the examination of water and wastewater (EATON et al., 2005). TABELA 1 - Valores de referência para as variáveis físico-químicas das águas destinadas à aquicultura (DBO 5 = demanda bioquímica de oxigênio, em cinco dias) VARIÁVEL VALOR RECOMENDADO transparência (cm) 30 a 40 temperatura (ºC) 25 a 30 (para peixes tropicais) ph 7,0 a 8,5 DBO 5 (mg L -1 ) 5 OD (mg L -1 ) 5 condutividade elétrica (µs cm -1 ) 70 alcalinidade (mg CaCO3 L -1 ) 30 a 50 dureza (mg CaCO3 L -1 ) 70 a 150 amônia (mg L -1 ) 0,02 nitrito (mg L -1 ) 1,0 nitrato (mg L -1 ) 10,0 3,7, para ph 7,5 2,0, para ph 7,5 a 8,0 1,0, para ph 8,0 a 8,5 0,5, para ph maior que 8,5 nitrogênio amoniacal total fósforo total (mg L -1 ) 0,030 Fonte: Elaborada pelos autores, com base nos dados encontrados em PROENÇA & BITTENCOURT (1994), SIPAÚBA-TAVARES (1995), ONO & KUBITZA (2003) e BRASIL (2005). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os açudes foram adubados em maio e outubro de 2013, portanto fora dos períodos de amostragem. O tempo decorrido entre a adubação de maio e a coleta de agosto foi o mesmo tempo decorrido entre a adubação de outubro e a coleta de janeiro, diferenciando-se, quanto a esse aspecto, a coleta de setembro. Durante o período de amostragem, a água do açude 1 permaneceu barrenta, enquanto a água do açude 2 permaneceu esverdeada. A precipitação, no período da amostragem, foi atípica, com 27,4 mm em agosto de 2013, 37,0 mm em setembro de 2013 e 48,4 mm em janeiro de 2014. Excepcionalmente, a precipitação do mês de janeiro de 2014 foi baixa, embora tenha sido um pouco maior que a dos meses de agosto e setembro de 2013. Portanto as variações nos resultados das análises das amostras coletadas não podem ser atribuídas ao regime de chuvas. Também não podem ser atribuídas ao ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 193 2015

manejo, pois este não foi alterado, durante o período de estudo, e foi semelhante, nos dois açudes estudados. Os valores das variáveis físico-químicas analisadas estão dispostos na Tabela 2, que apresenta a média, o desvio padrão e o coeficiente de variação dessas variáveis. TABELA 2 - Valores médios das variáveis analisadas nos dois açudes estudados (DP = desvio padrão; CV = coeficiente de variação) Valores médios Açude 1 Açude 2 variáveis Média ± DP CV (%) Média ± DP CV (%) transparência (cm) 31,7 ± 12,6 39,7 38 ± 5,2 13,7 temperatura (ºC) 26 ± 2,6 10,2 26,3 ± 2,1 7,9 ph 7,6 ± 2,5 32,4 6,3 ± 1,0 16,4 condutividade elétrica (µs cm -1 ) 61,8 ± 9,5 15,4 55,9 ± 4,0 7,1 OD (mg L -1 ) 8,7 ± 0,7 8,0 7,7 ± 1,2 15,3 DBO 5 (mg L -1 ) 14,8 ± 2,1 14,3 11,3 ± 4,4 38,7 alcalinidade (mg L -1 ) 25,3 ± 4,6 18,2 23,0 ± 4,4 19,0 dureza (mg L -1 ) 28,7 ± 9,5 33,0 28,6 ± 4,6 16,1 amônia (mg L -1 ) 0,016 ± 0,014 90,3 0,019 ± 0,011 57,7 nitrito (mg L -1 ) 0,010 ± 0,007 64,4 0,004 ± 0,002 43,3 nitrato (mg L -1 ) 0,079 ± 0,031 39,3 0,081 ± 0,056 68,7 nitrogênio inorgânico dissolvido (mg L -1 ) 0,11 ± 0,04 36,2 0,10 ± 0,05 46,4 ortofosfato (mg L -1 ) 0,10 ± 0,07 70,0 0,09 ± 0,10 107,2 fósforo total (mg L -1 ) 0,22 ± 0,05 21,9 0,13 ± 0,13 101,2 Fonte: Elaborada pelos autores. O comportamento das variáveis analisadas está representado em histogramas (Figuras 1 e 2). Os histogramas de comportamento das variáveis físicoquímicas da água mostram uma variação casual, pois cada variável tem um comportamento diferente, em um mesmo açude, e não há um padrão entre os açudes, com exceção da temperatura, que apresenta um padrão compatível com o clima local. A primeira amostragem foi feita no final do inverno (agosto/2013), a segunda, no início da primavera (setembro/2013) e a terceira, no verão (janeiro/2014). Durante o período das coletas, a intensidade luminosa e a temperatura do ar aumentaram, tendo como consequência o aumento da temperatura da água. As variações na transparência da água foram maiores no açude 1, atingindo um nível crítico (20 cm), em setembro de 2013. Entretanto o teor de OD foi alto, nesse mês, indicando que não houve problemas em relação a essa variável. Para evitar concentrações críticas de OD durante a noite, SIPAÚBA-TAVARES & KUBITZA (2003) recomendam que a transparência da água seja mantida entre 30 e 60 cm. No período de estudo, a transparência da água permaneceu dentro dos limites recomendados, exceto para o açude 1, no mês de setembro, conforme indicado acima. A transparência da água é inversamente proporcional à quantidade de fitoplâncton, diminuindo quando a população de microalgas aumenta. Como o manejo e as condições ambientais foram os mesmos, a menor variação da transparência da água, no açude 2, pode estar relacionada apenas ao maior tamanho deste, pois o desenvolvimento da comunidade planctônica é mais demorado, em viveiros maiores (WOYNAROVICH & HORVATH, 1988), fato que pode contribuir para uma estabilidade maior na densidade populacional dos ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 194 2015

