Efeito do Despendoamento e da Desfolha na Produtividade de Milho Híbrido e na Qualidade Fisiológica das Sementes



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Transcrição:

Efeito do Despendoamento e da Desfolha na Produtividade de Milho Híbrido e na Qualidade Fisiológica das Sementes FAGIOLI, M. 1, SOUZA, N.O.S. 1 e COSTA, E.N. 2 1 Prof. Dr. do Curso de Agronomia da FAV/UnB, Asa Norte, 70.910-900, Brasília-DF - mfagioli@unb.br. 2 Estudante de Agronomia - UNIPAM - Patos de Minas-MG. Palavras-chave: Zea mays L., despendoamento, perda de folhas, qualidade de sementes de milho, produção. 1. Revisão Bibliográfica O milho (Zea mays L.) é uma das principais culturas do Brasil, cultivadas para a produção de grãos secos, na sua grande parte, em pequenas áreas e com baixa produtividade. Os fatores responsáveis por esses baixos rendimentos estão associados às práticas culturais e aos cultivares adotado pelos agricultores (SANGOI et al., 2001, 2002). Na obtenção de híbridos o despendoamento de plantas de milho é uma prática largamente utilizada para o controle dos cruzamentos. A planta despendoada ou emasculada torna-se apenas receptora de grão-de-pólen, sendo considerada feminina. Na relação fonte e dreno em plantas de milho alguns fatores que podem modificar drasticamente essas relações e interferir na distribuição e acúmulo de matéria seca da planta são: a densidade de semeadura e a desfolha durante a fase de florescimento. O incremento na população de plantas por área promove maior competição intra-específica pelos recursos do ambiente, reduzindo a área foliar e aumentando o sombreamento na comunidade (SALVADOR, 1998). Ambas as características reduzem a quantidade de radiação fotossinteticamente ativa, alterando a taxa e duração do período de enchimento dos grãos (SANGOI et al., 2001, 2002). Pesquisas com despendoamento do milho acompanhado de perdas de folhas superiores também têm produzido resultados similares, com diminuição na qualidade das sementes (WILHELM et al., 1995), bem como redução na produção (CRAIG, 1988). Esses autores afirmam que as folhas retiradas nesse tipo de despendoamento representam significante perda de fonte de fotoassimilados e nitrogênio para os grãos em desenvolvimento. A área foliar por planta é um dos principais fatores que determina a força (tamanho) da fonte (MAGALHÃES et al., 1999). A maior sensibilidade à variação luminosa é verificada no início da fase reprodutiva, ou seja, no período correspondente aos primeiros 10 a 15 dias após florescimento. Nesta fase a redução da disponibilidade de radiação luminosa ocasiona a redução da densidade dos grãos (massa específica) (FANCELLI, 2000). A disponibilidade de luz para cultura é também reduzida pela presença de estrutura nãofotossintetizadora como as panículas do milho que podem interceptar até 9% da radiação luminosa em lavouras apresentando 50.000 plantas por hectare (MAGALHÃES et al., 1999). A velocidade com que o milho se desenvolve da emergência até a antese pode interferir na determinação de práticas de manejo importantes para cultura, tais contrastes podem estar vinculados a diferenças na atividade fotossintética das folhas, da longevidade foliar, na capacidade de remobilização de reservas do colmo para os grãos e na demanda competitiva exercida por outras estruturas na fase reprodutivas da planta (TOLLENAAR et al., 1994). A redução da atividade fisiológica das principais fontes produtoras de carboidratos causadas pela desfolha na fase reprodutiva interfere na redistribuição de solúveis que serão utilizados posteriormente na formação dos grãos (DOURADO, 2000). 1792

