AS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA APLICADA À REABILITAÇÃO DO PACIENTE DIAGNOSTICADO COM DOENÇA DE PARKINSON: ESTUDO A PARTIR DA PERSPECTIVA DO PACIENTE I

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1 AS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA APLICADA À REABILITAÇÃO DO PACIENTE DIAGNOSTICADO COM DOENÇA DE PARKINSON: ESTUDO A PARTIR DA PERSPECTIVA DO PACIENTE I Kênia Ferreira Lima II Adriana de Oliveira Limas Cardozo III Resumo: A presente pesquisa é resultado do trabalho de conclusão de curso de graduação de Psicologia, onde se buscou identificar as contribuições da Psicologia aplicada à reabilitação na perspectiva do paciente diagnosticado com doença de Parkinson. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de estudo de caso e caráter exploratório. Foi entrevistado um paciente da clínica escola de Fisioterapia. Para a coleta de dados utilizou-se uma entrevista semiestruturada, sendo esta transcrita e submetida à análise de conteúdo. As perguntas foram elaboradas com a pretensão de alcançar os objetivos específicos: verificar os sentimentos vivenciados pelo paciente ao receber o diagnóstico de Parkinson; investigar a relação do acompanhamento psicológico do paciente com a adesão ao tratamento fisioterapêutico e medicamentoso; analisar a percepção do paciente sobre o acompanhamento psicológico. Com o resultado da pesquisa foi possível compreender a relação do processo psicoterápico com a melhoria na qualidade de vida do paciente, também foi possível identificar a frustração do paciente e como resolver seus conflitos internos puderam beneficia-lo. Palavras-chave: Psicologia. Reabilitação. Doença de Parkinson. 1 INTRODUÇÃO A longevidade vem sendo uma variável das transformações demográficas que se tornou evidente nos últimos anos. O Brasil abrange atualmente 208,5 milhões de habitantes, onde 28 milhões destes são representados pela população idosa (IBGE, 2018). A terceira idade é representada por indivíduos acima do 60 anos e caracterizada pelo envelhecimento. Envelhecer é um processo de ordem natural, do qual ocorre ou não o I Artigo apresentado como trabalho de conclusão de curso de graduação em Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Psicóloga. II Acadêmica do curso de Psicologia. E-mail: keniaflima16@gmail.com III Professora orientadora. Doutora em Ciências da Linguagem (Unisul). Mestre em Ciencias da Linguagem (Unisul). E-mail: adriana.limas@unisul.br

2 surgimento de doenças crônicas e fragilidades, mas que de alguma forma há uma perda da funcionalidade e afetam variáveis como percepção de risco, estado de alerta, atenção e mobilidade (BODSTEIN; LIMA; BARROS, 2014). A dopamina é uma das substâncias que o corpo humano passa a diminuir a produção com o envelhecimento. Esta é um neurotransmissor responsável pela comunicação entre um neurônio e outro, e atua na regulação motora dos movimentos voluntários. O processo de diminuição da produção da dopamina para alguns indivíduos é muito acelerado e sua carência leva a dificuldade da movimentação, que remete no surgimento da Doença de Parkinson (SOUZA et al., 2011). A Doença de Parkinson é encontrada em dois de três pacientes que visitam grandes centros de distúrbio do movimento. O início do quadro clínico costuma acontecer entre as idades de 50 e 70 anos, todavia é possível que o início possa ser precoce. A doença de Parkinson pode ocorrer em qualquer raça, classe social ou sexo (MENESES; TEIVE, 2003). A Doença de Parkinson é crônica e neurodegenerativa, caracterizada por sintomas físicos como rigidez muscular, tremor de repouso, bradicinesia e alteração postural, onde de algum modo acaba por afetar a rotina das pessoas que vivem com a DP, dos cuidadores e familiares (PETERNELLA; MARCON, 2009). Sintomas que incapacitam o sujeito de fazer algo, tanto física quanto mentalmente, remetem ao doente limitações. O significado psicológico da doença para os pacientes varia muito e cada sujeito percebe da sua forma. A maneira como o sujeito avalia o estado da sua saúde vai remeter no processo de aceitação do seu papel social de doente. O paciente precisa saber lidar com ele mesmo, tanto fisicamente quanto mentalmente. O modo como ele interpreta sua enfermidade é muito importante (NOVAES, 1975). A Doença de Parkinson afeta a pessoa de forma física, mental e social, e para garantir uma possível melhora efetiva, o atendimento adequado seria o modelo de atendimento a saúde biopsicossocial. O novo modelo traz para o paciente uma possível melhora na qualidade de vida, onde com um trabalho interdisciplinar com outros profissionais, o psicólogo tem um papel fundamental, onde algumas de suas possíveis intenções busca prevenir prejuízos psíquicos, promover atividades para a qualidade de vida e auxiliar na manutenção do medicamento junto com a família (BARRETO; FERMOSELI, 2017).

