MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM PERNAMBUCO 4º OFÍCIO DA TUTELA COLETIVA Autos nº. 1.26.000.001032/2012-11. Promoção de Arquivamento 1. Cuida-se de procedimento administrativo instaurado a partir de representação formulada pelo Sindicato dos Policiais Federais de Pernambuco - SINPEF/PE, em que noticiou suposta irregularidade nos concursos públicos regidos pelos editais nº 01/2012 e nº 2/2012 - DGP/DPF, ambos de 14.03.2012, para provimento dos cargos de agente e de papiloscopista de Polícia Federal, consistente na fixação de prazos de validade dos certames de apenas trinta dias, prorrogáveis, uma única vez, por igual período. 2. Os aludidos instrumentos convocatórios, obtidos na internet foram acostados às fls. 10-51. Para instrução do feito, requisitaram-se informações à Direção de Gestão de Pessoal do departamento de Polícia Federal (fls. 09 e 52). 3. Em resposta, a Coordenação de Recrutamento e Seleção do Departamento de Polícia Federal encaminhou as informações a seguir resumidas, por meio do ofício nº 00071/2012-DPLAC/COREC/DGP-aps, de 02.05.2012: a) a União celebrou contrato de prestação de serviços técnicos especializados com a Fundação Universidade de Brasília (FUB) para a realização de concursos públicos para provimento de Av. Gov. Agamenon Magalhães, nº 1800 - Espinheiro Recife - PE - CEP 52021-170 Fone/fax: (81) 2125-7300
2 vagas nos cargos de agente de Polícia Federal (edital nº 01/2012- DGP/DPF, de 14 de março de 2012) e papiloscopista de Polícia Federal (edital nº 02/2012-DGP/DPF, de 14 de março de 2012); b) os concursos públicos em comento têm por objeto o provimento de 500 (quinhentas) vagas no cargo de agente e 100 (cem) vagas para o cargo de papiloscopista, especificamente para os quadros da Polícia Federal nos Estados do Acre, Amapá, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Roraima; c) os certames serão compostos de duas etapas, sendo a primeira destinada à admissão para matrícula no Curso de Formação Profissional, a ser executada pelo CESPE/UnB, mediante aplicação de provas objetivas (eliminatória e classificatória), exame de habilidades e conhecimentos aferidos por prova discursiva (eliminatória e classificatória), exame médico (eliminatório), exame de aptidão física (eliminatório), prova de digitação (eliminatório) e investigação social (eliminatório); d) a segunda etapa consiste no Curso de Formação Profissional, de caráter eliminatório e classificatório, a ser realizado na Academia de Polícia Federal no Distrito Federal; e) os atuais concursos foram programados para impedir a repetição de equívocos ocorridos em concursos anteriores, como o concurso de 2004, em que houve convocação de aprovados para frequência no curso de formação em 2009, com prejuízo à formação dos policiais, em decorrência de os candidatos se apresentarem em estado físico aquém do desejado; f) foi criado Grupo de Trabalho no órgão para estabelecer diretrizes visando a aperfeiçoar as seleções para os cargos da Polícia Federal, sendo os editais em questão fruto das conclusões desse GT; g) entre as diretrizes citadas no GT, está a necessidade de periodicidade das seleções, devendo a abertura de concurso público ser precedida de planejamento interno da Polícia Federal,
3 que contemple suas necessidades por período curto, no bojo de uma política de gestão de pessoas de iniciativa interna, evitando a admissão de policiais desprovidos de critérios técnicos ; h) a realização de concursos em períodos curtos permite à Administração realizar processos seletivos mais enxutos e flexíveis, possibilitando a existência de cursos de formação com menor número de turmas; i) serão convocados para o curso de formação todos os candidatos classificados dentro do número de vagas, conforme ordem de classificação; j) caso ocorram desistências, haverá a possibilidade de novas convocações, conforme regras do Decreto nº 6.944/2009; k) os candidatos não convocados serão automaticamente eliminados do certame, com base nos Decretos nº 2.320/1987 e 6.944/2009; l) o prazo de validade tem por objetivo evitar eventuais obstáculos administrativos que atrasem as nomeações, e não para possibilitar a realização de novas turmas de formação, uma vez que o concurso foi concebido para selecionar turma única, mormente diante da revogação do artigo 10 do Decreto nº 2.320/1987, que trazia a regra de dois anos de validade dos certames, por meio da Medida Provisória nº 2.184-23/2001; m) a Constituição Federal apenas estipula o prazo máximo de dois anos, não obriga a Administração a adotar esse prazo específico; n) a portaria nº 450/02 do MPOG traz regra que estabelece o prazo de validade máximo de um ano, no âmbito do Poder Executivo;