A retirada de folhas superiores das plantas de milho, quando a cultura apresenta 50% das panículas em fase de polinização, ocasiona queda na produção em virtude da redução do peso de espigas, redução do peso de grãos bem como o referido estresse afeta a qualidade fisiológica das sementes (MAGALHÃES et al., 1999). A fotossíntese realizada pelos tecidos que formam a espiga contribui muito pouco para reposição de material nos grãos em virtude de sua área fotossintetizadora (FANCELLI, 2000). Estudos têm mostrado que a desfolha do milho reduz o rendimento de grãos, altura da planta e a percentagem de proteína do grão (JONHSON et al., 1998). O despendoamento ou emasculação pode favorecer ou prejudicar a planta, dependendo do método utilizado. Por exemplo, a retirada pura e simples do pendão, que é um forte dreno, pode favorecer a planta, uma vez que diminui a concorrência por fotoassimilados. O arranquio do cartucho (pendão + folhas envoltórias) pode resultar em prejuízo à planta, porque normalmente ocorre uma perda de 4 a 5 folhas superiores. Dessa forma, o balanceamento da relação fonte e dreno, em milho é muito importante, pois um desequilíbrio nessa relação pode afetar diretamente a produção de grãos (TOLLENAAR, 1977). Vários autores (Schwanke, 1965; Hunter et al., 1969; Mosterd; Morais, 1982; Craig, 1988 apud MAGALHÃES et al., 1999) têm relatado aumento no rendimento de grãos, quando o pendão é removido pouco antes da emissão dos estilo-estigmas. Isto é devido, provavelmente, ao pendão ser um forte dreno, podendo carrear uma expressiva quantidade de fotoassimilados. A macho-esterilidade afeta a competição por carboidratos entre pendão e a espiga. Duncan et al. (1967) e Hunter et al. (1969) apud Magalhães et al. (1999) confirmaram que grande proporção da resposta positiva ao rendimento de grãos, devido ao despendoamento, foi resultado da eliminação da interceptação de luz pelo pendão. O pendão chega a sombrear as folhas superiores em até 20%. Atualmente, três métodos vêm sendo utilizados na eliminação do pendão: manual (tradicional ou pendão limpo), mecânico e o arranquio do cartucho no qual pode haver uma perda de até 4 a 5 folhas. Resultados experimentais têm mostrado que, entre as folhas superiores e inferiores, as primeiras tem uma contribuição mais significativa para a produção de sementes (WATSON, 1966). Desta maneira o presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito do despendoamento e a desfolha (perda de folhas superiores e inferiores) na produtividade em plantas de milho híbrido e a qualidade fisiológica (germinação e vigor) nas suas sementes. 2. Material e Métodos 2.1. Localização do experimento: o trabalho de campo foi instalado na Fazenda Tapuio, do proprietário Pedro Da Silveira Machado, no município de Guarda Mor-MG e no Laboratório de Sementes da Faculdade de Ciências Agrárias do Centro Universitário de Patos de Minas - UNIPAM. 2.2. Genótipo utilizado: foi utilizado o milho híbrido simples A-2555, da empresa produtora Nidera Sementes. 2.3. Época de instalação e práticas culturais: a área foi semeada manualmente em 05/01/2008, no espaçamento de 0,70 m entrelinhas e 4 sementes por metro linear, A adubação de semeadura adotada foi de 400 kg ha -1 da fórmula 4-30-16 e cobertura nitrogenada com 100 kg ha -1 de uréia, com base seguida pela 5ª aproximação para a cultura do milho (ALVES et al., 1999). O tratamento de sementes foi realizado com Caboxin-Thiram na dose de 200 ml 20 kg -1 (fungicida) e Thiodicarb na dose de 300 ml 20 kg -1 (inseticida). O manejo das plantas daninhas nas parcelas procedeu-se até a maturação dos grãos, com capina manual. O experimento foi conduzido em condições de sequeiro. 1793