organismos fitoplanctônicos. O açude 1, por ser menor, está sujeito a mudanças mais rápidas nas populações desses organismos. FIGURA 1 - Histograma do comportamento das variáveis físico-químicas da água, exceto nutrientes, nos açudes 1 (em cima) e 2 (embaixo) (OD = oxigênio dissolvido; DBO 5 = demanda bioquímica de oxigênio, em cinco dias Fonte: Elaborado pelos autores. O ph é um fator muito importante a ser considerado na aquicultura, pois influencia vários fenômenos químicos e biológicos no meio, além do metabolismo dos organismos cultivados (SIPAÚBA-TAVARES, 1995; VINATEA ARANA, 2004; ALBANEZ & MATOS, 2007). Valores abaixo de 6,0 e acima de 9,5 atrapalham o crescimento e a reprodução desses organismos (KUBITZA, 2003). Nesse estudo, o ph alcançou o valor de 10,2, em setembro de 2013, no açude 1, acima do máximo recomendado. Em janeiro de 2014, os valores foram 5,08, no açude 1, e 5,10, no açude 2, abaixo do mínimo recomendado. A temperatura da água estava abaixo do ideal (23ºC, no açude 1, e 24ºC, no açude 2), em agosto de 2013, mas alcançou 27ºC em setembro e 28ºC em janeiro. Segundo ONO & KUBITZA (2003), a temperatura ideal para o cultivo de peixes tropicais é de 27 a 32ºC, mas esses peixes apresentam boa taxa de crescimento, a partir dos 25ºC (CYRINO & CONTE, 2006). Os resultados desse trabalho mostram ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 195 2015

que, durante o inverno, a temperatura é baixa, no Distrito de Araraí, onde se localiza a Fazenda Santa Rosa, o que pode atrasar o desenvolvimento dos peixes. Recomenda-se, portanto, que os açudes sejam povoados em setembro de cada ano, para que os peixes alcancem o peso de abate antes do inverno do ano seguinte. FIGURA 2 - Histograma do comportamento dos nutrientes, nos açudes 1 (em cima) e 2 (embaixo) (NID = nitrogênio inorgânico dissolvido Fonte: Elaborado pelos autores. A condutividade elétrica expressa a quantidade de íons na água, fornecendo informações sobre a disponibilidade de nutrientes e ajudando a detectar a presença de poluentes (RIBEIRO et al., 2000). Nesse trabalho a condutividade elétrica permaneceu abaixo do limite máximo recomendado para o cultivo de peixes, exceto no mês de setembro de 2013, no açude 1, quando o valor chegou a 72,8 µs cm -1. Entretanto esse valor não é preocupante, porque está próximo ao limite recomendado. Segundo SIPAÚBA-TAVARES (1995), valores altos de condutividade elétrica indicam elevado grau de decomposição. Nesse trabalho, o maior valor de ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 196 2015