4 o) o TCU, por meio da Resolução TCU nº 202/2007, estabelece, para seus concursos, o prazo máximo de validade de cento e vinte dias; p) os custos para realização de curso de formação de 600 (seiscentos) candidatos seria, praticamente, o mesmo se a turma possua menos alunos, o que traria prejuízo aos cofres públicos, sendo este um dos motivos para que a Polícia Federal realize apenas um curso de formação por concurso público. 4. É o que se põe em análise. 5. Consoante se relatou, a entidade representante questiona a fixação prazos de validade de apenas 30 (trinta) dias, prorrogáveis, uma única vez, por igual período, em concursos públicos promovidos pela Polícia Federal (editais nº 01/2012 e nº 2/2012 - DGP/DPF, ambos de 14.03.2012). Aduz, em síntese, que a prática seria abusiva e ofensiva aos princípios da Administração Pública. 6. No caso concreto, não assiste razão à entidade representante. 7. Consoante informações prestadas pela Coordenação de Recrutamento e Seleção do Departamento de Polícia Federal, a opção da Administração pela realização de concurso com tal prazo de validade baseou-se nas razões resumidas no item 3, acima. 8. Destacou-se que o modelo adotado nos certames em questão segue as diretrizes indicadas por um Grupo de Trabalho formado justamente para propor melhoria nos processos seletivos da Polícia Federal, os quais têm algumas peculiaridades, como a exigência de cursos de formação importante para a preparação dos candidatos a policiais. Segundo informado, os custos desses custos, com turma cheia (600 alunos), são similares àqueles previstos para turma pequena - R$ 1.458.881,41, de sorte que o modelo atual é menos dispendioso.
5 9. Por outro lado, ressaltou-se a inexistência de regra, constitucional ou infraconstitucional, que vede a realização de concurso com o prazo de validade estabelecido nos editais nº 01 e 02/2012-DGP/DPF. Citou-se, inclusive, no âmbito do Poder Executivo, a Portaria nº450/02 do MPOG estabelece o prazo de validade máximo de um ano, prorrogável por igual período. 10. Nesse contexto, à míngua de previsão legal ou constitucional específica, reputa-se que a escolha do administrador lastreou-se em dados objetivos, e visando à consecução da solução que melhor atendesse o interesse público. 11. Confira-se o seguinte trecho do ofício nº 00071/2012/DPLAC/COREC/DGP, de 02.05.12: Como demonstrado, o Grupo de Trabalho entendeu que, por uma questão de gestão estratégica, deve o Departamento de Polícia Federal pautar-se por realizar concursos públicos menores, com poucas vagas, evitando a sucessão de Cursos de Formação em um mesmo concurso, o que foi planejado para o presente certame, quando foram previstas apenas 500 9quinhentas) vagas para Agente de Polícia Federal e 100 (cem) vagas para Papiloscopista Policial Federal e foi realizado nos concursos executados em 2009, com apenas 200 9duzentas vagas para Agente de Polícia Federal e 400 (quatrocentas) vagas para Escrivão de Polícia Federal, selecionando apenas os melhores classificados e aprimorando o Curso de Formação Profissional. O resultado apurado pelo Grupo de Trabalho foi apresentado e aprovado pela Direção-geral da Polícia Federal. 12. Portanto, in casu, a utilização de prazo de validade menor do que o usualmente praticado em concursos públicos, além de não encontrar óbice na legislação em vigor, está inserida no planejamento estratégico do órgão, objetivando conferir maior eficiência nas seleções lançadas pela Polícia Federal e em seus respectivos cursos de formação.
