Análise do sistema de sinalização e saídas de emergência de uma biblioteca SAEPRO 2015 MARIANA BARROS TEIXEIRA (Universidade Federal de Viçosa) maribteixeira@yahoo.com.br LUCIANO JOSÉ MINETTE (Universidade Federal de Viçosa) minette@ufv.br JULIO CESAR COSTA CAMPOS (Universidade Federal de Viçosa) julio.campos@ufv.br PRISCILA ROMANA DA SILVA (Universidade Federal de Viçosa) priscilaromana@hotmail.com PRISCILA GRAZIELA MELO MARTINS (Universidade Federal de Viçosa) prit_melo@hotmail.com Resumo: Este presente estudo teve por objetivo verificar, identificar e analisar, por meio de observações in loco, as não conformidades existentes no prédio de uma biblioteca situada em uma universidade federal, no estado de Minas Gerais, em relação ao sistema de sinalização e de saídas de emergência de acordo com o Plano de Prevenção e Combate a Incêndio e Pânico. Essa investigação foi realizada levando em consideração as observações do local e adequação desse em relação à legislação estadual de Minas Gerais. Os resultados encontrados revelam que uma grande parte dos requisitos essenciais para a segurança contra incêndio, em relação à sinalização e saídas de emergências, não foi atendida. Assim, conclui-se que algumas intervenções nesse edifício se fazem necessárias no intuito de melhorar a segurança e adequar o local a legislação em relação ao sistema de combate a incêndio e pânico. Palavras-chave: Segurança; Sinalização; Avaliação. 1. Introdução De acordo com Mitieri (1998), o desenvolvimento tecnológico trouxe grandes modificações na forma de construir edificações. Hoje, utilizam-se grandes áreas sem compartimentações, emprego de fachadas envidraçadas e incorporação de novos materiais altamente combustíveis. Esse novo sistema construtivo de edificações aliado a ausência no Brasil de uma legislação/regulamentação de segurança contra incêndio de âmbito nacional, além da falta de órgãos fiscalizadores que garantam uma segurança mínima tanto em edifícios novos como em edifícios já existentes, agrava o panorama nacional de incêndios. Vários foram os casos de incêndios ocorridos no Brasil. São Paulo, por exemplo, é o estado com mais casos de incêndios em grandes proporções, sendo que os Edifícios Andraus (1972) e Joelma (1974) foram as maiores tragédias. O incêndio no país mais recente aconteceu na Boate Kiss na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Os incêndios, para que aconteçam, necessitam de quatro elementos fundamentais: um 1
combustível, um comburente, um agente de ignição e a reação em cadeia. Estes incêndios, em sua maioria, são causados por um comportamento de risco, isto é, um conjunto de atos cometidos pelo homem (imprudência, imperícia ou negligência) que pode desencadear a ocorrência de incêndio. Dentre as principais causas dessa ocorrência estão o desconhecimento dos reais riscos de incêndio e o descaso na previsão de segurança (MELO, 1999). Podemos citar alguns exemplos de causas acidentais de incêndio: curto-circuito em aparelho elétrico energizado ou em fiação não isolada adequadamente, vazamento de líquido inflamável em área de risco, concentração de gás inflamável em área confinada, combustão espontânea, eletricidade estática, entre outros. (GOMES, 1998). Apesar dos históricos de grandes tragédias ocasionadas por incêndios, as regulamentações nesse assunto têm se apresentado muito amenas em relação às exigências e obrigações para edifícios já construídos. Esses estão particularmente vulneráveis a incêndios, pois muitos foram erguidos em épocas em que tais regulamentações de segurança contra incêndio não existiam. Nesse sentido, a segurança contra incêndio nos edifícios deve ser considerada de grande importância, desde a concepção e desenvolvimento do anteprojeto até a construção/execução, incluindo a operação e manutenção do edifício. De acordo com Berto (1998), a segurança contra incêndio é um objetivo que deve estar presente em todas as etapas desenvolvidas no processo produtivo e no uso do edifício. Além disso, torna-se necessária a aplicação dos conceitos básicos de segurança contra incêndio nas adaptações, pois se verificou que muitos desses projetos realizados, até hoje, apresentam