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Dados Básicos. Ementa. Íntegra. Fonte: Tipo: Acórdão STJ. Data de Julgamento: 19/03/2013. Data de Aprovação Data não disponível

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Transcrição:

RECURSO ESPECIAL Nº 1.113.590 - MG (2009/0026873-9) RELATORA RECORRENTE RECORRIDO ADVOGADO : MINISTRA NANCY ANDRIGHI : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS : A DOS S : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS EMENTA PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE ALIMENTOS. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. ART. 201, III, DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. 1. O Ministério Público tem legitimidade para a propositura de ações de alimentos em favor de criança ou adolescente, nos termos do art. 201, III, da Lei 8.069/90 (Estatuto da criança e do adolescente). 2. Recurso Especial provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos por unanimidade, dar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros Massami Uyeda, Paulo de Tarso Sanseverino e Vasco Della Giustina votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Sidnei Beneti. Brasília (DF), 24 de agosto de 2010(Data do Julgamento). MINISTRA NANCY ANDRIGHI Relatora Documento: 998581 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 10/09/2010 Página 1 de 8

RECURSO ESPECIAL Nº 1.113.590 - MG (2009/0026873-9) RECORRENTE RECORRIDO ADVOGADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS : A DOS S : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS RELATÓRIO A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relatora): Cuida-se de recurso especial interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, com fundamento na alínea a do permissivo constitucional. Ação: de alimentos ajuizada pelo recorrente em face de A. dos S., a fim de impeli-lo ao cumprimento da obrigação de prestar alimentos à sua filha J.C.S.F. (fls. 2/6). Sentença: julgou extinto o processo sem julgamento do mérito, nos termos do arts. 267, VI, do CPC, pois "o Ministério Público não possui legitimidade ativa ad causam para propor ação de alimentos, já que está a menor em tela sob o poder familiar de sua mãe, repito à exaustão, pelo que manifesta é a meu sentir, data venia, a carência de ação daí decorrente, a reclamar a extinção do feito sem apreciação do mérito." (fls. 13/19). Acórdão: o TJ/MG, por maioria de votos, negou provimento à apelação interposta pelo recorrente, nos termos da ementa a seguir (fls. 93/101): Ação de alimentos. Menores impúberes em situação regular, sob a guarda da mãe, detentora do poder familiar e legitimada a representá-los em Juízo contra o pai-alimentante, em situação de inadimplência. Ilegitimidade ativa do Represntante do Ministério Público para atuar por eles, supletivamente, como substituto processual. Legitimidade existente somente na hipótese de abandono, à luz do inciso II do artigo 201 do E.C.A. - Precedentes jurisprudenciais do TJ/MG. Recurso a que se nega provimento. Recurso especial: alega violação do art. 201, III, da Lei n.º 8.069/90 (Estatuto da criança e do adolescente), pois "o Ministério Público não propôs Documento: 998581 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 10/09/2010 Página 2 de 8

ação por mero diletantismo mas em face da inexistência de Defensoria Pública na Comarca de Serro. Enfim, a deliberação colegiada até agora prevalecente, mediante indesejada antinomia, deixou à calva a assistência material assegurada pelo art. 22 do próprio Estatuto da Criança e do Adolescente." (fls. 105/138). Exame de admissibilidade: o TJ/MG admitiu o recurso especial, determinando a remessa dos autos ao STJ (fls. 143/144). Parecer do MPF: de lavra do Exmo. Subprocurador-geral da República Pedro Henrique Távora Niess, opinou-se pelo provimento do recurso especial (fl. 150). É o relatório. Documento: 998581 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 10/09/2010 Página 3 de 8

