AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO REOLÓGICO DE POLÍMEROS EM SOLUÇÃO E EM EMULSÃO PARA APLICAÇÃO EM RESERVATÓRIOS DE PETRÓLEO



Documentos relacionados
MEDIDAS DE TENSÃO SUPERFICIAL DE SOLUÇÕES AQUOSAS DE POLIACRILAMIDAS NÃO-IÔNICAS

Lia Weigert Bressan Agosto de 2008

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS A BASE DE TENSOATIVOS PARA RECUPERAÇÃO AVANÇADA DE PETRÓLEO. Valdir Cotrim Ribeiro Neto

2 o CONGRESSO BRASILEIRO DE P&D EM PETRÓLEO & GÁS

Monografia de Graduação

Medição de massa específica com base no método de Arquimedes. Química 12º Ano

CURSO APOIO QUÍMICA RESOLUÇÃO

Exercícios de Equílíbrio Químico ENEM Resolução Comentada Professora Simone

COMO AUMENTAR A CAPACIDADE DE TRANSFERÊNCIA DE PETRÓLEOS EM OLEODUTOS

Experiência 07: Preparo de Solução a partir de Substâncias sólidas, Liquidas e de Solução Concentrada

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DE UM SISTEMA DE DESSALINIZAÇÃO VIA OSMOSE INVERSA PARA ÁGUAS SALOBRAS. M. C. Silveira e K. B. França 1

COMPORTAMENTO REOLÓGICO DE SOLUÇÕES AQUOSAS DE POLI (ACRILAMIDA-CO-METACRILATO DE 3,5,5-TRIMETILHEXANO) COM BAIXO TEOR DE GRUPOS HIDROFÓBICOS

INFLUÊNCIA DO TIPO E TEOR DE ARGILA NAS PROPRIEDADES REOLÓGICAS E DE FILTRAÇÃO DE FLUIDOS DE PERFURAÇÃO

Laboratório de Física I. Experiência 3 Determinação do coeficiente de viscosidade de líquidos. 26 de janeiro de 2016

Título: Iodometria. Aula Experimental n 16

A) 11,7 gramas B) 23,4 gramas C) 58,5 gramas D) 68,4 gramas E) 136,8 gramas

FREE PHASE REMOVAL BY IN SITU HEATING

Experiência 1 Medidas: Leitura de instrumentos:

SOLUÇÕES Folha 03 João Roberto Mazzei

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DO BIODIESEL NA ESTABILIDADE OXIDATIVA DO FLUIDO DE PERFURAÇÃO BASE ÓLEO

t 1 t 2 Tempo t 1 t 2 Tempo

DETERMINAÇÃO DO PH DE AMOSTRAS DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DO INSTITUTO FEDERAL CATARINENSE - CÂMPUS CAMBORIÚ. Instituto Federal Catarinense, Camboriú/SC

CAPÍTULO 3 TRATAMENTOS TÉRMICOS EM LIGAS DE ALUMÍNIO. Os tratamentos térmicos têm como finalidade causar modificações nas

Após agitação, mantendo-se a temperatura a 20ºC, coexistirão solução saturada e fase sólida no(s) tubo(s)

SUBSTÂNCIAS, MISTURAS E SEPARAÇÃO DE MISTURAS

C o l é g i o R i c a r d o R o d r i g u e s A l v e s

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE QUÍMICA

P2 - PROVA DE QUÍMICA GERAL - 08/10/07

Obtenção de biodiesel por catálise heterogênea utilizando Cr 2 O 3 /Al 2 O 3

7. EQUILÍBRIO QUÍMICO

CARACTERIZAÇÃO REOLÓGICA INTERFACIAL DE EMULSÕES DE ÓLEOS PESADOS

INFLUENCE OF TEMPERATURE ON THE RHEOLOGY OF DRILLING FLUIDS PREPARARED WITH CARBOXYMETHYLCELLULOSE, XANTANA GUM AND BENTONITE ABSTRACT

