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Transcrição:

Marido de Aluguel p. 37 Ágora revista Guarapuava - 2011 - Ed 7. Ano 07

Abaporu (1929), de Tarsila Amaral índice poker face blefe, astúcia e um 04 música velhas virgens: independentes e quase 12 famosos educação cotidiano grafite kitnet comportamento cotidiano ciência criminal tempo eu que fiz RG eu que fiz expediente pouco de sorte para quem tem sede de conhecimento o nome da rua em um lugar qualquer eu desenho um sol amarelo S. o. s. marido é possível ser feliz sozinho a propaganda de ontem e hoje química forense: muito além do csi o tempo existe? valdoni ribeiro batista mar adento matheus coelho lemos equipe ágora 18 23 30 37 42 52 58 70 76 80 81 82 editorial sexo frágil? Já parou pra pensar o quanto o sucesso feminino incomoda o homem? Agora, a chamada mulher moderna é uma ameaça para a postura machista. O movimento feminista de algumas décadas atrás e a liberdade sexual ascenderam o poder do salto alto, ao ponto de nós fazermos o papel do homem seja na carreira profissional, nas manutenções da casa e até em um relacionamento. O fato é que cada vez mais, nós mulheres ocupamos espaços antes limitados somente aos homens, em profissões e cargos onde não havia representação alguma do tal sexo frágil. As lutas pela igualdade dos sexos somente ganhou voz, quando o argumento da capacidade de produzir saiu de cena. Não haveria protestos capazes de mudar os paradigmas sociais se nós não provássemos o quanto somos trabalhadoras, dedicadas e produtivas, ainda que em cima de um salto 15. Com a presença feminina cada vez mais destacada, as donas de casa começaram a sair de seus lares e abdicar a tutela do homem, conciliando uma carreira profissional promissora com os cargos da vida pessoal. O que antes era definido como um obstáculo, hoje é nomeado como um grande desafio. E aos poucos, aquela tradicional característica da força física do trabalhador perdeu espaço para a capacidade de aprendizado e gerenciamento da mulher. Com isso, a vantagem do homem sobre a mulher passou a inexistir. O fato é que os conceitos sociais evoluíram deixando pra trás a velha atitude de submissão da mulher, do século passado. Esta liberdade despertou não apenas a poder de competitividade feminina, mas serviu em meio a preconceitos para questionar finalmente quem é o sexo frágil na sociedade do conhecimento.

poker face Blefe, astúcia poker face e um pouco de Blefe, sorte astúcia Matéria: Giovani Ciquelero Matéria: Giovani Ciquelero poker face Blefe, astúcia poker face Blefe, e um pouco de sorte astúcia e um pouco de Matéria: Giovani Ciquelero e um pouco de sorte sorte Matéria: Giovani Ciquelero Saindo dos cassinos e deixando para trás o estigma de jogo de azar, o poker traz sorte a quem combina blefe e raciocínio rápido Um esporte da mente, onde o vencedor se destaca por sua capacidade de tomar decisões rápidas, pensar em estratégias, figurar expressões, blefar e esconder as emoções dos adversários. Muitos vão falar que se trata de xadrez, damas ou algum outro esporte de tabuleiro, mas se trata do poker. Em abril do ano passado, na reunião anual da Associação Internacional dos Esportes da Mente, foi anunciado o reconhecimento do poker como um esporte mental, o que coloca a atividade ao lado de esportes como bridge, xadrez, damas e jogos de estratégia e de domínio de territórios. Durante muito tempo considerado jogo de azar e restrito a cassinos e a pequenos clubes, o poker saiu dos porões e nas últimas décadas vem crescendo graças a grandes campeonatos televisionados e a internet, que possibilita ao jogador disputar torneios com pessoas do mundo inteiro com dinheiro fictício ou não. Essa possibilidade de ganhar dinheiro no poker online, viver como um profissional no esporte sem precisar sair de casa ou apenas usá-lo como lazer é o que atrai cada vez mais pessoas a estudar as regras, jogadas e a leituras específicas desse esporte. UMA GRANA EXTRA NÃO FAZ MAL A NINGUÉM Esse é o pensamento de Lucas Mariscal: não deixar que o poker se torne mais do que um hobby. Ele foi apresentado ao esporte há três anos, mas passou a se dedicar mais quando conhe- 04 05

MARISCAL não abre mão de sua boina rosa enquanto disputa um torneio de poker ceu o jogo online, onde não precisa investir seu próprio dinheiro e pode até ganhar mais do que em um torneio presencial. Sem emprego, ele conciliou em 2011 o último ano de Publicidade e Propaganda com o hobby das horas vagas. E garante que o poker não atrapalhou os estudos. São os trabalhos de faculdade que interferem no meu poker... [risos]. Nunca fiquei com matéria pendente, consigo levar numa boa. Mariscal não tem muito controle dos ganhos, mas conta que sempre acaba lucrando um pouco. Em 2011, faturou cerca de 145 dólares (algo em torno de 230 reais), dinheiro extra que serve para comprar pequenas coisas como livros e roupas... Já paguei uma viagem e neste ultimos meses tenho almoçado e jantado com esse dinheiro. Nada muito caro, mas que já ajuda e faz diferença, afinal, uma graninha extra não faz mal a ninguém. FEITOS UM PARA O OUTRO Uma paixão que surgiu durante a faculdade e que se tornou profissão, assim aconteceu na vida de Flávio Castilho. Publicitário formado, ele se mudou com um amigo de Guarapuava para Curitiba atrás de oportunidades na área da Propaganda. As oportunidades vieram, mas de onde ele menos esperava. O que antes era um passatempo em casa, virou profissão. Flávio trabalha como dealer (encarregado de distribuir as cartas e manter as regras na mesa) na Liga Curitibana de Poker. Acho que sou um publicitário frustrado e um apaixonado por poker. Ainda estou indeciso sobre o que seguir como profissão, pois faço o que gosto e ganho um salário melhor ou próximo ao de um publicitário jogando online e trabalhando de dealer. Mesmo jogando frequentemente há três anos, Flávio conta que, assim como em outros esportes, a prática e treino são fundamentais para se tornar realmente bom. Além disso, lidar com o preconceito e a falta de informação sobre o esporte atrapalha. Isso é engraçado. quando o Messi fica após os treinos batendo falta ele é uma pessoa dedicada e um exemplo de profissional, mas quando um jogador de poker fica jogando oito horas um torneio extremamente técnico e demorado em um clube ou online ele é um vagabundo desocupado. Chegar em casa depois do trabalho e ir jogar poker já virou tão rotineiro quanto ligar a televisão. Dependendo do torneio, Flávio adentra a madrugada na frente do notebook, o qual comprou com dinheiro fruto das vitórias nas mesas de poker. Além 06 07