condutividade foi encontrado quando a transparência da água caiu para 20 cm, indicando o aumento da população de organismos fitoplanctônicos. Uma consequência direta do aumento populacional desses organismos é a elevada taxa de mortalidade dos mesmos (KUBITZA, 1998), o que aumenta também a taxa de decomposição. De todos os fatores químicos indicadores da qualidade da água, o oxigênio é um dos mais importantes. Esse elemento é essencial à vida dos organismos aquáticos e, quando em baixa concentração, pode atrasar o crescimento, reduzir a eficiência alimentar e aumentar a incidência de doenças e de morte (KUBITZA, 2003). Segundo BOYD (1990), valores de OD acima de 4 mg L -1 são adequados para o cultivo de peixes, sendo assim, os dois açudes estudados apresentaram concentrações propícias para o cultivo de peixes, em todo o período de amostragem. O açude 1 apresentou valores de OD maiores que os valores do açude 2. Como esse açude apresentou transparência menor que o açude 2, nas duas primeiras amostragens, e como as medidas de OD foram tomadas durante o dia, há indícios de que o fitoplâncton é responsável pelas altas taxas de OD encontradas nos dois açudes. Observa-se, também, que, nos dois açudes, as taxas de OD foram maiores, quando a transparência da água foi menor, havendo uma relação direta entre a taxa de OD e a quantidade de fitoplâncton. Os valores de DBO 5 encontrados nos dois açudes estudados foram maiores que o limite máximo recomendado para viveiros de cultivo de peixes, indicando a presença de grande quantidade de matéria orgânica na água desses açudes. A alcalinidade foi maior no açude 1, em todas as amostragens, embora os valores médios sejam muito parecidos, nos dois açudes. Quanto à dureza, o valor encontrado no açude 1 foi maior, na primeira amostragem e os valores encontrados no açude 2 foram maiores, nas outras duas. Entretanto, o coeficiente de variação foi bem maior, no açude 1, resultando em valores médios idênticos, nos dois açudes. Segundo MURGAS et al. (2009), águas com alcalinidade inferior a 30 mg L -1 têm pouco poder tamponante, podendo apresentar significativas flutuações diárias nos valores de ph. SIPAÚBA-TAVARES (1995) e VINATEA ARANA (2004) recomendam, em viveiros de piscicultura, valores de alcalinidade acima de 20 mg L - 1. No açude 2, na primeira amostragem, o valor da alcalinidade foi 18 mg L -1, portanto inferior ao recomendado. Embora os valores de alcalinidade tenham sido maiores no açude 1, este apresentou maior variação de ph do que o açude 2, no período de amostragem. Os valores do nitrogênio inorgânico dissolvido (NID), representado pela soma dos teores de amônia, nitrito e nitrato foram baixos, nos dois açudes, não representando um problema, nem para a criação de peixes, nem para o ambiente, no entorno dos açudes. No açude 1, a amônia representou 17,6% do NID, o nitrito representou 9,1% e o nitrato representou 71,8%. No açude 2, a amônia representou 14,5% do NID, o nitrito representou 3,6% e o nitrato representou 73,6%. A toxidez da amônia se manifesta quando a concentração atinge 0,6 mg L -1 (SIPAÚBA-TAVARES, 1995). Como a concentração de amônia é inversamente proporcional à concentração de oxigênio dissolvido, os efeitos tóxicos da amônia são mais pronunciados em águas com baixo teor de oxigênio dissolvido (ALBANEZ & MATOS, 2007), não sendo essa a situação dos açudes analisados. Quando em alta concentração, o nitrito é altamente tóxico, provocando a morte dos animais por asfixia (KUBITZA, 2003; ESTEVES, 2011). Esse composto oxida a hemoglobina em metahemoglobina, incapaz de transportar oxigênio ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 197 2015