Lista de Exercícios. Estudo da Matéria

CARACTERIZAÇÃO REOLÓGICA INTERFACIAL DE EMULSÕES DE ÓLEOS PESADOS

DETERMINAÇÃO DA DENSIDADE DE CORRENTE LIMITE E AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA VAZÃO NA UNIDADE DE ELETRODIÁLISE

REMOÇÃO DE METAIS PESADOS DE SOLUÇÃO RESIDUAL DA DETERMINAÇÃO DA DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIO

Ar de combustão. Água condensada. Balanço da energia. Câmara de mistura. Convecção. Combustível. Curva de aquecimento

É o cálculo das quantidades de reagentes e/ou produtos das reações químicas.

Título da Pesquisa: Palavras-chave: Campus: Tipo Bolsa Financiador Bolsista: Professor Orientador: Área de Conhecimento: Resumo

ESTUDO DA RELAÇÃO MOLAR IDEAL NA TRANSESTERIFICAÇÃO ETANOL:ÓLEO

INTRODUÇÃO À CINETICA E TERMODINÂMICA QUÍMICA

MODELAGEM MATEMÁTICA DE UM SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA EM MÉDIA TENSÃO 1. Gabriel Attuati 2, Paulo Sausen 3.

ATIVIDADE DE ÁGUA (Aw) E REAÇÕES DE DETERIORAÇÃO

Volumetria de Neutralização Ácido-Base

Aluno(a): Nº. Professor: Série: 1 Disciplina: Data da prova:

Mecânica Geral. Apostila 1: Momento Linear. Professor Renan Faria

USO DA CASCA DA BANANA COMO BIOADSORVENTE EM LEITO DIFERENCIAL NA ADSORÇÃO DE COMPOSTOS ORGÂNICOS

URE Sistemas de Ar Comprimido. URE - Sistemas de Ar Comprimido. 1

I Curso de Férias em Fisiologia - UECE

GUIA PARA A REALIZAÇÃO DE ESTUDOS DE ESTABILIDADE DE PRODUTOS SANEANTES

I-121 INFLUÊNCIA DAS VARIAÇÕES DE VAZÃO NA EFICIÊNCIA HIDRÁULICA DE FLOCULADORES CHICANADOS

APLICAÇÃO DE SOLUÇÃO POLIMÉRICA EM RESERVATÓRIOS DE PETRÓLEO VISANDO O AUMENTO NA PRODUÇÃO DO ÓLEO

Unidade 2 Substâncias e átomos

PROPRIEDADES COLIGATIVAS PARTE 2

AMINOÁCIDOS E PROTEÍNAS

CIÊNCIAS PROVA 1º BIMESTRE 9º ANO PROJETO CIENTISTAS DO AMANHÃ

MEDIÇÃO DE VAZÃO DO FLUÍDO DE ARREFECIMENTO COM MEDIDOR TIPO TURBINA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA TM-364 MÁQUINAS TÉRMICAS I. Máquinas Térmicas I

Pressão INSTRUMENTAÇÃO E CONTROLE. Unidades usuais de pressão. Conversão de Unidades de Pressão. Tipos de pressão. Quanto a referência utilizada

CURSINHO TRIU QUÍMICA FRENTE B

tem-se no equilíbrio que 1 mol de HCl reagiu com 1 mol de NaOH, ou seja: n(hcl) = n(naoh)

Colégio Saint Exupéry

Química Inorgânica Aula 3

A.L.1.3 EFEITOS DA TEMPERATURA E DA CONCENTRAÇÃO NA PROGRESSÃO GLOBAL DE UMA REACÇÃO

Introdução à Volumetria. Profa. Lilian Lúcia Rocha e Silva

EXPERIMENTO 1 MEDIDAS E TRATAMENTO DE DADOS

UNIVERSIDADE DE CUIABÁ QUIMICA GERAL DOCENTE: ADRIANO LUIZ SANTANA AULAS PRÁTICAS DE QUÍMICA GERAL. Discente:

DESIDRATAÇÃO OSMÓTICA COMO PRÉ-TRATAMENTO À SECAGEM SOLAR NA OBTENÇÃO DO MELÃO CANTALOUPE COM TEOR DE UMIDADE INTERMEDIÁRIA

&RQFHLWRV%iVLFRV5HODFLRQDGRVD3HWUyOHR

Gráfico da tensão em função da intensidade da corrente elétrica.