Gastar em um clube de poker pode ser comparado a ir no cinema ou no bar com seus amigos. é lazer do mesmo jeito. do computador, o lucro é gasto em festas e viagens e ele faz questão de não contar com o sucesso nas mesas para pagar as contas. O dinheiro que eu ganho é um extra, para falar bem a verdade e claro que é muito bem vindo. Trabalhando na área e vivendo do poker, ele não descarta levar o esporte mais a sério, a nível profissional. É muito difícil explicar para as pessoas que não jogam que atualmente é possível ser um jogador profissional de poker, mas não descarto. Precisaria de mais tempo livre para estudar e praticar para mostrar resultados e conseguir patrocínios. Como grande exemplo de que o poker não é um jogo de azar ou sorte, ele cita Phil Hellmuth, estadunidense que ganhou onze séries mundiais: Ganhar tantas vezes seria muita sorte, né? [risos]. UM PROFISSIONAL DO POKER É como se define Pedro Nacke: um profissional no poker. Aos 24 anos, cinco deles dedicados ao esporte, ele realmente tem uma rotina de trabalho com o poker online. Joga oito horas por dia e nos finais de semana, devido ao maior número de jogadores e torneios na rede, chega a ficar 15 horas na frente do computador. Poker no momento é minha faculdade e meu trabalho. Passo mais tempo no online, pois possibilita jogar múltiplos torneios ao mesmo tempo e pela diversidade de torneios disponíveis diariamente. Poker no momento é minha faculdade e meu trabalho 08 09

Can t read my... No he can t read my Para chegar nesse nível, Pedro conta que, além de praticar, lê diversos sites com artigos e matérias sobre poker para conseguir manter o salário. Tudo o que preciso no dia-a-dia que seria pago como um salário normal venho conseguindo nesses cinco anos, tirando o fato de que economizo alguns gastos por ainda morar em casa com os meus pais. Entre os gastos de Pedro estão bens de primeira necessidade, como roupas e calçados, até viagens e uma moto comprada no ano passado. Pedro sente orgulho de falar que pratica um esporte que exige raciocínio e inteligência, e ainda brinca. Cada dia levo mais a sério, tentando evoluir mais nesse esporte que é pouco reconhecido, mas tem tudo pra mudar agora que ele deixou de ser um jogo de azar pra ser um esporte da mente, quem mente mais ganha! [risos]. poker face... NA REDE Responsável pela popularização do esporte no mundo, o poker online cresce em larga escada. Segundo a Christiansen Capital Advisors, empresa de consultoria e pesquisa da indústria do lazer e entretenimento, existem mais de 500 sites dedicados a torneios de poker e que movimentam cerca de 2,4 bilhões por ano*. * Dados de 2005. 10 11

música A maior banda independente do Brasil, é assim que se intitula a Velhas Virgens, banda paulistana que ficou conhecida por suas letras sarcásticas de cunho sexual e alcoólico envoltas em Rock n Roll e um pouco de blues. Formado em 1986, o grupo tem doze discos lançados e, gradualmente, consolidou seu espaço no cenário alternativo nacional, mesmo sem tocar em rádios ou ter grandes empresas dando estrutura. Em 2011, a Velhas completou 25 anos e pelo segundo ano consecutivo veio a Guarapuava se apresentar. Paulo Carvalho e Alexandre Dias, membros fundadores da banda e mais conhecidos como Paulão e Cavalo, respectivamente, me receberam na tarde que antecedeu o show e toparam responder algumas perguntas sobre a carreira, a independência e a Velhas, é claro. Matéria: Giovani Ciquelero indepen dentes e quase famosos 12 13

Ágora: A Velhas Virgens é hoje uma grande referência do rock e blues dentro do Brasil e sempre foi marcada pelas letras mais sarcásticas e debochadas. Por não ter essa autocensura acabaram restritos a um cenário mais independente. Valeu a pena? Cavalo: A gente pensou nela como uma banda que fosse transgressora mesmo, que fosse pra fazer o que a gente queria e pensar nela como um soco na cara da sociedade. Todo mundo ta falando de amorzinho, tem bandas políticas, mas não tem uma banda que fala de sexo, drogas e rock n roll como era antigamente. Essa é uma coisa que a gente faz bem, o Paulão faz letras ótimas e nós resolvemos que esse era o caminho mesmo. Desde 1992, quando pensamos nisso, temos seguido a risca. Talvez pro próximo disco a gente misture mais ritmos, com a experiência do Carnavelhas a gente descobriu uma outra vertente nossa, misturando o popular, marchinha, xaxado e estamos incorporando um pouco disso. Agora a gente já pode ousar mais com um repertório e uma carreira construída. Paulão: Tocando o tipo de coisa que a gente toca, com o tipo de letra que a gente tem, as pessoas não tão atrás de botar a gente no Faustão, não dá pra gente tocar na festa da vovó. Mas a verdade é que a gente sempre teve a atitude de prezar pela qualidade do nosso trabalho e decidir como ele é. Se alguém algum dia quiser contratar a gente e der carta branca pra fazer do nosso jeito, a gente vai. Não temos nenhum problema quanto à estrutura, o que a gente não aceita é que botem o dedo no nosso trabalho. Você citou o álbum Carnavelhas II, como foi a experiência de ritmos nesse álbum que homenageia São Paulo? Cavalo: Esse Carnavelhas II é uma homenagem a São Paulo e ao Adoniran Barbosa no ano do seu centenário. Foi um trabalho muito bem visto pela mídia, a gente foi chamado pro Prêmio de Música Popular Brasileira, coisas que a gente nunca teve no rock começou a ter na música popular. Foi engraçado, porque no rock meio que desconsideram a gente por tocar em festa que tem pagode, axé, festas universitárias, onde, geralmente, não tem banda de rock. Mas o rock pode ser popular também, não precisa ser algo elitizado, ou uma coisa muito underground. Apesar de a gente ser independente, ficamos em uma espécie de limbo, não somos nem mainstream e nem underground. Os dois lados olham torto pra gente, isso é engraçado. O que vocês prepararam para a comemoração dos 25 anos de banda? Cavalo: Vamos lançar um DVD e um CD de 25 anos. O DVD é um show gravado no Opinião em Porto Alegre e junto com ele vem um CD duplo. Esse álbum é metade acústico e metade elétrico. Além disso, estamos fazendo um novo gibi; a cerveja das Velhas Virgens deve sair até o começo do ano e mais um monte de outras amigos e fundadores da velhas virgens, Cavalo e Paulão são os únicos da formação Orgiginal coisas, calcinha, camiseta, etc.; tudo pra comemorar os 25 anos da banda. Como vocês avaliam a cena independente no Brasil? Mudou muito de 1986 pra cá? Cavalo: Mudou muito porque hoje a internet é muito forte. O cara monta a banda, começa a divulgar e não precisa de dinheiro pra isso. Em 1990, gravar um álbum não era tão fácil, pra divulgar a banda demorava um pouco mais e talvez nesse um pouco mais elas amadurecessem melhor. Hoje não dá tempo da banda se achar, achar um estilo. Sai muita porcaria, mas também sai muita coisa boa. Na quantidade acaba saindo qualidade, mas precisa peneirar. Paulão: A internet salvou a gente em 1998, porque se abriu uma janela para falar com as pessoas sem ter que depender de mídia ou pagar jabá. Hoje está até exagerado, uma banda ensaia meia música, bota no Youtube e faz com que os caras estourem muito rápido, às vezes nem estão maduros ainda e isso pode ser ruim. É um mecanismo que não depende de grana, não depende de grandes grupos pra conseguir algo, nisso é legal, a internet é bem democrática. Nesses 25 anos, uma coisa que marcou bastante a banda, fora as letras e o estilo, foram as várias mudanças de formação. A que se deve isso? Paulão: Isso é uma coisa muito séria. Banda de rock, pra gente, sempre foi uma coisa de brodagem, de time, mas acontece e, basicamente, algumas pessoas 14 15

