TÉCNICAS DO TRABALHO PERICIAL JUDICIAL Profª Bruna Socreppa 1
Perícia É o mecanismo utilizado pelo julgador, ou partes, para obtenção dos subsídios necessários para suportar a solução de um litígio, mediante nomeação ou contratação de um profissional com conhecimentos técnicos sobre a matéria litigiosa, através de aplicação de procedimentos técnicos e científicos com apresentação de Laudo ou Parecer Pericial Contábil. 2
Diferença entre Perícia, Auditoria e Fiscalização. PERÍCIA: Buscar a verdade dos fatos a serem comprovados. AUDITORIA: Certificação dos registros quanto a sua veracidade e quanto a obediência às normas e princípios contábeis. FISCALIZAÇÃO: Controle dos impostos. 3
SEMELHANÇAS NA ABORDAGEM ENTRE AUDITORIA E PERICIA Item Perícia Auditoria Planejamento Escopo do trabalho Objetivo do trabalho Usuário do trabalho Equipe de trabalho Prevê o tempo de execução, a metodologia a ser utilizada, valor financeiro e forma de pagamento. A totalidade dos fatos, dos documentos, das informações, todo e qualquer meio de prova pode ser utilizado. Emissão do Laudo Pericial. As partes e o poder judiciário, quando for o caso. Somente o perito, podendo utilizar auxiliares, sem responsabilidade no processo. Prevê o tempo de execução, equipe técnica, metodologia extensão e profundidade, valor financeiro e forma de pagamento. Registros contábeis, financeiros e patrimoniais, normas de controles internos, demonstrações contábeis, normalmente por amostragem. Emissão do Parecer de Auditoria, Relatório de Auditoria e orientação preventiva e corretiva. Sócios, acionistas, investidores, administradores, credores, órgãos fiscalizadores e público em geral. Auditores, gerentes, sócios, sendo a responsabilidade de gerentes e sócios. 4
DIFERENÇAS NA ABORDAGEM ENTRE A AUDITORIA E A PERÍCIA ITEM PERICIA AUDITORIA ESCOPO DO TRABALHO OPINIÃO PROFISSIONAL DURAÇÃO DO TRABALHO RELACIONAMENTO DO TRABALHO DIVULGAÇÃO EXTERNA DO RESULTADO DO TRABALHO LOCAL DE REALIZAÇÃO DO TRABALHO DIVULGAÇÃO INTERNA DO TRABALHO AUTORIDADE Deve acompanhar o laudo pericial como anexo, para confirmar a conclusão do perito. É absoluta, necessária, detalhista e precisa. De pouca duração. Tem data prevista para iniciar e terminar. Não se repete. Com as parte (autor e réu) e o Juiz Não é divulgado Normalmente no escritório do perito. Não é divulgado. Fica à disposição das partes na justiça. Tem a autoridade que dispõe a lei e a que concedida pelo Juiz. Constitui prova do autor não necessitando de confirmação junto ao relatório ou parecer. É relativa, observa aspectos mais relevantes e materiais. É continuado. A programação é previamente definida e em períodos convenientes. É repetitivo. Com toda equipe do auditado onde o trabalho for realizado. Na imprensa escrita, normalmente em jornal de grande circulação. No escritório do auditado ou do auditor. Mediante reunião do auditor com o auditado ao final do trabalho, antes da entrega do relatório ou parecer. Não tem autoridade no processo da entidade auditada. 5
Espécies de Pericias JUDICIAIS Nas Varas Cíveis Prestação de contas Quando alguém tem o direito de exigir que outrem lhe preste contas, porque tem o direito assegurado de exigi-las, e tal prestação não ocorre com defeitos e simulações, pode o interessado, como autor, propor a ação de Prestação de Contas. Avaliações Patrimoniais Nas ações que visam discutir o prejuízo da minoria sobre uma incorporação, cujos valores são contestáveis ou discutíveis. A perícia se dá sobre o laudo, sem abandonar a hipótese de verificar escrita contábil. Litígios entre sócios Violação de estatuto, suspeita de irregularidade, liberalidade excessiva. Avaliação de fundos de comércio Sobrevalor que se paga para adquirir um negócio. Para determinação do fundo de comércio, deve ser considerado como componentes os fatores indutivos de garantia de lucros futuros. 6
Nas Varas Criminais Fraudes e Vícios Contábeis Exames já direcionados para detectar fraudes. Fraudes contra sócios, contra herdeiros, contra o fisco, contra credores, justiça etc. Adulterações de lançamentos e registros Desfalques Apropriações indébitas. Nas Varas de Família Avaliação de Pensões Alimentícias Necessidade de apuração de haveres de cônjuge ou responsável pela manutenção de dependentes. Avaliação Patrimonial Apuração de haveres dos cônjuges. Nas Varas de Órfãos e Sucessões Apuração de Haveres As causas de apuração de haveres nas Varas de Órfãos e Sucessões podem dar-se em razão de morte de sócio, morte de mulher de sócio. Prestação de Contas de Inventariantes 7
Na Justiça do Trabalho Indenizações de diversas modalidades Litígios entre empregadores e empregados de diversas espécies Nas Varas de Falências e Concordatas Perícias Falimentares em Geral EXTRAJUDICIAIS Transformações de sociedades de um tipo em outro; fusões, incorporações e cisões; arbitramento, avaliações e outras espécies. 8
