UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES DLA LICENCIATURA EM LETRAS COM A LÍNGUA INGLESA LITERATURA BRASILEIRA I Professor: Manoel Anchieta Nery JOÃO BOSCO DA SILVA (prof.bosco.uefs@gmail.com) ARCADISMO EM TOMÁS ANTONIO GONZAGA E CLAUDIO MANUEL DA COSTA Análise de Poemas FEIRA DE SANTANA - BAHIA 2008
ARCADISMO NO BRASIL: Por volta de 1750, os colonos não podiam pagar os impostos em ouro estabelecidos pela metrópole, despertando a necessidade da busca da independência do Brasil, desencadeando uma serie de revoltas e a intelectualidade colonial brasileira seria uma das responsáveis por ela. O Arcadismo, no Brasil, determina a nascente valorização da obra literária, que começa a tomar rumos de caráter nacional, diferente dos modelos europeus, com um maior sentimento nativista de apego à terra brasileira e a simplicidade de expressar a natureza. Com a publicação de Obras poéticas, de Cláudio Manoel da Costa, em 1768, tem inicio o Arcadismo no Brasil. Destacam-se ainda em Ouro Preto (palco da Inconfidência Mineira) os principais escritores do Arcadismo brasileiro: Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Basílio da Gama, Silva Alvarenga e Frei José de Santa Rita Durão. Neste trabalho nós vamos fazer uma pequena análise dos poetas Tomás e Cláudio. Tomás Antonio Gonzaga (1744 1810) Obras: Marília de Dirceu ( 1º parte 1792; 2º parte-1799) Cartas chilenas (1845) Cláudio Manoel da Costa (1729 1789) - Obras: Obras poéticas (1768) Vila Rica (1773) O Arcadismo no Brasil foi marcado pelos escritores brasileiros do século XVIII, que, ao mesmo tempo, seguiam os modelos culturais europeus e a natureza e problemas do Brasil, influenciados pelas idéias iluministas, que acarretaram a Inconfidência Mineira, com prisões, mortes, exílios, e enforcamentos. O seu aparecimento foi causado principalmente pelo grande crescimento urbano em Minas no século XVIII, cuja base econômica era o ouro. (1) MARÍLIA DE DIRCEU: LIRA I ANÁLISE DE POEMAS Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, que viva de guardar alheio gado, de tosco trato, de expressões grosseiro, dos frios gelos e dos sóis queimado. Tenho próprio casal e nele assisto; dá-me vinho, legume, fruta, azeite; das brancas ovelhinhas tiro o leite e mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Mar flua bela, graças à minha estrela! Eu vi o meu semblante numa fonte: dos anos inda não está cortado; Os pastores que habitam este monte Respeitam o poder do meu cajado. Com tal destreza toco a sanfoninha, que inveja até me tem o próprio Alceste: ao som dela concerto a voz celeste, nem canto letra que não seja minha. graças, Marília bela, graças à minha estrela! (Tomás Antônio Gonzaga)
Existe a exaltação da vida pastoril, geradora da felicidade e a da beleza, num registro do Arcadismo, quando Tomás Antonio Gonzaga se refere como pastor, e a sua musa como pastora. Mostrando sensibilidade artística, o refrão denota a satisfação do poeta com o seu próprio destino: Graças, Marília bela, / Graças à minha estrela. O orgulho da posse e propriedade da terra deixa claro que o poeta quer expressar a sua condição de superioridade sobre o vaqueiro, depreciando-o no verso: o vaqueiro que viva de guardar alheio gado. Em alguns momentos percebe-se o realismo descritivo das imagens rústicas da vida da Colônia. Portanto, na LIRA I o poema predomina as características arcádicas, em que o pastor Dirceu celebra a beleza de Marília, denotando gosto pelo verso leve e fácil, com uma refinada simplicidade neoclássica e uma seqüência de palavras diretas e espontâneas, com bonitas imagens e alegorias mitológicas, alternando os versos decassilábicos e hexassilábicos e uso do refrão e versos brancos. São versificação pouco variada, com acentuação na 2ª e 5ª