saíram de bem e outras não. E eu não sei como resolver isso sendo politicamente correto. Essa é a $%#@ da vida, nem todo tempo você está de amizade com todo mundo. O que eu posso dizer é que a gente está com a melhor formação da banda hoje tecnicamente. As pessoas que entraram ou tocam tanto quanto ou tocam mais do que quem estava, estão mais interessados. Entrosamento demora um pouco, mas eu diria que agora tá bem entrosado, a gente tá se divertindo de novo, porque afinal de contas ninguém aqui é a banda Dejavu que tá ganhando milhões e enchendo o saco dos outros, a gente toca o que a gente gosta e não tá na mídia, então isso não bota tanto dinheiro no nosso bolso pra agüentar pentelhação, uma parte do pagamento é diversão. Depois de 25 anos na estrada, como é que tá o pique? Paulão: Eu to com três hérnais de disco, mas curiosamente quando eu bebo a dor passa, então acho que a saída é essa [risos]. Óbvio que quando a gente tinha 22, 23 anos tínhamos muito mais gás pra beber o dia inteiro, tocar e beber a noite inteira, agora a gente segura um pouco senão não consegue mais. A gente faz isso há muito tempo, com muito tesão e se diverte no palco. Se uma hora dessa a gente achar ou disserem que a gente tá se arrastando no palco, tipo alguns jogadores de futebol que não querem parar, talvez a gente pare, mas é divertido. Vocês vêm pelo segundo ano consecutivo a Guarapuava e com frequência fazem shows pelo Paraná. Qual a relação da banda com o estado? Cavalo: Nosso primeiro show em Guarapuava foi há mais de dez anos, fizemos muitos shows pela região. Eu tinha tios que moravam aqui e vinha passar férias quando era garoto. Eu gosto muito do Paraná, minha família toda é daqui e Santa Catarina, já gravamos um DVD em Ponta Grossa. Pra mim é muito especial tocar aqui. Paulão: A gente toca no Paraná há muito tempo, tocamos tanto que uma época acharam que a gente era paranaense, o que deixa a gente muito honrado. Então, cada vez que a gente vem pra cá parece que estamos indo pra casa. Inclusive, o primeiro show fora do estado de São Paulo foi em Curitiba, se a gente não fosse tão bem recebido talvez não tivéssemos colhão de continuar. Obrigado pela força. ninguém aqui é a banda Dejavu que tá ganhando milhões e enchendo o saco dos outros, a gente toca o que a gente gosta 16 17

Educação Para quem tem sede de conhecimento Sinônimo de afeto, saber, compreensão e cultura, o Instituto Educacional Dom Bosco de Guarapuava faz de seu aprendizado um alicerce fundamental na vida de jovens carentes da sociedade. O diretor Dácio Bona afirma que o método de ensino vai além de um conhecimento científico. Mais que educadores, somos instrutores às artes do ofício, nunca se ensina somente uma profissão, mas, se ensina uma pessoa a ser humana. O espaço de interação e conhecimento mantém vitalidade por meio do apoio financeiro de colaboradores e tem por finalidade acolher os jovens que residem na periferia da cidade. Matéria e diagramação: Ana Carolina Pereira Nunca se ensina somente uma profissão, mas, se ensina uma pessoa a ser humana. 18 19

Dácio Bona Foto: Ana Carolina História O Instituto faz parte da história de Guarapuava há 22 anos, como relata Bona. Tudo começou com a escola Domingos Sales, posteriormente deu início as atividades informativas e somente depois de alguns anos passou a ofertar cursos profissionalizantes. As primeiras propostas começaram a surgir em 1989, com atividades relacionadas ao lazer e recreação. Em março de 1990 iniciou-se uma segunda etapa de cursos com atividades organizadas. E somente em 1991 o centro juvenil passou a ser uma obra social. Ensino Com uma estrutura educacional baseada na capacitação profissional e social, o Instituto funciona atualmente com aproximadamente 25 educadores e educadoras, com uma média de atendimento de 400 a 500 jovens, adultos e crianças. E, segundo o diretor, o segredo para cativar a juventude é um sistema preventivo. A estrutura básica desse sistema são três pilares: a razão, que é a justificativa do porque das coisas; o amor, que corresponde ao acolhimento; e a religião, que seria a ligação com o transcendental. Karina Silva, educanda da Instituição no ano de 1998 e ano 2000, relata o que marcou todo o período de aprendizado: o carisma depositado nos alunos. Motivo que fez uma educanda virar educadora. Hoje, Karina que é professora de Informática e Informação Humana na Instituição conta o que move as aulas. Minha maior motivação é promover os jovens para algo melhor, o segredo é incentivá-lo para mostrar ao jovem o quanto ele pode dentro da sociedade. Uma novidade nas oficinas é o Cine Fórum, que foi lançado em 1º de Setembro deste ano, como explica a educadora. O objetivo desta atividade é atender além dos nossos educandos, os acadêmicos da região do Cedeteg também. A oficina é constituída por um filme ou documentário e posteriormente uma reflexão feita pelos alunos, sempre focando em uma mensagem social através dos vídeos. Visando atrair um público amplo, Karina ressalta que a oficina disponibiliza certificados que garantem horas extracurriculares. Há três anos frequentando as atividades, Luana Francine dos Santos, que conheceu o Instituto através de amigos, relata a experiência. O que chamou atenção foi a acessibilidade financeira, comecei com o curso de Violão, depois Datilografia, Informática e atualmente faço o curso para Auxiliar Administrativo. 20 21

