CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL CDES. Defesa do Etanol Economicamente Viável e Ambientalmente e Socialmente Sustentável



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Transcrição:

CONSELHO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL CDES GT BIOENERGIA: ETANOL, BIOELETRICIDADE E BIODIESEL - REUNIÃO VIII Local: Gabinete Regional da PR - Auditório BB, Av Paulista, 2163, 16.º andar - São Paulo - SP Data: 15/10/2008; de 09:00h às 17:00h Contribuições para o debate Conselheiro: Marcos Sawaya Jank 1 Defesa do Etanol Economicamente Viável e Ambientalmente e Socialmente Sustentável INTRODUÇÃO O etanol brasileiro representa hoje a melhor e mais avançada opção global para a produção sustentável de biocombustíveis em larga escala. Sob vários critérios, o etanol de cana-de-açúcar oferece um excelente exemplo de como as questões sociais, econômicas e ambientais podem ser colocadas no contexto do Desenvolvimento Sustentado. Atualmente, mais de 50% do consumo de gasolina no país já foi substituído por etanol produzido em apenas 1% das terras agricultáveis do Brasil (3,4 milhões de hectares). A produção e utilização do etanol de cana-de-açúcar ajudam a reduzir as emissões dos gases causadores do efeito estufa em até 90% em comparação com a gasolina, e os motoristas podem comprá-lo em qualquer um dos 33 mil postos de combustíveis do país. Mais de 90% de todos os carros novos vendidos no Brasil são flex fuel, o que significa que o consumidor tem a escolha de usar como combustível gasolina, etanol puro ou qualquer mistura de entre ambos. Nada disso é teórico. Está acontecendo neste momento no Brasil, sem desmatamento nem efeitos negativos sobre os preços ou o suprimento de alimentos. Nos últimos 30 anos, o setor sucroalcooleiro brasileiro viveu uma grande e contínua evolução tecnológica. Hoje, a cana-de-açúcar brasileira é o insumo básico de uma 1 Conselheiro do CDES e Presidente da União da Indústria de Cana de Açúcar (UNICA). 1

ampla variedade de produtos de valor agregado, incluindo alimentos (açúcar), rações animais (leveduras), biocombustíveis (etanol), bioeletricidade e bioplásticos provenientes de biorrefinarias modernas e integradas. No futuro próximo, a expansão da produção de bioeletricidade para a rede pública e o desenvolvimento da alcoolquímica vão impulsionar uma revolução no processo de desenvolvimento tecnológico do setor sucroenergético brasileiro, agregando renda e melhorando, ainda mais, a competitividade do açúcar e do etanol e, conseqüentemente, promovendo a expansão do mercado. Menores custos de produção, balanço energético inigualável e enormes possibilidades de ampliação da produção de etanol, incluindo o domínio tecnológico nas áreas agrícola e industrial, tornam o Brasil o candidato natural para liderar a produção economicamente competitiva e a exportação mundial de biocombustíveis. Além disso, o modelo brasileiro de produção de etanol, baseado na cana-de-açúcar, pode representar uma grande oportunidade para outros países em desenvolvimento. Mais de 100 países em regiões tropicais e subtropicais do planeta são produtores de cana-de-açúcar, em alguma medida, e possuem o potencial para reproduzir a experiência brasileira na produção de etanol e bioeletricidade. Adotar o etanol de cana como uma alternativa e complemento à gasolina aumentaria a independência energética destes países em relação ao petróleo importado e reforçaria suas agriculturas, gerando empregos e renda. Isto representaria uma revolução no fornecimento de combustíveis, no qual quase uma centena de países poderia suprir o mundo com biocombustíveis, no lugar dos atuais 20 países produtores de petróleo. ETANOL ECONOMICAMENTE VIÁVEL Viabilidade econômica frente ao petróleo em se tratando de viabilidade econômica, sem qualquer subsídio governamental, o etanol brasileiro é hoje competitivo frente à gasolina sempre que o preço do petróleo ultrapassa os US$ 60 a US$ 70 por barril. Portanto, no contexto atual, com o barril do petróleo sendo negociado acima dos US$ 100, há um enorme potencial de mercado para o etanol brasileiro. Infelizmente, muitos países desenvolvidos protegem suas indústrias nacionais de etanol com altas tarifas que distorcem o comércio, além de barreiras não-tarifárias, e com isso estimulam a continuidade do livre comércio de combustíveis de origem fóssil, caros e mais agressivos ao meio ambiente. Menor custo de produção mesmo quando comparado com outras opções de biocombustíveis, o etanol brasileiro de cana-de-açúcar tem o menor custo de produção e o maior rendimento em litros por hectare produzido. A comparação entre os preços internacionais nos três principais mercados de etanol demonstra isso: o preço médio do etanol brasileiro, entre fevereiro e abril de 2008, situou-se ao redor de 47 cents de dólar por litro, enquanto que o preço do etanol de milho americano foi negociado a 67 cents 2