2.4. Descrição dos tratamentos e montagem no campo: o despendoamento e a desfolha das plantas ocorreram no estádio fenológico R1. Os tratamentos foram os seguintes: 1) Remoção somente do pendão (RP); 2) Remoção do pendão no cartucho (com 3 folhas enroladas) (RPF); 3) Remoção do pendão e das folhas até a espiga (RPE); 4) Remoção do pendão e 3 folhas abaixo da espiga (RPFE); 5) Testemunha (plantas não despendoadas e não desfolhadas) (TSDD). 2.5. Colheita debulha e pesagem dos grãos: a colheita foi manual (05/05/2008), depois da secagem das espigas estas foram desempalhadas e debulhadas manualmente, para evitar danos e perdas durante a operação. Cada parcela foi ensacada e identificada. Para pesagem foi utilizada balança eletrônica, com precisão de quatro casa decimais. Foi realizada a determinação do teor de água dos grãos pelo método padrão em estufa a 105±3 C por 24 horas (BRASIL, 1992), obtendo 18,9% na média das parcelas, posteriormente os valores de produtividade foram corrigidos para 13% (base úmida). 2.6. Avaliações de laboratório: 2.6.1. Teste padrão de germinação em substrato papel e areia (TPG): para cada tratamento foram utilizadas 4 repetições de 50 sementes, em rolo de papel e em areia, umedecidos com água, na proporção de duas e meia vezes o peso do substrato, mantido a temperatura constante de 25ºC. No quinto dia da instalação dos testes foi realizada a contagem de plântulas normais, segundo critérios de avaliação estabelecidos nas Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 1992), sendo os resultados expressos em porcentagem. 2.6.2. Vigor - índice de velocidade de germinação e emergência (IVG ou IVE): foi obtido seguindo-se as recomendações de Nakagawa (1994; 1999), em que foi computado o número de plântulas normais da primeira até a última contagem junto com o respectivo dia da contagem, esses valores foram aplicados dia-a-dia na fórmula (1) para se obter a média dentro de cada repetição. 2.6.3. Vigor - comprimento das plântulas (CP): foi obtido seguindo-se as recomendações de Nakagawa (1994; 1999) medindo-se a plântula completa (raiz e parte aérea) dentro de cada repetição e obtendo a média, na unidade cm plântula -1. 2.6.4. Emergência de plântulas em campo (EC): a semeadura foi realizada manualmente em sulcos espaçados de 15 cm, com 4 repetições de 50 sementes para cada tratamento, sendo as parcelas distribuídas ao acaso. A contagem das plântulas emersas foi realizada aos 10 dias da semeadura (NAKAGAWA, 1994; 1999), com o resultado expresso em percentagem. As condições de emergência serão próximas da ótima com temperatura em torno 25-30ºC e umidade controlada por irrigação. 2.7. Avaliação de campo: as espigas foram colhidas, desempalhadas e colocadas para secagem. Após secagem as espigas foram debulhadas manualmente e foi determinado o teor de água dos grãos, para obtenção da produtividade por parcela, dada em kg parcela -1, depois em kg ha -1. 2.8. Análise estatística: os tratamentos foram montados em campo utilizando um delineamento em blocos ao acaso, com 4 repetições. Utilizou-se do esquema de variância, para a interpretação dos resultados, sendo as médias dos tratamentos comparadas pelo teste de Tukey, em nível de 5% de probabilidade (BANZATTO; KRONKA, 1995). 3. Resultados e Discussão Ao analisar os dados da Tabela 1 verificou-se que existiram diferenças significativas (P<0,05) entre os tratamentos na germinação em papel, índice de velocidade de germinação e comprimento de plântulas, sendo o melhor tratamento a testemunha e o pior o T3 (remoção do 1794

pendão e das folhas até a espiga). Apenas a germinação em areia não diferiu significativamente (P>0,05). Na Tabela 2 as três avaliações diferiram na estatística (P<0,05). Tabela 1. Médias de germinação, em papel e em areia, dada em %, índice de velocidade de germinação (IVG-Areia) e comprimento de plântulas, cm plântulas -1, de milho híbrido simples A-2555, tratadas ou não com despendoamento e desfolha, (FACIAGRA- UNIPAM, 2008). TRATAMENTO GERMINAÇÃO PAPEL AREIA IVG-Areia COMPRIMENTO ----- % ----- cm plântulas -1 1) RP 1 84 a 1 75 a 13,6 ab 26,67 ab 2) RPF 65 b 63 a 9,8 c 25,14 b 3) RPE 56 b 56 a 8,8 c 20,35 c 4) RPFE 65 b 60 a 11,2 c 25,74 b 5) TSDD 87 a 81 a 14,6 a 30,32 a Teste F tratamento Teste F bloco 13,65** 0,10 NS 3,22 NS 1,12 NS 11,40** 1,42 NS 14,18** 1,85 NS DMS (5%) 16,80 26,30 3,30 4,28 CV (%) 10,51 17,47 12,65 7,41 1 Tratamentos: 1) Remoção do pendão; 2) Remoção do pendão no cartucho; 3) Remoção do pendão e das folhas até a espiga; 4) Remoção do pendão e 3 folhas abaixo da espiga; 5) Testemunha (plantas não despendoadas e não desfolhadas). 2 Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey em nível de 5% de probabilidade. Tabela 2. Médias de emergência de plântulas em campo, em caixa de areia e terra (2:1), dada em %, índice de velocidade de emergência (IVE) e comprimento de plântulas, cm plântulas -1, de milho híbrido simples A-2555, tratadas ou não com despendoamento e desfolha, (FACIAGRA-UNIPAM, 2008). TRATAMENTO EMERGÊNCIA IVE COMPRIMENTO ----- % ----- cm plântulas -1 1) RP 1 69 b 2 11,1 b 27,30 ab 2) RPF 54 c 8,2 c 20,96 c 3) RPE 61 bc 8,5 c 25,06 bc 4) RPFE 64 b 10,0 bc 29,67 ab 5) TSDD 88 a 15,7 a 30,70 a Teste F tratamento Teste F bloco 39,26** 0,49 NS 37,92** 0,20 NS 8,43** 0,31 NS DMS (5%) 9,26 2,20 6,06 CV (%) 6,12 9,11 10,06 1 Tratamentos: 1) Remoção do pendão; 2) Remoção do pendão no cartucho; 3) Remoção do pendão e das folhas até a espiga; 4) Remoção do pendão e 3 folhas abaixo da espiga; 5) Testemunha (plantas não despendoadas e não desfolhadas). 2 Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey em nível de 5% de probabilidade. A produtividade (Tabela 3) diferiu estatisticamente (P<0,05), sendo que a testemunha (T5) apresentou o maior valor seguido do T1 (remoção apenas do pendão limpo), e o valor mais baixo foi apresentado pelo tratamento T2 (remoção do pendão no cartucho - com as folhas envolvidas). 1795