Argamassas Térmicas Sustentáveis: O Contributo dos Materiais de Mudança de Fase

Síntese e Caracterização das argilas organofílicas Chocolate A e Chocolate utilizando mistura de sais quaternários de amônio.

ROTEIRO DE ORIENTAÇÃO DE ESTUDOS Ensino Médio

VI Olimpíada Norte - Nordeste de Química e

Aplicação e Desempenho de Surfactantes para Controle de Stickies em Processo Industrial de Produção de Papel

Universidade Federal do Pampa UNIPAMPA. Ondas Sonoras. Prof. Luis Gomez

BIOQUÍMICA DOS ALIMENTOS AULA 02 - ÁGUA. Patricia Cintra 2014

Escola Secundária de Casquilhos Teste 1 de Física e Química A 10º ANO 22/10/ minutos

SÍNTESE PROJETO PEDAGÓGICO

Fenômenos de Transporte

PROGRAMA DE DISCIPLINA

Módulo 08 - Mecanismos de Troca de Calor

Ligações Iônicas. Tipos de Ligações

DESEMULSIFICAÇÃO DE PETRÓLEO UTILIZANDO RADIAÇÃO MICRO-ONDAS MONOMODO

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE LÂMPADAS FLUORESCENTES E LED APLICADO NO IFC CAMPUS LUZERNA

UFJF CONCURSO VESTIBULAR 2012 GABARITO DA PROVA DE QUÍMICA

Introdução à Psicrometria. Parte1

EQUILÍBRIO QUÍMICO: é o estado de um sistema reacional no qual não ocorrem variações na composição do mesmo ao longo do tempo.

Purificação por dissolução ou recristalização

Escola Básica e Secundária da Calheta. Físico-Química 7.º Ano de escolaridade

CIRCULAR TÉCNICA N o 127. Janeiro/1981

GOIÂNIA, / / PROFESSORA: Núbia de Andrade. DISCIPLINA:Química SÉRIE: 2º. ALUNO(a):

Pilha é qualquer dispositivo no qual uma reação de oxirredução espontânea produz corrente elétrica.

ELETROQUÍMICA PILHAS

Propriedades térmicas em Materiais

Polaridade e Geometria Molecular

ESTRUTURAS DE MADEIRA

As Bolhas Fatais do Mergulho

TÍTULO: MONTAGEM DE REATOR TIPO TANQUE AGITADO IRRADIADO POR MICROONDAS PARA PRODUÇÃO DE BIODIESEL

Propriedades Elétricas do Materiais

Transcrição:

Copyright 2004, Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás - IBP Este Trabalho Técnico Científico foi preparado para apresentação no 3 Congresso Brasileiro de P&D em Petróleo e Gás, a ser realizado no período de 2 a 5 de outubro de 2005, em Salvador. Este Trabalho Técnico Científico foi selecionado e/ou revisado pela Comissão Científica, para apresentação no Evento. O conteúdo do Trabalho, como apresentado, não foi revisado pelo IBP. Os organizadores não irão traduzir ou corrigir os textos recebidos. O material, conforme apresentado, não necessariamente reflete as opiniões do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás, Sócios e Representantes. É de conhecimento e aprovação do(s) autor(es) que este Trabalho será publicado nos Anais do 3 Congresso Brasileiro de P&D em Petróleo e Gás AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO REOLÓGICO DE POLÍMEROS EM SOLUÇÃO E EM EMULSÃO PARA APLICAÇÃO EM RESERVATÓRIOS DE PETRÓLEO Adriano César de M. Valentim, Emanuel Fausto das Chagas 2, Rosangela Balaban Garcia 3, 2, 3 Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Laboratório de Pesquisa em Petróleo Departamento de Química CP 662 CEP: 59078-970, adrianocmv@yahoo.com.br, manufausto@yahoo.com.br, balaban@digi.com.br Resumo A injeção de soluções poliméricas em reservatórios petrolíferos é um método suplementar de recuperação de petróleo, que visa aumentar a eficiência volumétrica de varrido do óleo com a diminuição da mobilidade da água de injeção. Ao ocorrer o contato entre dois fluídos imiscíveis estabelece-se uma interface submetida a tensões interfaciais, e estas tensões também influenciam nas relações rocha - fluido, dependendo da natureza de ambos. A injeção combinada de um tensoativo e um polímero pode promover melhoria na injetividade e na eficiência global de recuperação. O objetivo deste trabalho é estudar as interações entre poliacrilamidas com diferentes graus de hidrólise e o dodecil sulfato de sódio (SDS), um tensoativo aniônico. Soluções e emulsões a base de poliacrilamidas com grau de hidrólise 0, 24 e 32% e SDS, em água destilada e NaCl 700ppm, foram analisadas quanto ao comportamento reológico através de um Reômetro Haake RS-50, à temperatura de 55ºC. Os resultados obtidos mostraram uma redução de viscosidade para as soluções poliméricas tanto em presença de sal quanto tensoativo. A viscosidade das emulsões variou de acordo com a razão óleo/solução polimérica. Palavras-Chave: poliacrilamida; dodecil sulfato de sódio; emulsão; reologia; recuperação aumentada de petróleo. Abstract The injection of polymeric solutions in petroleum reservoirs is a supplemental method of petroleum recovery, that seeks to increase the volumetric efficiency of swept of the oil with the decrease of the mobility of the injection water. In the contact between two non miscible fluids, interfacial tensions are established, that can influence the relations between the rock and the fluids, depending on the nature of both. Therefore, the combined injection of a surfactant and a polymer can promote improvements in the injectivity and in the global recovery efficiency.the purpose of this work is to study the interactions between PAAm, with different hydrolysis degree, and SDS, an anionic surfactant. Solutions and emulsions of polyacrylamides base with hydrolyses degree 0, 24 and 32% and SDS, in distilled water and 700ppm NaCl solution, they were analyzed as for the rheological behavior using a RS50 Haake RheoStress rheometer, at 55º. A viscosity reduction was observed at polymeric solutions as much in presence of salt, as in presence of the surfactant. The viscosity of emulsions varied of accord with the reason oil/ polymeric solution. Keywords: polyacrylamide; sodium docecyl sulphate; emulsion; rheology; enhanced oil recovery.

