CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA ANUIDADE DE PESSOA JURÍDICA. FATO GERADOR. OBRIGATORIEDADE DE REGISTRO/CADASTRAMENTO. EFETIVO FUNCIONAMENTO DO ESTABELECIMENTO DE SAÚDE. EXPEDIENTE CFM Nº 002488, DE 07/04/98 CONSULENTE: Dr. J. O. R. PARECER CFM Nº 226/98, DO SETOR JURÍDICO Aprovado em Reunião de Diretoria do dia 4/6/1998. 1. Em expediente encaminhado a este Conselho Federal de Medicina, o médico J. O. R., inscrito no Conselho Regional de Medicina, proprietário da empresa TRAUMA-FRA CLÍNICA DE FRATURAS, ORTOPEDIA E FISIOTERAPIA LTDA, relata vários fatos, merecendo destacar: - constituiu a referida empresa em 01/02/96, formalizando o contrato social com o fim de proceder à legalização de um terreno urbano, no qual constituirá a sede da clínica, com financiamento do BED; - a empresa só terá iniciada suas atividades em 01/09/98, conforme alteração promovida no respectivo contrato social, tendo diferido para essa data o registro da empresa no CRM; - recebeu intimação do CRM em setembro de 1997, para que procedesse ao registro da empresa com data retroativa à sua constituição; - após esclarecer ao CRM que a clínica ainda não estava em funcionamento, o que ocorrerá somente a partir de 01/09/98 (data em que efetivará o registro), recebeu ofício do referido Regional, intimando-o a proceder ao pagamento das anuidades e demais taxas, sob pena de responder a processo ético, por descumprimento ao artigo 45 do Código de Ética Médica. 2.Instada a se manifestar, esta Assessoria Jurídica passa a tecer os comentários que se seguem, esclarecendo que o registro de empresas nas respectivas entidades de fiscalização do exercício de profissões é obrigação imposta 1
pela Lei nº 6.839/80, cujo artigo 1º, único comando normativo nela existente, estabelece, verbis: Art. 1º. O registro de empresas e a anotação dos profissionais legalmente habilitados, delas encarregados, serão obrigatórios nas entidades competentes para a fiscalização do exercício das diversas profissões, em razão da atividade básica ou em relação àquela pela qual prestem serviços a terceiros. 3.A par do disposto no artigo 1º da Lei nº 6.839/80, para os estabelecimentos de saúde, o Conselho Federal de Medicina expediu resoluções, merecendo destacar a Resolução nº 997, de 23/05/80, a Resolução nº 1.214, de 16/04/85 e a Resolução nº 1.340, de 13/07/90, as quais tratam do assunto em tela, sendo que esta última tem aplicação tão-somente às cooperativas médicas, de modo que quaisquer comentários acerca de sua utilização para o presente caso são desnecessários. 4.Da análise da Resolução CFM nº 997/80, verifica-se que a mesma instituiu, nos Conselhos Regionais de Medicina e no Conselho Federal de Medicina, respectivamente, o que se denominou Cadastro Regional e Cadastro Central dos Estabelecimentos de Saúde. Assim, determinou aos estabelecimentos de saúde (unidades de saúde ou serviços), onde são exercidas atividades de diagnósticos e tratamento, que procedam ao cadastramento no Conselho Regional de Medicina ao qual estiverem jurisdicionados. 5.Já a Resolução CFM nº 1.214/85, nos artigos 1º, 2º 3º e 4º da Instrução a ela anexa, com fundamento na Lei nº 6.839/80, instituiu para as empresas, entidades ou instituições prestadoras de serviços médico-hospitalares a obrigação de se registrarem nos Conselhos Regionais de Medicina, nos termos em que determinado pela Resolução CFM nº 997/80. Para as empresas e instituições mantenedoras de ambulatórios cuja atividade básica não seja a prestação de serviços médico-hospitalares e para os estabelecimentos hospitalares ou de saúde mantidos pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, e respectivas autarquias e fundações, tornou-se obrigatório o cadastramento nos Regionais competentes. 6.Importante observar o que dispõem os 1º e 2º do artigo 4º, da Resolução 1.214/85, que explica o que se deve entender pelos termos registro e cadastramento, verbis: 2
