ADAPTAÇÃO DE LODOS ATIVADOS PARA TRATAMENTO DE DESPEJOS COM CONCENTRAÇÕES ELEVADAS DE FENOL E NITROGÊNIO AMONIACAL Alberto José Moitta Pinto da Costa (1) Engenheiro químico pela UFPa, Mestre em Engenharia civil pela UFPb, Doutorando em Engenharia Hidráulica e Sanitária pela EPUSP, Professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da UFPa, Pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). Dione Mari Morita Doutora em Engenharia Hidráulica e Sanitária pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Pedro Alem Sobrinho Doutor em Engenharia pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Jader Vieira Leite Doutorando em Engenharia Hidráulica e Sanitária pela EPUSP. Endereço (1) : R. Joaquim Antunes, 977 - apto. 13 - Pinheiros - São Paulo - SP - CEP: 5415-12 - Brasil - Tel/Fax: (11) 814-6826 - e-mail: acosta@ipt.br RESUMO No tratamento de despejos industriais utilizando sistemas de lodos ativados, em especial àqueles projetados para remoção de poluentes específicos, torna-se necessária a adaptação da biomassa no interior dos tanques de aeração para que ela seja capaz de degradá-los. O presente trabalho teve como objetivo estudar a adaptação da biomassa de sistemas de lodos ativados de único estágio em escala piloto, alimentados com despejo sintético contendo elevadas concentrações de fenol e nitrogênio amoniacal, através da utilização de três diferentes tipos de inóculos. Os resultados mostraram um maior grau de adaptação aos compostos fenólicos pela biomassa de sistemas de tratamento de refinarias e petroquímicas, quando comparados a de estações de tratamento predominantemente domésticos. A utilização da biomassa de sistemas de tratamento de refinarias proporcionou os melhores resultados, demorando cerca de 4 semanas para adaptar os microrganismos a cargas de 3 g/dia de fenol e 22, 5 g/dia de nitrogênio amoniacal. PALAVRAS-CHAVE: Adaptação, Lodos Ativados, Fenol, Nitrogênio Amoniacal. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 28
INTRODUÇÃO Apesar do sistema de lodos ativados ser reconhecidamente eficaz no tratamento de despejos provenientes de coquerias, a partida desses sistemas quando colocados à frente de compostos de difícil degradação como os presentes nos despejos de coquerias, pode causar sérios problemas ao processo e até mesmo interromper as atividades biológicas no interior do mesmo. No caso de despejos de coquerias, nos quais destacam-se compostos fenólicos (3-4. mg C 6 H 5 OH/L), amônia (3-2. mg NH 3 -N/L) e cianetos (1-1 mg CN/L), a adaptação da população microbiana na degradação da carga tóxica afluente, é fundamental para a garantia de bom desempenho dos sistemas de tratamento biológicos (Jones et al, 1984). A ocorrência da neutralização do poder catalítico das enzimas e a falta de sistemas enzimáticos capazes de metabolizar compostos diferentes do substrato habitual podem ser consideradas como as principais causas da inibição dos processos biológicos. A adaptação tem a finalidade de proporcionar aos microrganismos a produção de novas enzimas apropriadas para minimizar o efeito deletério dos compostos tóxicos, denominados de inibidores, ou metabolizá-los, através do desenvolvimento de estruturas enzimáticas por indução ou depressão da existente ou mutação genética (Morita, 1993). A degradação de alguns compostos orgânicos presentes em efluentes industriais pode ser realizada de maneira eficiente quando a unidade de tratamento possue microrganismos que já encontram-se adaptados para tais compostos. Entretanto, quando o inóculo a ser utilizado não apresenta os microrganismos adequados para essa finalidade, torna-se necessário descobrir a relação de degradabilidade das substâncias orgânicas e tóxicas presentes no despejo com a atividade dos microrganismos, pois uma vez adaptado o lodo ativado, o sistema poderá produzir efluentes com baixas concentrações de compostos de difícil