TENDÊNCIAS DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO ESTATÍSTICA NO BRASIL DE 2000 A 2013: EVENTOS CIENTÍFICOS Ailton Paulo de Oliveira Júnior UFTM Tayrinne Helena Vaz - UFTM Resumo: Com a intenção de obter indicadores teóricos e práticos da investigação em Educação Estatística, foi realizado um estado da arte dos trabalhos publicados em anais de eventos científicos realizados no Brasil (nacionais e internacionais), em Educação Matemática e Educação, disponíveis em formato digital, no período de 2000 a 2013, em relação à Educação Estatística (Estatística, Probabilidade e Análise Combinatória) desde a Educação Infantil até o Ensino Superior, abordando aspectos tanto quantitativos quanto qualitativos sobre o que está sendo produzido na área em nosso País e a partir deste estudo indicar as tendências da pesquisa nesta área do conhecimento. Do total de 360 trabalhos encontrados foram publicados nos anais dos eventos em questão: 248 trabalhos em Estatística, 50 em Probabilidade, 46 em Análise Combinatória e 16 trabalhos contemplando mais de uma área. A grande maioria dos artigos sobre elem ent os da Estatística indica preocupação em estudar o uso de gráficos e tabelas, a formação de professores, a leitura e a interpretação de dados, entre outros. A Universidade Federal de Pernambuco UFPE foi a instituição que mais publicou entre 2000 e 2013, com 77 trabalhos (21,39%), seguido da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP, com cerca de oito por cento do total dos 346 (trezentos e quarenta e seis) artigos encontrados. Apesar do crescente número em pesquisas em Educação Estatística nos últimos anos, manifestamos aqui o incentivo para a produção científica nessa área, uma vez que o desenvolvimento dos conhecimentos e das competências é de extrema importância para formação de cidadãos críticos, reflexivos e ativos, capazes de superar o pensamento determinístico e de tomar decisões mais coerentes com seus interesses e com suas realidades. Palavras-chave: Estado da arte, Educação Estatística, eventos científicos. Introdução Segundo Ferreira (2002), as pesquisas do tipo Estado da Arte podem ser entendidas como de caráter bibliográfico, trazendo o desafio de mapear e de discutir certa produção acadêmica em diferentes campos do conhecimento, tentando responder que aspectos e dimensões vêm sendo destacados e privilegiados em diferentes épocas e lugares, de que formas e em que condições têm sido produzidas. Encontraram-se poucos trabalhos que fizesse uso do Estado da Arte relacionado à temática Educação Estatística, tal como o realizado por Guimarães, Gitirana, Marques e Cavalcanti (2009) abordam o Estado da Arte das pesquisas sobre Educação Estatística na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, tomando por base as publicações em anais de congressos e em periódicos científicos nacionais, 06362
2 do período de 2001 a 2006, relacionados à área de Educação e Educação Matemática. Ribeiro (2010) em sua dissertação teve como objetivo fazer um levantamento de dissertações e teses que se referem ao Ensino de Estatística e Probabilidade no período de 2000 a 2008 de acordo com o Banco de Teses da Capes. O autor encontrou 43 dissertações e 13 teses, que representam um aumento quantitativo em relação à década de 1990, quando o ensino era ainda mais precário. Bianchini e Nehring (2012) apresentam um resultado parcial de sua pesquisa nos anos de 2010 e 2011 em que consideraram a produção acadêmica a respeito do Ensino de Estatística e a formação de professores. Destaca-se 11 dissertações e duas teses encontradas nesses dois anos, sendo a região Sudeste com oito trabalhos, a região Sul com quatro trabalhos e uma produção no Nordeste. Do total de trabalhos, sete produções se concentravam na formação inicial ou continuada do professor e mesmo com esses números, a pesquisas vem a corroborar com a ideia de Lopes (2010), pois os trabalhos com esse tema ainda são em número reduzido. Lima et al. (2013) fizeram um levantamento das dissertações e teses desenvolvidas no período de 2001 a 2010. Relatam o número de 53 dissertações e uma tese. Deste