Assim como fora extirpado o cerrado, também foram os festejos, as comemorações tradicionais do lugar e também os geralistas.



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Transcrição:

9 INTRODUÇÃO Este trabalho que ora inicia, é fruto da indagação de um adolescente, sobre acontecimentos no meio ambiente físico, econômico e social, no Município de Quartel GeralMG. Esses acontecimentos foram observados em razão da repentina e drástica degradação de uma parcela do cerrado no Centro-Oeste Mineiro, localizado no Alto São Francisco, sem perspectiva de retorno da antiga paisagem existente. Nota-se na paisagem urbana que a sua fase mais bela e enfeitada ocorre no mês de dezembro, em razão da comemoração das festas de final de ano, sendo a mais pomposa a festa do natal, por meio dos enfeites coloridos, embelezando as vitrines dos estabelecimentos comerciais. A zona rural também possui sua época mais bela, a qual acontece no mês de setembro, início da primavera, momento em que a natureza se transforma. Nesta época há uma renovação de suas cores, por meio do nascimento de novas folhas e flores. A fauna não diferentemente também possui seus momentos de euforia, época em que acontece a maioria dos acasalamentos dos animais, a busca pela alimentação, migração, etc. Mas esta paisagem acima descrita, infelizmente foi bastante reduzida. Onde se via uma curva de estrada, uma porteira de divisa das diversas propriedades, ou um velho pé de jatobá, ou de pequi, uma sede da propriedade rural, um capão de mato, identificadores de caminhos e lugares, foram extirpados, por máquinas. Estas trabalhavam diuturnamente, destruindo todos esses pontos referenciais, e juntamente com eles todo o glamur da natureza. Durante os passeios campais via-se famílias inteiras deslocando pelas gerais para assistirem a um jogo de futebol, a um terço, ouvir folias; enfim, a festejos, comemorações tradicionais do lugar ou se deslocando para os afazeres nos campos.

10 Assim como fora extirpado o cerrado, também foram os festejos, as comemorações tradicionais do lugar e também os geralistas. E é neste contexto que a questão do meio ambiente vem sendo cada vez mais discutida nos últimos anos. Mudanças de consciência e comportamento vêm tornando-se necessários, no sentido de preservá-lo, ou seja, encontrar maneiras que possibilitem o crescimento econômico sem prejudicar gerações futuras. Na década de 1970 principalmente na Europa, vários pesquisadores notaram também, mudanças expressivas no meio ambiente físico e sócio-econômico, pois, para a maioria dos países daquela época, o crescimento econômico esteve ligado à exploração dos recursos naturais de forma indiscriminada. Naquele momento não havia preocupação com a degradação do meio ambiente, assim reza a doutrina neoclássica1 com suas proposições básicas: individualismo metodológico, racionalidade econômica, concorrência, etc. Coadunando com a mesma linha de pensamento está também a teoria da regulação fordista/fossilista que tem como premissa a idéia da inesgotabilidade dos recursos naturais (DICIONÁRIO DO PENSAMENTO SOCIAL DO SÉCULO XX, 1996, p. 228-229). Em contraposição a esse pensamento de que o aumento da poluição e esgotamento dos recursos naturais são conseqüências imprescindíveis ao crescimento, surge a concepção do desenvolvimento sustentável; de acordo com a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), criada em 1992, para implementar as convenções e tratados aprovados na ECO 92 e definido no Relatório Nosso Futuro Comum da Brundtand Commission (Comissão Mundial para Meio Ambiente e Desenvolvimento). Entende-se como o desenvolvimento sustentável o processo de transformação no qual a exploração dos recursos naturais, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações humanas <http://www.fbds.org.br>. Acesso em: 09 mar. 2006. Este é o grande desafio enfrentado pela sociedade, ou seja, o homem (como recurso e sujeito) sendo também alvo do desenvolvimento, isto é, a importância de se contabilizar o meio ambiente o qual pode trazer benefícios tanto às empresas quanto à sociedade como interessadas 1 Entende-se por teoria neoclássica a lógica que prioriza o mercado em detrimento do social (DICIONÁRIO DO PENSAMENTO SOCIAL DO SÉCULO XX) 1996: p. 118-229.