soluções ineficazes (ONO, 2002). De acordo com a Instrução Técnica 15 Sinalização de emergência, do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, a sinalização de emergência tem como finalidade reduzir o risco de ocorrência de incêndio, alertando para os riscos existentes. Já a Instrução Técnica 08 Saídas de emergência estabelece os critérios mínimos necessários para o dimensionamento das Saídas de Emergência em Edificações com o objetivo que a população do local possa abandoná-la, em caso de incêndio ou pânico, completamente protegida. Nesse contexto, a sinalização e saídas de emergências se tornam de suma importância no combate a incêndio. Assim, o presente estudo teve por objetivo verificar, identificar e analisar, por meio de observações in loco, as não conformidades existentes no prédio de uma biblioteca situada em uma universidade federal, no estado de Minas Gerais, em relação ao sistema de sinalização e saídas de emergência de acordo com o Plano de Prevenção e Combate a Incêndio e Pânico. Essa investigação foi realizada levando em consideração as observações do local e adequação desses em relação à legislação estadual de Minas Gerais. Com base na perspectiva de prevenção, o presente trabalho pretende dar uma contribuição ao fazer um diagnóstico e análise das condições da sinalização e saídas de emergência desta edificação, propondo algumas intervenções que se fazem necessárias para a melhoria da segurança em relação à prevenção e proteção contra incêndios e pânico. 2
2. Metodologia A metodologia adotada é uma análise comparativa entre os requisitos observados no prédio da biblioteca estudada e os requisitos necessários e obrigatórios na sinalização e saídas de emergência de acordo com a legislação de proteção e combate a incêndio e pânico do Estado de Minas Gerais. Foram utilizadas como referências as Normas Técnicas do Corpo de Bombeiros do Estado de Minas Gerais. 3. Resultados e discussões 3.1 Descrição e classificação da edificação A biblioteca do presente estudo está situada em uma universidade federal, no estado de Minas Gerais (latitude -20º45`14`` e longitude -42º52`55``) onde teve seus dois primeiros pavimentos construídos no ano de 1969. Em 1996, a biblioteca passou por reforma e ampliação, recebendo dois novos pavimentos totalizando hoje uma área de aproximadamente 13 mil m². Além da entrada principal, o edifício possui uma entrada secundária com rampa para deficientes físicos, dois elevadores e 1.290 postos de leitura. Atualmente, o acervo total da biblioteca, entre livros, teses, obras raras e outros, é de311.530 unidades e, em média, 5,5 mil pessoas passam pelo local diariamente. De acordo com o Decreto Estadual 44.746/08 de Minas Gerais, bibliotecas são definidas, quanto à ocupação, como locais de reunião de público onde há objeto de valor inestimável. Na Instrução Técnica 09, do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, a carga de incêndio específica para tal ocupação é classificada em 2.000 MJ/m² e o risco em relação à carga de incêndio é definido como alto. Assim, de acordo com a Tabela 07 do Anexo A da Instrução Técnica 01 Procedimentos Administrativos, do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, que dispõe das medidas de segurança contra incêndio e pânico para as edificações e área de risco, e com base nas classificações citadas anteriormente, na área total da edificação e sua altura, as medidas de segurança que devem ser observadas para esse tipo de edifício são: Saídas de Emergência, Plano de Intervenção de Incêndio, Brigada de Incêndio, Iluminação de Emergência, Detecção de Incêndio, Alarme de Incêndio, Sinalização de Emergência, Extintores, Controle de Materiais de Acabamento e Revestimento, e Hidrantes e Mangotinhos. Para esse estudo foram analisadas somente as medidas referentes à sinalização e saídas de emergência citadas pela Instrução Técnica 01. 3.2 Sinalização de emergência Conforme a Instrução Técnica 15, a sinalização de emergência divide-se em sinalização básica e sinalização complementar. A primeira é o conjunto mínimo de sinalização que uma edificação deve apresentar, enquanto que a segunda é um conjunto composto de faixas e/ou mensagens complementares ao conjunto básico. 3