(VINATEA ARANA, 2004; ALBANEZ & MATOS, 2007;). Segundo ALBANEZ & MATOS (2007) concentrações de nitrito acima de 0,15 mg L -1 são prejudiciais à aquicultura. VINATEA ARANA (2004) afirma que essa concentração não é letal, mas provoca estresse nos peixes. A concentração letal corresponde a 0,5 mg L -1 (SIPAÚBA-TAVARES, 1995). Nos açudes analisados, os valores de nitrito mantiveram-se abaixo de 0,15 mg L -1, não representando risco para oeixes. O nitrato representa a etapa final da oxidação da amônia, que compreende a transformação da amônia em nitrito e deste em nitrato (VINATEA ARANA, 2004). Como os valores de nitrato encontrados nesse trabalho são bem maiores que os valores de nitrito, pode-se afirmar que o processo de nitrificação estava em andamento, quando as amostras de água foram coletadas. O nitrato é bem tolerado até a concentração de 5 mg L -1 (SIPAÚBA- TAVARES, 1995) e, embora não seja um composto tóxico importante para a aquicultura, quando em altas concentrações, afeta negativamente o metabolismo dos animais cultivados (VINATEA ARANA, 2004). Nos açudes analisados, os valores de nitrato foram muito inferiores a 5 mg L -1, no período de amostragem, também não representando risco para os peixes. Os valores de ortofostato foram mais altos na primeira amostragem, enquanto os valores de fósforo total foram mais altos na terceira, observando-se uma escala inversamente proporcional, entre essas variáveis. Na primeira amostragem, o valor de ortofosfato do açude 1 foi um pouco maior que o valor do açude 2. Na terceira amostragem, o valor do fósforo total do açude 2 foi um pouco maior que o valor do açude 1. Considerando-se a média geral, o açude 1 apresentou maiores valores de ortofosfato e de fósforo total do que o açude 2. Entretanto, ambos os açudes apresentaram valores de fósforo total maiores do que o limite máximo estabelecido pela Resolução CONAMA 357 (BRASIL, 2005). O lançamento de efluentes ricos em fósforo e nitrogênio pode provocar a eutrofização do corpo hídrico receptor, além de alterar a biodiversidade (HENRY- SILVA & CAMARGO, 2006), de modo que o efluente dos dois açudes estudados nesse trabalho precisa ser tratado, antes de ser lançado em um corpo hídrico receptor. Para diminuir o impacto ambiental, o emprego de dietas balanceadas, o manejo adequado e o tratamento dos efluentes são recomendados, sendo indispensáveis para manter a rentabilidade, a legalidade e a sustentabilidade da piscicultura. CONCLUSÃO De modo geral, a água dos dois açudes estudados apresentou padrão de qualidade inferior ao recomendado para o cultivo de peixes, havendo necessidade de se implementar um manejo mais adequado, para a melhoria da qualidade dessa água, tanto para a prática da piscicultura, quanto para o lançamento dos efluentes no ambiente natural. REFERÊNCIAS ALBANEZ, J. R.; MATOS, A. T. Aquicultura. In: MACEDO, J. A. B. Águas & águas. 3. ed. Belo Horizonte: CRQ-MG, 2007. (Suplemento) BOYD, C. E. Water quality in ponds for aquaculture. Alabama: Birmingham Publishing, 1990. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 198 2015

BRASIL. Resolução Conama nº 357, de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 18 mar. 2005. CYRINO, J. E.; CONTE, L. Tilapicultura em gaiolas: produção e economia. In: CYRINO, J. E. P.; URBINATI, E. C. (Eds.). Tópicos especiais em biologia aquática e aqüicultura. Jaboticabal: Sociedade Brasileira de Aqüicultura e Biologia Aquática, 2006. p. 151-171.2006. EATON, A. D.; CLESCERI, L. S.; RICE, E. W.; GREENBERG, A. E. (Eds.). Standard methods for the examination of water and wastewater. 21. ed. Washington, DC: APHA/AWWA/WEF, 2005. ESTEVES, F. A. Fundamentos de limnologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2011. KUBITZA, F. Qualidade da água na produção de peixes: parte II. Panorama da Aquicultura, v. 8, n. 46, p. 35-41, 1998.. Qualidade da água no cultivo de peixes e camarões. Jundiaí: Fernando Kubitza, 2003. LIMA, J. S. S.; SILVA, S. A.; OLIVEIRA, R. B.; CECÍLIO, R. A.; XAVIER, A. C. Rev. Ciên. Agron., Fortaleza, v. 39, n. 02, p. 327-332, 2008. MURGAS, L. D. S.; DRUMOND, M. M.; PEREIRA, G. J. M.; FELIZARDO, V. de O. Manipulação do ciclo e da eficiência reprodutiva em espécies nativas de peixes de água doce. Rev. Bras. Reprod. Anim., Suplemento, Belo Horizonte, n. 6, p. 70-76, 2009. ONO, E. A.; KUBITZA, F. Cultivo de peixes em tanques-rede. 3. ed. Jundiaí: F. Kubitza, 2003. 112 p. PÁDUA, D. M. C. Fundamentos de piscicultura. 2. ed. Goiânia: Ed. da UCG, 2001. PROENÇA, C. E. M.; BITTENCOURT, P. R. L. Manual de piscicultura tropical. Brasília: IBAMA, 1994. RIBEIRO, L. P. et al. Aquacultura empresarial. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 21, n. 203, p. 5-9, 2000. SIPAÚBA-TAVARES, L. H. Limnologia aplicada à aquicultura. Jaboticabal: FUNEP, 1995.. Utilização de biofiltros em sistemas de cultivo de peixes. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 21, n. 03, p. 38-43, 2000. VINATEA ARANA, L. Fundamentos de aquicultura. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2003. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 199 2015

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