3 Diante do disposto acima, surgiram alguns questionamentos que deram origem a problemática desta pesquisa: Como a Psicologia aplicada à reabilitação pode contribuir na vida de um paciente diagnosticado com Doença de Parkinson? A pesquisa apresenta como objetivo geral: Identificar as contribuições da psicologia aplicada à reabilitação na perspectiva do paciente diagnosticado com doença de Parkinson, e como objetivos específicos: verificar os sentimentos vivenciados pelo paciente ao receber o diagnóstico de Parkinson; investigar a relação do acompanhamento psicológico do paciente com a aderência ao tratamento fisioterapêutico e medicamentoso; analisar a percepção do paciente sobre o acompanhamento psicológico. A pesquisa possui um olhar voltado para a área da saúde, por contribuir para uma melhor compreensão dos aspectos cognitivos do paciente, todavia pode-se considerar que esteja contribuindo ao trabalho dos terapeutas, cuidadores e familiares. Pretende-se que esta pesquisa acrescente ao tema abordado no que tange a qualidade de vida do paciente ao aderir o tratamento. 2 MARCO TEÓRICO 2.1 DOENÇA DE PARKINSON: DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO As células são unidades estruturais e funcionais fundamentais aos organismos vivos, cada qual possui função específica de regulamento e na maioria das vezes trabalham em conjunto (CLEMENTE; NETO, 2002). O neurônio é a célula do sistema nervoso responsável pela condução do impulso nervoso. Para que os neurônios se comuniquem é necessária à presença de dopamina, que é um neurotransmissor cerebral. A diminuição intensa da produção de dopamina causa a doença de Parkinson. A doença de Parkinson é crônica e progressiva que resulta na degeneração do sistema nervoso central em uma parte do cérebro chamada substancia nigra. A morte dos neurônios na substancia nigra resulta na carência de dopamina nesta área. A insuficiência desta substancia faz com que os neurônios de impulso nervoso não se comuniquem e surjam os sintomas físicos (MENESES; TEIVE, 2003). A etiologia da DP está sendo reconhecida como uma interação de fatores ambientais e genéticos (PEREIRA; GARRET, 2010). A doença também está associada com o

4 envelhecimento do qual por meio de um processo natural ocorre um declínio da capacidade funcional, equilíbrio e mobilidade. O Brasil por se tratar de um país que a população idosa vem crescendo, está mais propício a apresentar cada vez mais casos de DP (ROCHA, 2007). O diagnóstico da DP é definido quando há presença de dois dos principais sinais. O acompanhamento do processo de evolução é fundamental para a conclusão final e a definição do diagnóstico. A atitude do profissional ao dar o resultado da doença ao paciente precisa ser esclarecedora, visando tranquiliza-lo diante das possíveis mudanças em sua vida, pois cada qual pode reagir de maneiras distintas, podendo haver sentimentos negativos em relação a doença (PETERNELLA; MARCON, 2009). O principal tratamento para DP é o medicamentoso e a adesão ao tratamento é decisória para a efetividade terapêutica (MARCHI et al., 2013). A L-dopa é o medicamento mais utilizado no tratamento de DP por não ser tão agressiva como outros medicamentos e proporcionar aos pacientes maior satisfação (BARRETO; FERMOSELI, 2017). Contudo o tratamento medicamentoso não pode acabar com todos os sintomas, onde se recomenda a fisioterapia. O tratamento fisioterapêutico busca minimizar os sintomas motores para que o paciente alcance a autonomia e qualidade de vida. A doença de Parkinson por ser progressiva recomenda-se que o acompanhamento fisioterapêutico seja constante para prevenir falências musculares e a melhora do equilíbrio (VARA et al., 2012). O tratamento psicológico para doenças orgânicas compreende a relação entre o psíquico e o somático, buscando auxiliar no ajustamento da adaptação do paciente (NOVAES, 1975). A doença de Parkinson compromete o paciente em seu estado físico, mental e social e a importância do acompanhamento psicológico se mostra em prol de amenizar o impacto psicológico da doença para o paciente e para a família, que desde o começo vivencia todas as mudanças. A psicologia no decorrer do tratamento poderá estar dando apoio psicológico ao paciente, a família e ao cuidador (PETERNELLA; MARCON, 2009). 2.2 PSICOLOGIA APLICADA À REABILITAÇÃO A psicologia é a ciência que estuda o homem em sua totalidade, seus comportamentos e sentimentos. Estuda a subjetividade, como o ser vai se constituindo, o que vai experimentando, como se identifica com algumas coisas e se difere de outras. O psicólogo