Foto: Ana Carolina cotidiano O nome Determinada a trabalhar na instituição daqui alguns anos, ela conta os planos futuros. Vou terminar o 3º ano e depois começar o curso de Aprendizagem Administrativa, para atuar como educadora no Instituto. As atividades profissionalizantes são realizadas de segunda a sexta-feira. Entre os cursos oferecidos estão: Auxiliar Administrativo, Informática, Violão, Artes Musicais e Dança de Rua. O diretor Dácio afirma que novos projetos estão surgindo. Vamos implantar futuramente Auto-Elétrica e Mecânica Automotiva, porque sabemos que tem necessidade e o mercado exige uma especialização básica. O ensino aplicado no Instituto atende também medidas sócio-educativas, que são os jovens com determinação da justiça para realizar uma ação social por ter infligido a lei. Dácio Bona afirma que atualmente o Instituto acolhe oito adolescentes. Quem encaminha é o juiz da Vara da Infância ou o Conselho Tutelar. E o atendimento pode ser realizado desde liberdade assistida, onde controlamos a rotina do adolescente, ou a PSC, que é a prestação de serviço diante da sociedade. Karina Silva da rua Matéria e diagramação: Katrin Korpasch Nomes de ruas estão no nosso cotidiano, para enviar uma correspondência, definir uma rota, chegar a determinado lugar, para se localizar. Mas você já parou para pensar por que determinada rua tem esse nome? Quem foi essa pessoa? Quem decidiu dar esse nome à rua? Aliás, como esses nomes são escolhidos? Quem diz como uma rua irá se chamar? Descubra isso e um pouco mais nesta matéria do Ágora. 22 23

A decisão sobre como uma via será nomeada ocorre na Câmara de Vereadores. Os vereadores da cidade compõem um projeto de lei que precisa ser aprovado pela maioria em três votações. Sugestões para nomes de ruas geralmente vêm da própria comunidade. Muitas vezes são moradores que procuram a Câmara de Vereadores querendo homenagear outras pessoas, que já faleceram e que fizeram alguma coisa pelo município de Guarapuava. É feito um levantamento, visto se a pessoa realmente fez algo por Guarapuava, depois é feito o projeto de lei e colocado em votação. Depois de aprovada pelos vereadores, a lei segue para a prefeitura, onde é sancionada pelo prefeito. A partir deste momento a via recebe o nome escolhido. Mas quando a proposta é mudar o nome de uma rua o processo é um pouco mais demorado. Antes da criação do projeto de lei é necessário recolher assinaturas de cerca de 80% dos moradores da via aprovando a mudança de nome. Só então é possível propor o projeto de lei. No começo Logo depois do estabelecimento da República no Brasil, entre o final do século XIX e início do século XX, se instituiu a organização das cidades. De acordo com o professor de História da Unicentro Ariel José Pires, naquela época se convencionou a nomeação das vias. Dar nomes às ruas era uma questão óbvia de que as pessoas teriam que ter seus endereços. E assim que se instalou o serviço nacional dos correios, era preciso ter os nomes das ruas definidos. Grande parte de nossas ruas homenageia personalidades históricas. Para entender porque isso acontece é necessário voltar ao início do século XX, quando os primeiros republicanos se encontravam na missão de dar uma cara ao Brasil, definir a identidade da nação, da nova República que estava surgindo. A maior parte do grupo que estava discutindo este assunto, querendo dar uma iden- tidade pra República nascente, decidiu por uma filosofia, um fundamento político que seguisse um modelo já existente. Então esses republicanos optaram pelo modelo positivista, que é uma filosofia, um jeito de pensar, uma forma de governar que surgiu na França no início do século XIX, com Auguste Comte, explica o professor. O lema do Positivismo Ordem e Progresso, foi adotado e colocado até na Bandeira Nacional. Alguns desses primeiros republicanos foram Silva Jardim, Benjamin Constant, Quintino Bocaiúva, Marechal Deodoro da Fonseca, Marechal Floriano Peixoto e Saldanha Marinho. Eles mesmos tiveram seus nomes postos em muitas ruas pelo Brasil, alguns inclusive em Guarapuava. O Positivismo enaltece mais o sujeito da história, e não o objeto. Nesse sentido, várias câmaras municipais decidiram homenagear muitos desses nomes, que trouxeram essa ideia para o Brasil. Pode se observar que essa prática continuou, a maioria dos municípios brasileiros ainda dá nomes de pessoas às ruas. Importantes para Guarapuava Afonso Botelho Visconde de Guarapuava Capitão Rocha Padre Chagas Padre Chagas (sobre o qual falaremos adiante) traçou as primeiras ruas e a arquitetura dos primeiros casarões de Guarapuava. Traçou a primeira quadra da cidade, onde ficaria a Igreja e a Casa do Vigário, o ponto zero do município. As primeiras ruas foram denominadas conforme o uso, havia, por exemplo, a Rua da Carioca, que era chamada assim por nela morar a professora Leonídia, que havia morado no Rio de Janeiro (hoje esta rua chama- -se Professora Leonídia). A partir de 1853 os vereadores passaram a requerer uma denominação legal para as ruas. Outros exemplos dessas mudanças podem ser vistos. A Rua Capitão Virmond, por exemplo, até 1905 chamava-se Rua das Flores. Foi a partir de 1894 que a antiga Rua dos Loures virou a Capitão Rocha. E, em 1896, a Rua da Sachristia se tornou a Visconde de Guarapuava. Ainda em 1894, a Rua da Cadeia virou a Vicente Machado, e a Rua Bela virou Marechal Floriano Peixoto. A Rua XV de Novembro é chamada assim desde 1921, antes já tinha se chamado Rua das Chagas, Benjamin Constant, e Coronel Cleve. Nomes de ruas estão realmen- 14 24