de dólar por litro e o etanol de trigo europeu a 87 cents de dólar por litro no mesmo período 2. A produção de etanol no Brasil ainda está fortemente alicerçada no mercado interno. De um total de 22 bilhões de litros de etanol produzidos na safra de cana-de-açúcar de 2007/2008, o mercado interno absorveu cerca de 85%, sendo os 3,6 bilhões de litros restantes dirigidos à exportação. O consumo interno de etanol é hoje impulsionado por dois grandes fatores: a mistura obrigatória de 25% de etanol anidro à gasolina e a expansão do mercado de carros flex (aproximadamente nove de cada 10 carros novos vendidos no mercado brasileiro contam hoje com tecnologia flex-fuel). Até o fim de 2008, mais de seis milhões de veículos, ou aproximadamente 25% da frota de veículos leves brasileira, serão flex, subindo para 50% em 2012 e 65% em 2015. Em maio de 2008, o etanol já era responsável por cerca de 50% do consumo volumétrico nacional de combustíveis para automóveis e veículos comerciais leves movidos a etanol e/ou gasolina. Neste sentido, o mercado interno torna-se estratégico para a expansão da indústria sucroenergética nacional, na mesma medida em que o etanol torna-se fundamental para a matriz energética brasileira. No entanto, o grande desafio do setor neste momento é abrir novos mercados, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, para o etanol brasileiro, tornando-o uma verdadeira commodity energética de âmbito global. Isto é fundamental para viabilizar novos investimentos e a expansão do setor. Vinte e nove novas destilarias devem começar a produzir durante 2008, e o investimento total no setor deve totalizar US$ 33 bilhões até 2012. ETANOL AMBIENTALMENTE SUSTENTÁVEL MITIGANDO O AQUECIMENTO GLOBAL Redução de Gases de Efeito Estufa o etanol brasileiro pode ser um forte aliado na redução dos gases de efeito estufa que provocam o aquecimento global. Várias estimativas baseadas na análise de ciclo de vida do biocombustível brasileiro, que consideram toda a cadeia de produção, do plantio até o veículo abastecido, demonstram que o etanol brasileiro produzido a partir da cana-de-açúcar reduz as emissões de gases causadores do efeito estufa (GEEs) em até 90% quando utilizado em substituição à gasolina 3. Redução na poluição atmosférica dos centros urbanos o uso do etanol em grandes cidades reduz a poluição atmosférica e os gastos públicos de saúde com problemas associados à poluição do ar. Entre 2004 e 2008, o uso do etanol como 2 LMC International Ethanol Quarterly, Second Quarter 2008, May 2008. 3 IEA International Energy Agency (2004) e MACEDO, I. et al. (2004). 3