11 na proteção ambiental, para isto é necessário que as empresas realizem o retro-investimento nas áreas de saúde educação/cultura e lazer. O processo de deteriorização e degradação ambiental pode aniquilar a existência tanto das empresas produtoras de eucalipto bem como do meio ambiente; e é nessa perspectiva que surge a responsabilidade social2 dos empreendedores florestais; com isto viabilizar a aplicabilidade do desenvolvimento sustentável. Cabe ressaltar que a silvicultura no Brasil ocupa uma área (principalmente o cerrado) aproximada de cinco milhões de hectares, o equivalente a 0,6% do território nacional (Associação Mineira de Silvicultura, 2004 p. 5). Esta área sofreu expansão com maior velocidade durante o período de 1968 a 1980, visando fornecer carvão vegetal para a siderurgia (ASSOCIAÇÃO MINEIRA DE SILVICULTURA, 2004, p. 05, ZHOURI: LASCHEFSKI e PEREIRA, 2005, p. 260 e BOLETIM PAULISTA DE GEOGRAFIA, 2001, p. 09). Há na literatura muitos estudos sobre o impacto no meio ambiente físico, e biológico pela plantação generalizada do eucalipto. Pesquisas realizadas no setor de produção de eucalipto, como as de Cláudio Guerra (1995) (na região Bacia do rio Piracicaba Sudeste de Minas Gerais), Gontijo (2001) e Klemens Lascheski (2005) (na região Norte de Minas Gerais), Baggio (2002) (na região Noroeste de Minas Gerais) e outros mais, já demonstraram que o plantio generalizado de eucalipto traz para a população local impacto físico ambiental além dos impactos socioeconômicos. O Município de Quartel Geral-MG, situado no Centro-Oeste do Estado (Alto São Francisco), evidencia também este problema, a polêmica da produção de eucalipto pela Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira a partir do ano de 1977, a qual continua seu empreendimento no Município até os dias atuais. 2 Entende-se como responsabilidade social o ato ou exercício da cidadania que o meio empresarial se compromete com a geração de riqueza social <http://www.fiemg.com.br>. Acesso em: 26 abr.2006.

12 FIGURA 01: Mapa de Minas Gerais com a localizção do Município de Quartel Geral-MG e Municípios de seu entorno, limitando à esquerda (Oeste) com o rio Indaiá e à direita (Leste) com o rio São Francisco. Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 1991-2000. p. 01. e Plano Decenal de Educação Municipal de Quartel Geral-MG, 2006.p.31. Analisando a teoria neoclássica, a qual é enfática ao colocar o crescimento econômico em detrimento do desenvolvimento social, e por outro lado vários pesquisadores apontarem que há a necessidade de que seja implantado um desenvolvimento sustentável nas áreas de reflorestamento (seja para amenizar ou evitar os impactos socio-econômicos), parte-se então da seguinte indagação. Quartel Geral possuindo uma vasta plantação de eucalipto em seu Município, em analogia: será que ele possui problemas semelhantes como os já constatados em outras regiões ou localidades? Tendo em vista a necessidade de verificar os impactos sócio-econômicos causados pela produção de eucalipto no Município de Quartel Geral-MG, e quase nada foi pesquisado, muito se tem a estudar sobre o tema, encontrando problemas e propondo sugestões e possíveis soluções. Dessa forma, propõe-se a realização dessa pesquisa, que abordará o tema de maneira

13 geral, servindo de base para pesquisas mais avançadas. Justifica-se ainda a realização da pesquisa, uma vez que esta possui relevância social, ao verificar se houve perda de identidade social dos moradores de Quartel Geral-MG. O meio ambiente físico é um recurso significativo para muitas empresas, e ele tem de ser administrado eficientemente para o benefício da empresa e sociedade. Nesse sentido, a presente pesquisa busca analisar os impactos sócio-econômicos do Município de Quartel GeralMG, com fundamentos na seguinte pergunta orientadora: - Quais foram os principais impactos sócio-econômicos causados pela plantação de eucaliptos no Município de Quartel Geral/MG, no período de 1977 a 2.006? Para uma melhor compreensão deste processo, objetiva-se definir o que são impactos sócio-econômicos para delimitar o trabalho; obter um diagnóstico sócio-econômico anterior à plantação do eucalipto no Município e um outro atual, para que possa ser feito um paralelo entre ambos, com a finalidade de detectar se houve impacto sócio-econômico e seus reflexos na comunidade quartelense. Objetiva-se também verificar se houve responsabilidade social dos produtores florestais, por meio de depoimentos e observação própria, conforme proposto na metodologia. Diante do exposto, faz-se necessário à adoção de procedimentos metodológicos para a concretização deste trabalho, tais como: pesquisas bibliográficas e consultas a material especializado sobre os impactos sócio-econômico, constituído principalmente de fontes secundárias: livros, artigos, periódicos, fontes iconográficas e por meio de alguns materiais disponibilizados na Internet; levantamento de dados em fontes primárias de campo: nas empresas Companhia Agrícola Florestal (CAF)3, Companhia Siderúrgica Belgo Mineira, arquivos da Prefeitura Municipal de Quartel Geral-MG, no Cartório de Registro de Imóveis e de Pessoas Naturais do Município, por meio de depoimentos de pessoas do meio rural e urbano, visitas a domicílios vizinhos da silvicultura e observações diretas. 3 Subsidiária da Companhia Siderúrgica Belgo Mineira.

14 Dessa maneira, a pesquisa procurou abordar as principais questões relacionada a esse assunto (econômica e social), a fim de que o leitor possa ter idéia das vantagens e desvantagens da produção de eucalipto para a população local. A pesquisa teórica teve a finalidade de colocar-se como um eixo de partida e ajudar a compreender melhor a temática. Os depoimentos darão uma idéia de como está sendo abordado o assunto pela empresa responsável pela silvicultura, e qual é a opinião pessoal de alguns moradores do Município. Para a realização do estudo, utilizaram-se métodos e técnicas qualitativa e estatísticas, e dados obtidos nas pesquisas na fonte direta para coleta destes. Foram descritas com exatidão uma série de informações sobre os impactos sócio-econômicos do Município de Quartel Geral/MG.