degradação. Existem basicamente duas maneiras para adaptação de microrganismos (Roš, 1993): Adaptação por clonagem de genes, que é mais utilizado para culturas puras, e por conseguinte, não foi de interesse para a pesquisa desenvolvida e adaptação natural na própria estação de tratamento biológico. O tempo necessário para a adaptação ocorrer com sucesso depende da fonte da biomassa utilizada, temperatura, ph, concentração de oxigênio dissolvido, idade do lodo, etc. Estudos envolvendo a operação de três sistemas de lodos ativados para tratamento de despejos de coqueria demonstraram excelentes resultados de adaptação, para idades do lodo na faixa de 4 a 5 dias. As reações de nitrificação que começaram a se desenvolver logo após dez dias da partida dos sistemas, parecem não ter sido inibidas durante o processo de adaptação, mesmo com concentrações de 7 mg CN - /L (Sutton e Bridle, 1981). Parece ser de consenso geral que uma vez adaptada a biomassa, o sistema já se encontre em condições de produzir efluentes com excelentes índices de remoção de compostos inicialmente inibidores. No entanto, especial cuidado deve ser tomado com relação à variação e continuidade de alimentação dos compostos inibidores, pois apesar de em muitos casos ter sido relatado que a biomassa adaptada possue memória genética (Eckenfelder e Musterman, 1995), já foi observado em sistemas de lodos ativados a perda ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 29
de habilidade de degradação de fenol, devido a ausência do mesmo por vários dias, onde houve a necessidade de readaptação da biomassa por um período de dois dias (Rozich e Gaudy apud Leite, 1997). MATERIAIS E MÉTODOS A adaptação da biomassa nos sistemas de lodos ativados em escala piloto estudados, foi efetuada pelo método da adaptação natural, através da verificação das porcentagens de remoção de fenol e nitrogênio amoniacal. Também foram realizadas determinações de sólidos em suspensão totais e voláteis dos conteúdos dos tanques de aeração para verificação do crescimento dos microrganismos. Os dois sistemas utilizados na pesquisa, eram constituídos cada um por um tanque de aeração seguido de decantador secundário, mais os respectivos sistemas de bombeamento de lodo. Os tanques de aeração e decantadores secundários de cada sistema possuíam volumes úteis iguais a 1 e 2 L, respectivamente. A pesquisa foi dividida em três fases distintas, em razão do tipo de biomassa utilizado. Na fase inicial de adaptação, foi utilizado conteúdo do tanque de aeração da estação de tratamento de esgotos de Barueri para o preenchimento do volume útil dos tanques de aeração em escala piloto, enquanto que na segunda e terceira fases foram utilizados inóculos provenientes de sistemas de tratamento de despejos de uma refinaria e de uma indústria petroquímica, respectivamente. Em todas as fases procurou-se manter a idade do lodo em torno de 2 a 3 dias. Para simulação de despejos com elevadas concentrações de compostos fenólicos e nitrogênio amoniacal, os tanques de aeração foram alimentados com despejo sintético, sendo sua vazão paulatinamente aumentada de 1 L/dia a 3 L/dia, à medida que os resultados das concentrações de fenol e nitrogênio amoniacal mantinham-se abaixo de,5 mg/l e 5, mg NH 3 -N/L, respectivamente, de acordo com a Legislação Federal (CONAMA N. º 2, 1986). A composição do despejo sintético era constituída de uma mistura básica e selecionada de compostos orgânicos de fácil degradação e micronutrientes, de concentrações conhecidas (4 mg/l de fosfato de magnésio monobásico de potássio, 5 mg/l de cloreto de cálcio, 15 mg/l de ferrocianeto de potássio, 2 mg/l de sulfato de magnésio e 5 mg/l de sulfato de manganês), mais uma concentração de 1. mg/l de fenol. e de 75 mg NH 3 -N/L. Na fase inicial, o primeiro tanque foi alimentado com a mistura básica de compostos orgânicos de fácil degradação e micronutrientes mais uma