PATATIVA DO ASSARÉ - O CAMÕES DO NORDESTE BRASILEIRO

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PATATIVA DO ASSARÉ - O CAMÕES DO NORDESTE BRASILEIRO Cuitelinho do cerrado Na folhagem do imbé Tem o bico ponteado Marronzinho de café Vem beber de minha água Na cabaça do coité. Patativa do Assaré Poeta caatingueiro O seu cantar até parece O do sabiá mineiro Saia já de seu cantinho Vem cantar no meu poleiro. Nasceu cheio de lirismo O cordel do Patativa Com apelido de pássaro Não há outra alternativa Voar com gaiola e tudo Foi do Senhor sua missiva. Patativa foi poeta Das dores do nordestino Viu a terra seca rachar Viu a fome dos meninos O gado morrer de sede E os humanos sem destinos. 1 Peço a Santa do Rosário Novamente inspiração A falar o Patativa Grande vate do sertão Poeta desde menino De grande admiração. O poeta cordelista Precisa ser cauteloso Senão tomba em esparrela Ou torna um desditoso Pois o grande Patativa Representa nosso povo. Antônio Gonçalves da Silva O seu nome verdadeiro

Nasceu em Serra Santana Foi em março não em janeiro No Vale do Cariri Veja como sou certeiro. Dos lugares que falei Ficam perto de Assaré A cidade progressista Que se pode ir a pé Lugar onde o Patativa Ganhava o seu capilé. 2 Filho de pai muito pobre Vindo da agricultura Aos oito anos de idade Seu pai foi pra sepultura Patativa teve então De levar a vida dura. Quatro meses escolares Foi tudo que estudou Pois aos seus manos menores A criar ele ajudou Em uma completa miséria A sua família se tornou. A dureza do viver Em seu ser não abatia É que cedo na sua porta Já chegava a poesia E nos momentos de folga Belos versos ele fazia. Lampião cego de um olho Como um cabra da peste O sertão representou Patativa no Nordeste Também com um olho só Era o filho mais celeste. 3

Tal qual o grande Camões Patativa se tornou O poeta popular Que o povo consagrou O sofrimento e a alegria Sua poesia revelou. Tudo está na natureza Assim dizia Patativa Para ser um bom poeta Não precisa de saliva Basta olhar em seu redor Que a pobreza de cativa. Sem tendência política O poeta em questão Se dizia ser revoltado Com a má distribuição Usam a democracia Enganando nosso irmão. Foi entre a roça e a poesia Que Patativa viveu Toda a sua poesia O universo conheceu As raízes de sua terra Patativa não perdeu. 4 Patativa do Assaré Homem rude e consciente Sabia que as desigualdades Deste país indecente Nas mãos dos ditos governos Era corrente crescente. O seu mais lindo cordel Canta lá que eu canto cá é a epopéia brasileira ninguém há de se negar tão bom como os lusíadas nas terras de Portugá. Patativa que dizia:

Eu nasci ouvindo cantos das aves de minha serra e vendo os belos cantos que a mata bonita encerra as amarguras de meus prantos. Com emoção ainda fala Aqui da longínqua Serra de Camões o que direi? Quer na paz ou quer na guerra Que ele foi grande eu sei O maior vate da terra. 5 Sobre a morte Patativa Desta forma relatou morrer sem morrer deveras meus Deus do céu não inventou morrer como um passarinho pois pássaro na vida sou. De sentimento tão forte Dizem ser um visionário Escreveu a Triste Partida De seus correligionários Partindo do Nordeste Em busca de algum salário. Poeta das injustiças E das coisas do sertão Patativa se afirmava O de comer vem do chão E a alegria do viver Quem manda é o coração. O Nordeste flagelado Quem transformou o Patativa Num poeta camponês Tendo a vida compassiva Assaré nunca achou A labuta cansativa. 6

Gostava mesmo de ser Um homem cabra-da-peste Filho da desigualdade Como todos no nordeste Uma pedra de seu povo Lapidada com agreste. Patativa viveu alegre Como um poeta engajado Não solfejou só o lirismo Ou o telurismo rachado Cantou o espinhal e a flor Da vida dos injeitados. viver como igualitário Patativa queria ver Por pouco quase pegou Ver o Lula no Poder A esperança vence o medo Pois o povo sabe escolher. Cada qual com sua mania Vai cumprindo o seu papel Assaré nunca tirou Uma foto sem chapéu Se você quiser saber Foi assim que entrou no céu. 7 Lá no sertão do Nordeste Lugar de terra abrasiva Sobreviveu um homem pássaro Sendo a própria arte viva Encarnado na canora Pequenina patativa. Digo e não peço segredo foi o falar da simplicidade deste mito Patativa ecoada da cidade expandindo pelo universo indo até à eternidade. Tinha noventa e três anos

E a indesejada chegou Patativa desta terra Batendo asas avôou O seu verso para o mundo Num legado se tornou. Poetas e violeiros De toda nossa Nação O canto do Patativa Se partiu, foi deste chão Pra cantar no firmamento Junto ao amigo Gonzagão. 8