te em nosso cotidiano. Ao procurar um endereço estamos sempre falando em Capitão Rocha, Capitão Virmond, Visconde de Guarapuava, Padre Chagas, e assim por diante. Mas nem sempre sabemos quem foram essas pessoas, o que fizeram pela nossa cidade, por que dão nomes às nossas ruas. E aí, você sabe quem foi o personagem que dá nome à sua rua? O Ágora buscou para você informações sobre quem foram algumas dessas personalidades que receberam uma homenagem de nossa cidade. O Tenente-Coronel Afonso Botelho de Sampaio e Souza foi mandado pela Coroa Portuguesa para tomar posse dos campos guarapuavanos. Chegou no dia 8 de dezembro de 1771, quando mandou que celebrassem a primeira missa. Enquanto explorava a região de Guarapuava mudou o nome do rio em que quase se Serafim Ribas Moacyr Júlio Silvestri Francisco Missino Luís Ciscato afogou e foi assim que o rio Capivaruçu passou a se chamar Rio Jordão. Por ameaças e medo de ataques de índios, Afonso Botelho partiu de Guarapuava e suspendeu a vinda de novas expedições, por isso a conquista de Guarapuava só foi retomada quase 40 anos depois, quando chegaram aqui três outras personalidades históricas que hoje dão nome às nossas ruas: Padre Chagas, Azevedo Portugal e Capitão Rocha. Padre Francisco de Chagas Lima procurou catequizar os índios da região, veio a Guarapuava a mando de D. João VI com a Real Expedição Colonizadora de Guarapuava, composta ainda por Tenente Coronel Diogo Pinto de Azevedo Portugal e Antonio da Rocha Loures (o Capitão Rocha) e mais 200 soldados e 100 povoadores. O grupo chegou em 17 de junho de 1810 e deu origem ao Povoado de Atalaia, o primeiro povoado dos campos guarapuavanos. Mais tarde, entre 1818 e 1819, foi instalada a Freguesia de Nossa Senhora de Belém. Os moradores do Povoado de Atalaia se mudaram para o local escolhido pelo padre para receber a Freguesia com a Igreja Matriz, entre os rios Pinhão e Coutinho, exatamente onde hoje se encontra a sede de Guarapuava, foi aí que a cidade começou. Os personagens históricos que deram origem ao nome de duas outras ruas foram um escravo e seu senhor. O fazendeiro e bandeirante Pedro de Siqueira Cortes foi homenageado por suas contribuições para o desenvolvimento de Guarapuava. Já Belmiro de Miranda foi um escravo comprado por Pedro Siqueira em Maceió para construir um casarão em Guarapuava. Belmiro teve o nome dado a uma via por causa de sua história, o escravo organizou a campanha abolicionista na cidade. Fazia plantas de casas, era carpinteiro, pedreiro, e especialista em construções de taipa. Assim, aproveitava suas folgas para administrar outros casarões. Por esse trabalho ganhou algum dinheiro e comprou a carta de alforria da escrava Esydia Ephigênia, com quem se casou anos depois quando foi liberto pelo testamento de seu senhor. Junto com a esposa construiu um hotel de viajantes e comprou a liberdade de 50 escravos antes da abolição. Frederico Guilherme Virmond é homenageado na Rua Capitão Os personagens históricos que deram origem ao nome de duas outras ruas foram um escravo e seu senhor. Frederico Virmond. O carioca que veio para Guarapuava em 1852 exerceu aqui vários cargos, foi delegado, Presidente da Câmara Municipal, Deputado Estadual e Vice- -Presidente do Estado (posto que equivale hoje a Vice-Governador). Além disso, Frederico Virmond foi também um empresário, fundou a Sá Virmond e Cia em 1860, a primeira grande companhia da cidade. Na loja eram comercializados chapéus, tecidos, armas, armarinhos, entre outros. Virmond também se dedicava ao comércio de animais em larga escala, fundou o Sítio Santa Maria, no qual cultivava grandes quantidades de cana de açúcar e algodão. Visconde de Guarapuava foi o título dado a Antônio de Sá Camargo, que nasceu em 1807 em Palmeira, e alguns anos depois veio em Guarapuava para morar na fazenda do pai. Visconde de Guarapuava ocupou vários cargos políticos, atuou na guerra contra o Paraguai e prestou serviços ao Império em Guarapuava. 14 26 16 15 17

