SEMINÁRIO GESTÃO DO RISCO ASSOCIADO AOS CAMPOS ELECTROMAGNÉTICOS PROCEDIMENTOS SOBRE A INTERVENÇÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE PÚBLICA Luís Salvador Pisco 16 de Novembro de 2004
Radiações Electromagnéticas e Consumidores: Se o electromagnetismo natural parece nunca ter incomodado os nossos antepassados, o mesmo já não se poderá dizer das ondas electromagnéticas com origem na actividade humana. De facto, estas aumentaram muito o nível de radiações no meio ambiente e têm suscitado uma série de questões. Exactamente por isso, a realização de estudos sobre as repercussões para a saúde humana decorrentes da exposição a radiações electromagnéticas tornou-se mais comum e, principalmente, mais visível, fora da comunidade científica, à medida da global e progressiva utilização das novas tecnologias, sendo o telemóvel (a par do caso clássico dos cabos de alta tensão), talvez, o seu exemplo mais mediático. Há mesmo quem fale de uma nova forma de poluição, o electrosmog, gerado por radiações com características diferentes das suas originais ancestrais, podendo, por isso, influenciar o modo de vida e saúde humana. No caso particular das radiações emitidas pelos sistemas de telecomunicações móveis, designadamente, pelos telemóveis e respectivas antenas das estações de base, a sua utilização tem vindo a ser associada a efeitos prejudiciais para a saúde humana. E a verdade é que a sistemática contradição dos resultados dos estudos publicamente divulgados agravam a insegurança junto dos consumidores e contribuem para a sua desinformação e instalação de um estado de receio geral. Apesar de desejarem ter uma boa rede, as pessoas que utilizam telemóvel preferem que as antenas sejam colocadas bem longe de sua casa ou da escola dos seus filhos.
Os dados disponíveis: Pensamos que é possível afirmar que a exposição a radiações electromagnéticas, em si mesma, é, de facto, prejudicial à saúde humana, sendo a questão de fundo a analisar, não a sua prejudicialidade, mas quais os limites de valores de exposição que devem ser considerados como seguros para evitar os riscos dessa exposição. Quanto a estudos realizados, como referimos, a verdade é que a sua grande maioria é inconclusiva em matéria de resultados, não logrando provar cabalmente que as ondas emitidas pelos telemóveis e respectivas antenas constituam um real perigo para a saúde pública. Aliás, os primeiros resultados de estudos epidemiológicos realizados foram tranquilizadores. Aceitando como seguros os níveis de referência para radiações não ionizantes fixados pelo Estado Português, por adopção de Recomendação da União Europeia (Recomendação do Conselho 1999/519/CE, de 12/07) e perante os dados disponibilizados pela própria Anacom, poder-se-á afirmar que a maioria das antenas não oferece perigo para a saúde dos portugueses. Também a DECO, em Junho deste ano, publicou na sua revista Proteste (n.º 248) um estudo realizado sobre os valores de radiações emitidas pelos próprios telemóveis, de diversos modelos e fabricantes, tendo sido possível constatar que apesar de se verificarem variações importantes entre alguns aparelhos testados, foram obtidos resultados muito abaixo do valor máximo permitido pela norma europeia. No entanto, é preciso termos em atenção de que estamos a falar de testes que têm como pressuposto base, níveis de referência considerados como seguros, sendo os resultados dos testes sempre condicionados por tais valores.
E a verdade é que neste domínio, em sentido lato, não existem certezas, tendo em conta o número de anos que podem porventura decorrer entre o momento de exposição a uma fonte cancerígena, por exemplo, e o desenvolvimento de um tumor, sendo, por isso, muito complicado estabelecer um nexo de causa e efeito entre os dois. O Princípio da prevenção: É nesta conjuntura que alguns defendem a aplicação do princípio da prevenção ou da precaução enquanto baliza fundamental na defesa da saúde pública e de um meio ambiente saudável. Para o efeito considera-se que a utilização de serviços de telecomunicações móveis não pode ser descontextualizada do conjunto de fontes emissoras de radiações a que o ser humano se encontra diária e simultaneamente exposto. É o caso das radiações emitidas pela proximidade de cabos de alta tensão; pelos aparelhos de micro-ondas e outros electrodomésticos; pelos televisores e respectivos comandos; pelos computadores e; recentemente, pelo acesso wireless à internet, etc. Num caso limite, poder-se-ia perguntar se um consumidor que se encontre a ver televisão ao mesmo tempo que utiliza um computador portátil ligado à internet sem fios, enquanto realiza uma chamada telefónica por telemóvel, não estará, exposto, naquele preciso momento, a um nível de radiações global superior ao recomendável, ainda que todos estes aparelhos individualmente se encontrem dentro dos limites legais? E, se a estes ingredientes juntarmos ainda a proximidade de um cabo de alta tensão, bem como a instalação de uma antena de transmissões móveis instalada no prédio em frente da habitação deste hipotético cidadão, será que não estaremos já perante uma situação merecedora de cuidados de saúde pública?
A este respeito, refira-se que a Recomendação do Conselho Europeu antes já aqui referida e adoptada por Portugal, convida os Estados-Membros a adoptar medidas relativas à redução de exposição das populações aos campos electromagnéticos. Concretizações práticas: Pelo princípio da prevenção e no caso dos cabos de alta tensão, manda o bomsenso que sejam previstos corredores de segurança que acompanhem a rede de cabos, nos quais não possam ser construídas habitações, escolas, hospitais, etc. Pelo mesmo princípio da prevenção, deveriam os fabricantes de telemóveis, bem como as operadoras de telefonia móvel, fornecer aos consumidores um conjunto de informações objectivas sobre os riscos abstractamente inerentes à exposição de radiações e conselhos técnicos para a sua utilização segura, de forma a minorar os riscos de exposição, bem como evitar a sua utilização por crianças. Anualmente, a DECO recebe dezenas de pedidos de informação relativos a esta matéria, constatando uma falta de informação generalizada. Sabemos que a Anacom tem desenvolvido iniciativas no sentido de esclarecer a população relativamente a estas questões, nomeadamente através de panfletos e informação disponível no seu site de internet. No entanto, parece-nos que apesar de tudo isso, a informação necessária para evitar alarmes desnecessários e uma incorrecta avaliação dos perigos reais para a saúde não está a conseguir chegar junto das populações tradicionalmente menos informadas, designadamente, nos meios mais rurais do nosso país.
Seria então desejável que a entidade reguladora organizasse e divulgasse todo o conhecimento científico e minimamente credível neste domínio, actualizando e disponibilizando a informação, em linguagem acessível para todos. Da parte dos organismos com competências em matéria de saúde pública, espera-se uma redobrada atenção em relação à informação científica que sobre esta temática vai sendo divulgada e intervir activamente na diminuição dos riscos de exposição da população a campos electromagnéticos. Finalmente, uma vez que todos os operadores utilizam a mesma ou similar tecnologia, deveriam, por questões estéticas, ambientais e prevenção para a saúde pública, ser obrigados a tentar partilhar ao máximo as infra-estruturas já existentes e as que futuramente venham a ser implantadas.