PLANEJAMENTO DA PERÍCIA CONHECIMENTO DA EMPRESA O perito deve adquirir ou restabelecer conhecimentos sobre a empresa para que possa planejar e efetuar seu exame. FINANCEIRA - Comportamento do fluxo de caixa; - Se as operações da empresa estão gerando recursos suficientes para sustentá-la financeiramente; - Principais credores pagamento; bancários, encargos financeiros e forma de - Possíveis problemas de liquidez; - Se os fornecedores estão sendo pagos em dia; - Principais fornecedores e suas condições financeiras; - Se existem contas de clientes em atraso; - Principais clientes e suas condições financeiras; 9
CONTÁBIL - Princípios adotados na elaboração das demonstrações contábeis; - Uniformidade, de um exercício social para outro, na aplicação desses princípios; - Se as análises das contas estão sendo preparadas regularmente ao longo do ano; - Se foram ou estão sendo tomadas providências para corrigir as irregularidades ou erros identificados nas análises das contas. VENDAS - Situação da empresa no mercado em comparação com os concorrentes; - Política de propaganda; - Causas das devoluções de vendas; - Política de garantia dos produtos. 10
ORÇAMENTÁRIA - Situação atual do orçamento em comparação com o incorrido; - Explicações para as variações significativas entre o orçado e o real; - Projeções até o fim de exercício social. PESSOAL - Política de admissões; - Política de treinamento; - Política de avaliação; - Política de aumentos salariais; - Estrutura organizacional da empresa; - Saída de funcionários importantes. 11
FISCAL E LEGAL - Situação atual de processos envolvendo o nome da empresa; - Livros fiscais e legais e sua escrituração; - Resultado das investigações realizadas pelas autoridades fiscais; - Mudanças no contrato social ou estatuto. OPERAÇÕES - Principais aquisições de bens do ativo imobilizado; - Principais baixas de bens do ativo imobilizado; - Máquinas paradas, obsoletas etc.; - Estoques obsoletos ou de lento movimento; - Novos produtos; - Planejamento do inventário físico anual. 12
DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO PERICIAL Inobstante não ser mais obrigatório assumir compromisso (art. 422, CPC) deve o perito, antes de assumir efetivamente a função judicial, ter alguns cuidados e atitudes. Art. 422. O perito cumprirá escrupulosamente o encargo que lhe foi cometido, independentemente de termo de compromisso. Os assistentes técnicos são de confiança da parte, não sujeitos a impedimento ou suspeição. (Redação dada pela Lei nº 8.455, de 24.8.1992) 13
O perito, na qualidade de auxiliar da justiça (art. 139 do CPC) é nomeado pelo magistrado, ou seja, é depositário de sua confiança para a produção da prova pericial, cujo resultado, expresso num laudo, servirá como uma das bases em que se apoiará o mesmo para exarar sua sentença. 14
O ato de assumir compromisso é um momento solene no qual o perito promete formalmente ao magistrado que o nomeou, mediante assinatura de termo próprio, cumprir a função para a qual foi designado. NÃO É UMA PROMESSA QUALQUER. 15
É prometido servir à justiça com diligência, sem dolo ou má-fé, sob as penas da lei; consequentemente, temos dois aspectos a considerar: o primeiro trata da promessa de que o perito se incumbirá de produzir as provas relativas ao objeto da lide, ou seja, trará, por meio de seu laudo, as provas deferidas pelo magistrado; o segundo percorre a questão da atitude ética do profissional quanto ao desenvolvimento da prova técnica sem dolo ou má-fé de parte do perito. 16
No despacho saneador ou em audiência, além da nomeação do perito, outras decisões são tomadas pelo magistrado. Nesse despacho ou decisão, o magistrado concede prazo para as partes oferecerem quesitos e indicarem, caso queiram, seus assistentes técnicos, além do que, poderá ele próprio, formular seus quesitos; além dessas determinações, os magistrados tem determinado frequentemente que os peritos ofereçam a estimativa ou orçamento de seus honorários. 17
Se determinada a apresentação de orçamento dos honorários periciais, o perito a cumprirá, oferecendo petição demonstrando e justificando a verba proposta, a qual será apreciada pelas partes e, em momento posterior; O magistrado fixará os honorários do perito, determinando que a parte responsável proceda ao depósito judicial. 18
Às partes também cabem oferecer as perguntas a serem respondidas pelo perito, as quais, são conhecidas por quesitos, que desejam ver respondidas mediante a produção da prova técnica. Os quesitos oferecidos pelas partes serão objeto de apreciação pela parte contrária e pelo próprio magistrado, que os aceitará ou, eventualmente, poderá indeferir aqueles que entender impertinentes ou não relacionados com a matéria técnica em debate. O indeferimento poderá acontecer de ofício, ou seja, o próprio magistrado decide ou poderá ter origem em impugnação de uma das partes. Ainda, processualmente, poderá uma das partes que tenha quesitos indeferidos recorrer da decisão do magistrado ao tribunal. 19
Superada todas essas etapas, finalmente o perito pode retirar os autos, mediante protocolo no livro de carga, e iniciar de fato o trabalho pericial. 20