5 através de técnicas e de seu conhecimento busca compreender o que o outro diz, deseja, pensa e se emociona. Para que o psicólogo possa entender o outro é necessário que a pessoa fale de si, reflita, para que o não dito também possa aparecer. A profissão do psicólogo é caracterizada por aplicar os conhecimentos e técnicas da Psicologia em prol da promoção da saúde. O psicólogo pode atuar em áreas e locais distintos, tais como em consultórios, hospitais, ambulatórios e instituições de saúde (BOCK et al., 2003). O psicólogo na reabilitação possui papel fundamental para a compreensão dos aspectos psicológicos do paciente, uma vez que este ao estar em um processo de reabilitação, busca restabelecer seu papel na sociedade e adaptar-se para obter sua autonomia. Assim sendo, entende-se que a enfermidade pode causar conflitos psíquicos ao paciente e a importância do psicólogo desde o seu diagnóstico fazendo acompanhamento pode auxiliar na adaptação do paciente em sua vida social, profissional e até mesmo familiar (NOVAES, 1975). O psicólogo deve levar em consideração a subjetividade dos indivíduos para poder entendê-los em sua totalidade. Os sentimentos e emoções auxiliam a orientação e tomada de decisões. Em muitas situações o indivíduo pode viver situações difíceis de sofrimento intenso, podendo necessitar de psicoterapia no sentido de compreender seus conflitos internos (BOCK et al., 2003). Os profissionais da saúde ao lidar com as dores físicas dos pacientes, enfrentam diariamente situações que interferem a eficácia do tratamento, pois necessitam considerar os aspectos psicológicos envolvidos. A psicologia juntamente com profissionais da fisioterapia, deixa de focar na dor psíquica e passa a promover saúde e bem estar, visando facilitar a compreensão de que estes aspectos precisam ser cultivados durante todas as fases da vida em prol de prevenir possíveis transtornos (MARINHO; FIORELLI, 2005). Estes mesmos profissionais, ao se voltarem para a melhoria na qualidade de vida do paciente possibilitam a diminuição do impacto da doença em suas vidas, podendo estar orientando e esclarecendo aspectos sobre a doença, sua evolução e suas formas de enfrentamento (PETERNELLA; MARCON, 2012). Atendendo a demanda de uma população idosa cada vez maior, que adoece e precisa de cuidados, é observado o investimento na capacitação de profissionais para aspectos curativos e de reabilitação. O psicólogo tem papel fundamental nos casos de atendimento interdisciplinar, pois da indignação da descoberta da doença até a aceitação é um longo