concentração de 1. mg/l de fenol, enquanto o segundo tanque de aeração foi alimentado com a mistura básica, mais uma concentração de 75 mg NH 3 -N/L. Na segunda fase de adaptação, o primeiro sistema foi alimentado com a mistura básica mais uma concentração de 1. mg/l de fenol e 75 mg NH 3 -N/L. O segundo sistema recebeu alimentação contínua da mistura básica acrescida de uma concentração de nitrogênio amoniacal de 75 mg NH 3 -N/L. Uma importante modificação introduzida nessa fase foi a retirada dos compostos facilmente biodegradáveis (etileno glicol, ácido glutâmico, ácido acético e glicose) da composição do despejo sintético. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 21
A terceira fase caracterizou-se pela modificação na composição do despejo sintético, que passou a ter uma composição mais próxima daquela originada na linha de processos de coquerias, com a inclusão dos compostos aromáticos mononucleares (BTX) e polinucleares (naftaleno), e diminuição da concentração dos principais sais e micronutrientes presentes. Ambos os tanques foram alimentados com 1. mg/l de fenol e 75 mg NH 3 -N/L O fornecimento de oxigênio em todas as fases foi executado de modo a garantir uma concentração de oxigênio dissolvido maior ou igual a 2, mg O 2 /L no interior dos tanques de aeração. O ph no interior dos tanques foi constantemente ajustado para que permanecesse na faixa de 6,5 a 7,5 em todas as fases, devido à nitrificação. (Anthonisen, 1976; USEPA, s.d.). RESULTADOS Primeira fase A Figura 1 mostra que as concentrações de fenol no efluente ultrapassaram 3 mg/l nos dias 29/5 e 19/6, e alcançaram 16 mg/l em 12/7. Nos dois primeiros períodos a alimentação foi interrompida, enquanto que no último, optou-se pela redução da carga de fenol ao sistema, diminuindo-se a vazão de alimentação de 4 L/dia para 15 L/dia, com a paralisação da alimentação em seguida. Após a realização dos procedimentos operacionais descritos, verificou-se uma lenta recuperação da biomassa, com registro de concentrações de fenol no efluente de,2 mg/l. Os três picos observados, parecem estar relacionadas às grandes perdas de sólidos pelo decantador secundário. Nos dias 29/5 e 19/6 a concentração de SSV no interior do tanque de aeração era da ordem de 1. mg/l, enquanto que no período de 5/7 a 16/7 a concentração de SSV foi reduzida de 1.315 a 525 mg/l. Figura 1 - Concentrações de fenol durante a 1 ª fase de adaptação (Tanque 1). 1 Concentração de fenol (mg/l) 1 1 11/5/96 23/5/96 4/6/96 16/6/96 28/6/96 1/7/96 22/7/96 Os resultados obtidos por Leite (1997) nos ensaios do teste Fed Batch Reactor modificado utilizando o lodo proveniente de Barueri como inóculo, mostraram já nos primeiros minutos de teste os efeitos de inibição do fenol sobre sua própria degradação. Tais resultados confirmaram a dificuldade de adaptação do inóculo utilizado para adaptação da biomassa ao despejo sintético. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 211
A Figura 2 mostra que para uma alimentação com concentração média de 75 mg NH 3 - N/L de nitrogênio amoniacal, também não foi possível adaptar o lodo proveniente da ETE Barueri para cargas de nitrogênio amoniacal acima de 7,5 g NH 3 -N/dia. Figura 2 - Concentrações de nitrogênio amoniacal durante a 1 ª fase de adaptação (Tanque 2) 9 Concentração NH 3 -N (mg/l) 7 5 3 1 25/5/96 4/6/96 14/6/96 24/6/96 4/7/96 14/7/96 24/7/96 Os resultados obtidos foram bastante instáveis e elevados, com as concentrações de nitrogênio amoniacal variando de 53 a 457 mg NH 3 -N/L. Essas oscilações não permitiram o aumento gradativo da vazão a partir de 1 L/dia, tornando necessária a paralisação da alimentação durante a maior parte do período. Provavelmente, o baixo rendimento no processo de nitrificação verificado nessa fase de adaptação encontrava-se relacionado ao controle de ph exercido no interior do tanque de aeração, pois os valores de ph encontrados (8, a 9,) indicavam a possibilidade de acumulação de amônia livre na biomassa em concentrações inibidoras para as bactérias Nitrosomonas sp (ANTHONISEN, 1976). As concentrações de SST e SSV não apresentaram o mesmo comportamento oscilatório verificado no tanque 1. No entanto, após um mês de adaptação (27/6), a concentração de SSV começou a reduzir gradativamente de 1. mg/l até 63 mg/l. A temperatura também pode ser considerada como outro fator responsável pelo fracasso na adaptação da biomassa introduzida nos tanques 1 e 2 (FORD, 198). Durante o dia, as temperaturas no interior dos tanques variaram de 14 a 2 o C, no decorrer dessa fase. Nos meses de junho e julho foram registradas as temperaturas mais baixas do ano de 1996 em São Paulo, próximas a 4 o C no período da noite. Segunda Fase As concentrações de fenol no tanque 1 foram mais constantes durante essa fase de adaptação, com a verificação de pequena flutuação no final da mesma fase, como pode ser observado na Figura 3. As concentrações de fenol no efluente variaram de,1 a 4, mg/l, alcançando o valor de 1 mg/l no dia 1/9/96, ocasião em que foi interrompida a alimentação do tanque na tentativa de reduzir a concentração de fenol aos valores anteriormente obtidos. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 212
Figura 3 - Concentrações de fenol durante a 2 ª fase de adaptação (Tanque 1). 1 Concentração de fenol (mg/l) 1 Ef luente 2/7/96 31/7/96 11/8/96 22/8/96 2/9/96 13/9/96 24/9/96 De forma semelhante ao ocorrido na fase anterior, foi verificada uma crescente perda de sólidos pelo efluente do decantador secundário, impossibilitando a manutenção de uma concentração de biomassa constante no interior do tanque de aeração. As concentrações de SSV no interior do tanque de aeração 1 foram reduzidas de 4.21 mg/l, no início da fase, até 636 mg/l. As concentrações de nitrogênio amoniacal no efluente do sistema 1 apresentaram significativas oscilações, variando de,3 a 257 mg NH 3 -N/L (Figura 4(a)). O menor valor (,3 mg/l) foi verificado apenas no final dessa fase. A obtenção desse valor está relacionada às diminuições na concentração de nitrogênio amoniacal na composição do despejo para 26 mg NH 3 -N/L, e da vazão de alimentação para valores de 1 e 2 L/dia para os tanques 1 e 2, respectivamente, assim como ao maior controle da faixa de ph (6,5 a 7,). Figura 4 Concentrações de nitrogênio amoniacal durante a 2 ª fase de adaptação ((a) sistema 1, (b) sistema 2). 9 9 Concentração NH 3 -N (mg/l) 7 5 3 Concentração NH 3 -N (mg/l) 7 5 3 1 1 24/7/96 3/8/96 13/8/96 23/8/96 2/9/96 12/9/96 22/9/96 19/7/96 29/7/96 8/8/96 18/8/96 28/8/96 7/9/96 17/9/96 (a) (b) Apesar de não ter sido possível adaptar o lodo no tanque de aeração 1 às cargas de nitrogênio amoniacal afluentes, mesmo controlando a ph no interior do mesmo, verificou-se uma eficiência de remoção superior à encontrada na primeira fase no tanque 2, que não recebia contribuição de fenol afluente, indicando uma grande possibilidade de se utilizar um único reator para a biodegradação simultânea de fenol e nitrogênio amoniacal. Os resultados das concentrações de nitrogênio amoniacal efluente para o sistema 2, apresentados na Figura 4(b), mostraram uma oscilação consideravelmente menor àquela ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 213
apresentada para o sistema 1 (Figura 4(a)). Esta menor oscilação, provavelmente está relacionada à maior capacidade de adaptação da biomassa devido à ausência de fenol. As concentrações de nitrogênio amoniacal no efluente do sistema 2 apresentaram variações de,1 a 143 mg NH 3 -N/L. No entanto, ocorreram apenas três paralisações nesse sistema durante um período de 3 meses, com a vazão de alimentação alcançando o valor de 32 L/dia, o que significou a aplicação de aproximadamente 24 g NH 3 -N/dia ao sistema. Os resultados obtidos durante essa fase de adaptação também possibilitaram verificar que