15 CAPÍTULO I SIDERURGIA4 E A VISÃO SOBRE O EUCALIPTO: IMPACTOS SÓCIO- ECONÔMICOS E AMBIENTAIS 1.1 O LIMIAR DA INDÚSTRIA SIDERÚRGICA EM MINAS GERAIS Não há como iniciar uma discussão sobre o processo de surgimento das siderurgias e das empresas produtoras de eucalipto no Brasil, sem antes nos apoderarmos do conhecimento e das condições que levaram e envolveram a instalação das primeiras siderúrgicas, bem como a entrada da cultura do eucalipto em nosso país e a relação de ambos. As aparições dos produtos5 siderúrgicos no Brasil e especificamente em Minas Gerais estão intrinsecamente ligados com a febre do ouro e do diamante no Sudeste brasileiro, com maior intensidade nas minas6. Estes produtos importados da Europa foram tomando maior vulto e circulação conforme aumentam a expectativa e extração do ouro e pedras preciosas, pois, estas ferramentas eram de suma importância na mineração (BAETA, 1973, p. 33-39). Observa-se que a produção, circulação e mercado no Brasil Colônia, tinham como centro a mineração7 onde os meios eram na sua quase totalidade voltados para esse fim. Já a agricultura8 não cobrava para a sua existência insumos como cobrava a atividade mineradora, ou seja, ainda não havia uma pressão da agricultura sobre estes utensílios agrários, pois, esta atividade era pontual e isolada (BAETA, 1973, p. 75). 4 O primeiro contato do homem com o ferro foi por meio da queda de meteoritos, que continham, além do ferro, cerca de 05 a 26% de níquel. A origem da palavra siderurgia vem do latim sidus, que significa estrela (JACOMINO et al, 2002, p. 23). 5 Picaretas, alviões, machados, pás, alavancas, cunhas, cravos, ferraduras, pinos, etc., os quais custavam três vezes mais caros do que em São Paulo e Rio de Janeiro. 6 Minas aqui entende-se como minas de produção de ouro e pedras preciosas, e que mais tarde vieram a legitimar o nome dado ao Estado (Minas Gerais). 7 A mineração atinge seu clímax em 1720, e a partir de 1750 inicia-se o seu declínio. In: ROCHA POMBO 1953. 8 Cultura do algodão, fumo, café e grãos em geral.

16 O sobrepreço dos utensílios utilizados na mineração prejudicava a atividade exploratória pelos pequenos mineradores (atingindo também os médios), pela dificuldade em obter tais insumos9. Outro óbice da mineração era o locus dos trabalhos realizados pelos mineradores; uma vez que tais ferramentas tinham que alcançar este longínquo sertão localizado no fundo10 do continente, aumentando assim a dificuldade de abordagem deste paradeiro. Estes fatores acima elencados, formaram condições para o declínio da extração do ouro e diamante em Minas Gerais. No entanto, neste período da mineração, as autoridades já possuíam o conhecimento da existência e abundância do minério de ferro em Minas Gerais; este mineral, ainda não havia sido processado nas forjas11 por falta de conhecimento técnico por parte dos moradores no Brasil Colônia e por ser uma atividade de alto custo. A primeira manifestação que encontramos favorável ao aproveitamento do ferro em Minas remonta a 1769. De fato, o Ouvidor-Mor de Sabará, José Lobo Peçanha, instado a dar parecer sobre a instalação de uma forja no Arraial de Nossa Senhora do Paraopeba[...] (BAETA, 1973, p. 55). Evidencia-se que a extração do ouro e do diamante é que realmente impulsionou o restante do comércio em grande parte do Território Colonial, e que a elite e investidores daquela época, já estavam interessados na mercadoria e no mercado proeminente em Minas Gerais, fazendo gerências com o intuito de instalar uma indústria siderúrgica, junto às minas; o que não demorou acontecer. Depois que o príncipe-regente recomenda a indústria siderúrgica em 1795, e determinou os estudos para a revisão dos impostos cobrados à entrada na Capitania dos produtos estrangeiros, estava assentado o marco inicial do amparo que os poderes públicos iriam assegurar à indústria nascente (BAETA, 1973, p. 59). É inegável que a escassez dos produtos derivados do ferro pelo sobrepreço, aliada à dificuldade de mineração, uma vez que as minas deixaram de ser exploradas a céu aberto e iniciou-se a exploração em galerias e trincheiras, aumentando assim o número de ferramentas sofisticadas para executar tal empreendimento levou as autoridades a instalar em Minas Gerais as 9 Estes produtos (ferramentas para extração de ouro e diamante) eram produzidos na Europa e exportados para o Brasil, mantendo assim uma dependência do mercado externo. 10 A palavra fundo está representando a parte mais interior do continente (para dentro), em relação ao litoral, termo usado por CORREA (1948). 11 Oficina onde se funde o ferro. In DICIONÁRIO ESCOLAR DA LÍNGUA PORTUQUESA, 1980, p. 501.