Tabela 3. Médias da produtividade, em kg parcela -1, e convertidas em kg ha -1, do milho híbrido simples A-2555, tratadas ou não com despendoamento e desfolha, (FACIAGRA- UNIPAM, 2008). TRATAMENTO PRODUTIVIDADE kg parcela -1 kg ha -1 1) RP 1 1,702 ab 2 6.078 2) RPF 1,513 c 5.403 3) RPE 1,303 d 4.653 4) RPFE 1,590 bc 5.678 5) TSDD 1,805 a 6.446 Teste F tratamento Teste F bloco 53,34** 2,02 NS DMS (5%) 0, 172 CV (%) 3,31 1 Tratamentos: 1) Remoção do pendão; 2) Remoção do pendão no cartucho; 3) Remoção do pendão e das folhas até a espiga; 4) Remoção do pendão e 3 folhas abaixo da espiga; 5) Testemunha (plantas não despendoadas e não desfolhadas). 2 Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey em nível de 5% de probabilidade. Mesmo sendo considerado por Watson (1966) como uma das formas aceitas tecnicamente na eliminação do pendão da planta de milho. A retirada de folhas junto com o pendão prejudicou a germinação em papel, o índice de velocidade, a emergência das plântulas em campo e na produtividade da área, dados estes que corroboram com Tollenaar et al. (1994) que indicou que a retirada do pendão e folhas provoca um balanceamento da relação fonte e dreno, em milho é muito importante, pois um desequilíbrio nessa relação pode afetar diretamente a produção de grãos. 4. Conclusões Pela interpretação dos resultados pode-se concluir que: 1 - O despendoamento e/ou a desfolha interferem na qualidade fisiológica das sementes de milho quando comparada com plantas não despendoadas/desfolhadas, com exceção da germinação feita em areia; 2 - O despendoamento interfere na relação fonte/dreno da planta e reflete diretamente na produtividade de grãos quando comparada com plantas não despendoadas/desfolhadas; 3 - O despendoamento sem a retirada de folhas pode ser o mais indicado para campos de sementes. 5. Literatura Citada ALVES, V.M.C.; VASCONCELLOS, C.A.; FREIRE, F.M.; PITTA, G.V.E.; FRANÇA, G.E.; RODRIGUES-FILHO, A.; ARAÚJO, J.M.; VIEIRA, J.R.; LOUREIRO, J.E. Milho. In: RIBEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G.; ALVAREZ-V.; V.H. (Ed.). Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais: 5 a aproximação. Viçosa: CFSEMG, 1999. p.314-316. ARGENTA, G. SILVA, P.R.; BORTOLINI, C.G.; FORSTHOFER, E.L.; MANJABOSCO, E.A.; BEHEREGARAY-NETO, V. Resposta de híbridos simples de milho à redução do espaçamento entre linhas. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.36, n.1, p.71-78, 2001. 1796

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