Omissão de Socorro Aula 7
CRIMES OMISSIVO PRÓPRIO O que é o crime omissivo próprio? É aquele em que a lei prevê como núcleo da conduta do tipo uma omissão. Situação na qual a lei penal criminaliza aquele que não age em determinada situação que deveria agir (se abstém). Excluem-se aqui os casos de omissão imprópria crimes comissivos por omissão. Neste caso a lei penal não prevê uma omissão, mas sim uma ação. E o agente que sendo o garante (dever legal, contratual ou gerador do perigo) não agir para evitar um resultado criminoso, já que possuia o dever legal de cuidado, responderá pelo crime comissivo (por ação) na modalidade omissiva imprópria.
Omissão de socorro Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. Dever de Solidariedade
Constitucionalidade dos crimes de perigo abstrato: Principal ponto de divergência princípio da lesividade Um dos aspectos do princípio da lesividade é que só interessa ao Direito Penal punir condutas que de fato violem bens jurídicos penalmente tutelados ou, ao menos, os exponham concretamente a lesão Luigi Ferrajoli Nas situações em que, de fato, nenhum perigo subsista, o que se castiga é a mera desobediência ou violação formal da lei por parte de uma ação inócua em si mesma. Também estes tipos deveriam ser reestruturados, sobre a base do princípio da lesividade, como delitos de lesão, ou pelo menos, de perigo concreto, segundo mereça o bem em questão uma tutela limitada ao prejuízo ou antecipada à mera colocação em perigo
Análise das Elementares Deixar de prestar assistência Dolo de omissão Criança Abandonada ou Extraviada Pessoa Inválida Não fazer algo. Não ajudar ou auxiliar. Dever pessoal o próprio sujeito age O agente não cria o risco de resultado proibido, mas incrementa o risco. Criança aquele que não tenha 12 anos completos - ECA (8.069/90) art 2º Por qualquer motivo abandonada à própria sorte por seus responsáveis ou tenha com eles perdido o contato ou a vigilância e não saiba retornar ao seu encontro. Aquele que não consegue por si só (autonomamente) prover sua própria segurança, por condições normais ou acidentais. Ex: idoso, cego, enfermo.
Adolescente e Adulto Nesta parte o sujeito passivo não é qualquer pessoa, é somente a criança Nesta parte o sujeito passivo é qualquer pessoa. Erro de Tipo Pessoa com 12 anos ou mais, se estiver abandonada ou extraviada - não há o dever de assistência nestas modalidades. Contudo, o art. 135 prevê o dever de assistência aplicável a qualquer pessoa (vítima) que se encontre nas seguintes situações: inválida, desamparo ou grave e iminente perigo. Então, nestas hipóteses o agente responderá por sua omissão. Ex: garoto de 13 anos perdido na praia. Agente não ajudou, pois acreditava que a pessoa perdida tinha mais de 12 anos (mas na realidade ainda era criança). Erro escusável/inescusável Excluem o dolo inexistência de modalidade culposa, agente não responderá por nada.