17 primeiras forjas de ferro12. O local da instalação das forjas não foi uma mera opção, tudo indica que foi pela imposição da localização da matéria prima13, mercado consumidor e mão de obra; elementos necessários para a produção do ferro e seus derivados. Segundo GONTIJO (1971) As siderúrgicas mineiras tiveram como forte incentivo para a sua expansão e crescimento: a abundância de matéria-prima, o apoio do governo e a grande quantidade disponível de lenha que serviria como fonte energética (GONTIJO, 1971, p. 59). 1.2. A INDÚSTRIA SIDERÚRGICA EM MINAS GERAIS Minas é um coração de ouro em peito de ferro Henry Gorceix 12 Em 1815, ficou pronta a usina do Morro do Pilar, em Minas Gerais, o primeiro estabelecimento do País a fundir ferro em alto-forno, custeada pelo Governo Imperial (BAETA, 1973, p. 198-241). E (JACOMINO, 2002, p. 28). 13 A fabricação do ferro dá-se em razão do afloramento do minério de ferro, a existência de quedas d água e de reservas de matas nativas (BAETA, 1973, p. 177).

18 FIGURA 02: Localização das indústrias de ferro gusa em Minas Gerais. Fonte: JACOMINO et al, 2002, p. 38. No início da década de 1920 a Companhia Siderúrgica Mineira 14 uniu seu capital com um grupo da Alemanha15, e a partir dessa sociedade surgiu a Companhia Siderúrgica BelgoMineira16. Essa Companhia participou ativamente na construção da cidade de João MonlevadeMG, e de outros núcleos urbanos nas adjacências, em razão da atividade siderúrgica, na produção de matéria prima para a construção civil e ligas especiais de aço. Já na década de 1940 17, a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira era responsável por aproximadamente 50% do aço 14 Entre os anos de 1917 e 1930 foram de avanços e surtos para a siderurgia brasileira; o mais importante foi a criação da Companhia Siderúrgica Mineira, a qual foi criada em 21 de janeiro de 1917 na cidade de Sabará-MG (http://www.arcelor.com.br.acesso em: 02 abr.2006 ). 15 Associação entre o consórcio industrial belgo-luxemburquês ARBEd-Aciéres Réunies de Bubach-Eich-Dudelange e a Companhia Siderúrgica Mineira(http:www.fiemg.com.br, acesso em 14 de abril de 2006) e (JACOMINO, 2002, p. 20). 16 A Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira foi a pioneira na implantação do reflorestamento na região. 17 Época do lançamento da primeira experiência brasileira de montagem de cidade industrial, na cidade de Contagem-MG (DINIZ, 1981, p. 17-241).

19 produzido no país. Nota-se seu engajamento direto e indiretamente na 2ª Guerra Mundial na inédita fabricação de insumos para a ferrovia brasileira, para as potências bélicas 18 e para o Exército Brasileiro. Disponível em <http://www.arcelor.com.br>.acesso em: 02 abr.2006 e (DINIZ, 1981, p. 30-55). Nos anos de 1950 a indústria brasileira da siderurgia aumentou sua produção em razão de dois fatores: energia e transporte19, a construção da nova capital e o crescente mercado automobilístico. Acompanhado a lógica da oferta e da demanda, as siderurgias procuraram expandir suas produções com a finalidade de atender um mercado interno em expansão. Por ocasião do Programa de Metas, mais uma vez as indústrias em apreço puderam crescer com seu mercado assegurado, pois a expansão dos setores de ponta da economia, sustentados no Estado e no capital estrangeiro, gerando empregos e incentivando a urbanização, propiciavam a expansão da demanda de bens não duráveis de consumo (DINIZ, 1981, p. 130). A partir da produção e do consumo em série (mercado interno), as siderurgias viramse forçadas a aumentar suas fontes de energia. Para isto iniciaram uma expansão significativa na plantação de florestas plantadas, com o objetivo de manter o impulso do progresso ora iniciado. A utilização da madeira do eucalipto no fabrico do carvão veio substituir outras fontes de energia, inclusive o carvão mineral. Hoje a energia principal utilizada pelas siderurgias é a do carvão vegetal, pois, ela é 87% economicamente viável do que a de combustíveis fósseis (LIMA, 1996, p. 25-44). Naquela época, primeiros anos da década de 1970, a indústria siderúrgica de Minas Gerais compreendia, além da Usiminas (única que utilizava o carvão mineral). A Cia. Belgo Mineira, a Mannesmann, a Acessita e pequenas indústrias de ferro-gusa instaladas nos Municípios de Barão de Cocais, Sete Lagoas e Divinópolis. O carvão vegetal era a principal fonte energética de todas elas (MELLO, 2001, p. 103). O Brasil atualmente ocupa o primeiro lugar no ranking mundial com áreas de silvicultura em eucalipto; isto se deu em razão dos seguintes fatores: a) da apropriação alternativa de energia pela madeira; b) pela legislação ambiental permissiva e 18 Estados Unidos e Inglaterra, daí decorrendo os chamados acordos de Wasghinton e a conseqüente criação da Companhia do Vale do Rio Doce. 19 Política desenvolvida pelo Governo Juscelino Kubitschek, o qual concentrou seu apoio a Centrais Energéticas de Minas Gerais (CEMIG) e ao Departamento de Estrada e Rodagem (DER) (DINIZ, 1981, p. 150).