6 caminho a ser percorrido. O suporte psicológico é necessário não somente a pessoa que adoece, mas também para a família, que tende estar diretamente ligada a doença e afetada de alguma forma (PETERNELLA; MARCON, 2009). O ato de cuidar não é restrito a nenhuma cultura e todas expressam de formas variadas. A família parece ser um ponto comum entre as culturas, pois é a responsável pelas escolhas do cuidado. O cuidador geralmente é alguém da família ou alguém do meio domestico, mas a atividade de cuidar pode ser feita por um profissional contratado (SANTOS, 2003). Cuidar é prestar ao outro suas habilidades, sua preparação e sua escolha. Cuidar é levar em consideração as necessidades de cada pessoa cuidada, percebendo-a como é. O cuidado vai além do corpo, pois é preciso considerar a história de vida e os sentimentos da pessoa (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). O cuidador se estiver apto para sua função pode estar juntamente com outros profissionais, promovendo saúde ao doente (ENCARNAÇÃO, 1999). O cuidador deve observar as limitações da pessoa a ser cuidada e identificar o que ela pode fazer por si, auxiliando quando necessita e buscando sempre incentivar a pessoa cuidada a conquistar sua autonomia. Esta prática de cuidar de si é denominada de autocuidado, e segundo o Ministério da Saúde (2008, p. 07): Autocuidado significa cuidar de si próprio, são as atitudes, os comportamentos que a pessoa tem em seu próprio benefício, com a finalidade de promover a saúde, preservar, assegurar e manter a vida. Nesse sentido, o cuidar do outro representa a essência da cidadania, do desprendimento, da doação e do amor. Já o autocuidado ou cuidar de si representa a essência da existência humana. A estimulação do autocuidado visa a preservação da capacidade funcional do portador, propiciando a pessoa a participar de atividades de lazer (SANTOS, 2003). Cuidar de alguém com dependência pode causar impactos físicos, psicológicos, sociais e financeiros. Assim sendo, entende-se que cuidar do cuidador é uma necessidade, pois o sucesso do cuidado depende de quem está cuidando, ou seja, da qualidade de vida do cuidador (MOREIRA; CALDAS, 2007). 3 MÉTODO

7 A pesquisa é classificada como exploratória. Quanto a abordagem da pesquisa, se caracteriza pelo caráter qualitativo. Para Serapioni (2000, p. 190), a abordagem qualitativa é utilizada por sua capacidade de fazer emergir aspectos novos, de ir ao fundo do significado e de estar na perspectiva do sujeito. O pesquisador não esteve interessado em quantificar os dados apresentados e sim abranger o assunto sobre as contribuições da Psicologia para o paciente que fez acompanhamento psicológico, as tornando mais explícitas. Yin (2001, p. 32), fala que um estudo de caso trata-se de uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real. Este trabalho pretendeu compreender por meio de um estudo de caso intrínseco, como o paciente compreende que a psicologia aplicada à reabilitação contribuiu em sua vida. Segundo Gil (2002, p. 138), um estudo de caso intrínseco constitui o próprio objeto de pesquisa. O que o pesquisador almeja é conhecê-lo em profundidade. Quanto aos materiais necessários foram utilizados um gravador, um computador, impressora, caneta, folha de papel sulfite A4 e o instrumento de coleta de dados. Como instrumento utilizou-se uma entrevista semiestruturada, visando levar em consideração a possível presença de dificuldade motora. Segundo Gil (2002, p. 115), a entrevista possibilita o auxilio ao entrevistado com dificuldade de responder, bem como a análise do seu comportamento não verbal. O instrumento de coleta de dados foi composto por questões levantadas com a finalidade de solucionar os objetivos específicos trazidos na presente pesquisa. A escolha do participante delimitou-se a uma pessoa diagnosticada com Doença de Parkinson que já tenha passado ou esteja em acompanhamento psicológico. O participante foi um paciente da Clínica Escola de Fisioterapia da Unisul, campus Tubarão, diagnosticado com doença de Parkinson, que estava em acompanhamento psicológico. Foi realizada uma entrevista no dia 25 de setembro de 2019. O ambiente utilizado para a aplicação continha as necessidades básicas para que se pudesse ser obedecido questões éticas e o sigilo do conteúdo coletado. No início da aplicação da entrevista fez-se a explicação das mesmas, além da entrega do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e da coleta de assinaturas para as autorizações de consentimento para a gravação dos áudios e com a pesquisadora se mostrando à disposição para qualquer dúvida conforme o protocolo 3.483.916 de aprovação do CEP.