Belmiro de Miranda Capitão Virmond Professor Becker Pedro Siqueira Assim como estes, muitas outras personalidades históricas são lembradas ao dar nome às vias guarapuavanas. Mais alguns exemplos são Moacyr Julio Silvestri, que foi Prefeito de Guarapuava e que, quando Deputado Estadual, teve uma importante atuação para a instalação da primeira instituição de ensino superior da cidade. Em 1970 era fundada a Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Guarapuava, a FAFIG, que hoje é a Unicentro. Serafim Ribas foi político e o proprietário do primeiro jornal da cidade, O Guayra, e trouxe a primeira tipografia a Guarapuava. Quem fundou o jornal junto com Ribas foi o jornalista, médico e político Luiz Daniel Cleve, um dinamarquês que também foi homenageado dando nome a uma rua (e também à uma praça, a Praça Cleve). Professor Becker foi um ex-oficial do exército argentino que fundou em 1902 o Internato do professor Becker, ajudou no desenvolvimento da educação na cidade e fundou o primeiro grupo de escoteiros. Francisco Missino foi um empreendedor, trouxe o primeiro gramofone e a primeira máquina de sorvetes à cidade, foi revendedor de carros, fundou uma olaria e o primeiro beneficiamento de erva mate mecanizado. Além disso, gerenciava a Casa Missino, a primeira casa bancária de Guarapuava, fabricava também açúcar e aguardente. Junto com Luís Ciscato, que também dá nome a uma rua, fundou a primeira serraria a vapor. Ciscato, também italiano, inaugurou a usina hidrelétrica do Jordão em 1924, e foi o primeiro a trazer para Guarapuava um automóvel, em 1913, e uma motocicleta, em 1917. Sem nomes de pessoas Homenagear personagens históricos colocando seus nomes em vias se tornou tradição, mas segundo o professor Ariel, em alguns casos este padrão deveria ser repensado. Guarapuava, por exemplo, também tem nomes de ruas de pessoas que nunca estiveram aqui, e outras que eu não sei se fizeram alguma coisa por Guarapuava. Por que só valorizar esses símbolos, e não homenagear o trabalhador do cotidiano, o negro, o índio?. Nesse sentido, não são só os heróis da nação que devem ser lembrados. Por exemplo, em Guarapuava, são homenageadas as comunidades indígenas; na Vila Carli, há 12 ruas homenageando os antigos habitantes da região, entre elas a Rua Carajás, a Tamoios, a Tupi, a Aymoré e a Botocudos. No Bairro Morro Alto quem recebe homenagens são os trabalhadores. Com a Avenida das Profissões são 40 vias, por exemplo: a Rua dos Jornalistas, dos Professores, dos Médicos, dos Contadores, dos Bombeiros, dos Matemáticos e dos Agricultores. No Bairro Trianon há 12 ruas com nomes de flores: a Rua das Rosas, das Tulipas, das Violetas, das Acácias, da Flor de Liz, Girassol, das Orquídeas, e assim por diante. Ainda no quesito natureza, podemos encontrar no Bairro Industrial as ruas: Cedro, Imbuia, Ipê, Seringueiras, Palmeiras e Rua das Oliveiras. No Bairro Conradinho há vias com nomes de aves: Fênix, Gaivotas, Beija Flor e Colibri são alguns exemplos. Perto delas há 12 ruas com nomes de árvores, existe a Ruas das Ameixeiras, Pereiras, Limeiras, Caquizeiros, Figueiras, Macieiras... No Bairro dos Estados há uma região em que todas as vias são denominadas com nomes de, veja só, Estados! Algumas delas são as ruas: Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Tocantins, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Em Guarapuava tem até ruas com nomes de estilos, fica no Bairro São Cristovão, tem Rua Gótico, Neo-Clássica, Imperial, Moderno, Barroco e Rua Romântico. Também a nossa cidade é homenageada. Existem Avenidas Guarapuava nas cidades de Irati, Recife, Rondonópolis e Uberaba. Na cidade mineira há ainda a Rua Guarapuava, que existe também em Matinhos, Campo Mourão, Campo Grande, Laranjeiras do Sul, Apucarana, Nova Londrina, Assis Chateaubriand, Santa Lúcia e Curitiba. Fontes: MARCONDES, G. G. Guarapuava: história de luta e trabalho. Guarapuava: Unicentro, 1998. IZIDORO, F. H. História de Guarapuava (1971). 28 1816 14 1917 15

grafite em um lugar qualquer eu desenho um sol amarelo Matéria e fotos: Hilva Nathana Com contornos e cores, o grafite é hoje uma reconhecida expressão cultural que, muitas vezes, não representa apenas o estilo de um artista, mas também é um retrato de uma série de preocupações sociais 30 31

Com paciência e delicadeza eles preparam o spray. Depois disso, começam a rabiscar sem parar. Aos poucos, os rabiscos vão ganhando forma e as misturas das cores começam a chamar a atenção de quem passa pelo local. Ao fim de mais ou menos duas horas, entre tintas, spray e muita criatividade, eles terminam mais um de seus desenhos e frases, que facilmente encontramos espalhados pela cidade. É assim que alguns grafiteiros de Guarapuava expressam seu jeito de ver o mundo: através de desenhos. De modo diferente, o grafite apareceu sem muita pretensão na vida da pesquisadora e artista plástica Juliane Gorlieb Antoniucci. Me interessei pelo grafite com o surgimento de um projeto de extensão da Unicentro. Eu entrei nesse projeto para trabalhar com projetos sociais e a partir do desenvolvimento desse projeto, é que o grafite me chamou a atenção. Antes de eu começar a pesquisar sobre grafite eu não conhecia nada sobre como grafitar, sobre as técnicas, porém eu tinha afinidade com as artes visuais. Por isso, me interessei. A partir dessas experiências Juliane foi tomando gosto pelos sprays, entrou em contato com alguns grafiteiros da cidade, começou a desenvolver as técnicas e agora já ajuda a ministrar oficinas de grafite nas escolas. Almir José Martins, grafiteiro há oito anos, conta como teve contato com a grafitagem. Eu aprendi a desenhar em Itajaí [SC]. Onde conheci um colombiano que grafitava e foi ele quem me ensinou as técnicas do grafite e me incentivou. Depois disso, fiquei algum tempo parado, mas agora estou em Guarapuava grafitando novamente. O grafite feito por eles valoriza estilos E aqui, pelo contrario, o grafite não é visto como arte, ainda há dificuldades pra conseguir muro e patrocínio pra tinta. próprios da arte. Segundo a pesquisadora Juliane Antoniucci, os personagens que encontramos nas pinturas são ligados aos estilos americanos. Com destaque para Wild Style (letras que se caracterizam pelo difícil entendimento), Tags (assinatura do dono da obra), Bubble Style (letras arredondadas, mais simples) e 3D (estilo tridimensional, baseado num trabalho de brilho/sombra das letras). Esse modo de grafitar é praticado como hobby pelos grafiteiros de Guarapuava, pois essa arte é pouco apreciada na cidade, como expõe Juliane. Apesar da grafitagem estar crescendo em Guarapuava, não podemos nos comparar à outros centros maiores como Curitiba, por exemplo, em que o grafite é visto como arte, e em conseqüência disso a abertura para quem gosta de grafitar é Obra de Juliane em parceria com Aaron. 32 33

A maioria dos desenhos tem como característica a crítica social. bem maior. E aqui, ao contrário, ainda há muitas dificuldades pra conseguir muro e patrocínio pra tinta. Apesar de ser difícil, eu acho que está crescendo o interesse das pessoas pelo grafite. Grafite X Pichação Muitas vezes o grafite é descriminado por existir uma associação com a pichação, associação que muitas vezes gera preconceito, situação que Almir percebeu de perto. Uma vez eu e outros grafiteiros estávamos na condição de grafitar, com autorização. Quando chegaram alguns policiais, falando que não podíamos continuar ali, chegaram descriminando falando que não era arte, era vagabundagem. Aí tivemos que chamar o dono da casa, pra ele falar com os policiais que estava liberando o local e que estava tudo bem. Na rua Professor Becker, no Bairro Santa Cruz, encontramos obras de Juliane, porém, a uma distância não muito grande, encontramos também o trabalho de pichadores que só contribuem para poluição visual da cidade e para a degradação de patrimônios. Nem tudo no grafite é colorido A essência, na maioria das vezes, vai além da estética, está presente em provocar reflexão nas pessoas. Os desenhos tem como característica a crítica social. Através dos desenhos, geralmente, é proposta uma representação da sociedade por meio de signos. Modo que Almir aponta como contribuição para a preocupação social. Sempre tem um tema, por exemplo, de criança que mora na rua, moradores de rua, coisas que não recebem muita atenção. = 34 35