20 c) de incentivos fiscais e subsídios. Este último fator teve início na década de 1960 com o apoio do Governo Federal. Na década de 1970 as empresas da região Sudeste viveram uma situação atípica, pois, poderiam deduzir 17,5% de seu imposto de renda em programas de reflorestamento (GUERRA, 1995, p. 38-39 e LIMA, 1996, p. 39). É de bom alvitre que se faça considerações a respeito da utilização, tão generalizada no período dos anos sessenta a oitenta, do eufemismo reflorestamento. A legislação brasileira não distingue o reflorestamento da silvicultura. Ou seja, para a lei brasileira não faz distinção entre plantar Eucalyptus (ou Pinus) para a obtenção da madeira, e entre tentar, por meio de um estudo rigoroso, selecionar e plantar espécies da flora nativa no desejo de reconstituir a cobertura vegetal original de uma região qualquer em toda a sua diversidade (GONTIJO, 1971, p. 64). A posição geográfica20 privilegiada do Estado de Minas Gerais no território nacional, o quadrilátero ferrífero contido neste e os incentivos fiscais para impulsionar as plantações de eucalipto, motivaram sobremaneira a instalação das indústrias guseiras neste Estado (ver figura 2), o qual vive hoje o boom do eucalipto. Aqui cabe lembrar que o elemento facilitador de todo esse avanço do reflorestamento com eucaliptos foi a devastação das matas nativas no Estado de Minas Gerais. Dados do Serviço de Estatística do Ministério da Agricultura mostram que o Estado de Minas Gerais, em 1947, produzia 40% do carvão vegetal do país. Em 1957, a produção mineira atingiu 50% do total brasileiro, subiu para 67% em 1962 e chegou aos 80% em 1990 (GUERRA, 1995: 43, apud ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CARVÃO VEGETAL). TABELA 01 20 Elemento facilitador para a boa penetração para o interior do país. Passagem obrigatória para Goiás e Brasília, via BR 050/040, próxima aos maiores mercados do país, Rio de Janeiro e São Paulo, além de possuir facilidade em escoar também sua produção para a região litorânea, por meio da malha rodo-ferroviária (DINIZ, 1981, p. 150).

21 EXPANSÃO DA ÁREA PLANTADA COM EUCALIPTO E PINUS NO BRASIL 1966 a 1990 Ano 1966 1973 1990 Área reflorestada no Brasil (ha) eucaliptos + pinus 400.000 1.000.000 6.500.000 Fontes: FAO (1981); ABRACAVE (1991); SALOMÃO (1993), (apud GUERRA, 1995 p. 13) TABELA 02 EXPANSÃO DA ÁREA PLANTADA COM EUCALIPTO EM MINAS GERAIS 1997 a 2004 Ano 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Área reflorestada em Minas (x 1000 ha) eucaliptos 24,3 31,8 32,4 48 63.4 71.5 104.7 150 Fonte: Por dentro do eucalipto (CELULOSE NIPO-BRASILEIRA - Cenibra) Apud Encontro Rural, 2004 p. 15) Por meio das tabelas 1 e 2 pode-se verificar que a área florestada pelas culturas de eucalipto e pinus cresceu significamente, principalmente no caso de Minas Gerais do ano de 1997 até 2004. O setor econômico mostra a sua capacidade de expansão de lucros e concentração de terras. Por outro lado, tal empreendimento indica que houve impacto ambiental e sócioeconômico nestas regiões de silvicultura. Quando se fala em reflorestamento, junto a esta atividade arrasta uma infinidade de outras subatividades, tais como: desmatamento, preparo do solo para o plantio, plantação, colheita, transporte, etc., até chegar ao produto final, que é a madeira pronta para ser beneficiada. E é neste contexto que surgem as empresas produtoras de madeiras21 para realizar tais tarefas e com elas os impactos ambientais e sócio-econômicos. Os produtos oriundos da madeira podem 21 Algumas enquadram como subsidiária de outras grandes empresas ou grupos.