8 Após a realização da entrevista foi transcrita o conteúdo e os dados obtidos foram analisados a partir do marco teórico exposto do presente artigo e atrelados às respostas trazidas pelos sujeitos pesquisados, onde foram alcançados através do instrumento. Para a proteção e sigilo do participante da pesquisa optou-se por trocar seu nome por A1. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS No presente capítulo serão mostrados os resultados e análise dos dados obtidos através de entrevista semiestruturada, realizada com a finalidade de buscar responder a problemática trazida neste estudo. Para que a análise pudesse ser feita, optou-se pela divisão das respostas obtidas na entrevista, sendo que as perguntas foram elaboradas com a pretensão de alcançar os objetivos específicos: verificar os sentimentos vivenciados pelo paciente ao receber o diagnóstico de Parkinson; investigar a relação do acompanhamento psicológico do paciente com a aderência ao tratamento fisioterapêutico e medicamentoso; analisar a percepção do paciente sobre o acompanhamento psicológico. O participante da pesquisa foi um paciente atendido pela Clínica Escola de Fisioterapia da Unisul, campus Tubarão. A descrição do perfil do paciente entrevistado corresponde a um senhor de 72 anos, que será identificado por A1. O paciente é residente da cidade de Tubarão, aposentado e estado civil casado. Antes do surgimento da doença de Parkinson o entrevistado tinha uma vida ativa, jogava futebol e estava cursando o terceiro curso superior. O primeiro sintoma da doença foi tremor na mão direita, onde por ser destro afetava a escrita. A1 respondeu acerca da pergunta: Quais foram os primeiros sintomas da Doença de Parkinson? o relato a seguir: Percebi na aula, quando ia escrever a mão estava tremendo, por ser destro, incomodou bastante. Eu chegava em casa depois da aula com as chaves do carro na mão e minha mulher sempre achava que estava balançando porque queria, por mania minha, até que um dia ela tirou as chaves e viu que eu continuava a tremer. A doença de Parkinson é caracterizada clinicamente pela presença de tremor de repouso. Segundo Meneses e Teive (2003, p. 51), o tremor é caracterizado pela atividade rítmica alternante de músculos antagonistas com uma frequência variável entre 3,5 e 7 Hz. Os aspectos físicos da doença recebem intervenções medicamentosas e fisioterapêuticas, onde a psicologia não pode contribuir, todavia o que este paciente pensa sobre o tremor e do olhar do outro faz parte do papel do psicólogo. A aprovação e aceitação do outro a respeito deste

9 individuo pode gerar nele ansiedade e agravar os tremores, onde um acompanhamento psicológico, para que este sujeito se entenda, assuma seu papel social e se aceite, se faz necessário. Após perceber que havia algo de errado com seu corpo, procurou o médico da família que o encaminhou para um médico neurologista, do qual solicitou exames feitos em Tubarão e outros em Florianópolis, acerca da pergunta De que forma obteve informações sobre a doença? a seguir o relato do resultado do exame: Na ressonância deu que um lado estava isquêmico. Já fiquei sabendo por ele que tinha Parkinson. A1 foi diagnosticado aos 49 anos de idade. Levando em consideração os aspectos da doença, A1 foi diagnosticado com idade inferior a idade predominante da doença, da qual segundo Meneses e Teive (2003, p.94) a doença de Parkinson afeta 1 em cada 1.000 indivíduos, com uma idade predominante de estabelecimento entre 55 e 65 anos. Ao questionar A1 Como se sentiu ao ser diagnosticado com doença de Parkinson?, respondeu da seguinte maneira: Me senti perdido. Fiquei muito abalado. Sem reação pelo que me lembro. Essa fala remete ao medo do desconhecido, A1 teria que lidar com uma doença neurodegenerativa da qual pouco sabia e é comum em casos como esse que o sujeito experimente o sofrimento. Por mais que cada sujeito esteja passando pela mesma realidade de ser diagnosticado com a doença de Parkinson, se diferem uns dos outros por sua subjetividade. A subjetividade segundo Bock et al. (2003, p. 23) é a maneira de sentir, pensar, fantasiar, sonhar, amar e fazer de cada um. É o que constitui o nosso modo de ser. Cada ser experimenta as situações de forma diferente. O diagnóstico de uma doença pode fazer com que o sujeito progrida em seus hábitos para se reajustar ou que ele enfrente a frustração. A situação frustradora pode ser definida como aquela da qual um obstáculo físico, social ou pessoal, impede o organismo de satisfazer uma necessidade, podendo incluir situações tanto de insatisfação como de ameaça, representando assim a doença uma frustração para o individuo. (NOVAES, 1975, p. 21) A1 experimentou a frustração, toda via não parou de trabalhar continuou até se aposentar, pois estava no início da doença e os sintomas tendem a não se manifestarem com intensidade, entretanto por se tratar de uma doença neurodegenerativa com o passar do tempo