O grafite brasileiro é reconhecido como um dos melhores do mundo. Kitnet Uma realidade que a gente procura passar para a sociedade. Mas acho que as pessoas não percebem isso, só olham o desenho bonitinho. História O aparecimento do grafite se deu no final da década de 1970, em Nova York, através de alguns jovens, minoria excluída da sociedade que começaram a deixar suas marcas nas paredes das cidades. Desde então, essas marcas evoluíram para formas de expressão, ganharam técnica, e hoje o grafite é considerado como uma arte, conhecido como Street Art (Arte Urbana) incluído no âmbito das artes visuais. No Brasil, a Street Art também apareceu no final da década de 1970, em São Paulo. Os brasileiros modificaram e incrementaram algumas técnicas, por isso, o grafite brasileiro é reconhecido como um dos melhores do mundo. s.o.s. marido Matéria: Poliana Kovalyk 36 37 41

Conheça agora o serviço delivery, bem melhor do que disque-pizza, disque água ou disque táxi, que vai tirar você do sufoco. #Quebrou, amassou, pifou, queimou? Muita calma nessa hora! Quantas vezes você não jantou à luz de velas porque acabou a luz em casa? tomou banho no gelado porque queimou o chuveiro? ou foi comer no restaurante porque acabou o gás bem na hora do almoço? O encanamento estourou, a cama quebrou, a porta emperrou, as paredes precisam de retoques. Essas parecem tarefas fáceis de serem realizadas, mas para quem não tem tempo, ou pior, para quem entende tudo sobre artigos, Projetos de Extensão, TCC s, mas não sabe nada sobre consertar um vazamento ou desentupir pias, isso pode se tornar um grande problema. Pois é, quando se tem alguém em casa que entenda disso é bem mais fácil solucionar esse problema, e tudo logo volta ao normal. Mas o que fazer quando se mora a tantos quilômetros longe de casa, sem ninguém pra te ajudar? E o pior é que essas coisas acontecem com freqüência na casa de muitos estudantes que não moram mais com os pais, e acontecem nos piores momentos do dia. Quantas vezes você não jantou à luz de velas porque acabou a luz em casa? Tomou banho no gelado porque queimou o chuveiro? Ou foi comer no restaurante porque acabou o gás bem na hora do almoço? Nessas horas, ligar para a mãe, para o pai, não adianta muita coisa. Agora, imaginem esses problemas diários numa casa onde 17 meninas dividem tudo: chuveiro, quarto, fogão, televisão e até mesmo o secador de cabelo. Todas elas vieram pelo mesmo motivo: receberam a chance de representar nossa cidade no futsal feminino, e ficaram pela oportunidade de estudar, tendo que aprender a lavar suas próprias roupas e, talvez o mais complicado, dividir os espaços dentro de casa. E num lugar onde tudo é dividido por todas o que sempre acaba acontecendo é muita confusão, principalmente quando alguma coisa ali quebra bem na hora em que é a vez da outra utilizar. É o chuveiro que queima quando é a hora de se arrumar pra ir pra faculdade, ou o trinco que quebra na hora de sair... A sorte dessa turma de meninas que convivem diariamente com os problemas domésticos é que elas contam com a ajudinha de, digamos, um pai, que as adotou por aqui: o técnico da seleção, Sérgio Leocádio Miranda, o Ratinho. E mesmo ele, tendo a responsabilidade de cuidar dessas meninas que vieram de longe, não entende de tudo, afinal, sua especialidade é futsal. Pelo menos aqui na nossa cidade, as meninas 38 39

que dividem um apê, ou até mesmo para aqueles mais apressadinhos do dia- -a-dia, já não tem com o que se preocupar: os chamados maridos de aluguel resolvem todos esses problemas, tudo sem reclamar e a qualquer hora do dia. Talvez o nome seja curioso, mas o serviço é sério: profissionais realizam pequenas tarefas como consertar o encanamento, trocar lâmpadas, rebocar e pintar paredes, e ainda instalam chuveiros, trocam botijões de gás, fazem reparos elétricos, serviços de construção civil e consertos domésticos. Essa profissão existe há cerca de 20 anos e surgiu em São Paulo, onde há empresas especializadas no assunto e sites personalizados, onde os serviços e até os funcionários podem ser escolhidos pela internet. Já aqui em Guarapuava, o serviço ainda é uma novidade. Há mais ou menos cinco meses Mercia Macedo teve a ideia de trazer para cá uma franquia que trabalhasse na manutenção e reparos de móveis. Montei esse negócio porque senti a necessidade na pele. Quando precisava de alguns serviços, sentia bastante dificuldade em ter um atendimento rápido e com qualidade. A gerente e dona dessa franquia dos maridos de aluguel conta que, apesar do pouco tempo de serviço na cidade, o número de pedidos Aluga-se marido tem surpreendido, e eles já contam com agendamentos que passam para as próximas semanas. São homens e mulheres de todas as idades que ligam pedindo ajuda para livrá-los do sufoco, mas também há aqueles que ligam apenas para manter a casa em ordem. O mercado está extremamente aquecido pela questão de hoje ninguém ter tempo. As pessoas estão sempre trabalhando o dia inteiro, tem gente que estuda a noite e não têm tempo para ainda chegar em casa e consertar alguma coisa, então a gente tem bastante mercado para isso. Outro problema encontrado, tanto pelas meninas do futsal como outros estudantes que moram sozinhos, é que a maioria das lojas não funcionam à noite, então, quando alguma coisa dá errado, esperar até o outro dia é a única solução. Mas para quem apela para os maridos de aluguel isso já não é um problema, já que a franquia é conveniada com algumas redes de emergência, e se precisar, elas vão ajudar. Para quem pensa que o serviço é uma exclusividade para as mulheres, está completamente enganado. Os homens também podem ter a vida facilitada com o atendimento desses profissionais. Os serviços que pegamos já são coisas começadas, algo que alguém já fez e que fez com a lógica dele, da maneira dele. Às vezes o cliente pensa que é só trocar uma torneira e ele mesmo pode fazer isso, mas a gente vê que não é bem assim e pode ser uma coisa bem complicada. Então as vezes o que era pra levar meia hora, leva duas horas. Por isso, para ser um marido de aluguel não basta apenas ter vontade, mas tem que ser um profissional que faz qualquer tipo de trabalho em reforma e manutenção de residências e prédios, desde um simples vazamento de torneira até uma restauração completa de fachada no seu prédio, além de estar pronto a qualquer momento para atender essas urgências. 40 41

comportamento É possível ser feliz sozinho Matéria: Helena Krüger Estar só é uma ótima oportunidade para se conhecer melhor e aproveitar a liberdade. Assim, cada vez mais a rejeição a criar vínculos e compromisso se torna uma característica da nova geração. 42 43