RECURSO ESPECIAL Nº 1.113.590 - MG (2009/0026873-9) RELATORA RECORRENTE RECORRIDO ADVOGADO : MINISTRA NANCY ANDRIGHI : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS : A DOS S : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS VOTO A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relatora): Cinge-se a lide a estabelecer a legitimidade ativa do Ministério Público para o ajuizamento de ação de alimentos em favor de menor que se encontra sob a guarda da sua genitora. O TJ/MG, ao negar provimento ao recurso de apelação interposto contra a sentença que julgou extinto o processo sem exame do mérito, afirmou que os alimentados, menores impúberes, vivem com a mãe, sob sua guarda, cabendo à genitora, não ao Ministério Público, representá-los no ajuizamento de execução alimentar contra o pai-devedor (fl. 100). Ocorre que o art. 201, III, da Lei 8.069/90 (ECA) confere expressamente ao Ministério Público legitimidade para promover e acompanhar ações de alimentos. Esse dispositivo legal não faz qualquer distinção no que diz respeito à situação da criança ou adolescente; tampouco menciona a necessidade de estar o menor necessitado representado por seus tutores ou genitores. O art. 141 do mesmo estatuto, por sua vez, garante o acesso de toda criança ou adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos. Logo, se o Ministério Público recorrente deixasse de ajuizar a ação de alimentos de que ora se cogita, estaria cometendo injustificável omissão, furtando-se a cumprir uma de suas funções institucionais, qual seja, a curadoria da infância e juventude. Há ainda um pormenor significativo para o deslinde da contenda em exame: uma análise mais apurada dos autos revela tratar-se de menor necessitado, que reside em uma Comarca prejudicada pela falta de estrutura estatal, na qual não existe Documento: 998581 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 10/09/2010 Página 4 de 8

Defensoria Pública. É notória a dificuldade de localização de advogados que patrocinem os interesses dos jurisdicionados hipossuficientes, de modo que negar a legitimidade do recorrente somente agravaria a já difícil situação em que se encontra o menor, carente e vulnerável. No julgamento do REsp 510.969, de minha relatoria, tive a oportunidade de analisar a questão posta em debate. Naquela ocasião, ponderei que: o estado de pobreza dos menores e de sua genitora, bem como a inexistência de Defensoria Pública no local onde residem, são situações que inelutavelmente obstaculizam o acesso dos infantes à Justiça. (...) Não me parece acertada a conclusão de que as normas do E.C.A. têm aplicabilidade somente nos procedimentos da competência do Juízo da Infância e da Juventude, pena de impossibilitar a proteção, ilimitada e incondicionada, da criança e do adolescente. A Lei de alimentos, além do mais, admite que a parte postule diretamente sua pretensão, por solicitação verbal, por termo ou por meio de advogado constituído nos autos (art. 3º, 1º, da Lei 5.478/68). Verifica-se, portanto, a preocupação do legislador em garantir às pessoas necessitadas o ingresso na via judiciária, de modo que qualquer interpretação que impeça a população carente de exercer o direito indisponível aos alimentos que lhes são devidos transforma em letra morta tanto a Lei 5.478/68 quanto a Lei 1.060/50. A legitimação do Ministério Público para patrocinar as causas dos que tem direito à assistência jurídica gratuita onde não houver serviço estatal organizado para prestá-la justifica-se, portanto, também pela defesa do direito fundamental de acesso ao judiciário (art. 5., LXXIV, da CF/88). A extinção da ação de alimentos sem julgamento do mérito, por ilegitimidade ativa do recorrente para a propositura de ação de alimentos em favor de menor hipossuficiente, cria uma barreira inibitória à defesa dos interesses indisponíveis da criança. O parágrafo primeiro do art. 201 do ECA determina que a legitimação do Ministério Público para as ações cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Constituição. Assim, se terceiros podem, em tese, ajuizar ações civis que objetivem resguardar os direitos das crianças e adolescentes, com muito mais razão deve ser afirmada a legitimidade do Ministério Documento: 998581 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 10/09/2010 Página 5 de 8