10 ela vai avançando e afetando a vida do paciente, ao ser questionado O que a doença de Parkinson mudou em sua vida? eis a perspectiva dele sobre as mudanças em sua vida: A família toda ficou abalada. Eu tinha meu carro, minha mulher tinha outro. E eu não poderia mais dirigir. O impacto psicológico pode ser evidente onde ocorre mudança na vida do paciente e ao ter que depender do outro para realizar atividades das quais simbolizavam sua autonomia deixou A1 abalado. Não somente o paciente, mas também seus familiares muitas vezes necessitam de suporte psicológico. Segundo Melo et al. (2014, p.149), O papel do cuidador familiar é extremamente desgastante, provocando um aumento de sobrecarga emocional. O cuidador precisa estar bem para poder contribuir com o processo de reabilitação do paciente, pois está diretamente ligado aos manejos do tratamento. Após se aposentar e não ter mais equilíbrio para praticar seus esportes, A1 foi se retraindo socialmente se limitando a ficar mais por casa e devido às quedas passou a se sentir envergonhado de uma possibilidade de cair novamente em público. Gradativamente dos cômodos da casa se limitou ao seu quarto. O sujeito estudado começou a fazer acompanhamento psicológico há 4 anos e neste último ano fez o acompanhamento psicológico aplicado a reabilitação e eis o que o levou a procurar ajuda: Eu queria ficar sozinho no quarto, isolado. O sentimento que eu tinha de invalidez me corroía por dentro, uma tristeza profunda. Sentia que era o começo de uma depressão. O sujeito que esteja passando por algum sofrimento mental, tende a refletir em seu corpo ou comportamentos, podendo estar afetando o tratamento diretamente. a pessoa deprimida pode manifestar grande dificuldade para cumprir determinadas prescrições (p. ex., exercícios) porque, simplesmente, não consegue vislumbrar benefícios das atividades indicadas. Em situação de ginástica laboral, por exemplo, o individuo apresenta comportamentos típicos (alega mal-estar, indisposição, finge executar o movimento etc). (MARINHO; FIORELI, 2005, p.14). O exemplo usado pelos autores condiz muito com o que A1 havia passado, ele já não correspondia com as atividades fisioterapêuticas, com os exercícios diários e cabe ao psicólogo a preocupação de como a atividade psicológica pode estar prejudicando outros tratamentos. A percepção do paciente sobre a questão O atendimento psicológico auxiliou ou contribuiu no processo de reabilitação, incluindo a aderência ao tratamento medico e fisioterapêutico? se mostrou no seguinte relato: Passei a ser mais ativo, comecei

11 desenvolver autonomia, eu mesmo arrumo a minha bolsa da fisioterapia quando tem piscina. Sou mais animado, ajudo nos serviços com a casa quando a mulher precisa, gosto de passear na praia, não caio mais. O psicólogo está voltado para a melhoria na qualidade de vida do paciente e neste relato A1 mostra que está se desenvolvendo enquanto sujeito. A autonomia que era algo que o preocupava voltou a ser estabelecida e deixou-o aliviado. A severidade da DP pode ter maior impacto na qualidade de vida, dentro das áreas físicas, mobilidade e AVDs. Mas a adaptação psicológica para a doença, mensurada pelos índices de cognição, ansiedade, depressão, opinião própria, aceitação e atitude, é fator contribuinte que também interfere diretamente na QV, assim como a severidade da doença. Contudo, baixo nível de adaptação psicológica é mais importante que a severidade da doença para a piora da QV, sob o ponto de vista social, pois o acometimento das habilidades motoras promove decréscimo da independência física. (PETERNELLA; MARCON, 2012, p. 6). A1 se adaptou psicologicamente com sua condição física e conseguiu manter uma qualidade de vida satisfatória para si. Ao ser questionado sobre Sua relação com o diagnóstico antes e depois do atendimento psicológico percebeu-se que foi modificada uma vez que consegue ressaltar hoje suas potencialidades. Ficava escondido, com vergonha dos tremores e receio de cair na rua. Não queria ninguém perto. Hoje sou mais animado, passeio na praia, não tenho vergonha de sair. Minha felicidade é minha família, passear na praia, vir pra Unisul pra ser atendido na fisio e na psicologia. A percepção de A1 acerca do acompanhamento psicológico é de caráter positivo uma vez que o mesmo reconhece que adquiriu benefícios diretos. Para Oliveira e Machado (2014, p.365) O processo de reabilitação proporciona conscientização do paciente a respeito de suas capacidades remanescentes, levando a mudança na auto-observação e à possibilidade de aceitação da sua nova realidade. O reconhecimento da importância do trabalho interdisciplinar no tratamento de doença de Parkinson favoreceu ao tratamento de A1 e possibilitou a ele a melhoria na qualidade de vida. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

