Uso de Lactobacillus Plantarum na alevinagem de Tilápia do Nilo Hartmann, Cristhian 1 ; Moreira, Luiz Sérgio 2 ; Jatobá, Adolfo 3 1,2,3 IFCatarinense, Araquari/SC INTRODUÇÃO A quantidade e qualidade de larvas e alevinos estão diretamente relacionadas com o sucesso nos sistemas de produção aquícolas (HAYASHI et al., 2002). Entretanto a falta de alevinos limita um maior crescimento desta atividade, entre os principais fatores limitantes da produção de alevinos pode-se destacar: o manejo nutricional inadequado e surgimento de enfermidades emergentes. A utilização dos probióticos, como medida profilática: eleva a imunocompetência dos peixes garantindo melhor qualidade sanitária dos alevinos (JATOBÁ et al., 2008), aumenta a vilosidade das células do epitélio intestinal (MELLO et al., 2013), além de aumentar a produtividade (JATOBÁ et al., 2011). O objetivo deste trabalho foi avaliar as alterações na microbiota do trato intestinal e desempenho zootécnico de alevinos de tilápia do Nilo (Orechomis niloticus) alimentados com dietas suplementadas com uma cepa de bactéria ácido-láctica isolada de Tilápias do Nilo MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado nos meses de março e abril de 2013, com duração de 35 dias, no Laboratório de Aquicultura do Instituto Federal Catarinense Câmpus Araquari, Araquari, Santa Catarina, Brasil. O preparo da dieta experimental, a ração foi aspergida com o Lactobacillus plantarum crescida em meio de cultura MRS, na concentração de 4,6x10 8 UFC ml -1, na proporção de 100 ml kg -1 de ração comercial (proteína bruta 45%, umidade 10%, Gordura 8%, Fibra bruta 1 Aluno do técnico em agropecuária do EMI 2 Auxiliar Agropecuário 3 Docente EBTT Trabalho com apoio do CNPq e GUABI.
2,8% fósforo 1,5%, tamanho 1 mm, extruda, Guabi Brasil). A mistura foi incubada durante 24h a 35 o C em recipiente hermeticamente fechado. Após este período os recipientes contendo as rações foram abertos e secados em estufa por 24h a 35 o C. A ração do tratamento controle foi aspergida apenas com meio de cultura MRS estéril. Para a quantificação de bactérias ácido-láticas na ração foram realizadas cinco diluições seriadas fator 1:10. A dieta suplementada com a bactéria ácido-láctica foi considerada apta para uso, quando a contagem foi acima de 1x10 7 UFC.g -1. Os alevinos de Tilápia do Nilo (O. niloticus) são oriundos do Laboratório de Aquicultura do Instituto Federal Catarinense câmpus Araquari. Os mesmos foram obtidos através de reprodução natural, e coletados para posterior reversão sexual através do fornecimento de 60 mg de metiltestosterona por kg de ração, assim como a metodologia de SHELTON et al. (1981). Cento e vinte peixes (0,13 ± 0,03 g) foram distribuídos em seis caixas de polietileno (40 L), vinte peixes por unidade experimental. As caixas estavam num sistema de recirculação, equipadas com filtro biológico, e mantidas a temperatura constante (28 29 C). Os alevinos eram alimentados quatro vezes ao dia (08:00, 11:00, 13:00 e 16:00 h), ad libitium. A temperatura e oxigênio dissolvido foram monitorados duas vezes ao dia (09:00 e 15:00 h). Amostras de água foram coletadas e semeadas em meio de cultura Agar MRS, para identificar a presença de bactérias ácido-lácticas na água, ph, total de amônia dissolvida, nitrito, e nitrato, foram monitorados semanalmente, assim como, todos os alevinos eram coletados e pesados, após este processo os mesmos retornam à mesma unidade experimental. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na alevinagem de tilápias não foram observadas diferenças significativas para o oxigênio dissolvido (4,5 5,8 mg.l -1 ), temperatura (28,1 29,6 C), ph (7,2 7,4), amônia (0,0 0,3 mg.l -1 ), nitrito (0,0 0,2 mg.l -1 ), e nitrato (0,0 0,1 mg.l -1 ) entre os tratamentos, este fato está relacionado com o sistema de recirculação, pois todas as unidades experimentais estavam ligadas no mesmo sistema, homogeneizando os parâmetros de qualidade de água. A presença do nitrato na água demostra que o processo de nitrificação estava ativo, convertendo amônia em nitrito, e nitrito em nitrato (EBELING et al., 2006). Os alevinos de tilápia do Nilo alimentados com dieta suplementada com bactérias probióticas apresentaram maior ganho em peso semanal (3,9%), biomassa final (15,6%), e 2