combustível evitou a emissão de mais de 35 milhões de toneladas de CO 2 em São Paulo. Isso equivale ao plantio de 110 milhões de árvores ao longo de 20 anos 4. Balanço Energético o balanço energético do etanol brasileiro é inigualável: nas condições brasileiras para cada unidade de energia fóssil utilizada em seu processo de produção são geradas 9,3 unidades de energia renovável 5. Isto significa que o etanol brasileiro é 4,5 vezes melhor do que o etanol produzido de beterraba ou trigo na Europa e quase 7 vezes melhor do que o etanol produzido de milho nos Estados Unidos, em termos de eficiência na geração de energia renovável. Esta superioridade em termos de eficiência energética deve-se a um conjunto de fatores. Entre eles, os principais são a imensa capacidade de fotossíntese da cana-de-açúcar na conversão de energia solar em energia química, a qual vem sendo aprimorada por meio de melhoramentos genéticos nos últimos trinta anos no Brasil e do amplo uso de biomassa (bagaço e palha de cana) na geração da energia utilizada no processo de produção de etanol e açúcar nas usinas brasileiras. Usinas 100% auto-suficientes em energia diferentemente do que acontece na produção de biocombustíveis nos Estados Unidos e Europa, as usinas de açúcar e etanol brasileiras geram sua própria energia elétrica por meio da queima do bagaço e da palha da cana. Praticamente a totalidade das usinas brasileira é auto-suficiente na geração de energia e potencial exportadora da bioeletricidade excedente para a rede elétrica nacional. Atualmente, as usinas de açúcar e etanol têm o potencial médio de geração de excedentes de energia para a rede da ordem de 1.800 megawatts médios (MWm), o que corresponde a apenas 3% das necessidades do Brasil. No entanto, com a modernização das usinas, por meio da utilização de caldeiras de alta pressão mais eficientes, e em função da adição da palha de cana (pontas e folhas dos talos) à biomassa do bagaço, estimativas sugerem que, até 2015, essa geração excedente pode chegar a 11.500 MW médios, ou 15% da demanda de energia elétrica do país. Este valor é superior ao gerado pela hidrelétrica de Itaipu e equivale ao consumo anual de energia de países como Argentina, Suécia ou Holanda. Além disso, a geração de bioeletricidade coincide com a estação seca, quando as usinas hidrelétricas geralmente têm que reduzir sua produção devido aos baixos níveis de seus reservatórios. Essa alternância nos ciclos de produção torna as duas fontes de eletricidade altamente complementares, aumentando a segurança energética do país e servindo como um hedge contra déficits de energia elétrica. Alta produtividade o etanol brasileiro de cana-de-açúcar ainda se caracteriza pelo menor custo de produção e o mais alto nível de produtividade em termos de litros de 4 O número de árvores se baseia em 3,20 árvores retirando uma tonelada de CO2 da atmosfera ao longo de 20 anos, considerando-se o plantio de árvores nativas da Mata Atlântica plantadas pela ONG SOS Mata Atlântica no estado de São Paulo. A medição foi feita pela SOS Mata Atlântica, com apoio da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) e da consultoria Key Associados. 5 MACEDO I.C., SEABRA J.E.A., SILVA J. Green house gases emissions in the production and use of ethanol from sugarcane in Brazil. The Biomass and Bioenergy (2008). 4