12 Tendo em vista os argumentos apresentados e a Doença de Parkinson como uma doença neurodegenerativa que afeta diretamente a vida do paciente e seus familiares, tornouse evidente os benefícios da Psicologia aplicada à reabilitação do paciente diagnosticado com DP. Diante das questões levantadas no processo de entrevista referentes ao sentimento e a relação com o diagnóstico, observou-se que ainda que o paciente tivesse suporte familiar e continuou fazendo as mesmas coisas, passou por um processo de frustração do qual se experimentou um corte na sua autonomia. Compreender como ele percebe a doença possibilitou identificar a sua frustração em relação ao diagnóstico. Com base no que se foi trabalhado no processo de entrevista referente à percepção de mudança durante o percorrer do processo psicoterápico vivenciado pelo paciente entrevistado, os resultados apontam para primeiramente para uma mudança de comportamento, onde o paciente passou a não se limitar ao quarto e sim conseguir socializar e sair de casa com mais facilidade. Uma das consequências foi a aderência ao tratamento fisioterapêutico, onde à partir do momento em que ele foi realizando exercícios físicos e saindo mais de casa, melhorou sua postura e diminuiu as quedas. Quanto ao trabalho na entrevista referente ao momento do processo psicoterápico em que o paciente reconheceu uma saída para a solução de seu problema, observou-se que ele possui conhecimento de mudança pessoal diante do decorrer do processo, além de acreditar que fez a diferença no seu tratamento fisioterapêutico. Recomendam-se pesquisas na área da Psicologia aplicada à reabilitação devido a carência de materiais nesta área. Propõe-se também novas pesquisas que vislumbrem mostrar o quanto o resgate da autonomia no caso de pessoas com doenças neurológicas pode estar contribuindo para o tratamento do paciente. REFERÊNCIAS BARRETO, Madson Alan Maximiano; FERMOSELI, André Fernando de Oliveira. A importância do acompanhamento psicológico sobre os indivíduos portadores de doença de Parkinson e Parkinsonismo usuários de L-dopa. Ciências Humanas e Sociais. Alagoas, v.4, n.2, p. 29-38, 2017. Disponível em: https://periodicos.set.edu.br/index.php/fitshumanas/article/view/ 4120. Acesso em: 25 mar. 2019.

13 BOCK, Ana Maria Bock et al. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. São Paulo: Editora Saraiva, 2003. BODSTEIN, Airton; LIMA, Valéria Vanda Azevedo de; BARROS, Angela Maria Abreu de. A vulnerabilidade do idoso em situações de desastres: necessidade de uma política de resiliência eficaz. Ambiente & Sociedade. São Paulo, v. 17, n. 2, p. 157-174, abr./jun. 2014. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s1414-753x2014000200011&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 29 mar. 2019 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação da Saúde. Guia Prático do Cuidador. Brasília: Ministério da Saúde, 2008. Série A. Normas e Manuais Técnicos. CLEMENTE, Elvo; NETO, Emílio A. Jeckel. Aspéctos biológicos e geriátricos do envelhecimento. 2. ed. Porto Alegre: Edipucrs, 2002. ENCARNAÇÃO, Fernanda. Envelhecimento com dependência: revelando cuidadores. Intervenção Social. Lisboa, n. 20, p. 180-188, 1999. Disponível em: http://revistas.lis.ulusiada.pt/index.php/is/article/download/1099/1217. Acesso em: 06 abr. 2019. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA IBGE. Projeção da população 2018: número de habitantes do país deve parar de crescer em 2047. Rio de Janeiro: IBGE, 2018. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-deimprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/21837-projecao-da-populacao-2018-numero-dehabitantes-do-pais-deve-parar-de-crescer-em-2047. Acesso em: 10 abr. 2019. MARCHI, Katia Colombo et al. Adesão à medicação em pacientes com doença de Parkinson atendidos em ambulatório especializado. Ciência e Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 18, n. 3, p. 855-862, 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s1413-81232013000300031&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 03 abr. 2019. MARINHO, Ana Paula; FIORELLI, José Osmir. Psicologia na Fisioterapia. São Paulo: Editora Atheneu, 2005. MENESES, Murilo S.; TEIVE, Hélio A. G. Doença de Parkinson. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. MOREIRA, Marcia Duarte; CALDAS, Célia Pereira. A importância do cuidador no contexto da saúde do idoso. Esc Anna Nery R. Enferm. Rio de Janeiro, v. 11, n. 3, p. 520-525, 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s1414-81452007000300019&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 25 mar. 2019. NOVAES, Maria Helena. Psicologia aplicada à Reabilitação. Rio de Janeiro: Editora Imago, 1975.