No edifício analisado não foi encontrada qualquer sinalização de proibição, alerta, orientação e salvamento e de combate a incêndio indicadas pela Instrução Técnica 15. Além disso, não foram encontradas sinalizações complementares como a de indicação de obstáculos, de desnível de piso e elementos translúcidos e transparentes, tais como vidros das portas. 3.2.1 Sinalização de emergência nas portas de saída de emergência De acordo com a Instrução Técnica 15, as portas de saída de emergência devem possuir a sinalização porta corta-fogo mantenha fechada e saída de emergência. No entanto, na biblioteca foi observada apenas a sinalização de saída de emergência, sendo que esta deveria ser de geometria retangular, na cor verde, localizada imediatamente acima das portas ou diretamente na folha da porta, o que não foi verificado (Figura 1). Algumas dessas sinalizações encontravam-se erroneamente em azul. Figura 1 - Sinalização na porta de emergência: modelo (1) e biblioteca (2). Fonte: Instrução Técnica 15 (1) e autor (2). 3.2.2 Sinalização de emergência nas escadas de emergência Não foi obervada qualquer sinalização de emergência e salvamento nas escadas. A sinalização adequada nesse local seria de acordo com o sentido da escada, como ilustrada na Figura 2, estas referenciadas no Anexo B, quadro 3 da Instrução Técnica 15. Ainda de acordo com a mesma Instrução Técnica, além da sinalização do sentido da fuga, deveria existir no patamar referente a cada andar percorrido, sinalização que indique o número do pavimento. 4
Figura 2 Modelos para sinalização de orientação. Fonte: Instrução Técnica 15. 3.2.3 Extintores e hidrantes No local analisado, todos os extintores e abrigos de hidrantes não possuíam nenhuma sinalização de emergência (Figura 3 e 4). De acordo com a Instrução Técnica 15, a sinalização dos extintores de incêndio e dos abrigos de hidrantes deveria estar a uma altura de 1,80 metros, medida do piso à base da sinalização, e localizada imediatamente acima do equipamento (Figura 5). Figura 3 Abrigo dos hidrantes sem sinalização. Fonte: autor. Figura 4 Extintor sem sinalização. Fonte: autor 5
Figura 5 Exemplo de Sinalização de emergência para extintores (1) e Abrigo de hidrante (2). Fonte: Instrução Técnica 15 3.3 Saídas de emergência 3.3.1 Portas de emergências De acordo com a Instrução Técnica 08 saídas de emergência do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, quanto aos componentes da saída de emergência, estas devem ter espaço livre no exterior nas edificações térreas. No caso do edifício analisado, estas saídas estavam obstruídas, uma por muro de contenção, outra bloqueada por materiais e motocicletas e uma terceira nem existia mais, pois foi construída uma parede no lugar (Figuras 6 e 7). Outro detalhe diz respeito à maçaneta das portas. De acordo com a Instrução Técnica 08, nas portas das saídas de emergência em ocupações com capacidade acima de 200 pessoas, é obrigatória a instalação de barra antipânico, o que não foi verificado no local estudado. Figura 6 - Porta inexistente. Fonte: autor. 6
Figura 7 - Portas obstruídas. Fonte: autor. 3.3.2 Escadas de emergência Conforme descrito na NBR 9077 saída de emergência em edifícios, escada de emergência é aquela integrante de uma rota de saída, podendo ser uma escada enclausurada à prova de fumaça, escada enclausurada protegida ou escada não enclausurada. Figura 8 Guarda-corpo Irregular. Fonte: autor. A escada de emergência do edifício analisado é do tipo enclausurada protegida, estando em acordo com a Instrução Técnica 08. No entanto, foram verificadas algumas não conformidades no local. A escada de emergência analisada não possui piso com condições antiderrapantes; o guarda-corpo existente não atende à altura mínima exigida de 1,05 m (Figura 8) e apresenta frestas que permitam passagem de uma esfera de 15 cm de diâmetro; a escada não possui corrimão em ambos os lados, estendidos aos patamares, em total continuidade, até 10 cm após o último degrau (Figura 9), além de não possuir degraus em condição antiderrapante. 7