Público para a propositura das mesmas medidas judiciais, pois a este órgão incumbe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, nos termos do art. 127 da CF/88. Nesse sentido, destacam-se as lições dos Profs. Celso Ribeiro Bastos e Hugo Nigro Mazzilli: O Ministério Público tem a sua razão de ser na necessidade de ativar o Poder Judiciário, em pontos em que esta remanesceria inerte porque o interesse agredido não diz respeito a pessoas determinadas, mas a toda coletividade. Mesmo com relação aos indivíduos, é notório o fato de que a ordem jurídica por vezes lhes confere direitos sobre os quais não podem dispor. Surge daí a clara necessidade de um órgão que vele tanto pelos interesses da coletividade quanto pelos dos indivíduos, estes apenas quando indisponíveis. Trata-se, portanto, de instituição voltada ao patrocínio desinteressado de interesses públicos, assim como de privados, quando merecerem um especial tratamento do ordenamento jurídico. (Curso de Direito Constitucional, 14. ed. São Paulo: Saraiva, 1992. p. 339 sem destaques no original) Examinando os principais direitos ligados à proteção da infância e da juventude, enumerados pelo art. 227, caput, da Constituição, duas observações básicas devem ser feitas: a) de um lado, vige o princípio da absoluta prioridade desses direitos; b) de outro lado, vemos que a indisponibilidade é sua nota predominante, o que torna o Ministério Público naturalmente legitimado à sua defesa, sem prejuízo da existência de outros colegitimados. (...) Tratando-se de interesses indisponíveis de crianças ou adolescentes (ainda que individuais), e mesmo de interesses coletivos ou difusos relacionados com a infância e a juventude sua defesa sempre convirá à coletividade como um todo. (A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, patrimônio público e outros interesses. São Paulo: Ed. Saraiva, 2009, p. 659/670 com destaque no original) A indisponibilidade do direito aos alimentos, discutido nestes autos, reforça ainda mais a intervenção do Ministério Público nas ações que tem por objeto a prestação alimentar, nos termos dos arts. 227 da CF/88 e 4 do ECA. Não se discute, aqui, interesse meramente patrimonial do menor, mas sim direito fundamental de extrema importância, que lhe possibilita uma vida saudável e digna. Dessa forma, diante da impotência inerente aos menores incapazes, de seu direito indisponível aos alimentos e, na espécie em exame, também de sua realidade social e econômica, que torna praticamente impossível à criança obter acesso à Documento: 998581 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 10/09/2010 Página 6 de 8

assistência jurídica gratuita, o Ministério Público tem legitimidade para fiscalizar e propor medidas judiciais destinadas a proteger os direitos das crianças e adolescentes (RHC 3.716/PR, 5ª Turma, Rel. Min. Jesus Costa Lima, DJ de 15/08/1994). Os valores ligados à infância e à juventude não só podem como devem ser tutelados pelo Parquet, de maneira que qualquer outra exegese nega vigência ao art. 201, III, do ECA. Forte nessas razões, dou provimento ao Recurso Especial interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, a fim de declarar sua legitimidade ativa para o ajuizamento de ação de alimentos em favor de menor carente e incapaz, determinando ainda a remessa dos autos ao TJ/MG, a fim de que seja analisado o mérito da medida judicial proposta pelo recorrente. Documento: 998581 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 10/09/2010 Página 7 de 8

CERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA Número Registro: 2009/0026873-9 REsp 1.113.590 / MG Números Origem: 10671070012156001 10671070012156002 PAUTA: 24/08/2010 JULGADO: 24/08/2010 SEGREDO DE JUSTIÇA Relatora Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. JUAREZ ESTEVAM XAVIER TAVARES Secretária Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA RECORRENTE RECORRIDO ADVOGADO AUTUAÇÃO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS : A DOS S : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Família - Alimentos CERTIDÃO Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso especial, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros Massami Uyeda, Paulo de Tarso Sanseverino e Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS) votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Sidnei Beneti. Brasília, 24 de agosto de 2010 MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA Secretária Documento: 998581 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 10/09/2010 Página 8 de 8