a recuperação do sistema em relação ao processo de nitrificação foi consideravelmente superior ao da fase anterior. A concentração de sólidos em suspensão voláteis no tanque de aeração 1 foi gradativamente reduzida de 4.21 para 676 mg SSV/L do dia 19/7 a 18/9. No tanque 2, a redução não foi tão brusca quanto à verificada no tanque 1. A concentração de SSV nesse tanque apresentou oscilações de 3.89 a 2.44 mg/l até o dia 4/9, e a partir desse dia, passou a decrescer continuamente até o valor de 616 mg/l no dia 18/9, quando foi verificada a impossibilidade de recuperação de ambos os sistemas. Apesar do ph do interior dos tanques de aeração ter sido ajustado para se manter na faixa de 6, a 7,, na maior parte do tempo, tornando possível o controle das concentrações inibidoras de amônia livre e ácido nitroso às bactérias nitrificantes, conforme sugerem Anthonisen et al, 1976; Verstraede et al, 1977; Ford, 198; Neufeld et al, 198, as baixas temperaturas verificadas no período noturno do mês de agosto (abaixo de 15 o C) no interior dos tanques de ambos os sistemas parecem ter contribuído de forma decisiva para o fracasso dessa fase de adaptação. Esta influência também foi observada por Ludzack e Shaeffer, 1962; Ford, 198. Terceira Fase As concentrações de fenol no efluente do sistema 1 não ultrapassaram o valor de,4 mg/l para cargas de até 3 g fenol/dia, demonstrando um significativo grau de adaptação por parte do lodo proveniente da indústria petroquímica com esse tipo de despejo. O comportamento da biomassa do sistema 1 frente a concentrações de fenol da ordem de 1. mg/l, aplicadas a uma vazão de até 3 L/dia pode ser observado na Figura 5. Figura 5 - Concentrações de fenol durante a 3 ª fase de adaptação (Sistema 1) 1 Concentração de fenol (mg/l) 1 afluente efluente 25/9/96 29/9/96 3/1/96 7/1/96 11/1/96 15/1/96 19/1/96 23/1/96 ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 214
Comparando-se o desempenho da nitrificação ocorrido no sistema 1 nessa fase de adaptação, que também foi alimentado com elevadas cargas de fenol, com as anteriores, é possível verificar que as concentrações de nitrogênio amoniacal obtidas no efluente do sistema 1 apresentaram uma crescente redução de 113 mg NH 3 -N/L para 3,7 mg NH 3 -N/L até a metade inicial do período de adaptação, não ultrapassando,3 mg NH 3 -N/L na fase final. A tendência decrescente observada entre os dois períodos mencionados, pode estar relacionada à adaptação da biomassa ao fenol, que ao evitar o efeito inibidor desse composto às bactéria nitrificantes, permitiu a efetiva oxidação do nitrogênio amoniacal presente no despejo pelas mesmas, durante o período final de adaptação (Figura 6(a)) No sistema 2, o desempenho da nitrificação foi bastante satisfatório desde o início da fase de adaptação. As concentrações de nitrogênio amoniacal apresentaram oscilações desprezíveis, não ultrapassando,3 mg NH 3 -N/L durante todo o período (Figura 6(b)). Figura 6 Concentrações de nitrogênio amoniacal durante a 3 ª fase de adaptação ( (a) sistema 1, (b) sistema 2). Concentração NH 3 -N (mg/l) 9 7 5 3 1 Concentração NH 3 -N (mg/l) 7 5 3 1 24/7/96 3/8/96 13/8/96 23/8/96 2/9/96 12/9/96 22/9/96 (a) 25/9/96 3/9/96 5/1/96 1/1/96 15/1/96 2/1/96 25/1/96 (b) Nessa fase, a perda de sólidos pelo efluente final de ambos os sistemas foi verificada apenas nas semanas iniciais, possivelmente devido à mudança repentina das condições de alimentação a que a biomassa foi submetida. A partir da segunda semana de teste, as concentrações de sólidos em suspensão voláteis no interior dos reatores permaneceram em torno de 4.1 mg/l e 3.5 mg/l, para os tanques 1 e 2, respectivamente. Durante toda essa fase, os valores de ph no interior dos tanques de aeração 1 e 2 foram mantidos na faixa de 6,5 a 7,, com eventuais quedas (ph da ordem de 5, unidades no período noturno). A temperatura manteve-se constante na ordem de 25 o