. Introdução Dentre as várias dificuldades que afetam a produção do petróleo a partir dos reservatórios, uma em especial tem a ver com a imiscibilidade e a diferença de viscosidade entre os fluidos presentes na jazida. Quando a água e o óleo escoam ao mesmo tempo através de um meio poroso, a água tende a se deslocar a uma velocidade maior que o óleo, no seu curso em direção aos poços produtores. Com isso, ocorrerá a chegada prematura e crescente da água nestes poços, afetando a recuperação final do petróleo (SORBIE, 99; TAYLOR, 998). Para reservatórios em que o petróleo não é do tipo pesado e possui mobilidade, a recuperação do óleo por injeção de água contendo polímeros hidrossolúveis de elevada massa molar tem sido considerada um dos métodos suplementares mais promissores. Mesmo em pequenas concentrações, os polímeros fazem com que a viscosidade da água (fluido deslocante) seja aumentada e aproxime-se da viscosidade do óleo (fluido deslocado). Dessa forma, a solução polimérica injetada no reservatório promove um deslocamento uniforme (do tipo pistão), em relação à fase óleo. O resultado é uma varredura mais eficiente do óleo presente no reservatório e um retardamento da invasão de água nos poços produtores, maximizando a eficiência de recuperação (SORBIE, 99; TAYLOR, 998). As poliacrilamidas parcialmente hidrolisadas constituem a classe de polímeros sintéticos que tem sido extensivamente utilizada na recuperação do petróleo, por diversas razões, dentre as quais podemos citar: seu baixo custo, as suas propriedades físicas e químicas e sua baixa toxicidade relativa. Entretanto, em alguns casos, se faz necessária a adição de outros compostos. Ao ocorrer o contato entre dois fluídos imiscíveis, estabelece-se uma interface submetida a tensões interfaciais, e estas tensões de natureza físico-química também influenciam nas relações entre a rocha e os fluidos, dependendo da natureza de ambos. Assim, devido às forças capilares geradas, grandes quantidades de petróleo são deixadas no reservatório. As forças capilares resistem às forças viscosas externamente aplicadas, fazendo com que a água injetada não consiga deslocar o petróleo. O mecanismo predominante para recuperar este petróleo se constitui, então, na redução da tensão interfacial, através da adição de tensoativos adequados. Dessa forma, através da injeção combinada de um tensoativo e um polímero, poderá ocorrer a melhoria da injetividade e da eficiência global de recuperação do petróleo. Sabe-se, contudo, que a escolha desses sistemas deve ser fundamentada em um estudo completo, tanto das propriedades dos fluidos utilizados, quanto das características do reservatório selecionado. As propriedades reológicas caracterizam as relações entre tensão e deformação a que são submetidos os materiais no estado sólido, líquido ou em solução, fornecendo informações valiosas sobre estruturas e transições estruturais de polímeros de diferentes massas molares e sistemas poliméricos de diversas composições (SCHRAMM, 994; SORBIE, 99). Os polímeros resistem à deformação devido à presença de interações entre as cadeias poliméricas (intermoleculares) e a mudanças de conformação das macromoléculas. Com o aumento na taxa de tensão e deformação, a estrutura do polímero é quase que completamente destruída. Essa destruição causa uma rápida diminuição no valor da viscosidade do fluído (SORBIE, 99). A compreensão do comportamento reológico de soluções concentradas de tensoativos e emulsões também é um fator importante do ponto de vista da aplicação (SCHRAMM, 994). Soluções concentradas de tensoativos (solução micelar, colchão ou banco de tensoativo) são empregadas como fluidos de injeção para melhorar a recuperação do petróleo. Como o banco de tensoativo é injetado no interior do reservatório de óleo, ocorre a mistura do tensoativo com o óleo do reservatório e a água, produzindo freqüentemente emulsões. A estabilidade das emulsões e, conseqüentemente, suas propriedades reológicas são influenciadas fortemente pela concentração do tensoativo. Neste trabalho são apresentados os resultados preliminares do efeito da adição de tensoativos aniônicos (SDS) sobre a reologia de soluções e emulsões de poliacrilamidas aniônicas e neutras, com o objetivo de reunir informações que possam auxiliar na previsão das interações fluido-rocha em processos suplementares de recuperação aumentada de petróleo. 2. Experimental 2.. Materiais As amostras de poliacrilamida utilizadas nesse trabalho foram gentilmente cedidas pela SNF FLOERGER (França). Os dados referentes aos graus de hidrólise, caráter iônico e massa molar viscosimétrica média das poliacrilamidas são apresentados na Tabela. O tensoativo utilizado foi o Dodecil Sulfato de Sódio (SDS), fornecido pela Cromato Produtos Químicos LTDA. O cloreto de sódio utilizado (NaCl P.A.), foi fornecido pela VETEC. As emulsões foram preparadas utilizando óleo vegetal (de soja). Tabela. Grau de hidrólise, caráter iônico e massa molar viscosimétrica média das poliacrilamidas estudadas. Amostra Grau de Hidrólise Caráter M V 934PG2 32 Aniônico 8,4x0 6 2435-S 24 Aniônico 7,3x0 6 920VHM 0 Neutro 5,0x0 6