22 ser os madeirados como: lenha, carvão vegetal, madeira bruta, celulose e madeiras processadas; e os não madeirados: ceras, óleos, aromáticos, medicinais, etc. No caso da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira para atender a demanda de carvão, esta inicia a expansão da cultura de eucalipto, principalmente em Minas Gerais 22, visando atender seus clientes e dar continuidade na produção de produtos derivados do gusa. A expansão dessa cultura é feita por meio da criação de Companhias subsidiárias para manter a impulsão dos negócios e atender as atividades de reflorestamento e de carvoejamento. Disponível em <http://www.arcelor.com.br>.acesso em: 02 abr.2006. Obedecendo a ordem da economia, as empresas responsáveis pela produção de madeiras de eucalipto, partiram para a lide de expandirem a área coberta de eucalipto, mais precisamente nas adjacências dos pólos guseiros, objetivando atender o chamamento da crescente demanda. Em Minas Gerais a demanda pelo carvão é mais agravada do que os outros estados, pela razão do parque industrial ser formado em grande parte por siderúrgicas e produtores de gusa. O Estado consome 80% do carvão vegetal do país23. (REVISTA ENCONTRO RURAL, 2004. p.13). 1.3. O EUCALIPTO O nome eucalipto24 vem do grego EU (BEM) e KALIPTO (cobrir), dada a estrutura globular arredondada de seu fruto, o qual tem a característica de ser bem protegido. É uma planta 22 A partir da década de 1930 registrou-se um grande aumento na produção siderúrgica nacional com a inauguração da usina de Monlevade. 23 O Brasil consome 400 mil hectares de florestas plantadas por ano. 24 É uma árvore de crescimento vertical tem copas enormes e que crescem em três direções, podendo atingir até 50 metros de altura. Possui o tronco sem galhos na parte inferior, trazendo assim vantagens no crescimento e no beneficiamento da madeira.

23 exótica25 originária da Austrália, onde existem mais de 600 espécies cobrindo uma área de quase 90% da área de vegetação do país. Esta planta encontrou em nosso país as condições ideais para o crescimento, a qual foi introduzida no Brasil no fim do século XIX, primeiramente visando a produção de energia26 para abastecer as locomotivas a vapor, além do fabrico de dormentes para ferrovias e mais tarde para o emprego de postes para eletrificação das linhas de comunicação e eletrificação (GUERRA, 1995: 17 e LIMA, 1996, p. 11). A partir do início do século XX, o eucalipto teve seu plantio intensificado no Brasil. As siderúrgicas mineiras começaram a utilizar a madeira desta cultura, transformando-a em carvão vegetal utilizado também no processo de fabricação de ferro-gusa27. A partir daí, novas aplicações foram desenvolvidas. Hoje encontra-se muito disseminado desde o nível do mar até 4.000 metros de altitude, em solos extremamente pobres, em solos ricos, secos e alagados, que vai desde 7º Norte até 43º 39 S (LIMA, 1996, p. 11-25). Na década de 1980 o eucalipto ocupou posição de destaque pelos motivos anteriormente citados; neste momento o Brasil além de produzir uma grande quantidade de madeira para fins energéticos (siderurgia), ocupou também a liderança na produção e exportação de celulose. Com isso o eucalipto foi rotulado como padrão para produção de matéria-prima florestal, por ser considerado de alto rendimento e de rápido crescimento para aplicação em seus diferentes usos. Atualmente, do eucalipto, tudo se aproveita. Das folhas, extraem-se óleos essenciais empregados em produtos de limpeza e alimentícios, em perfumes e remédios. A casca oferece tanino, usado no curtimento do couro. O tronco fornece madeira para sarrafos, ripas, vigas, postes etc. Sua fibra é utilizada como matéria-prima para a fabricação de papel e celulose (LIMA, 1996, p. 25-30). 1.3.1 A MONOCULTURA DE EUCALIPTO VISTA COMO UMA PLANTA DO MAL 25 Espécie que foi estabelecida pela primeira vez em um local situado a distâncias significativas de sua região de ocorrência natural (LIMA, 1996, p. 28). 26 Os primeiros plantios foram feitos em escala comercial e não em escala industrial (LIMA, 1996, p. 11). 27 Matéria prima semi-acabada utilizada principalmente na indústria de autopeças.

24 GRÁFICO 01 EXTRAÇÃO DE NITROGÊNIO (KG/HA) VÁRIAS CULTURAS 8 ANOS Nitrogênio Kg /ha 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 Cana Milho Café Feijão Soja Eucalipto Culturas Fonte: Barros (1990) apud CAF Santa Bárbara Ltda. p. 17 e Departamento de Pesquisa de Solo UFV apud MELLO (2001, p. 139). Indubitavelmente que a maioria dos pesquisadores, cientistas e leigos, critiquem a eucaliptocultura, pois, a princípio é uma atividade a qual nega o adequado manejo, seja no tocan te à preservação do meio ambiente físico e social, nas regiões de operação desta silvicultura. Outro fator é que sua produção está intrinsecamente ligada ao capitalismo selvagem, ou seja, o social fica relegado sob o discurso de um crescimento econômico. Não merece a pena repetir mais o que é o eucalipto: é contra os seres vivos, é contra a terra, é contra a água, é contra tudo e todos. È difícil compreender como este povo do campo aceita sossegado e tranqüilo que lhe conspurquem as melhores terras aráveis com o infernal glóbulo que ameaça tornar-nos um deserto (FEIO, 1989, apud LIMA 1996, p.21). Não devemos esquecer que existem outras monoculturas extensas sendo introduzidas e manejadas em nosso país. Contudo, em Minas Gerais, por exemplo, não se fala com tanta veemência do café, da brachiária, soja, trigo, cana de açúcar, etc, como se fala do eucalipto,