Análise das Elementares Pessoa Ferida, ao Desamparo ou em Grave e Iminente Perigo Perigo diverso de crime O Sujeito Passivo Não Pode Estar Sob a Guarda (em qualquer modalidade) do Sujeito Ativo O ferimento, desamparo ou perigo devem ser substanciais, de modo a incrementar o risco de um resultado proibido. Ex: pessoa com ferimento na mão ou perdida dentro de um hospital não caracterizam o crime. Porque? Ausência de tipicidade material Iminência do perigo o perigo deve ser imediato. Ex: casa irá desabar dentro de um mês. Não caracteriza o crime Perigo deve ser de pessoa desconhecida ou pessoa sem vínculo com o agente. Se estiver, caracteriza crime omissivo impróprio, abandono de incapaz (art. 133) ou abandono de recém-nascido (art. 134)
Análise das Elementares O Perigo Não Pode ser Gerado Por Crime Em Andamento Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito. No caso da autoridade/agente policial, ele tem o dever legal de agir, mesmo que estiver de folga/férias. Neste caso a omissão é imprópria, respondendo pelo crime cometido e não pelo 135 O cidadão tem o poder (faculdade) de agir, mas não o dever. Dever de solidariedade e não de heroísmo. Qualquer do povo pode se omitir se o perigo ou ferimento se originar de um crime que está ocorrendo flagrante delito. Se agir legítima defesa de 3º E se puder agir sem risco pessoal (ligar para a polícia, chamar auxílio)? Divergência a doutrina majoritária entende que não caracteriza a omissão de socorro a ausência de solicitação de auxílio, no caso de crime. Passada a situação de crime, voltará a existir o dever de assistência, já que o risco é gerado pelo ferimento/desamparo e não mais pelo crime. Quanto tempo? Razoabilidade. Se não agir? Art. 135
Análise das Elementares 2ª Parte Forma Alternativa de Cometimento ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Qual autoridade pública? Se o agente não socorrer pessoalmente a vítima e também não pedir socorro da autoridade pública, responderá igualmente pela omissão. Aquela com a função própria ou imprópria de assistir no socorro a autoridade que tenha a habilidade/treinamento para cessar o perigo. Ex: Acidente no trânsito polícia, bombeiro, médico, socorrista. Não pode ser qualquer uma. Ex: agente se depara com pessoa acidentada próxima ao fórum e pede auxílio para o promotor.
2ª Parte Forma Alternativa de Cometimento Dever Alternativo ou Subsidiário? O cidadão pode escolher se socorre pessoalmente ou solicita auxílio da autoridade? Não! Dever subsidiário só solicitará auxílio se não puder socorrer imediatamente, sem risco pessoal. Ex: criança se afogando em lago na zona rural. Nesta circunstância o socorro será inócuo, pois levará muito tempo até atender ao chamado. Não basta que o agente solicite assistência pública, ele tem o dever pessoal de salvar a criança. E se não encontrar nenhuma autoridade pública ou pelas circunstâncias seja impossível a chamada de emergência? Não responderá por nada. O dever do cidadão é de assistência e não de evitar o resultado proibido.
Análise das Elementares Exclusão da tipicidade: existência de risco pessoal Não há obrigação de assistência direta, se houver risco pessoal para o agente ou terceiros incêndio, carro prestes a explodir, agente não sabe nadar etc. Nestes casos ainda subsiste o dever subsidiário solicitar assistência pública. Se não conseguir o contato, não responderá por nada. Erro de tipo: Suposição de risco pessoal Pessoa desfalecida na estrada durante a madrugada. Agente não auxilia, por acreditar ser uma emboscada criminosa. Erro escusável/inescusável Excluem o dolo inexistência de modalidade culposa, agente não responderá por nada.
Destaques Momento Consumativo Admite tentativa? Com a efetiva omissão. Não, por se tratar de crime omissivo próprio. Ou se omite ou não se omite. E se o socorro já houver sido suprido por terceiros? Causa de Aumento de Pena Descaracteriza o crime, salvo se o auxílio do agente também for necessário. Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. Forma praeterdolosa agente tem dolo na omissão, mas culpa na lesão grave ou morte. Se resultar lesão leve fica absorvida pelo art. 135
Situações Mais Comuns na Prática Omissão no atendimento médico emergencial (pronto-atendimento) Dever legal do médico, enfermeiro, recepcionista, segurança do estabelecimento de saúde providenciar atendimento imediato para os pacientes graves. Independe de ter plano de saúde ou condições de pagar (discussão posterior na esfera cível). Se simplesmente se omite em prestar o atendimento: Art. 135 Omissão de socorro. TRÊS SITUAÇÕES Se condiciona o atendimento a exigência de garantia (cheque-caução, nota promissória) ou preenchimento prévio de formulários : Art. 135-A Condicionamento de atendimento médicohospitalar emergencial No caso de omissão para pessoa idosa (60 anos ou mais) Art. 97 da Lei 10.741/03 (Estatuto do Idoso)
IMPORTANTE PARA CONCURSO Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pública: Pena detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa. Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. Neste crime, não é só a omissão no socorro. Mas o retardo ou a criação de óbices (dificultar) também são criminalizados. No concurso público: cuidado ao diferenciar a omissão de socorro simples para o delito específico contra idoso
Situações Mais Comuns na Prática Omissão nos acidentes de trânsito Código de Trânsito Brasileiro Art. 304. Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública: Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de crime mais grave. Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos leves.