2.2 Obtenção das Soluções e Emulsões Soluções aquosas dos polímeros com e sem tensoativo foram preparadas em água destilada e em solução NaCl 700ppm. Foram preparados oito tipos de emulsão para as poliacrilamidas, nas razões volumétricas solução polimérica/óleo 50:50 a 85:5, que foram enumeradas de a 8 (Tabela 2). Todas as emulsões seguiram o seguinte procedimento: primeiramente, as soluções de polímero foram colocadas em contato com a fase óleo durante 30 minutos, sob agitação de 800 rpm, em agitador mecânico, e logo após, mantidas em repouso por mais 30 minutos. Em seguida, foi adicionado o tensoativo SDS, na concentração de 5000 ppm, e o sistema foi mantido sob agitação por um período de hora. As emulsões foram submetidas a aquecimento durante 6 horas, à 55ºC, em um forno FANN Roller Oven Modelo - 704 ES, com rolagem. Após esse período, as amostras foram submetidas a estudo reológico. Tabela 2: Razão volumétrica solução polimérica/ óleo das emulsões Emulsão 2 3 4 5 6 7 8 (% Volume) Solução polimérica 50 55 60 65 70 75 80 85 (% Volume) Óleo 50 45 40 35 30 25 20 5 2.3. Caracterização Reológica O comportamento reológico das soluções e emulsões de polímeros em água destilada e NaCl 700 ppm foi avaliado através de um reômetro RheoStress RS50 da HAAKE, acoplado a um banho termostático DC 50 da HAAKE. 3. Resultados e Discussão A Figura a mostra a influência do sal (NaCl 700ppm) sobre a viscosidade das soluções dos polímeros estudados. Poliacrilamidas parcialmente hidrolisadas, aniônicas, apresentam viscosidades que dependem fortemente da salinidade da solução. Esta característica exerce forte influência no seu comportamento reológico. Alta viscosidade é observada em soluções que possuem baixa concentração de sal. Em soluções de alta salinidade, sua viscosidade diminui significativamente. A adição de sal em solução aquosa aumenta a concentração de íons. Dessa forma, diminui a repulsão eletrostática entre as macromoléculas, resultando em uma queda na viscosidade, devido à redução do volume hidrodinâmico do polímero. Para poliacrilamidas não iônicas, a viscosidade das soluções quase independe da salinidade do meio (CANDAU, 2004). Observa-se, também, que quanto maior o grau de hidrólise dos polímeros, maior a queda de viscosidade em soluções salinas, devido ao fato de ocorrer um maior efeito de blindagem das cargas. 000 000 00 0 2435-s AD 2435-s AFS 700 ppm 934PG2 AD 934PG2 AFS 700 ppm 920VHM AD 920VHM AFS 700 ppm 200 500 800 00 400 700 2000 Concentração (ppm) 00 0 2435-s AD 2435-s AD + SDS (cmc) 934P G2 AD 934PG2 AD + SDS (cmc) 920VHM AD 920VHM AD + SDS (cmc) 200 500 800 00 400 700 2000 Concentração (ppm) (a) (b) 000 2435-s AFS 700 ppm 00 0 2435-s AFS 700 ppm + SDS (cmc) 934PG2 A FS 700 ppm 934PG2 AFS 700 ppm + SDS (cmc) 920VHM AFS 700 ppm 920VHM AFS 700 ppm + SDS (cmc) 200 500 800 00 400 700 2000 Concentração (ppm) (c) Figura. Variação da viscosidade com o aumento da concentração das poliacrilamidas: (a) em água destilada e NaCl 700ppm, (b) em água destilada e SDS 2800ppm* e (c) em NaCl 700ppm e NaCl 700ppm contendo SDS 2600ppm**, à 55ºC. (* e ** - c.m.c. do SDS em água destilada e em solução NaCl 700ppm, respectivamente)

