O homem que sujou o céu



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Benedito Nunes também é matogrossense, nascido em Cuiabá. Artista plástico com importante contribuição à arte contemporânea no Centro-Oeste brasileiro, tem como uma de suas temáticas o cerrado, cuja representação tem encantado pela beleza e expressividade das paisagens. Ao pensar em uma ilustração para o livro, só me vinha à cabeça o cerrado de Nunes..., explica Luciano. No transcorrer da história, o leitor entenderá o porque desta comunhão de textos e imagens. Capa O homem que sujou o ceu.indd 1 O homem que sujou o céu Luciano Dias de Lacerda Secretaria de Estado de Cultura ISBN: 978-85-7992-029-5 9 788579 920295 O homem que sujou o céu Luciano Dias de Lacerda é matogrossense nascido em Cáceres. Graduado em Letras pela Universidade Federal de Mato Grosso, com especialização em Língua Portuguesa. Como professor elaborou e executou projetos na área da leitura e literatura infantojuvenil desenvolvidos em escolas e bibliotecas públicas. Trabalhou no ensino superior com leitura e produção de texto. Publicou Inversos que escrevi em 2005. Luciano Dias de Lacerda O cenário das histórias encadeadas neste livro é a bucólica Chapada dos Guimarães, no centro da América do Sul, onde as plantas e animais do cerrado correm constante perigo. Veja como os personagens J. Francisco, o Padrinho, a bruxa das flores e a gata Quitéria são surpreendidos pelo homem que sujou o céu. Ilustrações Benedito Nunes 07/08/12 11:46

Luciano Dias de Lacerda O homem que sujou o céu Ilustrações Benedito Nunes Cuiabá, 2012

Editora e designer gráfico Foto das ilustrações Chefe de arte Revisão Tratamento de imagens Maria Teresa Carrión Carracedo Ricardo Miguel Carrión Carracedo Helton Bastos Henriette Marcey Zanini Ronaldo Guarim Taques À Leilla, carinhosamente, pelo estímulo a enredar-me à teia desta narrativa. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Lacerda, Luciano Dias de O homem que sujou o céu / Luciano Dias de Lacerda ; ilustrações Benedito Nunes. - - Cuiabá, MT : Entrelinhas, 2012. ISBN: 978-85-7992-029-5 1. Contos - Literatura infantojuvenil 2. Poesia Literatura infantojuvenil I. Nunes, Benedito. II. Título. Ao menino Jean Francisco, inspiração do Padrinho. Pelos alegres dias de sua infância, ao nosso lado, na Chapada. A outros tantos, pequenos e excluídos. 12-09822 CDD-028.5 Índices para catálogo sistemático: 1. Contos : Literatura infantil 028.5 2. Poesia : Literatura infantil 028.5 À Maria Elisa Varjão, minha interlocutora distraída e amiga querida. Todos os direitos desta edição reservados à: CARRIÓN E CARRACEDO LTDA. Av. Senador Metello 3.773, Jardim Cuiabá Cep: 78.030-005 Cuiabá, MT, Brasil Telefax: (65) 3624 5294 / 3052 8711 www.entrelinhaseditora.com.br e-mail: editora@entrelinhaseditora.com.br Impresso no Brasil À minha família... À memória da minha querida mãe, a quem muito amei, a benção de Deus... 4

O fim de tarde e a noite sem luar, 11 Correndo com a neblina no meio da ventania, 21 O chalé e o castelinho da bruxa das flores, 24 O dia seguinte com o sol, céu cinzento e fumaça, 28 A história de Cléber, 32 Quitéria na mata, fugindo do fogo, 35 A despedida de Xispa, 40 A descida do morro na mata queimada, 43 Quitéria no sótão, com medo do Alemão, 51 A obra do artista e a curiosidade do menino, 53 O sacrifício das galinhas, 56 O encontro inesperado, 59 Noite de vento e conversa, 62 Uma cabana para os gatos, 64 A surpresa da noite na casa da bruxa, 68 O outro dia, com desmaio e muita fumaça, 75 A visita dos amigos do menino e da gata, 80 Brincando com a bruxa na tarde quente, 84 A cerimônia de o adeus no fim de tarde, 89

O fim de tarde e a noite sem luar NA SUBIDA PARA a cidade das montanhas e vales, o menino não cabia em si de contente. Ia sorrindo, cantando e admirando tudo, numa alegria sem tamanho. Distraía-se procurando figuras de animais esculpidas nas pedras, à margem da rodovia. Quando a gente olha com os olhos da imaginação, as imagens começam a entrar em ação e as figurinhas vão aparecendo, iguais àquelas que as nuvens formam no céu, quando brincam com o vento. Via sapos, via cabeça de soldado e até um homem na sua moto, o menino viu... Olhando para baixo encantava-se com a beleza dos grandes vales que escorriam das encostas das montanhas. Olhou a mata rala e rasteira, as árvores tortas do cerrado, os lindos ipês roxos que coloriam a beleza do lugar. Viu o fogo impiedoso, consumindo um pequizeiro com suas últimas folhas secas e grossas. 11

Chegou à Chapada mais curioso do que assustado. Seus olhos brilhavam. A nova paisagem recém-pintada pelo frio emocionou o menino. Era inverno. A cidade que se avistava de longe estava encoberta por uma densa neblina. Quase nada se via, nem os telhados das casas, nem suas árvores, tampouco as chaminés dos fogões e das lareiras. Ouvia-se apenas o ruído do vento brincando de tempestade. A cidade das montanhas e vales estava quase vazia. O frio recolhe cedo as pessoas em suas casas. Quem chega do trabalho quer se aquecer, e quem precisa sai para o turno da noite. Quem pode vai dar um passeio na praça. Mesmo assim, a cidade dependurada nas nuvens estava quase deserta. Quase deserta de pessoas, mas povoada de mistérios. Fazia muito frio, não a ponto de cair neve. Apenas muito frio, e o vento forte que brincava, jogando a neblina de lá pra cá. Se alguém deixasse a porta da casa aberta, a neblina entrava procurando uma janela para sair correndo com o vento. De longe, não se enxergava quase nada. De perto, podiam se ver aquelas gotinhas fininhas, como farelinhos de nuvens caindo do céu. A tarde também caía um pouco assustada. E certamente a noite seria escura, sem o luar prateando os telhados, deslizando pelas paredes, cintilando a copa das árvores. As luzes da cidade pareciam envolvidas num manto transparente, mostrando as entranhas da neblina, num eterno corre-corre com o vento. 14 15