ANÁLISE DA CLASSIFICAÇÃO E DELIMITAÇÃO DAS UNIDADES BIOGEOGRÁFICAS DO BRASIL A DIFERENCIAÇÃO ENTRE BIOMA E DOMÍNIO Milena Oliveira Holanda Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos FAFIDAM/ UECE milenaholanda.geo@hotmail.com Cleuton Almeida da Costa Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos FAFIDAM/ UECE cleutonalmeida@yahoo.com.br INTRODUÇÃO Em se tratando da compreensão e da análise biogeográfica uma das questões mais complexas de se avaliar atualmente são as classificações e delimitações dos biomas no mundo e consequentemente dos biomas brasileiros. Durante muito tempo, até basicamente metade do século XX, como afirma Ab Saber (2003), os investigadores que visitaram o Brasil não perceberam as variações nos padrões de paisagens e ecologias do território e houve um retrocesso em relação ao enfoque de conhecimento acumulado no decorrer do século XX. Gastaram-se anos para que as formas de avaliações simplistas e genéricas pudessem mudar e isto só veio a ocorrer a partir da década de 1940 e, sobretudo 1950, quando os movimentos ambientalistas se manifestaram fortemente e com eles a necessidade do conhecimento territorial, bem como de suas potencialidades naturais. Baseado em Ab Saber (2003), busca-se analisar a atual classificação dos biomas e como essas unidades biogeográficas veem sendo tratadas na atualidade. Partindo de uma análise sobre a classificação dos biomas, busca-se compreender como estas unidades estão distribuídas no globo para se entender como estão classificadas no Brasil. Segundo Grisi (2000), bioma é uma zona maior de vida, sendo dessa forma a maior unidade de comunidade terrestre com flora, fauna e clima próprios, ou seja, um grande ecossistema terrestre. Enquanto que domínio, como afirma Ab Saber (2003), é um conjunto espacial de certa ordem de grandeza territorial, onde haja um esquema coerente de feições de relevo, tipos de solos, formas de vegetação e condições climático-hidrológicas. Dessa forma, busca-se analisar as relações contidas
dentro das unidades biogeográficas para se compreender suas classificações, assim como a diferença que há entre os biomas e domínios. Portanto, este trabalho tem como objetivo geral analisar a classificação e delimitação das unidades biogeográficas no Brasil e as dificuldades de se trabalhar com os conceitos de bioma e domínio, principalmente quando se trata das paisagens brasileiras. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa se desenvolveu balizada nas concepções teórica de Brown e Lomolino (2006), Troppmair (2008), Conti (2008) e Ab Sáber (2003) que tratam da evolução da vida e dos ambientes no tempo e no espaço, assim como, a própria distribuição dos biomas no planeta e mais especificamente no Brasil. Primeiramente foi realizado um estudo voltado para a evolução da vida no planeta, tratando dos seres que se manifestaram e conseguiram sobreviver em ambientes inóspitos, como as regiões polares e desérticas do planeta, e proporcionaram assim um meio favorável para que outras condições de vida se manifestassem. Assim como, estudos sobre as relações que foram surgindo dentro das comunidades biológicas; Relações de associações de espécies, oportunismo, mutualismo, competição, entre outras. Dessa forma, foi surgindo a necessidade de se trabalhar os biomas globais e sua conceituação para se compreender as disposições dessas relações dentro das classificações regionais de unidades biogeográficas. Foram realizados levantamentos bibliográficos sobre a classificação dos biomas no mundo e como estes estavam sendo delimitados e classificados na contemporaneidade. Posteriormente foi dado início aos estudos dos biomas no Brasil, onde foi utilizado o mapa de biomas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para análise da distribuição nacional das unidades biogeográficas e realizar um comparativo com os domínios morfoclimáticos delimitado por Ab Sáber em 1965. CLASSIFICAÇÃO DAS UNIDADES BIOGEOGRÁFICAS DO BRASIL Para se compreender a distribuição geográfica das espécies atualmente, foram necessários estudos sobre a vida e sua evolução. Foi percebido que ao longo do tempo
as diferentes espécies da fauna e da flora adaptaram-se aos mais variados tipos de superfícies e condições climáticas. Isso porque o planeta passou por diferentes modificações, entre elas: períodos de aquecimentos, resfriamentos globais e regionais deixando marcas dessas transformações. A evolução da Terra, ligada à movimentação dos continentes, influenciou de forma direta a distribuição dos seres vivos, pois, estes precisaram superar barreiras para atingir outras regiões. A superação de barreiras é caracterizada por três modos diferentes de dispersão das espécies: corredores, filtros e rotas sweepstake (COX & MOORE, 2011). Dessa forma, grandes quantidades de espécies espalharam-se pela superfície da Terra e foram adaptando-se as condições climáticas dos diferentes lugares que foram ocupando. Assim como, as espécies foram se agrupando, sendo necessário serem agregadas e classificadas, formando os níveis e hierarquias. Segundo Conti (2008), o homem é essencialmente um ser classificador, onde a classificação é uma das formas de ordenar a nossa interpretação da realidade. Na natureza as comunidades biológicas apresentam diversos gradientes de modificação entre os conjuntos mais homogêneos, dificultando o estabelecimento rígido das classificações e consequentemente suas delimitações. Para se entender a organização dos grupos naturais, ressaltando que estes estão organizados a nível global e regional como sendo as unidades biogeográficas (biomas), os quais se confundem comumente com os chamados domínios morfoclimáticos, é importante diferenciá-los: BIOMA: Termo que designa uma unidade de paisagem, que apresenta a mesma fisionomia e os mesmos fatores ecológicos. É constituído pela união de um biótopo e de um biócoro, sendo, portanto, sinônimo de ecossistema. Um bioma pode ser constituído por um conjunto de ecossistemas, desde que estes apresentem a mesma fisionomia (ROMARIZ, 2008, p. 97). DOMÍNIO: Grande área do espaço geográfico, no interior de uma área continental, onde predominam feições morfológicas e condições ecológicas integradas (CONTI, 2008, p. 138).