bicombustível por hectare de terra utilizada. Enquanto o etanol brasileiro produz mais de 7 mil litros por hectare, o etanol europeu de beterraba produz em média 5.500 l/ha e americano de milho por volta de 3.800 l/ha 6. Neste sentido, além da evidente relação entre produtividade e custos de produção, o maior rendimento do etanol brasileiro também representa um uso mais eficiente dos recursos naturais frente às alternativas de combustíveis renováveis baseadas em outras matérias-primas. As novas variedades de cana-de-açúcar desenvolvidas no Brasil, aliadas à futura introdução da hidrólise celulósica de segunda geração (produção de etanol a partir de biomassa), têm potencial de impulsionar a produtividade para mais de 13 mil litros por hectare, o que permitirá rendimentos maiores sem a necessidade de expansão das áreas cultivadas (crescimento vertical da produção, substituindo o padrão atual de expansão horizontal da produção). A produção de etanol não causa desmatamento a expansão da cana-de-açúcar para produção de etanol não ocorre nos biomas mais sensíveis (Floresta Amazônica e áreas alagadas). Mais de 85% da cana-de-açúcar brasileira cresce no Centro-Sul do país, situadas em média a mais de 2 mil quilômetros da Floresta Amazônica e de outras áreas ecologicamente importantes, como o Pantanal mato-grossense. Os outros 15% são produzidos em estados da região nordeste a igual distância da floresta. Condições climáticas inadequadas ao cultivo da cana e ausência de logística para escoamento da produção inviabilizam a produção economicamente viável de cana-de-açúcar na região amazônica para produção de etanol. Nos próximos anos, prevê-se que a expansão do setor continuará ocorrendo basicamente no centro-sul brasileiro, especialmente em áreas de pastagens degradadas ou de baixa produtividade pecuária. Segundo estimativas do Ministério da Agricultura (CONAB), existem atualmente cerca de 30 milhões de hectares de pastagem com baixa produtividade que poderão ser substituídos por atividades agrícolas nos próximos anos. BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS E AMBIENTAIS Outro ponto fundamental na avaliação da sustentabilidade ambiental dos biocombustíveis refere-se às práticas agrícolas utilizadas na produção de suas matérias-primas com relação ao uso de agroquímicos, perdas do solo e utilização de água na agricultura e processos industriais. Neste sentido, a cultura da cana-de-açúcar, de modo geral, se apresenta como uma das culturas de menor impacto ambiental, quando comparada as principais atividades agrícolas no Brasil ou em relação às alternativas de matéria-prima para biocombustíveis no mundo. Baixo consumo de fertilizantes o uso de fertilizantes na cultura da cana-de-açúcar no Brasil é baixo (aproximadamente 0,425 tonelada por hectare). Isto se deve principalmente ao uso inovador de fertilizantes orgânicos, produzidos a partir de resíduos do processo de produção de etanol e açúcar, tais como a vinhaça e a torta de filtro, amplamente utilizados nos canaviais brasileiros em substituição aos fertilizantes 6 IEA International Energy Agency (2005) e UNICA. 5

industrializados. Além disso, o crescente uso da palha da cana deixada sobre o solo após a colheita mecanizada como adubação orgânica, vem otimizar todo este processo em termos de reciclagem de nutrientes e proteção do solo contra a erosão. Baixo consumo de defensivos o uso de pesticidas nos canaviais brasileiros é baixo, e o de fungicidas, praticamente inexistente. Uma parte significativa das pragas que ameaçam a cana-de-açúcar é combatida por meio do manejo integrado de pragas, controle biológico e programas avançados de melhoria genética que ajudam a gerar variedades mais resistentes de cana-de-açúcar. Menos perda de solo os canaviais brasileiros também apresentam níveis relativamente baixos de perdas do solo (cerca de 12,4 toneladas por hectare), graças ao caráter semi-perene da cana-de-açúcar, que é replantada apenas uma vez a cada cinco a seis anos. A tendência é de que as perdas atuais, ainda que limitadas, diminuam expressivamente nos próximos anos em conseqüência do uso cada vez maior da palha da cana-de-açúcar deixada nos campos como proteção do solo, após a colheita mecanizada. Com o passar dos anos esta palha, que deixa de ser queimada na colheita da cana, é incorporada ao solo como material orgânico, tornando-o mais fértil e aumentando seus níveis de carbono, evitando a dispersão na atmosfera. Sem irrigação na fase agrícola, as plantações brasileiras de cana-de-açúcar praticamente não requerem irrigação, pois a chuva é abundante e confiável, especialmente no centro-sul do país, em que se concentram mais de 85% da produção nacional de cana. Como complemento à chuva utiliza-se a fertirrigação nos canaviais, processo que envolve a aplicação de vinhaça, um resíduo rico em água e nutrientes orgânicos, principalmente potássio, proveniente do processo de produção de açúcar e etanol. Portanto, por meio da fertirrigação a maior parte da água contida na cana, proveniente das chuvas, volta aos campos. Forte redução no uso industrial de água a utilização de água durante o processo industrial de produção de açúcar e etanol vem caindo significativamente com o passar dos anos, de cerca de 5 m 3 de água por tonelada para aproximadamente 1,5 m 3 por tonelada de cana-de-açúcar processada. Esta forte redução na captação de água para uso industrial se deve ao sistema de circuito fechado. Muitas usinas já apresentam números inferiores a 1 m 3 de água por tonelada de cana-de-açúcar processada e com a disseminação de novas tecnologias, como a lavagem a seco da cana que chega à usina, o setor espera reduzir ainda mais o uso industrial de água. O Protocolo Agroambiental no Estado de São Paulo uma das iniciativas recentes mais importantes do setor sucroalcooleiro é o Protocolo Agroambiental firmado com o Governo do Estado de São Paulo em junho de 2007, em que a indústria canavieira paulista (usinas e fornecedores de cana) se comprometeu a acelerar a eliminação da queima da palha da cana-de-açúcar, prática tradicional recomendada para facilitar a colheita manual da cana. O Protocolo Agroambiental antecipou de 2021 para 2014 a data de erradicação nas áreas onde é possível a colheita mecanizada (declividade de 6