A eternizada frase da música Wave de Tom Jobim, Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho, se tivesse sido composta hoje, talvez, não teria mais esse refrão, já que muitos solteiros e solteiras atestam o quão são felizes e realizados de estarem nesta condição, e não se sentem mais mal por isso. Ao contrário, se orgulham e estão convictos em não mudar de estado civil. Essas pessoas sentem-se orgulhosas da solterisse. Para elas, foi até criado um dia especial, o Dia dos Solteiros, comemorado todo 15 de agosto. Nas últimas décadas percebe-se que cada vez menos as pessoas tem como meta de vida o casamento. Para muitos, ter sucesso profissional ou então passar a vida viajando é mais próximo do sonho dos jovens dessa geração. Segundo o registro civil do IBGE de 2009, o percentual de solteiros adultos chegou a 42,8% no país. Os índices também mostram a elevação das idades das mulheres no casamento, o que revela uma mudança nos padrões das uniões. Ressalta-se, ainda, que o maior volume de casamentos foi entre as mulheres com idade entre 25 e 29 anos (33,9%), seguido dos cônjuges com idade entre 30 e 34 anos. Renato Quadros aos 52 anos de idade é um ótimo exemplo de alguém que entende bem o espírito da solteirice. Esse guarapuavano nunca se casou, já teve muitos relacionamentos amorosos e adora a sua vida de solteiro. Ele conta que ser solitário não foi premeditado, mas sim a conduta da vida dele que proporcionou essa situação, e confessa que nunca teve desejo de casar. Morei fora muitos anos, bem na época em que a maioria começa a pensar em casamento. Eu estava longe, aproveitando a vida, sempre em bons lugares com boas companhias. As vantagens que a vida de solteiro proporciona são muitas vezes esquecidas por quem já está há muito tempo em um relacionamento. Valorizar as coisas simples da solidão, aproveitar a sensação de liberdade de ir onde quiser e, principalmente, ter um tempo apenas para si também são importantes. Para Renato, algumas das muitas vantagens em ser solteiro estão nos detalhes. Dormir sozinho e acordar sozinho, sair pra noite e ir onde quiser. Viajar é o melhor de tudo, arrumo minha mala, pego o carro e saio, sempre aguardando a surpresa que terei. Esse estilo de vida também está relacionado a sua vida profissional. Ele já morou em três cidades e trabalhou boa parte de sua vida como representante comercial de diversos ramos. Atualmente, trabalha com comércio eletrônico, ramo em que está se especializando. Tanto nos relacionamentos quanto no trabalho Renato afirma que adora grandes desafios. Eu não forço nada na vida, adoro as surpresas que ela me proporciona, um dia diferente do outro e assim a vida foi me levando. Viajar é o melhor de tudo, arrumo minha mala, pego o carro e saio, sempre aguardando a surpresa que terei 44 45

Marcela*, estudante de medicina, tem 19 anos, também é solteira e é feliz com seu estado civil, mesmo nunca tendo namorado. A jovem diz não sentir falta de um namorado nesse momento. Gosto muito de sair me divertir com minhas amigas e para isso não preciso ficar com ninguém. Tem pessoas que só se divertem assim, acho que isso acontece com quem não sabe ficar sozinho. A futura médica também enfatiza que gosta muito da autonomia e liberdade que tem. Adoro ficar sozinha, me dou muito bem comigo mesma, vi isso quando fui morar longe dos pais para estudar. O que Marcela não suporta é a pressão social de ter alguém e namorar. Me estresso de ver como os outros se incomodam com a minha vida nesse sentido, às vezes tenho vontade de dizer: saiam do meu pé!. Na minha família até meu avô está preocupado, quer que eu arrume logo um namorado. Acho engraçado e não levo em conta essas opiniões, se digo que estou bem assim é porque estou. Essa tendência deixa questionamentos. Estar solteiro simplesmente faz parte da opção de grande parte das pessoas ou esse comportamento é um sintoma de uma sociedade que tem cada vez mais dificuldade de relacionar-se e estabelecer compromisso? A individualidade é uma das principais características do contemporâneo, e nas últimas décadas houve muitas transformações sociais, atreladas a evolução de novas tecnologias. A psicóloga Edina Favero cita algumas dessas mudanças que transformaram a maneira como as relações sociais se dão. Aconteceram várias mudanças, dentre elas cito a mulher adquirindo novos papéis, ocasionando uma inversão de valores. O casamento deixou de ser prioridade, o conceito de família padrão Família Nuclear (pai, mãe e filhos), deixou de existir. A mídia fortalece essas mudanças, influenciando também o imediatismo e relacionamentos menos duradouros. Mesmo com essa tendência à solterisse, ainda há muitas pessoas doentes emocionalmente. Elas estão buscando encontrar em livros de auto-ajuda e pagando Às vezes tenho vontade de dizer: saiam do meu pé! A importância do O ser humano se torna eu pela relação como você, à medida que me torno eu, digo você. Todo viver real é encontro outro mais de cem reais por consultas com terapeutas online. O sociólogo Zygmunt Bauman, na obra Amor Líquido, fala sobre essa fragilidade dos laços humanos na pós-modernidade. Ele usa o termo líquido para definir relações que estão cada vez mais flexíveis, sem vínculo e com prazo de validade. Bauman atesta que as pessoas nunca estiveram tão ansiosas em mudar de um relacionamento para outro, pois elas mesmas têm medo de se envolver e estabelecer compromisso. O ficar é o reflexo disso, o sexo sem compromisso que busca o prazer imediato impõe uma intimidade física, porém não emocional. A psicóloga Edina comenta que para o desenvolvimento completo do ser humano é necessário a existência do outro. Se não estão conseguindo amar o próximo, então podemos inferir que não estão amando a si primeiramente, pois não foram amados. Existem estudos demonstrando que, quando duas pessoas se sentem atraídas sexualmente, uma complexidade química afeta o cérebro e o corpo. O amor, a confiança e o carinho, guardam relação com os hormônios e são muito mais cerebrais e A mídia fortalece essas mudanças, influenciando também o imediatismo e relacionamentos menos duradouros 46 47