C. Essa última fase de adaptação ocorreu de maneira satisfatória, demorando cerca de um mês para a biomassa apresentar bons resultados nos processos de degradação de fenol e nitrogênio amoniacal, não sendo necessária a paralisação do sistema. CONCLUSÕES Com base no trabalho realizado, concluiu-se que: A diferença no comportamento apresentado pelos tipos de inóculos utilizados durante os testes parece estar relacionada com a história da cultura. O grau de adaptação aos compostos fenólicos apresentados pela biomassa do sistema de tratamento de refinarias e ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 215
petroquímicas foi maior que o da ETE Barueri, cujo afluente foi predominantemente doméstico. Particularmente na última fase, a adaptação transcorreu de maneira satisfatória, dispensando qualquer tipo de intervenção nos sistemas e demorando em torno de 4 semanas para a biomassa apresentar bons resultados nos processos de nitrificação e degradação do fenol. É possível a operação de sistemas de lodos ativados de um único estágio a diferentes idades do lodo, para tratar despejos com características semelhantes às utilizadas nessa pesquisa. Durante os períodos de inverno é necessário a utilização de temperaturas acima de 2 o C, para garantir o desempenho satisfatório do tratamento de despejos com características semelhantes às utilizadas nessa pesquisa, por sistemas de lodos ativados de um único estágio. O controle de ph é fator preponderante para a adaptação e tratamento de despejos desse tipo. A faixa recomendada deve ficar situada entre 6,8 e 7,2, no interior do tanque de aeração. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ANTHONISEN, A. C.; LOHER, R. C.; PRAKASAM, T. B. S.; SRINATH, E. G. Inhibition of nitrification by ammonia and nitrous acid. Journal of Water Pollution Control Federation, v. 48, n. 5, p. 835-52, 1976. 2. CONAMA. Conselho nacional do Meio Ambiente. Resolução n o 2. 18/6/1986; 3. ECKENFELDER, W. W.; MUSTERMAN, J. L. Activated sludge treatment of industrial wastewater. Lancaster, Technomic. 1995; 4. FORD, D. L. Troubleshooting and control of nitrification wastewater treatment systems. American Institute of Chemical Engineers Symposium Series. v. 77, n. 29, p. 159-7, 198. 5. JONES, D. D.; SPEAKE, J. L.; WHITE, J.; GAUTHIER, J. J. Biological treatment of high-strength coke-plant wastewater. in: INDUSTRIAL WASTE CONFERENCE, 38., Purdue University, 1984. Proceedings. Ann Arbor, Science Publ., 1984. p. 561-7; 6. LEITE, J.V. Avaliação da Toxicidade do Fenol em Sistemas de Lodos Ativados - Utilização do Método Fed-Batch-Reactor (FBR) modificado. Dissertação de Mestrado. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo. 1997 7. LUDZACK, F. J.; SCHAFFER, R. B. Activated sludge treatment of cyanide, cyanate and thiocyanate. Journal of Water Pollution Control Federation, v. 34, n. 4, p. 32-41, 1962 8. MORITA, D. M. Tratabilidade de águas residuárias contendo poluentes perigosos - estudo de caso. São Paulo, 1993. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. 9. NEUFELD, R. D.; HILL, A. J.; GREENFIELD, J. H. Factors influencing biological nitrification of steel industry wastewaters. American Institute of Chemical Engineers Symposium Series, v. 77, n. 29, p.151-8, 198a. 1. ROŠ, M. Respirometry of activated sludge. Lancaster, Technomic, 1993. 11. SUTTON, P. M.; BRIDLE, T. R. Biological nitrogen control of industrial wastewater. American Institute of Chemical Engineers Symposium Series, v. 77, n. 29, p. 177-85, 1981. 12. U.S. ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENGY (USEPA). Nitrogen control. Lancaster, Technomic, s. d. 13. VERSTRAETE, W.; VANSTAEN, H.; VOETS, J. P. Adaptation to nitrification of activated sludge systems treating highly nitrogenous waters. Journal of Water Pollution Control Federation. v. 49, n. 7, p. 164-8, 1977. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 216