Se o condutor não se envolver em acidente algum, mas estiver no contexto do trânsito, será aplicada a regra geral. Art. 135 (Omissão de Socorro) do Código Penal. Exemplo: Pessoa dirige seu veículo normalmente e avista no acostamento uma pessoa ferida. Se o condutor se envolver em acidente de trânsito, cujo resultado possa ser lhe atribuído à título de culpa: incidirá a pena do resultado + causa de aumento de pena. Exemplo: Pessoa dirige seu veículo acima da velocidade permitida e colide em outro, causando lesões a vítima. Se não prestar socorro, a pena será (art. 303 CTB) de 6 meses a dois anos + 1/3 ( único) Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de dois a quatro anos 1o No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) à metade, se o agente: III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente; Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de seis meses a dois anos Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do 1o do art. 302.
O artigo 304 do CTB só é aplicável ao agente que se envolva em acidente de trânsito e o resultado não lhe seja atribuível, nem mesmo à título de culpa. Ex: Suicida se joga na frente do veículo em alta velocidade; problema técnico absolutamente extraordinário e imprevisível ocasiona a colisão; outro veículo colide contra o conduzido pelo agente, desviando sua rota e fazendo com que venha a abaloar a vítima. Inconstitucionalidade do único do art. 304 Argumentos: 1º) Dever de solidariedade exagerado 2º) Nemo tenetur se detegere 3º) Ausência de tipicidade material - Se a vítima morreu instantaneamente, se a omissão foi suprida por terceiros ou há apenas ferimentos leves, inexiste bem jurídico a ser tutelado (perigo de grave incremento no risco proibido).
Então como fica? Resumo Motorista que não se envolve em acidente, mas avista pessoa ferida e se omite Motorista se envolve em acidente, no qual se atribui o resultado à titulo de culpa e se omite Motorista se envolve em acidente, no qual não é possível atribuí-lo o resultado nem à título de culpa, e se omite Art. 135 CP Omissão de Socorro. Pena 1 a 6 meses Art. 302 ou 303 CTB + Causa de Aumento de Pena 2 a 4 anos + 1/3 6 meses a 2 anos + 1/3 Art. 304 CTB Pena 6 meses a 1 ano
Omissão nos acidentes de trânsito E se há recusa da vítima em ser socorrida? Subsiste o dever legal de assistência. O agente deverá socorrê-la mesmo contra sua vontade. E se a omissão é derivada de perigo de linchamento? E se a omissão é derivada da inaptidão do agente ou receito de piorar a condição da vítima? Há risco pessoal. Não responderá por nada. Neste caso não há que se falar em omissão de socorro, pois a omissão deriva de um justo motivo. Assim o agente apenas tem o dever de solicitar apoio das autoridades. Ex: imobilização da coluna cervical. Kit médico
Omissão de socorro- Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. Nomen Iuris Objeto Jurídico Sujeito Ativo Sujeito Passivo Elemento Subjetivo Tentativa Forma Culposa Comum, Próprio ou Mão Própria Concurso de Pessoas Participação de Pessoas Forma Livre ou Vinculada Material, Formal ou Mera Conduta Ação Penal Competência Rito Transeunte ou Não Transeunte Crime de Perigo Criança ou Qualquer pessoa (vide explicação)