25 sendo que todas são monoculturas em sua grande maioria produzidas em grande extensão. Por quê há essa discriminação com tal cultura? A destruição do cerrado28 inicia-se a partir dos anos de 1970, isto se deu por vários motivos, entre outros, os incentivos governamentais29. Parte do cerrado destruído fora ocupado pelas diversas monoculturas, e neste contexto o bioma cerrado perde sua referência sobre sua Flora e Fauna, ou seja, pouco resta deste sistema, a não ser a caracterização do solo anteriormente coberto pela dita vegetação. Este solo às vezes é apresentado na forma desnudo, exposto às intempéries da natureza em razão de certas particularidades da produção de madeira, no caso da silvicultura (ZHOURI; LASCHEFSKI e PEREIRA, 2005, p. 195-196). De acordo com (LIMA, 1996, p. 29) a eucaliptocultura não afeta somente o meio ambiente físico, ela atinge diretamente o social. Prova disso acontece quando realiza a conversão do uso de terras maquináveis ou não, usada na produção de subsistência para a produção de madeira de eucalipto. Tal procedimento reduz o número de pequenos e médios proprietários30, atingindo assim de forma direta e negativa as relações de produção de base familiar, as relações culturais e socioeconômicas, os saberes locais, etc; atinge também de forma indireta as populações vizinhas da monocultura. LIMA (1996) coadunando com a mesma linha de pesquisa de ZHOURI; LASCHEFSKI e PEREIRA, (2005) e outros mais, chegou a resultados semelhantes a destes últimos citados que o espaço ambiental quando apropriado na forma de latifúndios - dando a precedência ao capital em relação ao social - conduz a eclosão de conflitos ambientais e sociais. Estes conflitos surgem em virtude de não haver uma responsabilidade socio-ambiental por parte dos empreendedores. Portanto, tal procedimento legitima a capitalização da natureza. O conflito eclode quando o sentido e a utilização de um espaço ambiental por um determinado grupo ocorre em detrimento dos significados e usos que outros segmentos sociais possam fazer de seu território, para, com isso, assegurar a reprodução do seu modo de vida. Entendemos, pois, que projetos industriais homogeneizadores do espaço, 28 È uma formação herbáceo-lenhosa com árvores tortuosas e de pequeno porte, que cobre uma grande superfície do Brasil Central, ocupando aproximadamente 20% do território nacional; em Minas gerais, recobre mais da metade do Estado GOLFARI (1975, p. 16). 29 Programas de desenvolvimento agrícola e a modernização da agricultura ZHOURI; LASCHEFSKI e PEREIRA (2005, p. 195) e MELLO (2001, p. 115). 30 Segundo o censo agropecuário (1996) de Quartel Geral-MG, médio produtor é aquele que possui uma área de 20 a 50 ha.

26 tais como hidrelétricas, mineração, monoculturas de soja, eucalipto, cana-de-açúcar, entre outros, são geradores de injustiças ambientais, na medida em que, ao serem implementados, imputam riscos e danos às camadas mais vulneráveis da sociedade. Os conflitos daí decorrentes denunciam contradições, nas quais as vítimas das injustiças ambientais não só são excluídas do chamado desenvolvimento, mas assumem todo o ônus dele resultante ZHOURI; LASCHEFSKI e PEREIRA (2005 p. 18). Os pesquisadores (ZHOURI; LASCHEFSKI e PEREIRA, 2005, p. 261-262) citam que as plantações de eucalipto em substituição pelo cerrado trazem mudanças significativas nos balanços hídricos do solo e das águas superficiais (mesmo sem comprovação), além da redução da biodiversidade. Esta redução pode acontecer de forma direta pela extirpação da vegetação e de forma indireta, seja pela intoxicação de aves, mamíferos, peixes, etc pelo emprego de inseticida, até mesmo pela migração destes animais para outro habitat. A quantidade e a diversidade de espécies animais que podem ser encontrados num dado ecossistema florestal dependem do número de nichos disponíveis no habitat. Nesse sentido uma monocultura quer seja de eucalipto ou de qualquer espécie, é reconhecidamente menos capaz de suportar uma alta diversidade de fauna (LIMA, 1993, apud CAF SANTA BÁRBARA). Não há como negar que a monocultura do eucalipto em grande escala causa graves conflitos socio-ambientais, principalmente para os pequenos e médios produtores rurais, além de estimular o êxodo rural. No entanto, pesquisadores julgam que o uso das silviculturas seja uma das saídas para a redução do agravamento social, utilizando para isto a aplicabilidade da política do mercado do carbono 31, que também tem o papel do desenvolvimento sustentado, principalmente nos países do Terceiro Mundo. 1.3.2 A MONOCULTURA DE EUCALIPTO VISTA COMO UMA PLANTA DO BEM 31 Durante a Terceira conferência das Partes, Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, em Quioto (COP-3), no Japão, em 1997, 36 países industrializados comprometeram-se a reduzir, até 2012, suas emissões de gases de efeito estufa em 5,2%, em relação aos níveis de 1990. Nesse contexto, foi criado o mercado de carbono, que permite a comercialização do direito de emitir certas quantidades de CO2 em troca de investimentos em projetos para implementar técnicas limpas de redução de tais emissões. O protocolo de Quioto entrou em vigor no dia 16 de Fevereiro de 2005 (ZHOURI; LASCHEFSKI; PEREIRA, 2005, p. 15).