De acordo com Ab Saber (2003), o território brasileiro, devido a sua magnitude espacial, comporta um mostruário bastante completo das principais paisagens e ecologias do Mundo Tropical. Neste sentido, para se entender as paisagens brasileiras, o referido pesquisador as classifica como domínios morfoclimáticos e fitogeográficos, todavia, assemelha-se um pouco com a delimitação dos biomas brasileiros. Sendo que, o que vai diferenciá-los, em linhas gerais, é que os domínios vão abordar os aspectos geomorfológicos (relevo), o solo, levando em consideração ainda os fatores hídricos e climáticos, sendo dessa forma tratado enquanto região. O bioma, no entanto, vai ser delimitado levando em considerações os aspectos biogeográficos da vegetação, tendo necessariamente que apresentar características de clima, fauna e flora. Preliminarmente, nesse trabalho, foi constatado que a nível global essa dificuldade de classificação das unidades biogeográficas é gerada pela forma como os autores distribuem os biomas, proporcionando a existência de várias classificações, merecendo serem analisadas e/ou comparadas como é observado nos quadros 1,2 e 3, pois, é perceptível a dificuldade de compreensão dessas unidades biogeográficas nos livros didáticos. Quadro 1 - Classificação dos Biomas Terrestres. Fonte:Brown e Lomolino, 2006.
Quadro 2 - Classificação dos Biomas Terrestres. Fonte:Conti, 2008. Quadro 3 - Classificação dos Biomas Terrestres. Fonte:Troppmair, 2008. Se tratando das formações vegetais do Brasil, no que diz respeito às unidades biogeográficas, foi utilizada a classificação do IBGE (2004), onde são considerados seis biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa.
Além dos biomas brasileiros podemos encontrar os chamados domínios morfoclimáticos, onde segundo Fernandes (1998), os estudos morfoclimáticos desenvolvidos por Ab Saber (1958), no que se refere ao Brasil, sugerem ideias valiosas para se estabelecer uma classificação geral com respeito a divisão fitogeográfica brasileira. Figura 1 - Classificação dos Biomas do Brasil. Fonte: Fonte: IBGE, 2004. Figura 2 Domínios Morfoclimáticos Brasileiros. Fonte: Fonte: Ab Sáber, 2003.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Foi observada uma grande dificuldade em se trabalhar com os biomas a nível global, assim como, os biomas brasileiros. Pois nesse sentido, as classificações e delimitações dessas unidades vão depender da análise de cada autor, onde estes para classificar esses ecossistemas vão levar em consideração vários aspectos, entre eles: os climáticos, biogeográficos, entre outros. Além disso, ainda é encontrada uma dificuldade de se trabalhar com os mapas, já que estes, como afirmou Conti (2008), mostram os biomas numa situação hipotética, pois não registram as atividades humanas. Quanto ao território brasileiro é observado que comumente há uma confusão entre bioma e domínio. Sendo que, os domínios para serem considerados como tal, levam em consideração os aspectos geomorfológicos, hidrológicos, entre outros, associados à vegetação. Embora não precisem ter fundamentalmente, como os biomas, a fauna, a flora e o clima bem definido. As unidades biogeográficas brasileiras são constantemente confundidas com os domínios morfoclimáticos devido principalmente a área muito semelhante que ocupam e por ambos utilizarem a vegetação como um critério primordial para sua caracterização. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AB SÁBER, A. N. Os domínios de natureza do Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003, p. 9-36. BROWN, James H.; LOMOLINO, Mark V. Biogeografia. Sunderland: Sinauer, Tradução Editora Funpec. 2.ed. 2006, p. 95-22. CONTI, José Bueno; FURLAN, Suely Angelo. Geoecologia: o clima, os solos e a biota. In: ROSS, Jurandir Luciano Sanches (Org). Geografia do Brasil. 5.ed. São Paulo: Edusp, 2008. p.67-208. COX, C. B.; MOORE, P. D. Biogeografia: uma abordagem ecológica e evolutiva. Tradução e Ver. Tec. Luiz Felipe Coutinho Ferreira da Silva. (reimpr.) 7ª ed. Rio de Janeiro: LT, 2011. GRISI, B. M. Glossário de ecologia e ciências ambientais. 2ª ed. João Pessoa: Ed. Universitária/ UFPB, 2000. ROMARIZ, D. de A. Biogeografia: temas e conceitos. São Paulo: Scortecci, 2008. TROPMAIR, H. Biogeografia e meio ambiente. 8ª ed. Rio Claro: Divisa, 2008. p. 77 109.
Mapa dos Biomas Brasileiros: IBGE lança o mapa de biomas do Brasil e o mapa de vegetação do Brasil, em comemoração ao dia mundial da biodiversidade. Disponível em: www.ibge.gov.br Acessado em: 09 de julho de 2012.