As Figuras b e c mostram o efeito do tensoativo sobre a viscosidade das soluções poliméricas em água destilada e em presença de sal. Foi observado que, para os polímeros aniônicos, a presença do tensoativo no meio aquoso promoveu uma diminuição da viscosidade. Já para o polímero não iônico, foi observado um pequeno aumento da viscosidade. É possível que as interações entre os polímeros iônicos e o tensoativo tenham promovido uma diminuição da solubilidade no meio, devido às interações entre as partes hidrofílicas do polímero e as do tensoativo. No caso do polímero neutro, as interações podem ter ocorrido entre as partes hidrofóbicas, proporcionando, assim, um aumento da viscosidade devido à maior área de grupos hidrofílicos (ZHANG et al, 993). A Figura 2 apresenta um esquema com as possíveis interações entre os polímeros e o tensoativo. As poliacrilamidas aniônicas possuem comportamento típico de fluido não-newtoniano, ou seja, sua viscosidade diminui com o aumento da taxa de cisalhamento, mas a redução de viscosidade em solução também é observada devido à adição de íons e aumento da temperatura. As amostras de polímero aqui estudadas, com e sem tensoativo, apresentaram comportamento pseudoplástico. Figura 2: Representação esquemática da interação da poliacrilamida com o tensoativo em soluções aquosas: Ο, grupo polar hidrofílico no tensoativo ou polímero; cadeia hidrofóbica; tensoativo (ZHANG et al, 993). 000 00 0 Emulsão 000 00 0 Emulsão 0 20 40 60 80 00 Taxa de Cisalhamento (/s) (a) 0 20 40 60 80 00 Taxa de Cisalhamento (/s) (b) 00 0 Emulsão 0 20 40 60 80 00 Taxa de Cisalhamento (/s) (c) Figura 3: Variação da viscosidade com a taxa de cisalhamento para as emulsões dos polímeros: (a) 2435-s (800ppm), (b) 934 PG2 (800ppm) e (c) 920 VHM (000ppm), em NaCl 700ppm, à 55ºC.

Dentre os principais fatores que influenciam a viscosidade das emulsões destacam-se: a viscosidade da fase externa, a fração volumétrica da fase interna e a distribuição e o diâmetro médio das gotas da fase interna. A viscosidade de uma emulsão aumenta com a diminuição do diâmetro das gotas presentes na fase interna e diminui com a diminuição do componente da fase interna. A viscosidade de uma emulsão apresenta uma relação de proporcionalidade com a viscosidade da sua fase externa. Deve-se destacar que a reologia de uma emulsão está associada não só ao conteúdo de fase interna, mas, também, à distribuição e ao diâmetro médio das gotas presentes na fase interna (BECKER, 966 e 983). A Figura 3 mostra a viscosidade das emulsões de polímeros. Foi observado que as emulsões dos polímeros 2435-s e 934 PG2 apresentaram maiores viscosidades, quando comparadas com as emulsões do polímero 920 VHM. Esse resultado está de acordo com a teoria de BECKER (966 e 983), já que os polímeros 2435-s e 934 PG2 apresentam maior grau de hidrólise, e com isso, maior viscosidade. De acordo com Becker, a viscosidade da emulsão é proporcional à fração volumétrica da fase interna da emulsão, ou seja, quanto menor for à fração da fase dispersa menor a viscosidade da emulsão. Isso foi observado para as amostras aqui estudadas, tendo o óleo como a fase dispersa do meio. 00 000 0 Emulsão 00 0 Emulsão 0 20 40 60 80 00 Taxa de Cisalhamento (/s) (a) 0 20 40 60 80 00 Taxa de Cisalhamento (/s) (b) 00 0 Emulsão 0 20 40 60 80 00 Taxa de Cisalhamento (/s) (c) Figura 4: Variação da viscosidade com a taxa de cisalhamento para as emulsões dos polímeros após aquecimento por 6 horas à 55ºC: (a) 2435-s (800ppm), (b) 934 PG2 (800ppm) e (c) 920 VHM (000ppm), em solução NaCl 700ppm. A perda de viscosidade das soluções de polímero e emulsões pode ocorrer devido a fatores como: adição de íons, aumento da temperatura e outras condições do meio (GHANNAM, 998; CANDAU, 99; BECKER, 966 e 983). A Figura 4 mostra o comportamento reológico das emulsões depois de submetidas ao teste de estabilidade. Notou-se que a viscosidade das emulsões diminuiu. Essa diminuição pode ser devido à degradação da cadeia do polímero ou perda de estabilidade do sistema, ocasionando diminuição da viscosidade do meio. 4. Conclusões Sobre o efeito do sal e do tensoativo nas propriedades reológicas dos polímeros, foi observado, para as amostras de polímero aniônico, uma diminuição da viscosidade. Para a amostra de polímero não iônico, o sal presente na solução não causou nenhum efeito considerável na viscosidade, mas já na presença do tensoativo, foi observado um pequeno aumento da viscosidade, quando comparado com o meio sem tensoativo. A viscosidade das emulsões está diretamente ligada à viscosidade da fase contínua. Quanto menor a razão óleo/solução polimérica, maior a viscosidade das emulsões.