solos inferior a 12%) e de 2031 para 2017 nas demais áreas. Além da antecipação dos prazos para a eliminação da queima da cana-de-açúcar, o Protocolo também estabelece que os novos canaviais no estado devem ter colheita totalmente mecanizada e traz outros itens importantes da agenda ambiental como a proteção de matas ciliares e recuperação daquelas ao redor de nascentes, planos técnicos de conservação do solo e dos recursos hídricos e medidas de redução de emissões atmosféricas no processamento da cana. Até o final de setembro de 2008, 151 das 170 usinas de açúcar e etanol de São Paulo já haviam aderido voluntariamente ao Protocolo. Em pouco mais de um ano, esta iniciativa pioneira levou a um grande avanço da colheita mecanizada (sem uso de fogo): de 34% da cana colhida no Estado de São Paulo na safra 2006/2007 para 47% na safra 2007/2008. Neste período, a área colhida sem uso de fogo aumentou 657 mil hectares ou o equivalente a quase 1 milhão de campos de futebol. Confirmando esta tendência, recentemente boa parte das usinas sucroalcooleiras dos estados de Minas Gerais e Goiás assinaram protocolos semelhantes ao de São Paulo para a eliminação voluntária da queima da palha da cana-de-açúcar. Preservação de matas ciliares dados da Secretaria do Meio-Ambiente mostram que a maior contribuição para a preservação de matas ciliares no estado de São Paulo vem da indústria da cana-de-açúcar. São mais de 140 mil hectares de Áreas de Preservação Permanente (APPs) protegidos o equivalente à área ocupada pela cidade de São Paulo. E as nascentes localizadas em áreas produtoras de cana estão hoje protegidas ou em fase de recomposição. Isto significa proteção para 23 mil quilômetros de corpos de água (rios, riachos e córregos), evitando-se a erosão do solo e o assoreamento, com benefícios para a biodiversidade animal e vegetal e a qualidade dos recursos hídricos. ETANOL SOCIALMENTE SUSTENTÁVEL Geração de emprego e renda a indústria da cana-de-açúcar é um dos setores econômicos mais importantes do Brasil em termos de geração de empregos, com 840 mil empregos diretos em todo o país 7. Na região Centro-Sul, o coração do setor, a cana-de-açúcar emprega centenas de milhares de trabalhadores de baixa qualificação. O salário médio pago a estes trabalhadores na lavoura da cana-de-açúcar é sempre mais elevado do que o salário mínimo real, sendo que no estado de São Paulo, onde se concentra mais da metade da produção nacional de cana, os rendimentos são de aproximadamente o dobro do salário mínimo atual, o que os coloca entre os trabalhadores rurais mais bem remunerados do Brasil 8. 7 MORAES, Márcia A. F. Número e qualidade dos empregos na agroindústria da cana-de-açúcar. In: A energia da cana-de-açúcar, 2007. 8 HOFFMANN, R. e Oliveira, F. C. R. Evolução da remuneração das pessoas empregadas na cana-de-açúcar e em outras lavouras, no Brasil e em São Paulo. 7