27 O eucalipto não possui somente seu lado negro, esta cultura quando bem empregada pode ajudar a recuperar o meio ambiente físico e também o social. Esta cultura também pode ser usada em benefícios de forma direta e indireta, seja na descompressão sobre as florestas nativas (redução do uso de madeira das reservas naturais para o carvoejamento), na recuperação de áreas degradadas pela mineração, evitando a erosão e ou como quebra de ventos contra as construções civis, enfim, para diversos usos. A agrossilvicultura32 é mesmo vista como uma alternativa promissora para as propriedades rurais dos países do Terceiro Mundo. Pela integração da floresta com as culturas agrícolas e com a pecuária, ela oferece uma alternativa para enfrentar os problemas crônicos de baixa produtividade, de escassez de alimentos e de degradação ambiental generalizada (LIMA, 1996, p. 25-44). Um ponto a ser observado na expansão da monocultura de eucalipto foi a questão dos incentivos fiscais, os quais iniciados em 1965 pelo Programa Federal de Incentivos Fiscais, que findaram no ano de 1987. A partir deste ano os produtores florestais ficaram obrigados a custear seus reflorestamentos com recursos próprios, o que levou as empresas a recuarem um pouco sua expansão; em contrapartida houve um aumento na quantidade de carbono lançado na atmosfera. (LIMA, 1996, p. 30 e MELLO, 2001, p. 115). Isto leva a crer que a produção de eucalipto é um ponto positivo para o meio ambiente físico. ZHOURI; LASCHEFSKI e PEREIRA, (2005) também defendem o uso da monocultura de eucalipto, no que tange a sua participação no captura de carbono, tomando como base que o carbono é fixado na madeira durante seu crescimento, diminuindo assim o CO2 lançado na atmosfera. No entanto, citam a polêmica existente entre a produção e a conservação. É inegável que o uso do eucalipto em sistemas agroflorestais aplicando o manejo de forma correta, ou seja, sendo criterioso na escolha da espécie do eucalipto, combinando com o tipo de solo, com plantações em sistema não contínuo, tudo isso vem amenizar o problema econômico, social, cultural e do meio ambiente físico na região produtora da silvicultura. Em algumas regiões, as condições climáticas são tais que a única alternativa viável de cultivo agrícola depende de sua proteção contra a ação dos ventos. Nessas condições, o eucalipto pode contribuir em muito como quebra-vento, pela sua robustez e por sua alta taxa de crescimento. O eucalipto é ainda, de valor inquestionável para a produção de 32 Constituem o uso combinado da terra para fins florestais e de produção agrícola. O termo agrossilvicultura tem a mesma conotação de sistema agroflorestal.

28 lenha, assim como para funcionar como árvores de utilização múltipla em uma propriedade rural. Uma vez que o eucalipto não é, normalmente, comido pelos animais domésticos, as mudas e as plantas não necessitam de proteção, o que é também um aspecto favorável que visa à sua utilização em sistemas silvapastoris ou agrossilvapostoris (LIMA, 1996, p. 189). Quanto ao impacto ambiental a silvicultura pode contribuir sobremaneira de forma positiva para a proteção do solo e da conservação de nutrientes, quando plantada em condições não perturbadoras, ou seja, com um correto manejo florestal. O regime da água do solo e subterrânea sob uma plantação de eucalipto, não é diferente de qualquer outra cultura ou vegetação, além de comportar de igual maneira quanto da flutuação do nível freático. (LIMA, 1996, p. 210). Como espécie florestal de múltiplas utilizações, as espécies de eucalipto, finalmente, estão mostrando resultados positivos quanto a sua possível utilização em sistemas agroflorestais nos países tropicais. [...] A associação agrossilvicultural com algumas culturas agrícolas durante a fase inicial de crescimento das árvores, por outro lado, tem mostrado resultados economicamente promissores e de benefícios ecológicos mútuos (LIMA, 1996, p. 211). LIMA (1996, p. 210-212) é enfático em afirmar que a silvicultura recebe crítica generalizada sobre o eucalipto, no que tange o meio ambiente. No entanto, ele ressalta que existem reflorestamentos ambientalmente inadequados, mas por outro lado existe possibilidade de melhorias no setor produtivo. No que se refere ao consumo excessivo de água, a esterilização do solo e outras condenações mais, são críticas sem fundamentos, pois até a presente data não foi provado que o eucalipto consome mais água do que qualquer outra monocultura. (ver tabela 3). O fato é que, realmente,... o eucalipto é um consumidor da água do solo, mas, até hoje, não há provas científicas de que cause maiores problemas de falta de água numa determinada região, desde que tomados os devidos cuidados ambientais... Nesse sentido, o descuido de muitas culturas tradicionais, ou os pastos são, seguramente, muito mais danosos ao sistema hídrico que uma plantação cuidadosa de eucalipto. (apud ZHOURI; LASCHEFSKI; PEREIRA; 2005. p. 278). TABELA 03