sílabas. (2) Temei, Penhas... Destes penhascos fez a natureza O berço em que nasci: oh! quem cuidara Que entre penhas tão duras se criara Uma alma terna, um peito sem dureza! Amor, que vence os tigres, por empresa Tomou logo render-me; ele declara Contra meu coração guerra tão rara Que não me foi bastante a fortaleza. Por mais que eu mesmo conhecesse o dano A que dava ocasião minha brandura, Nunca pude fugir ao cego engano; Vós que ostentais a condição mais dura, Temei, penhas, temei: que Amor tirano Onde há mais resistência mais se apura. Claudio usava o pseudônimo árcade de Glauceste Satúrnio, um pastor que se inspirava em sua musa Nise. A exemplo de Gonzaga, é patente também a exaltação da vida pastoril característica do Arcadismo, com muitas citações e paisagens naturais. O poeta tem como interlocutores e companhia o seu gado, as árvores e a relva, que sofreram mudanças e transformaram a antiga gente do lugar. Demonstra compromisso ao jurar falsamente o próprio destino, oferecendo-se para consolar a todos pelos maus sofridos, num melancólico tormento, que antes era puro prazer. Percebe-se que as suas poesias ainda apresentam indícios do Quinhentismo e do Barroco. (03) Soneto IV Sou pastor; não te nego; os meus montados São esses, que aí vês; vivo contente Ao trazer entre a relva florescente A doce companhia dos meus gados;
Ali me ouvem os troncos namorados, Em que se transformou a antiga gente; Qualquer deles o seu estrago sente; Como eu sinto também os meus cuidados. Vós, ó troncos, (lhes digo) que algum dia Firmes vos contemplastes, e seguros Nos braços de uma bela companhia; Consolai-vos comigo, ó troncos duros; Que eu alegre algum tempo assim me via; E hoje os tratos de Amor choro perjuros. Continua patente a exaltação da vida pastoril característica do Arcadismo, com muitas citações e paisagens naturais. Agora o poeta tem como interlocutores e companhia o seu gado, as árvores e a relva, que sofreram mudanças e transformaram a antiga gente do lugar. Demonstra compromisso ao jurar falsamente o próprio destino, oferecendo-se para consolar a todos pelos maus sofridos, num melancólico tormento, que antes era puro prazer. (04) Soneto V Se sou pobre pastor, se não governo Reinos, nações, províncias, mundo, e gentes; Se em frio, calma, e chuvas inclementes Passo o verão, outono, estio, inverno; Nem por isso trocara o abrigo terno Desta choça, em que vivo, coas enchentes Dessa grande fortuna: assaz presentes Tenho as paixões desse tormento eterno. Adorar as traições, amar o engano, Ouvir dos lastimosos o gemido, Passar aflito o dia, o mês, e o ano; Seja embora prazer; que a meu ouvido Soa melhor a voz do desengano, Que da torpe lisonja o infame ruído. Seguindo a exaltação da vida pastoril característica do Arcadismo, o poeta mostrando sensibilidade artística e satisfação pelo próprio destino, mostrando que, mesmo sendo pobre sede bens, o clima, os dias passam. As paixões o transformam em tormento eterno. Tudo isso para ele é prazer, que lhe falam como desengano, num torpe ruído.
(05) Soneto VII Onde estou? Este sítio desconheço: Quem fez tão diferente aquele prado? Tudo outra natureza tem tomado E em contemplá-lo, tímido, esmoreço. Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço De estar a ela um dia reclinado; Ali em vale um monte está mudado: Quanto pode dos anos o progresso! Árvores aqui vi tão florescentes, Que faziam perpétua a primavera: Nem troncos vejo agora decadentes. Eu me engano: a região esta não era; Mas que venho a estranhar, se estão presentes Meus males, com que tudo degenera! Continua exaltando a vida pastoril, sensibilidade artística e satisfação pelo próprio destino, constatando que a mudança, para pior, do ambiente físico exterior onde ele vivia, coincide com os seus próprios males interiores.