total de trabalhos 61% são especificamente voltados para a Educação Básica (Ensino Médio e anos iniciais e finais do Ensino Fundamental). Com relação apenas aos anos finais do Ensino Fundamental, 28% dos trabalhos referem-se a essa área de ensino. Procedimentos metodológicos De acordo com essa perspectiva, este estudo objetivou construir um Estado da Arte, a partir do ano de 2000, em relação à Educação Estatística (Estatística, Probabilidade e Análise Combinatória) desde a Educação Infantil até o Ensino Superior em anais de eventos científicos, em Educação Matemática e Educação, realizados no Brasil (nacionais e internacionais), abordando aspectos tanto quantitativos quanto qualitativos sobre o que está sendo produzido na área no Brasil e a partir deste estudo indicar as tendências da pesquisa nesta área do conhecimento. A pesquisa foi desenvolvida a partir de fontes documentais dos anais de eventos, de 2000 a 2013, disponível em formato digital. É importante ressaltar que a análise de anais de eventos depende do julgamento do pesquisador, pois cabe a ele, após leitura do resumo e, quando necessário, do trabalho completo, definir se o texto se enquadra ou não na categoria Educação Estatística. Assim, fez-se necessária a leitura atenta dos 06363
3 referidos resumos para verificar a pertinência ou não do texto como objeto de análise do projeto para posterior tabulação e análise dos dados. Resultados Os artigos foram categorizados e analisados, buscando investigar o que tem sido sugerido e/ou desenvolvido em relação à Educação Estatística. O Quadro 1 apresenta os eventos científicos que foram considerados neste estudo. Quadro 1 Eventos de Educação e de Educação Matemática no período de 2000 à 2013. Eventos ENEM - Encontro Nacional de Educação Matemática 2001, 2004, 2007, 2010 e 2013 SIPEMAT - Simpósio Internacional de Pesquisa em Educação Matemática CIAEM - Conferência Interamericana de Educação Matemática EBRAPEM Encontro Brasileiro de Estudantes de Pós- Graduação em Educação Matemática ANPED - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação GT 19 (Educação Matemática) ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino Ano 2006, 2008 e 2012 2003 (Blumenau) e 2011 (Recife) 2000, 2006, 2008, 2010 e 2013 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012 e 2013 2000, 2002, 2004, 2006, 2008, 2010 e 2012 A partir dos trabalhos consultados, neste trabalho consideraremos quatro categorias para as análises: (1) Conteúdos abordados refere-se a um levantamento dos temas abordados e visa mostrar as áreas de pesquisa, dentro da Educação Estatística (Estatística, Probabilidade e Análise Combinatória); (2) Autores que mais publicam trata dos autores que mais publicaram sobre esse tema; (3) Eventos que concentram apresentações sobre o tema - trata-se de levantar os eventos que possuem o maior número de artigos apresentados; (4) Regiões e Instituições de ensino que são referências - referem-se em fazer uma análise geográfica para saber qual a região de maior expressão no Ensino de Estatística, bem como as instituições que são referências no tema e quais a partir da análise dos artigos apresentados nos eventos. Desta forma, do total de 360 trabalhos encontrados e considerando as áreas: Estatística, Probabilidade e Análise Combinatória foram publicados nos anais dos eventos em análise: 248 (68,89%) trabalhos em Estatística, 50 (13,89%) trabalhos em Probabilidade, 46 (12,78%) trabalhos em Análise Combinatória e 16 (4,44%) trabalhos 06364
4 contemplando mais de uma área. Analisando estas publicações, quase metade dos trabalhos com foco em Estatística é voltada para o Ensino Superior, indicando que deve ter uma preocupação em mais trabalhos na Educação Básica, já que é neste período em que se faz a formação básica do aluno e cidadão. A grande maioria dos artigos sobre element os da Estatística indica preocupação em estudar o uso de gráficos e tabelas, a formação de professores, a leitura e a interpretação de dados, entre outros. Percebe-se que ainda há uma visão parcial do que é esta área, voltada basicamente para a apresentação de dados coletados. Analisando