Art. 4º. (...) 1º. Entende-se por registro a obrigatoriedade das empresas, entidades ou instituições formalizarem a sua vinculação ao Conselho Regional de Medicina nos termos da Lei nº 6.839, de 30 de outubro de 1980, para fins de fiscalização dos serviços médico- -hospitalares, nos termos da lei. 2º. Compreende-se por cadastro a obrigatoriedade das empresas, entidades, órgãos ou instituições formalizarem a sua vinculação ao Conselho Regional de Medicina, nos termos da Resolução CFM nº 997, de 23 de maio de 1980, para fins de fiscalização dos serviços médico-hospitalares, nos termos da Lei. 7.Não obstante as Resoluções supramencionadas, há que se considerar ainda o disposto na Lei nº 6.994, de 26/05/1982, cujo artigo 1º deixa consignado, verbis: Art. 1º. O valor das anuidades devidas às entidades criadas por lei com atribuições de fiscalização do exercício de profissões será fixado pelo respectivo órgão federal, vedada a cobrança de quaisquer taxas ou emolumentos além dos previstos no art. 2º desta Lei. 8.Os parágrafos que se seguem ao artigo acima transcrito estabelecem: (i) os limites máximos da anuidade; (ii) a forma de pagamento, multa e juros; (iii) o valor das anuidades das filiais (50% da matriz); e (iv) anuidade proporcional quando do primeiro registro, bem como a possibilidade de isenção. 9.Todo o histórico acima referido tem como objetivo, unicamente, permitir a conclusão de que em nenhum momento a legislação que trata do assunto referente à inscrição e pagamento de anuidade impõe a obrigatoriedade de a pessoa jurídica proceder ao registro ou cadastramento no Conselho Regional de Medicina competente assim que firmar o respectivo Contrato Social, como afirma o CREMES, fundamentando-se, para tanto, no disposto no artigo 1º da Lei nº 6.839/80. 10.Dessa forma, considerando-se que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei, e, ainda, 3
que inexiste qualquer dispositivo legal a considerar como fato gerador da anuidade devida às entidades de fiscalização de profissões o Contrato Social da empresa, decorre inequívoca a conclusão de que nenhum Conselho Regional de Medicina poderá compelir estabelecimentos de saúde a procederem ao respectivo registro ou cadastramento antes do início das atividades dos mesmos, cobrando a anuidade retroativamente à data da constituição da sociedade. 11.Com efeito, é extreme de dúvidas que o fato gerador da contribuição devida às entidades de fiscalização de profissões é a inscrição do profissional liberal em seus quadros, ou o registro da empresa a elas vinculados. Portanto, a partir da inscrição e/ou do registro, a anuidade deve ser cobrada dos profissionais e/ou empresas, nos termos da legislação vigente. 12.Uma simples leitura das resoluções e das leis que tratam do assunto já referidas no presente parecer conduz à intelecção no sentido de que o registro/cadastramento do estabelecimento tem por fim viabilizar a fiscalização dos serviços médico-hospitalares, bem como das atividades de diagnósticos e tratamentos oferecidos pelos serviços de saúde. Aliás, é o que está expressamente consignado nas Resoluções 997/80 e 1.214/85. 13.Dessa forma, retornando-se ao caso concreto, se a TRAUMA-FRA CLÍNICA DE FRATURAS, ORTOPEDIA E FISIOTERAPIA S/C LTDA ainda não está efetivamente funcionando sequer tem uma sede, conforme demonstram os documentos anexos ao expediente conclui-se que inexistentes quaisquer serviços médico- -hospitalares ou atividades de diagnóstico de tratamento a ensejarem fiscalização por parte do Conselho Regional de Medicina competente. 14.Resta claro que a obrigatoriedade do registro/cadastramento tem por finalidade, antes de tudo, viabilizar a fiscalização dos serviços prestados pelos estabelecimentos de saúde. Portanto, é condição para o regular funcionamento do estabelecimento que o mesmo esteja devidamente registrado/cadastrado, permitindo sua fiscalização, que ocorrerá a partir do momento em que o estabelecimento estiver em funcionamento. 15.Assim, para a cobrança da anuidade, pouco importa a data em que o estabelecimento tenha sido constituído, pois o fato gerador da anuidade 4
é o registro/cadastramento para o fim de fiscalização do estabelecimento, o qual viabilizará o seu efetivo funcionamento, com a prestação dos serviços médicohospitalares. 16.Posto isso, entende esta Assessoria Jurídica que a TRAUMA-FRA CLÍNICA DE FRATURAS, ORTOPEDIA E FISIOTERAPIA S/C LTDA só estará obrigada ao respectivo registro no CREMESC a partir da data prevista em seu Contrato Social para o início de suas atividades, qual seja, em 1º de setembro de 1998, quando deverá proceder à protocolização dos requerimento e dos documentos necessários para tal, sob pena de, não o fazendo, responder perante as autoridades competentes. Logo, a partir da referida data é que será devida a anuidade (proporcional) referente ao ano de 1998. 17.É o parecer, s.m.j. Brasília, 22 de maio de 1998. Par248898 Djenane Lima Coutinho Assessora Jurídica 5