eficiência alimentar (15,5%) em relação aos alevinos alimentados com a dieta controle (Tabela 1). A melhora da eficiência corroborou com JATOBÁ et al. (2011) registrou eficiência alimentar 13,6% maior em tilápias do Nilo alimentadas com dieta suplementada com L. plantharum. Estes resultados podem estar associados com a capacidade das bactérias ácido-lácticas aumentarem a digestibilidade das dietas, como observado por SKREDE et al. (2002) em salmão do Atlântico alimentado com dieta suplementada com Lactobacillus sp. Tabela 1. Avaliação da microbiota e índices zootécnicos de alevinos de tilápia do Nilo (Oreochomis niloticus) alimentados com dieta com ou sem suplementação de probióticos. Índices Zootécnicos Tratamento Controle Probiótico Peso Final (g) 5,30 ± 0,02 a 5,4 ± 0,05 b Crescimento semanal (g.semana -1 ) 0,86 ± 0,01 a 0,90 ± 0,01 b Sobrevivência (%) 86,7 ± 7,64ª 96,7 ± 2,89ª Biomassa Final (g) 2,66 ± 5,9 b 2,40 ± 4,0 a Eficiência Alimentar 1,65 ± 0,08 a 1,91 ± 0,06 b Avaliação da Microbiota Tratamento Controle Probiótico Bactérias Heterotróficas Totais (log (x+1) ) 7,7 ± 0,2 b 6,7 ± 0,2 a Bactérias Ácido-láticas (log (x+1) ) 1,8 ± 0,5 a 4,3 ± 0,4 b *Diferentes letras indicam diferenças significativas (p>0,05) entre os tratamentos no teste-t. Para alevinos de tilápia do Nilo os probióticos alteram a morfometria do intestino, como o aumento do tamanho, largura, e do número das microvilosidades, assim como na espessura das células epiteliais de revestimento e número de células caliciformes da mucosa intestinal (CARVALHO et al., 2011; MELLO et al., 2013), permitindo uma melhor absorção dos nutrientes, justificando os resultados relacionados a melhor digestibilidade e eficiência alimentar dos peixes alimentados com dieta suplementada com probióticos. A utilização de probióticos e seus efeitos sobre os índices zootécnicos geram resultados controversos, MEURER et al. (2006) e SUZER et al. (2008) não observaram incremento no ganho em peso para tilápias alimentadas durante 30 dias com Saccharomyces cerevisiae e Sparus aurata alimentados com Lactobacillus ssp., respectivamente. Já LARA- FLORES et al. (2003), WANG et al. (2008), JATOBÁ et al. (2011) observaram melhora do desempenho zootécnico das tilápias resultante do uso de probióticos, CARNEVALI et al. (2006) utilizando Lactobacillus ssp. isoladas do robalo europeu (Dicentrarchus labrax) registrando maior ganho em peso. Isto, desmonstra o potencial zootécnico do probiótico utilizado. Este resultado foi associado com ao aumento na expressão de um gene do 3
crescimento muscular nos animais tratados com probiótico, demonstrando a especificidade entre as bactérias probióticas e hospediro. As bactérias ácido-lácticas encontradas no trato intestinal dos alevinos de tilápia do Nilo, alimentados com dieta suplementada com bactérias probióticas, foram reisoladas e identificadas como L. plantarum, com 99,9% de probabilidade, e mesmo perfil bioquímico das bactérias suplementadas na dieta, sugerindo ser a mesma cepa de bactéria suplementada na dieta. Este gênero tem demostrado uma grande capacidade de alterar a microbiota do trato intestinal dos peixes, isto foi observado para robalo europeu (Dicentrarchus labrax), robalo flexa (Centropomus parallelus), tilápia do Nilo (O. nilotocus), e pintado (Pseudoplatystoma sp.) (CARNEVALI et al. 2006; JATOBÁ et al. 2008, 2011; BARBOSA et al. 2011; MOURIÑO et al. 2012). No trato intestinal dos alevinos de tilápia do Nilo foi observado um maior