14 PEREIRA, Duarte; GARRETT, Carolina. Factores de Risco da Doença de Parkinson um estudo epidemiológico. Acta Med Port. Lisboa, n. 23, p. 15-24, 2010. Disponível em: https://pdfs.semanticscholar.org/eb5e/75785899705b9e59aa1f9bc6c448d0efce93.pdf. Acesso em: 08 maio 2019. PETERNELLA, Fabiana Magalhaes Navarro; MARCON, Sonia Silva. Descobrindo a Doença de Parkinson: impacto para o parkinsoniano e seu familiar. Rev. Brasileira de Enfermagem. Brasília, v. 62, n. 1, p. 25-31, 2009. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reben/v62n1/04.pdf:. Acesso em: 13 mar. 2019. PETERNELLA, Fabiana Magalhaes Navarro; MARCON, Sonia Silva. Qualidade de vida de indivíduos com Parkinson e sua relação com tempo de evolução e gravidade da doença. Rev. Latino-Am. Enfermagem. São Paulo, v. 20, n. 2, p. 01-08, 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v20n2/pt_23.pdf. Acesso em: 25 mar. 2019. ROCHA, Glaucia Mitsuko Ataka da. Fatores psicológicos e qualidade de vida de pessoas com Doença de Parkinson. 2007. Tese (Doutorado em Psicologia) Programa de Pós- Graduaçao em Psicologia, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, 2007. Disponível em: http://tede.bibliotecadigital.puccampinas.edu.br:8080/jspui/bitstream/tede/379/1/glaucia%20mitsuko%20ataka.pdf. Acesso em: 25 mar. 2019. SANTOS, Silvia Maria Azevedo dos. Idosos, família e cultura: um estudo sobre a construção do papel do cuidador. Campinas: Editora Alínea, 2003. SERAPIONI, Mauro. Métodos qualitativos e quantitativos na pesquisa social em saúde: algumas estratégias para integração. Ciência e Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, p. 187-192, 2000. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v5n1/7089.pdf. Acesso em: 29 maio 2019. SOUZA, Cheylla Fabricia M. et al. A Doença de Parkinson e o Processo de Envelhecimento Motor: uma Revisão de Literatura. Rev. Neurocienc. São Paulo, v. 19, n. 4, p. 718-723, 2011. Disponível em: https://periodicos.unifesp.br/index.php/neurociencias/article/view/8330. Acesso em: 31 mar. 2019. VARA, Andressa Correa et al. O Tratamento Fisioterapêutico na Doença de Parkinson. Rev. Neurocienc. São Paulo, v. 20, n. 2, p. 266-272, 2012. Disponível em: http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2012/rn2002/revisao%2020%2002/624%20 revisao.pdf. Acesso em: 11 maio 2019. YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

15 AGRADECIMENTOS Primeiramente gostaria de agradecer a Deus por ter me dado saúde e força para chegar aonde cheguei. Aos meus pais, pelo amor e por me apoiarem incondicionalmente. A minha orientadora pelo suporte pelo pouco tempo que lhe coube, pelas suas correções e incentivos. E a todos que direta ou indiretamente estiveram presente na minha formação.