5. Agradecimentos Os autores agradecem ao Programa de Formação de Recursos Humanos da ANP (PRH-ANP/ MCT) pelo apoio financeiro e à UFRN pelas condições necessárias para a realização deste trabalho. 8. Referências ADANSON, A. J., Physical Chemistry of Surfaces, Interscienc, 3ª ed., New York, John Wiley & Sons, 976. BECKER, P, Emulsions: Theory and Pratice, Renhold, New York, 966. BECKER, P, Encyclopedia of Emulsion Technology, v. 0: basic theory, v. 02: applications of emulsions, M. Dekker, New York, 983. BIGGS, S., SELB, J. and CANDAU, F., Copolymers of acrylamide/n-alkylacrylamide in aqueous solution: the effects of hydrolysis on hydrophobic interactions, 99. CAPUTO, M. R., SELB, J., CANDAU, F., Effect of temperature on the viscoelastic behaviour of entangled solutions of multisticker associating polyacrylamides, 45, 3 240, 2004. CHEN, L. J, et al., Critical micelle concentration of mixex surfactant SDS/NP (EO)40 and its role in emulsion polymerization, 22, 6-68, 997. GHANNAM, M. T. e ESMAIL, M. N., Journal of Applied Polymer Science, 69, 998. KELLEY, D., McCLEMENTS, D. J., Influence of sodium dodecyl sulfate on the thermal stability of bovine serum albuminb stabilized oil-in-water emulsions, 7, 87-93, 2003. MIYAGISHI, S., OKADA, K., ASAKAWA, T., Salt effect on critical micelle concentrations of noionic surfactants, N-acyl-methylglucamides (MEGA-n), 238, 9-95, 200. ROSEN, M. J., Surfactants and Interfacial, John Wiley & Sons, New York, 978. SCHRAMM,G., A Practical Approach to Rheology and Rheometry HAAKE, Gebhard Schramm, Germany, 994. SORBIE, K. S, Polymer-Improved Oil Recovery, Blackie and Son Ltd, 26 27, 99. SUTHEIN, G. M., Introduction of Emulsion, John Wiley & Sons, New York, 946. TADROS, Th. F., colloids and Surfaces, Physicochemical and Engineering Aspects, 9, 39-55, 994. TAYLOR, K. C., Petroleum Recovery INS, SPE 29008 (00), 998. WAISON, D. J. e MACKLEY, M. R., colloids and Surfaces, Physicochemical and Engineering Aspects, 96, 2-234, 2002. ZHANG, J. Y., et al., Interactions between poly(acrylamide) and surfactants of different headgroup charge, 88, 33-39, 994.