Figura 9 - Patamar sem corrimão. Fonte: autor. 3.4 Iluminação de emergência Considerada como uma das medidas de segurança mais importantes, a iluminação de emergência irá iluminar as rotas de fuga, saídas de emergência e ambientes da edificação na falta de energia, combatendo principalmente o pânico que pode se instalar na situação acima citada ou em um sinistro. Na edificação analisada, as luminárias de emergência deveriam estar distanciadas a 15 metros umas das outras e até 2,5 metros de altura de acordo com a Instrução Técnica 13 - Iluminação de Emergência, do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, porém nenhuma luminária foi verificada na edificação. Figura 10 Luminária da escada de emergência. Fonte: autor. Por último, a escada de emergência da biblioteca não possui iluminação de 8
emergência, conforme referencia a mesma Instrução Técnica 13. A cada 15 metros, a rota de fuga deveria possuir um ponto de iluminação de emergência, podendo este ser por luminárias à base de bateria ou por grupo moto-gerador. Estas luminárias existentes na escada de emergência não seguem os padrões exigidos, estando estas ligadas diretamente ao sistema elétrico do edifício (Figura 10). Outro dado importante é que a biblioteca não possui sistema de grupo moto-gerador. 4. Conclusão O objetivo principal deste estudo foi identificar e analisar as não conformidades existentes no edifício da biblioteca de uma universidade federal, localizada no estado de Minas Gerais, em relação ao sistema de sinalização e de saídas de emergência de acordo com o Plano de Prevenção e Combate a Incêndio e Pânico. De acordo com a análise, foram observadas várias não conformidades no edifício. Algumas, como a adequação das sinalizações de emergência nos extintores e abrigos de hidrantes e a inexistência de iluminação nas rotas de fugas, são simples de serem sanadas, outras, como a inexistência de porta de emergência, são mais complexas. Estas falhas são preocupantes, visto que a carga de incêndio do edifício é muito alta. Além disso, a evacuação de um local grande como esse e onde as portas de saída de emergência estão obstruídas e rotas de fuga não existem, seria uma tarefa arriscada e muito difícil. Assim, um plano de sinalização de emergência eficaz, juntamente com a elaboração de um mapa de rota de fuga adequado ao local, se faz necessário. Da mesma forma, um plano de vistoria periódica deve ser implementado e seguido, sendo imprescindível a desobstrução das saídas de emergência. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9077: Saídas de emergência em edifícios. Rio de Janeiro: ABNT, 1993. BERTO, A. F.; TOMINA, J. C. Passarelas elevadas e outras rotas alternativas de fuga para a adaptação de segurança contra incêndio de edifícios altos de escritório. Tecnologia de Edificações. Editora Pini. São Paulo, 1988. CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE MINAS GERAIS. Procedimento Administrativo (Portaria 17/2014). Instrução Normativa 01. Minas Gerais. 73p.. Saídas de Emergências em Edificações. Instrução Normativa 08. Minas Gerais. 22p.. Carga de Incêndio nas Edificações e Áreas de Risco. Instrução Normativa 09. Minas Gerais. 9p. Iluminação de Emergência. Instrução Normativa 13. Minas Gerais. 03p.. Sinalização de Emergência. Instrução Normativa 15. Minas Gerais. 31p. GOMES, A. G. Sistemas de Prevenção contra Incêndios. Editora Interciência. Rio de Janeiro, 1998. MELO, E. A. L. M. Curso de instalações prediais de proteção contra incêndio. FINATEC. Brasília, DF, 1999. MINAS GERAIS. Decreto Estadual 44.746/08: Regulamenta a Lei nº 14.130, de 19 de dezembro de 2001, que dispõe sobre a prevenção contra incêndio e pânico no Estado e dá outras providências. Disponível em: http://www.descomplicar.mg.gov.br/downloads/doc_download/14-decreto-4474608-regulamenta-a-prevencaocontra-incendio-e-panico-no-estado. 9
MITIERI, M. L. Proposta de Classificação de Materiais e Componentes Construtivos com relação ao Comportamento Frente ao Fogo: reação ao fogo. Dissertação (Mestrado) Escola Politécnica, USP: São Paulo, 1998. ONO, R. Reabilitação sustentável de edifícios na região central da cidade de São Paulo com ênfase na segurança contra incêndio. In: NUTAU 2002, São Paulo, SP. Anais... Brasil (CD-ROM). 10