número de bactérias ácido-lácticas, e menores de bactérias totais por g de trato intestinal, nos peixes alimentados com dieta suplementada com probiótico, em relação aos alimentados com dieta controle (Tabela 1). Esta alteração na microbiota do trato intestinal já foi observada em diversos animais aquáticos quando submetidos a tratamentos probióticos (CARNEVALI et al. 2006; JATOBÁ et al. 2008, 2011; BARBOSA et al. 2011; MOURIÑO et al. 2012;), e normalmente são acompanhadas de um aumento no número de eritrócitos, células brancas (especialmente linfófitos) no sistema circulatório, sugerindo que os alevinos alimentados com a dieta probiótica estejam com uma melhor imunocompetência, sistema imunológico mais preparados para combater alguma enfermidade ou adversidade que possa surgir no ambiente de cultivo, que os animais alimentados com dieta controle. As alterações na microbiota não foram observadas por Albuquerque et al. (2013) na qual não registrou diferença nas quantidades de bactérias totais e coliformes totais no trato intestinal de alevinos de tilápia alimentados com Bacillus subtilis C-3102 e o outro Bacillus cereus variedade toyoi, isto pode está relacionado com a especificidade entre hospedeiro e bactéria, pois os autores não mencionam a origem do produto, dificultando comparações. CONCLUSÕES O Lactobacillus plantarum tem potencial probiótico para alevinos de tilápia do Nilo (O. niloticus), e sua utilização em alevinagens altera a microbiota dos peixes de forma benéfica, reduzindo a quantidade de bactérias ácido-lácticas. Seu uso aumenta a 4
produtividade, eficiência alimentar, e peso final dos alevinos, sem alterar a qualidade de água do sistema de produção, desta forma se torna um importante subsidio para as estações produtoras de alevinos. REFERÊNCIAS BARBOSA, M. C.;, JATOBÁ, A. ; VIEIRA, F.N.; SILVA, B.C.; MOURINO, J.L.P.; ANDREATTA, R.E.; SEIFFERT, W.Q. e CERQUEIRA, V.R. Cultivation of Juvenile Fat Snook (Centropomus parallelus Poey, 1960) Fed Probiotic in Laboratory Conditions, Brazilian Archives of Biology and Technology, v.54, n.4, p. 795 801, 2011. CARNEVALI, O., et al. Growth improvement by probiotic in European sea bass juveniles (Dicentrarchus labrax, L.), with particular attention to IGF-1, myostatin and cortisol gene expression. Aquaculture, v. 258, p. 430 438, 2006. CARVALHO, J. V., et al. Desempenho zootécnico e morfometria intestinal de alevinos de tilápia-do-nilo alimentados com Bacillus subtilis ou mananoligossacarídeo Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.12 (1), p.176-187, 2011. HAYASHI, C., et al. Exigência de proteína digestível para larvas de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) durante a reversão sexual. Revista Brasileira de Zootecnia, v.31 (2), p.823-828, 2002. JATOBÁ, A., et al. Lactic-acid bacteria isolated from the intestinal tract of Nile tilapia utilized as probiotic. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 43 (9), p.1201-1207, 2008. JATOBÁ, A., et al. Diet supplemented with probiotic for Nile tilapia in polyculture system with marine shrimp. Fish Physiology and Biochemestry, v. 37, p. 725-732, 2011. MELLO, H., et al. Efeitos benéficos de probióticos no intestino de juvenis de Tilápia-do-Nilo. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 33 (6), p. 724-730, 2013. MOURIÑO, J.L.P., et al. Effect of dietary supplementation of inulin and W. cibaria on haemato-immunological parameters of hybrid surubim (Pseudoplatystoma sp.) Aquaculture nutrition, v. 18, p. 73-80, 2012. SHELTON, W.L.; RODRIGUES-GUERRERO, D.; LOPES, M.J. Factors affecting androgen sex reversal of Tilápia aurea. Aquaculture, v. 25 (1), p. 59-65, 1981. SKREDE, G., et al. Lactic acid fermentation of wheat and barley whole meal flours improves digestibility of nutrients and energy in Atlantic salmon (Salmo salar L.) diets. Aquaculture, v. 210, p. 305 321, 2002. 5