Formalização do emprego agrícola além da geração de empregos, outro ponto importante refere-se ao grau de formalização no setor, considerado significativamente alto para os padrões brasileiros. Em 2006, 74% dos trabalhadores na área agrícola da cana tinham carteira assinada no Brasil. Considerando a região Centro-Sul, responsável por mais de 85% da produção nacional de cana, o grau de formalização chega a 86% no campo, sendo que no estado de São Paulo o número de trabalhadores agrícolas com carteira assinada atinge 94% do total 9. Mesa de diálogo para aperfeiçoar as condições de trabalho na cana-de-açúcar o Fórum Nacional Sucroalcooleiro (FNS), a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), a Confederação Nacional dos Trabalhadores Agrícolas (CONTAG) e a Federação dos Trabalhadores Assalariados do Estado de São Paulo (FERAESP) têm participado ativamente de uma importante mesa de diálogo lançada pelo governo federal, a qual visa aperfeiçoar as condições de trabalho na cultura da cana-de-açúcar, a partir da valorização e disseminação das melhores práticas trabalhistas. Cursos de capacitação, qualificação e requalificação de trabalhadores preocupados com os efeitos do avanço da colheita mecanizada no estado de São Paulo, em decorrência do Protocolo Agroambiental assinado com o governo estadual, sobre os cortadores manuais de cana, as empresas associadas à União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) contam hoje com 154 projetos de capacitação, qualificação e requalificação de trabalhadores rurais para operar com máquinas nas fases agrícola e industrial. Estes projetos estão capacitando 31.530 trabalhadores. Responsabilidade Socioambiental em 2007, as usinas paulistas estiveram à frente de mais de 600 projetos socioambientais, que demandaram investimentos da ordem de R$ 160 milhões, beneficiando cerca de 480 mil pessoas. Saúde, Meio Ambiente, Educação, Cultura, Esporte, Qualidade de Vida e Capacitação concentraram as principais ações 10. Somados esses projetos vêm desenhando um futuro mais promissor para a população de vários municípios da região Centro-Sul do Brasil. 9 MORAES, Márcia A. F. Número e qualidade dos empregos na agroindústria da cana-de-açúcar. In: A energia da cana-de-açúcar, 2007. 10 Relatório de Sustentabilidade. UNICA, 2008. 8

ANEXOS Radiografia do setor sucroenergético no Brasil Produção Cana (2007/2008) 490 milhões de toneladas Etanol (2007/2008) 22 bilhões de litros Açúcar (2007/2008) 30 milhões de toneladas Distribuição Mercado interno Mercado externo Açúcar 36% 64% Etanol 85% 15% Número de usinas Área cultivada de cana (para açúcar e etanol) Faturamento do setor (2007/2008) Total Açúcar e etanol Etanol 350 230 100 7,8 milhões hectares (2,3% das terras cultiváveis do Brasil) 85% na região Centro Sul O Estado de São Paulo concentra mais de 60% da produção US$ 20 bilhões 54% açúcar 44% etanol 2% bioeletricidade Mitigando o Aquecimento Global Redução de Gases de Efeito Estufa Balanço Energético 9

Usinas 100% auto-suficientes em energia O etanol não causa desmatamento Regiões de produção de cana no Brasil Sources: NIPE-Unicamp, IBGE and CTC Boas Práticas Agrícolas e Ambientais Baixo consumo de fertilizantes...e de defensivos 10

O Protocolo Agroambiental no Estado de São Paulo Eliminação da queima em áreas mecanizáveis Estado de São Paulo Eliminação da queima em áreas não mecanizáveis Estado de São Paulo Percentual de cana colhida sem queima 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Protocolo Agroambiental Lei 11.241/02 2006 2010 2011 2014 2016 2021 Percentual de cana colhida sem queima 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Protocolo Agroambiental Lei 11.241/02 2007 2010 2011 2016 2017 2021 2026 2031 Nota: os pontos destacados nas linhas do gráfico mostram os anos específicos citados na Lei ou no Protocolo. Responsabilidade Social Responsabilidade Socioambiental 11