o nível de ensino dos artigos de Análise Combinatória, 41,7% desenvolvem trabalhos voltados aos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental e principalmente métodos e técnicas de contagem imprescindíveis a várias áreas do conhecimento. Interessante observar que há insipiente desenvolvimento de pesquisas na utilização destes elementos do tratamento da informação a partir do Ensino Médio. Em relação à Probabilidade, 21 (42%) dos 50 trabalhos encontrados abordam diversos aspectos do Ensino Médio. Com mais esta observação, temos que as área aqui consideradas focam-se em diferentes ciclos da formação dos alunos, ou seja, Estatística no Ensino Superior; Probabilidade no Ensino Médio; e Análise Combinatória no Ensino Fundamental. Isto indica a necessidade do desenvolvimento destas áreas em todos os ciclos de formação. Considerando as 13 (treze) principais instituições de Ensino Superior que mais publicam na área de Educação Estatística neste período, nos níveis educacionais em questão, 8 (oito) são da região Sudeste e destas, sendo 5 (cinco) do estado de São Paulo. O predomínio da região Sudeste, mais precisamente do Estado de São Paulo, pode ser justificado por ser este estado de nosso País a q u e l e com maior tradição no Ensino Superior e também o mais rico economicamente. Além disso, a Universidade Federal de Pernambuco UFPE foi a instituição que mais publicou entre 2000 e 2013, com 77 trabalhos (21,39%). Este destaque pode ser explicado pela existência do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica EDUMATEC - Curso de Mestrado Acadêmico em Educação Matemática e Tecnológica e os grupos de pesquisa voltadas para a Educação Estatística. Outra instituição em destaque é a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP, com cerca de oito por cento do total dos 360 (trezentos e sessenta) artigos encontrados, sendo que estes trabalhos são produzidos a partir do Programa de Educação Matemática da PUC/SP. 06365
5 Considerações Recomendações Apesar do crescente número em pesquisas em Educação Estatística nos últimos anos, manifestamos aqui o incentivo para a produção científica nessa área, uma vez que o desenvolvimento dos conhecimentos e das competências é de extrema importância para formação de cidadãos críticos, reflexivos e ativos, capazes de superar o pensamento determinístico capazes de tomar decisões mais coerentes com seus interesses e com suas realidades. Com essas competências desenvolvidas o cidadão terá uma ferramenta que o ajudará no mercado de trabalho e também em assuntos de seu cotidiano, além do mais o ajudará analisar criticamente as informações que lhe chegam pelos meios de comunicação, sabendo identificar os interesses por traz dessas informações. Referências BIANCHINI, D. F.; NEHRING, C. M. As pesquisas sobre o Ensino de Estatística: um estudo a partir da produção acadêmica. In: Anais da III Escola de Inverno de Educação Matemática, 1º Encontro Nacional PIBID-MATEMÁTICA, Santa Maria (RS), 2012. CAZORLA, I. M.; KATAOKA, V. Y.; SILVA, C. B. Trajetória e perspectivas da Educação Estatística no Brasil: um olhar a partir do GT12. In: Estudos e Reflexões em Educação Estatística. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2010. FERREIRA, N. S. A. Pesquisas denominadas estado da arte: possibilidades e limites. Educação & Sociedade, v. 79, n. 1, p. 257-274, 2002. GUIMARÃES, G; GITIRANA, V; MARQUES, M. & CAVALCANTI, M.R. A Educação Estatística na educação infantil e nos anos iniciais. Zetetiké Cempem FE Unicamp v. 17, n. 32, jul/dez 2009. LIMA, S. A.; SANTOS JUNIOR, G.; WALICHINSKI, D.; PEREIRA, L. B. C. Gestão do ensino de estatística e probabilidade no Brasil entre os anos de 2001 a 2010: teses e dissertações de cursos recomendados pela Capes. Revista Espacios, v. 34, n. 9, p. 15, 2013. Disponível em <http://www.revistaespacios.com/>. Acesso em: 17 de abr. 2014. RIBEIRO, S. D. As pesquisas sobre o Ensino de Estatística e Probabilidade no período e 2000 a 2008: uma pesquisa a partir do banco de teses da CAPES. Dissertação (Mestrado Profissional no Ensino de Matemática). PUC, São Paulo, 2010. 06366