6 13. Como sabido, a Constituição Federal, em seu artigo 37, III 1, estabelece que o prazo de validade de concurso público pode ser de até dois anos, prorrogável pelo mesmo período, respeitando a prorrogação, obviamente, o prazo inicialmente fixado. Assim, vale repetir, não há óbice à fixação de prazo de validade menor pelo Poder Público, com base em critérios de conveniência e oportunidade da Administração. 14. A matéria já foi objeto de análise pelas Cortes Regionais Federais, conforme precedentes a seguir transcritos: ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. CONCURSO PÚBLICO. AGENTE DA POLÍCIA FEDERAL. AUTORIZAÇÃO PARA PROVIMENTO DE NOVOS CARGOS POR PORTARIA DO MARE. DISCRICIONARIEDADE DA ADMINISTRAÇÃO. PRAZO DE VALIDADE INFERIOR AO PREVISTO NO DECRETO-LEI 2.320/87. NULIDADE DO EDITAL. INEXISTÊNCIA. 1. A simples autorização para provimento de novas vagas pelo Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado não obriga a Administração ao preenchimento imediato desses cargos. A matéria pertence ao âmbito de sua discricionariedade, ante o que não pode ela ser compelida a efetuar o provimento. 2. O Decreto-Lei 2.320/87, anterior que é à Carta Magna, a ela se deve adequar, bem como à posterior Lei 8.112/90, que não veda a fixação de prazo menor que o teto constitucional de dois anos, prorrogável por igual período. 3. Não há lesão à moralidade administrativa pelo fato de o concurso fixar prazo de validade de apenas 45 dias, improrrogáveis. A minoração do lapso temporal pode se prender a fatores úteis à Administração, tais como o empossamento de candidatos efetivamente mais bem preparados para o cargo e a abertura de possibilidade de habilitação de pessoal novo, que tenha atingido os requisitos exigidos pelo concurso no interstício entre um e outro certame. 4. Apelação improvida. (AC 200004010917603, TAÍS SCHILLING FERRAZ, TRF4 - TERCEIRA TURMA, DJ 25/04/2002 PÁGINA: 469.) 1Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) [...] III - o prazo de validade do concurso público será de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual período;[...]
7 APELAÇÃO. CONCURSO. PRAZO DE VALIDADE. DIREITO À NOMEAÇÃO. AUSÊNCIA NO CASO CONCRETO. IMPROVIMENTO. I - O ART. 37, III, DA CF, NÃO OBRIGA O ADMINISTRADOR, EM SEDE DE CONCURSO PÚBLICO PARA ADMISSÃO DE PESSOAL, A FIXAR PRAZO DE VALIDADE IGUAL A DOIS ANOS, PODENDO HAVER A FIXAÇÃO DE INTERVALO MENOR. II - SE A ADMINISTRAÇÃO, EM CONCURSO CUJAS VAGAS SÃO FIXADAS PARA CADA ESTADO DA FEDERAÇÃO, FAZ INSTAURAR, AO DEPOIS DE SUA VALIDADE, FIXADA EM PRAZO INFERIOR A DOIS ANOS, NOVO CERTAME, SEM DESTINAR VAGAS À UNIDADE FEDERATIVA PARA A QUAL FORA APROVADA A APELANTE, ATÉ MESMO PORQUE AQUELAS FORAM DEVIDAMENTE PREENCHIDAS, NÃO RESTA CONFIGURADO A FIGURA DO DESVIO DE PODER, NÃO HAVENDO, PORTANTO, DIREITO SUBJETIVO À NOMEAÇÃO. III - APELO IMPROVIDO. (AC 200105000450504, Desembargador Federal Edílson Nobre, TRF5 - Quarta Turma, DJ - Data::09/12/2002 - Página::979.) 15. Em face de todo o exposto, por não vislumbrar indícios de improbidade administrativa ou de qualquer irregularidade que justifique a adoção de outras medidas por parte do Ministério Público Federal, promovo o arquivamento do presente feito, com amparo no art. 9 da Lei n 7.347/85 e do art. 17, caput, da Resolução n.º 87/2006, do CSMPF. 16. Comunique-se a presente decisão à(ao) noticiante, nos termos do art. 17 da Resolução CSMPF nº. 87, de 2006, cientificando-a(o), inclusive, da previsão inserta no 3º desse dispositivo. 17. Em seguida, encaminhem-se os autos à 5ª CCR/MPF, no prazo estipulado no 2º do art. 17 da Resolução CSMPF nº. 87, de 2006, para fins de revisão. Recife, 17 de maio de 2012. Carolina de Gusmão Furtado PROCURADORA DA REPÚBLICA